Cem anos de Juscelino Kubitschek

Se estivesse vivo, Juscelino teria feito 100 anos nesta quinta-feira. Seu estilo empreendedor e alegre deixou marcas profundas no jeito de administrar o Brasil.
12/09/2002 17:41

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DA REDAÇÃO

Mais de quarenta anos depois da passagem de Juscelino Kubitschek pela Presidência da República, muitos governantes ainda tentam imitá-lo. Ele abriu as portas do país para os investimentos estrangeiros, aceitava críticas da imprensa com espírito democrático e mudou a cara do Brasil com as obras do Plano de Metas. Em plenos anos dourados, deu ao povo brasileiro um sentimento de auto-estima inexistente antes e depois do construtor de Brasília governar o país.

Nascido a 12 de setembro de 1902 na cidade de Diamantina, em Minas Gerais, Juscelino Kubitschek de Oliveira era filho de uma família modesta. O pai, caixeiro viajante, morreu prematuramente. A mãe era professora primária e o criou sozinha desde a morte do marido. Mudou-se em 1921 para Belo Horizonte, onde diplomou-se como médico em 1927.

Espírito inquieto e sonhador, JK se emprega como telegrafista e inicia seus estudos na Faculdade de Medicina de Minas Gerais. Diplomado, especializa-se em urologia na França e ingressa, em 1931, na Polícia Militar de Minas Gerais, onde alcança o posto de coronel-médico, participando do combate à Revolução de 1932. Também em 1931 casa-se com Sarah Luiza Gomes de Lemos.

Um político humanista

Inteligente e com vasta cultura humanística, JK inicia sua vida política em 1933, na chefia de gabinete do governador Benedito Valadares, em Minas Gerais. No mesmo ano foi eleito deputado federal, mas perdeu o mandato em 1937, com o advento do Estado Novo, voltando então a clinicar.

Nomeado prefeito de Belo Horizonte, também por Benedito Valadares, em 1940, convocou Oscar Niemeyer, então arquiteto em início de carreira, para realizar várias das obras de sua administração, inclusive a urbanização da Pampulha.

Ingressou no Partido Social Democrático (PSD) e, em 1945, foi novamente eleito deputado federal, exercendo o mandato de 1946 a 1950, ano em que se elegeu governador de Minas Gerais. Iniciou o mandato em 31/01/51, norteando sua administração pelo binômio "Energia e Transporte". O êxito de sua administração repercute em todo o país e ele decide, então, lançar-se candidato à Presidência da República.

Programa audacioso

Venceu as eleições, mas enfrentou sérios obstáculos para assumir em 31 de janeiro de 1956. Lançou o slogan "cinqüenta anos em cinco" e elaborou o audacioso "Plano de Metas", que incluía a construção da nova capital. No âmbito internacional, criou a Operação Pan-Americana, cuja principal finalidade era despertar as esperanças e as energias dos povos americanos, principalmente da América Latina, com o objetivo comum do combate ao subdesenvolvimento.

Foi um sonhador e um realizador. Se não fosse por essa característica, não teria aceito o desafio de construir Brasília - sua meta-síntese -, nem profetizado, na sua primeira viagem ao ermo do Planalto Central, em 2 de outubro de 1956: "Desta solidão que em breve se transformará em cérebro das mais altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada, com fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino".

Juscelino ambicionava disputar as eleições presidenciais de 1965, mas em junho de 1964 teve seu mandato (havia sido eleito senador por Goiás) e seus direitos políticos cassados pelo regime militar. A partir de então, percorreu por algum tempo cidades americanas e européias, em exílio voluntário. De volta ao Brasil, desenvolveu intensa atividade na literatura, na agricultura e na empresa privada.

Morreu em um violento acidente de carro, em 22 de agosto de 1976, na Via Dutra, que liga o Rio de Janeiro a São Paulo.



O que disseram dele

Ele era um diamantinense anticonvencional e boêmio, autor de uma revolução arquitetônica na capital dos homens mais rotineiros do Brasil.

(José Lins do Rego, escritor, em artigo escrito no jornal Estado de Minas)

O homem público, sobretudo o presidente, não pode ser amargo, ressentido. A vida pública se faz com felicidade e alegria, e Juscelino era um homem feliz e alegre.??

(Ulysses Guimarães, presidente da Câmara dos Deputados durante o governo JK)

Juscelino foi o homem público que eu mais admirei. Ele me ensinou a não tratar os adversários como inimigos.

(Paulo Tarso Flecha de Lima, ex-oficial de gabinete de JK, hoje embaixador aposentado)

Quem quiser ser inimigo de JK deve ficar pelo menos a seis léguas de distância. O homem é uma pilha de simpatia humana.

(San Tiago Dantas, ministro das Relações Exteriores no governo JK)



Para saber mais sobre JK

Volta ao mundo

Países que JK visitou antes da posse: Estados Unidos, Inglaterra, Holanda, Bélgica, França, Itália, Alemanha, Portugal e Espanha.

Americanos, uni-vos

A Operação Pan-Americana foi uma proposta de JK, acolhida pelo presidente Dwight Eisenhower, de criação de um bloco de países das Américas, com investimentos em áreas economicamente atrasadas do continente. Juscelino pretendia ?transferir do exterior as bases do desenvolvimento?, como escreveria mais tarde.

Fora, FMI

Em 17 de junho de 1960, Juscelino rompeu com o Fundo Monetário Internacional (FMI), depois que os dirigentes do Fundo quiseram impor redução de gastos como condição de concessão de crédito de US$ 300 milhões. O que significava uma ameaça ao Plano de Metas.

Fonte: Correio Brasiliense



Um balanço do governo JK

Durante os cinco anos do governo Kubitschek, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu à média anual de 7%, contra os 5,2% do período de 1945 a 1955. O PIB industrial foi ainda mais expressivo: 10,7% ao ano, em média. A produção industrial cresceu 80%, a siderurgia, 100%, a indústria mecânica, 125%, a elétrica e de comunicações, 300%, e o setor de transportes, em espetaculares 600%. A inflação média anual, de 24,7%, seria desprezível diante dos patamares que alcançaria no futuro.

O governo JK construiu 20 mil quilômetros de estradas e pavimentou 5.600 quilômetros de rodovias já existentes. Implantou a indústria da construção naval e elevou a produção de petróleo de 6.800 para 100 mil barris diários. Construiu a Refinaria Duque de Caxias e as hidrelétricas de Três Marias e Furnas, aumentando o potência total instalado de 3 milhões de kW, em 1954, para 4,7 milhões no final do qüinqüênio. Criou ainda a Sudene, para promover o desenvolvimento do Nordeste, e a Comissão Nacional de Energia Nuclear.

Fonte: Correio Braziliense

alesp