Ouvido pela CPI da Enel na Alesp, presidente nacional promete plano estratégico para evitar crises
16/11/2023 18:58 | Apagões | Fábio Gallacci - Fotos: Bruna Sampaio




Ouvido na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo pelos membros da CPI da Enel, nesta quinta-feira (16), o diretor-presidente nacional da empresa privada do setor elétrico que atende 24 municípios paulistas, Nicola Cotugno, garantiu que vai apresentar um plano estratégico com o objetivo de minimizar os problemas com apagões vividos pelos usuários. Problemas que se agravaram nas últimas semanas, com o temporal que atingiu a Capital e arredores no último dia 3, deixando 2,1 milhões de pessoas no escuro por até três dias seguidos.
No início do depoimento de Cotugno na Alesp, 60 mil pessoas atendidas pela Enel estavam sem energia na Região Metropolitana de São Paulo devido a novas pancadas de chuva.
"Ainda ontem tivemos uma outra chuva, não tão forte, mas que deixou muitas pessoas sem luz. Não foi algo que vi no jornal ou que alguém me contou, eu testemunhei isso na rua próxima de onde eu moro. Qual a razão de tamanha instabilidade da rede? São pessoas que perderam remédios, tratamentos ou que ainda vivem com os prejuízos disso. Um pedido de desculpas seria o mínimo", apontou o deputado Thiago Auricchio (PL), presidente da CPI, na abertura dos trabalhos.
Nesse sentido, ser mais eficaz na forma de comunicação - principalmente com as prefeituras atendidas - e ampliar a capacidade e agilidade de atendimento nos momentos mais críticos são as principais necessidades que o plano da Enel precisa resolver. A promessa é apresentar o documento até o próximo dia 28, data de um dos encontros da CPI.
"Precisamos ser mais proativos e claros. Temos que fazer uma nova forma de comunicação. Na questão técnica, vamos reforçar a capacidade de recuperação das falhas rapidamente, com mais equipes e atenção às fragilidades da rede. Esse plano terá investimentos adicionais. No dia do temporal, estivemos com 1,2 mil equipes nas ruas", afirmou Cotugno.
Fora da curva
O diretor-presidente nacional admitiu que a empresa não estava preparada para agir diante de eventos climáticos extremos, como o temporal do dia 3. "Sim, a gente não esperava algo tão importante. O evento foi fora da curva", confirmou ele, admitindo que o grupo errou na ocasião. "Teríamos que ter implementado uma comunicação mais efetiva. Foi identificada uma ineficaz conexão com as prefeituras, por exemplo. Esse é um ponto que será mais trabalhado. Estamos agendando reuniões individuais com cada município para melhorar isso. O objetivo é definir uma forma de comunicação bem ordenada e clara, que possa ser acionada de forma rápida e eficiente", insistiu Cotugno.
Ressarcimentos
Durante a oitiva que durou cerca de seis horas, os deputados presentes elencaram os principais pontos que precisam de um posicionamento mais objetivo da Enel, além de suas deficiências nos anos de atuação em São Paulo. Entre os pontos listados estavam: a demonstração clara das ações que serão tomadas para evitar futuros problemas com apagões; mais investimentos em mão de obra qualificada que possa garantir uma melhor manutenção dos equipamentos; e uma data e valores exatos para realizar os ressarcimentos dos clientes prejudicados pelas recentes quedas de energia.
O deputado Luiz Cláudio Marcolino (PT) informou que há uma proposta de pagamento de R$ 5 mil a pessoas físicas e R$ 15 mil a jurídicas. Sobre isso, o presidente da Enel disse que já está em tratativas com o Procon-SP, mas não deu detalhes.
Novos temporais
Os parlamentares também demostraram preocupação com a previsão meteorológica para o próximo final de semana em diversas regiões do Estado. A Defesa Civil emitiu um alerta sobre possíveis temporais e fortes rajadas de vento - podendo chegar a 100 km/h - entre sexta-feira (17) e domingo (19). "O comunicado nos surpreendeu, já que é raro. A mobilização será a máxima possível. Teremos 1,2 mil equipes na rua. No call center, serão 1,5 mil funcionários. Mas, sendo transparente e honesto, no momento de uma eventual contingência tão pesada, não podemos garantir que não possa faltar luz nas casas dos clientes", comentou Cotugno.
Lucro
O deputado Guilherme Cortez (Psol) ressaltou que a Enel dobrou o seu lucro nos últimos quatro anos no Brasil, alcançando R$ 1,4 bilhão no ano passado. Contudo, a empresa realizou um corte de 36% em seus quadros neste período. Atualmente, segundo dados do parlamentar, a proporção é de 1 funcionário para cada 307 usuários e clientes.
"A natureza tem dado sucessivas mostras de que os eventos extremos serão cada vez mais presentes. O ocorrido no dia 3, infelizmente, deixará de ser algo excepcional. Então, se as empresas de todos os ramos continuarem tratando essa situação como algo imprevisível, estaremos sempre sujeitos a esse tipo de acontecimento e a respostas lentas", analisou Cortez, que insistiu em uma maior cobrança de qualidade dos serviços prestados aos cidadãos. "As empresas concessionárias acham que o ato da privatização é uma carta branca para que elas não estejam submetidas à fiscalização. Por muito menos que isso - de 2 milhões de pessoas sem acesso à energia elétrica -, qualquer presidente de autarquia teria sido exonerado", criticou o parlamentar.
Demora na periferia
O deputado Luiz Cláudio Marcolino (PT) mencionou uma reportagem recente que aponta uma diferença de velocidade da Enel no atendimento aos clientes no que se refere às regiões da Capital. Em uma média estabelecida nos últimos 12 meses, os moradores da região central de São Paulo esperaram 45 minutos pelo atendimento técnico. Já para quem vive no Jardim Ângela, no extremo Sul da cidade, essa mesma espera foi de 15 horas.
A deputada Carla Morando (PSDB) sugeriu que à direção da empresa que "colocasse a mão no bolso" para ressarcir os clientes prejudicados e questionou o presidente da Enel se faltou energia em sua própria casa. Cotugno respondeu que não teve problemas na ocasião. "Então, o senhor não sofreu na pele o problema", rebateu a deputada.
Já o colega Carlos Cezar (PL) lembrou a razão de a CPI ter sido solicitada no Parlamento Paulista. "Ela foi criada justamente pelos maus serviços prestados e imensas reclamações. Temos várias empresas do setor elétrico no Estado, mas a única que precisamos criar uma CPI foi a Enel. Quando nos desculpamos é porque falhamos; isso é nobre. Mas de nada adianta se não tivermos ações para resolver as questões. Esperamos que o Procon estipule uma multa bastante significativa", afirmou Cezar. "A Enel conseguiu a proeza de unir a esquerda, a direita e o centro na Alesp. Cada um aqui tem a sua experiência pessoal com a empresa", comentou o deputado Gil Diniz (PL).
Postos de Saúde
A deputada Monica Seixas do Movimento Pretas (Psol) lembrou que cinco postos de Saúde da Capital ainda estavam sem energia no momento da oitiva. O apagão já durava mais de 6 horas. "A gente sabe que é o Poder Público, historicamente, que investe no bem-estar social e garante grandes obras de infraestrutura. Quando isso está nas mãos da iniciativa privada, o que ouvimos é que não há recursos para investir na única coisa que poderia garantir maior eficiência energética na Região Metropolitana", disse ela, lembrando da resposta da Enel sobre a impossibilidade econômica de transformar a atual rede de energia elétrica por fios e cabos em um sistema no subsolo.
Investigados
Um ofício enviado à Alesp pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), assinado pelo desembargador Xavier de Aquino, determinou que os deponentes fossem ouvidos na qualidade de potenciais investigados e não como testemunhas. Além de Cotugno, também foi ouvida, com uma abordagem mais técnica, a diretora de Sustentabilidade da Enel, Márcia Massotti de Carvalho.
Presentes
A reunião da CPI atendeu ao Requerimento nº 2.685/2023, da deputada Marina Helou (Rede), que solicitou a convocação do presidente da Enel para que esclarecesse quais são as iniciativas da companhia relacionadas a um Plano de Ação Climática no Estado de São Paulo e também informasse quais os desafios que a empresa tem enfrentado nesse processo e as estratégias adotadas para promover a transição para uma economia de baixo carbono.
Além do presidente Thiago Auricchio, estiveram presentes à oitiva os deputados Carlos Cezar (PL); Luiz Cláudio Marcolino (PT); Carla Morando (PSDB); Bruno Zambelli (PL); Dr. Eduardo Nóbrega (Pode); Sebastião Santos (Republicanos); Oseias de Madureira (PSD); Guilherme Cortez (Psol); Paulo Fiorilo (PT); Gil Diniz (PL) e Simão Pedro (PT).
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