FuncionAL - Com vocês, Takahashi


05/11/2018 15:19 | Entrevista | Marina Mendes - Foto: Raphael Montanaro

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	Carlos Takahashi<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-11-2018/fg227199.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Carlos Takahashi <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2018/fg226585.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Carlos Takahashi <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2018/fg226587.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

"Olá! Um, dois, três, testando som! Aqui é o Carlos Takahashi, falando diretamente da Sala do Cerimonial da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Muito feliz com essa oportunidade!", apresenta-se, animado, o querido e respeitado funcionário - há 36 na Alesp.

Amor à primeira vista ou sonho realizado? "Na primeira vez em que olhei para a Assembleia, eu tinha nove anos de idade. A minha igreja, a Seicho-No-Iê, realizava anualmente uma atividade chamada Oração pelo Progresso do Brasil e pela Paz Mundial, aqui na esplanada do Palácio 9 de Julho. Reuniam-se milhares de pessoas. Fui recrutado dentre os adeptos para ajudar na soltura dos pombos - o que era permitido naquela época. Eu olhava para o parlatório da Assembleia e via, junto às religiosas, várias autoridades políticas, como o então governador Laudo Natel. Ficava encantado com os discursos, com a postura das autoridades, com a organização do evento. Então, naquele dia, idealizei que trabalharia neste prédio."

À medida que os anos passavam, o sonho era alimentado. Na juventude, ele passava diariamente ao lado da Alesp quando ia para a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). "Olhava para o prédio e repetia a mim mesmo: 'um dia vou trabalhar aqui'."

Takahashi tem o espírito de servidor público. "O meu princípio filosófico é de que nós nascemos para sermos úteis às pessoas. Só que a nossa vocação não pode ser de utilidade, solidariedade, trabalho meramente como sacrifício - ela tem de ser carregada de alegria, contentamento, satisfação. Então, queria trabalhar na Alesp porque é onde se fazem as leis estaduais, e queria ajudar os deputados a elaborarem boas leis, que fossem benéficas para a população paulista", diz.

Ele conta que, ao final do primeiro ano da faculdade, já havia trabalhado em várias áreas (venda de títulos de clube, lacração de carros no Detran, despachante, auxiliar de escritório), mas estava desempregado. Foi quando, por indicação de um colega de igreja, candidatou-se a uma vaga em um escritório de um contador e advogado. E lembra o episódio envolvendo essa entrevista de emprego, que chamou de "um pingue pongue muito alegre":

- Você tem experiência em escritório? - perguntou o empregador.

- Pouca. Mas com o senhor poderei ter muito mais - respondeu.

- Você tem datilografia? (Na época não havia computadores.)

- Nunca estudei. Mas se o senhor me der a chance, eu aprenderei e serei um bom datilógrafo.

- Já mexeu em arquivo, já foi arquivista?

- Não. Mas se o senhor me der a chance, eu serei um arquivista muito rápido [risos].

Ao final da entrevista, o contador e advogado revelou ser também deputado estadual, e contratou-o para trabalhar como auxiliar parlamentar em seu gabinete. Era o início da história de Takahashi na Alesp.

"O primeiro dia de trabalho foi logo no seguinte à entrevista, e foi engraçado porque eu não tinha roupa para vir aqui! Então, peguei um paletó xadrez do meu irmão e uma gravata cinza e uma pasta de couro sintético do meu pai. Ao subir a rampa da Assembleia, que eu já contemplava durante tanto tempo, fui mentalizando: 'Aqui quem está subindo a rampa não é um auxiliar qualquer, alguém que vai meramente fazer atividades simples, mas é o melhor assessor desta Assembleia Legislativa'. Esse foi o espírito."

Takahashi relata que, apenas algumas semanas após sua nomeação, foi aberto um concurso público para o cargo de oficial legislativo - no qual foi aprovado em 11º lugar. "Comecei em cargo comissionado, mas logo já obtive o caráter de servidor público concursado. Estou há 2/3 da minha vida aqui, intensos, amando muito a Assembleia. Até me emociono às vezes quando falo isso porque eu não só trabalhei na Assembleia, eu vivi a Assembleia!"

Cerimonial

Takahashi foi se capacitando cada vez mais até que, em 2001, tornou-se diretor do Serviço Técnico de Cerimonial. "Fiz um estágio de três meses no Japão, pela Japan International Cooperation Agence (Jaica), em 2000. Foi a primeira vez que houve um convênio da Alesp com o governo japonês para uma especialização (MBA). Aproveitei essa oportunidade para, durante uma semana, trabalhar como voluntário no Palácio Imperial do Japão, como jardineiro, carregador etc. Foi emocionante conhecer a rotina diária da família imperial - o imperador, a imperatriz, os filhos, os netos pequenos... via-os no dia a dia nos jardins."

Filho de pai japonês (imigrante) e mãe nissei, ficou fascinado com a experiência. "Conheci o templo em que o imperador faz suas orações diárias e o tambô - que é a área de plantio de arroz. O imperador sazonalmente vai lá semear, e o seu plantio assegura a colheita para todo o país. Conheci a coleção de bonsais (as árvores centenárias japonesas) do imperador. Foi uma semana muito rica, muito importante na minha vida", conta, com brilho no olhar.

Ao voltar para a Alesp, Takahashi apresentou-se ao presidente, que ficou muito impressionado com o estágio no Japão e, atento ao seu perfil "protocolar", convidou-o a coordenar o cerimonial. Desafios?

"Na minha vida aprendi que há cinco palavras mágicas, que devemos usar com mais frequência: sim, obrigado, por favor, desculpe-me e parabéns. Assim, quando surge uma oportunidade, não se deve hesitar, pois quando isso acontece é porque o seu interior chamou por ela. Por isso, em vez de ficar relutante ou usar de falsa humildade, eu sempre disse 'sim'", explica.

Incumbência aceita, ele começou: "Fui até à sala do cerimonial, onde já conhecia algumas pessoas - a Vitória, a Suzete, o Hugo, a Terezinha -, e apresentei-me como indicado para a diretoria. Todos ficaram muito felizes, pelo menos aparentemente [risos]". Na ocasião, Takahashi disse que queria apresentar-se como um colega, que ainda desconhecia o protocolo e as regras, e pediu que o ensinassem tudo o que pudessem: "Gostaria de assimilar o máximo possível, para poder fazer um bom trabalho aqui com vocês. O objetivo é ser um chefe de cerimonial digno desta Casa".

A pedido da colega Cristina Duarte, que havia sido chefe do cerimonial, o Serviço de Treinamento e Capacitação da Casa ofereceu a Takahashi um curso intensivo de cerimonial público exclusivo - só tinha ele como aluno. Teve, também, a ajuda do criador do cerimonial na Alesp. "Tive a oportunidade de chamar Murilo Antunes Alves, que foi também chefe do cerimonial na prefeitura de São Paulo, no governo do estado, na presidência da República... Pude consultá-lo sobre como deveria proceder no cargo que já fora dele, e ele gentilmente veio aqui e colaborou muito comigo."

Ele lembra que foi assimilando as coisas, realizando eventos, vendo o que dava certo e o que dava errado, o que poderia ser melhorado e como fazer algo diferente. "E assim fui aprendendo: com a colaboração das pessoas."

Takahashi comandou o Cerimonial da Alesp até 2005, quando se afastou para ocupar a chefia de gabinete na Secretaria das Prefeituras Regionais, na cidade de São Paulo. Depois disso, voltou para a Alesp, trabalhando na Liderança do PTB e posteriormente no Instituto do Legislativo Paulista (ILP).

Compartilhando conhecimento

Takahashi confessa que o ILP despertou outros desejos. "Assim como eu recebi tudo que sei de cerimonial graciosamente das pessoas que me ajudaram, nada mais justo do que eu dividir essas informações com outras pessoas. Vivi boas experiências no cerimonial, e repasso com alegria o conhecimento adquirido." Ele reforça que o conhecimento não existe para ser guardado, mas para ser compartilhado. "A água parada estagna, apodrece. Tem que estar sempre fluindo, em movimento - e o leito pelo qual o conhecimento flui está no contato com as pessoas."

Com o apoio do instituto, ele criou um curso de cerimonial público na Alesp. "Na época, tornou-se o mais concorrido do ILP. Havia salas lotadas e até fila de espera! Por ser o único curso de cerimonial público no Brasil, tornou-se uma referência", recorda-se. Mais de três mil pessoas passaram pela formação, que foi oferecida esporadicamente durante quatro anos.

Takahashi também ofereceu o curso em outras entidades - como o Tribunal de Justiça de São Paulo, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o Ministério Público Estadual (MP/SP) -, e gravou versões virtuais. Além disso, publicou dois livros, com cinco mil exemplares de cada um, distribuídos gratuitamente, e criou um site (takahashi.com.br), por meio do qual é possível acessar gratuitamente todo o conteúdo sobre cerimonial público e outros assuntos.

Após esse período, ele passou pela Secretaria de Esportes e Lazer e foi chefe do Cerimonial da Prefeitura de São Paulo, entre 2008 e 2012. Voltou então para a Alesp, dessa vez na Liderança do PSD. Foi chefe de gabinete da Secretaria Executiva no Ministério das Cidades, de 2014 a 2016, e depois do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações - onde está até hoje.

"Às vezes sonho em voltar para a Alesp e reativar o curso de cerimonial público. Recebo e-mails de muita gente pedindo para que os cursos sejam retomados." Sente saudades da Alesp? "Muitas! Quando venho a São Paulo, não me furto a vir aqui. Faço selfies com os colegas que encontro no corredor [risos], visito amigos. Conheci muita gente boa aqui, muita mesmo! É um sentimento de gratidão; é a palavra mais correta para dizer o que eu sinto em relação às pessoas, porque elas me ajudaram muito", declara.

Ao mesmo tempo pacífico e dinâmico, ele explica sua abordagem filosófica da vida. "Eu faço o meu tempo; começo o meu dia muito cedo, e termino muito tarde a minha noite. O tempo torna-se uma ferramenta à sua disposição, e nunca você escravo do tempo. Quando se está escravo do tempo, é porque você penitencia muito a atividade a que se dedica naquele período. Se você coordena a vida de modo que tempo, é seu; lugar, é aqui; e pessoa é você - consegue conjugar tempo, lugar e pessoa, e não sofre. Por exemplo: o que adianta eu estar aqui na Assembleia, sofrendo pelo final de semana que não curti com meus filhos? O que adianta eu estar em casa, preocupado com o trabalho que não realizei na Alesp? Isso acontece e desfoca a pessoa. Eu tenho que ser o mais dedicado na função que estiver exercendo aqui, agora. Tem dado certo!" - e ri.

Ao concluir sua entrevista (ou aula de vida?), Carlos Takahashi dá mais uma lição. "O ambiente reflete o meu entendimento, e não o contrário. Nunca serei escravo do ambiente em que eu vivo; serei sempre o senhor do que eu vivo, porque a vida é minha. Mas só terei essa vida como sendo minha se eu controlar a minha própria mente. Ou seja, se tiver uma mente triste, pessimista, rancorosa, só sofrerei com isso. Mas se minha mente for sempre alegre, jovial, dinâmica, é isso que eu viverei. Durante esses 36 anos foi isso que eu fiz aqui na Assembleia", encerra.

O que é a Alesp para Takahashi?

"Vou falar uma frase que ouvi quando entrei aqui: 'A Assembleia é uma mãe'. Só que o conceito de mãe, para muitos, é equivocado - pensam que isso significa nutrir seus filhos, dar colo, dar carinho. Para mim, não. A Assembleia nunca me deu colo nem carinho - ela me deu oportunidades. É uma mãe que te dará um doce depois do jantar, se você tiver um bom comportamento; se você for bem na escola, ela te dará a chance de viajar nas férias. Na Alesp, se você se dedicar e buscar um caminho, encontrará muitas oportunidades de crescimento, pessoal e profissional."


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