40 anos das Diretas Já: Alesp aderiu a manifestações e teve fita de gravação apreendida pela polícia

Ulysses Guimarães, Franco Montoro e Mário Covas foram algumas das personalidades que participaram dos atos
03/03/2023 14:30 | Diretas Já | Maurícia Figueira - Foto: Acervo Histórico Alesp

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FHC, Ulysses Guimarães e Tonico Ramos<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-03-2023/fg296014.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Diretas Já<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-03-2023/fg296011.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Diretas Já<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-03-2023/fg296010.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Frente Municipalista pelas Diretas<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-03-2023/fg296016.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Mário Covas<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-03-2023/fg295998.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Néfi Tales, Orestes Quércia, Montoro e Ulysses<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-03-2023/fg296018.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Passeatas, comícios e reuniões partidárias fizeram parte do cotidiano do país entre os anos de 1983 e 1984, durante a campanha pelas "Diretas Já". O movimento político também repercutiu na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo: projetos foram apresentados apoiando o movimento, o assunto foi tema de debates no Plenário Juscelino Kubitschek e muitos eventos aconteceram em apoio à volta das eleições diretas para presidente da República.

O primeiro ato oficial pedindo a volta das eleições diretas se deu há 40 anos, em dois de março de 1983, quando o deputado federal por Mato Grosso Dante de Oliveira apresentou ao Congresso Nacional emenda que pedia o restabelecimento das eleições diretas para a Presidência da República.

Com o assunto das "Diretas Já" nas ruas, a Alesp também entrou no debate. A Mesa Diretora, na época composta pelos deputados Néfi Tales, Vanderlei Macris e Sérgio Santos apresentou, em 25 de agosto de 1983, Projeto de Resolução para a realização de Painel de Debates sobre Dívida Externa, Fundo Monetário Internacional e Eleições Diretas. Os parlamentares consideravam que esses eram "assuntos da maior atualidade e da maior importância para a vida de todos os cidadãos". O projeto foi aprovado em Plenário no fim do ano, no dia 19 de dezembro.

Também em 1983, no primeiro fim de semana de outubro, foi realizado no Plenário da Alesp o Simpósio "Fala Brasil", organizado por Ulysses Guimarães. No encontro, lideranças peemedebistas discutiram as eleições diretas. Nas fotos do evento podemos ver a presença de Orestes Quércia, Franco Montoro e Mário Covas, além de Ulysses Guimarães.

Apreensão de fita de áudio

O movimento tomou força e ganhou aumento de apoio popular em 1984, quando grandes comícios com participação de multidões foram realizados em vários Estados brasileiros. Em São Paulo, mais de um milhão e meio de pessoas foram à Praça da Sé em 25 de janeiro de 1984 pedindo "Diretas Já".

Menos de um mês depois do histórico comício, foi lançada na Alesp a Frente Municipalista pelas Diretas. O evento contou com cerca de duas mil pessoas, das quais mais de 340 prefeitos paulistas. Organizado pelo então vice-governador Orestes Quércia, estiveram presentes Ulysses Guimarães, Franco Montoro, Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas, Alberto Goldman e o deputado federal Dante de Oliveira. No final do evento foi aprovada a proposta de Orestes Quércia de realizar uma marcha dos municipalistas em Brasília no dia da votação da emenda.

Ainda no mesmo dia, 23 de fevereiro, houve o lançamento do jornal peemedebista "São Paulo Hoje", no Hall Monumental da Alesp. O evento do lançamento do jornal ainda não havia terminado quando o presidente da Alesp, Néfi Tales, recebeu ligação a pedido do delegado Romeu Tuma, superintendente da Polícia Federal em São Paulo, pedindo a gravação do discurso do deputado federal João Cunha na reunião da Frente Municipalista. O discurso de João Cunha havia sido o mais inflamado do dia, com ataques ao presidente e ao vice-presidente da República, João Batista Figueiredo e Aureliano Chaves, e até ao senador Afonso Camargo, secretário geral do PMDB. Sem autorização e durante a ausência de Néfi Tales, a polícia apareceu na Alesp e apreendeu a fita.

Enquanto na Alesp se realizava a reunião da Frente Municipalista, na Praça da Sé acontecia outro evento pró-diretas. Ao som de marchinhas de Carnaval, era inaugurado o "Placar das Diretas". Com 540 metros quadrados, o painel tinha o nome dos 548 congressistas e a posição de cada um quanto às eleições presidenciais. As eleições da emenda proposta por Dante de Oliveira seriam realizadas dois meses depois.

Faltando menos de um mês para a votação em Brasília da emenda Dante de Oliveira, a Assembleia Legislativa paulista publicou Projeto de Resolução que dispunha sobre a afixação de faixas com os dizeres "Eleições Diretas Já" nas fachadas da Assembleia. Na justificativa do projeto, o autor da proposta, deputado Geraldo Siqueira, comentou que a Casa não poderia "estar afastada da vontade popular que a elegeu, devendo, pois, se manifestar de todas as formas por ?Eleições Diretas Já?". O parlamentar também citou as pesquisas realizadas no país, que indicavam amplo apoio popular ao movimento. O Projeto de Resolução foi assinado por mais oito deputados e foi aprovado no dia três de julho, portanto depois de a emenda Dante de Oliveira ter sido reprovada no Congresso Nacional.

Não amigo do povo

Foi também apresentado na Alesp o Projeto de Lei 192/1984, que considerava "como não amigo do povo do Estado de São Paulo, nem merecedor de seu respeito, qualquer deputado federal ou senador que por ação ou omissão obstacular a aprovação da Emenda Constitucional tendente a restabelecer eleições diretas ainda em 1983 para presidente e vice-presidente da República".

Novamente de autoria do deputado Geraldo Siqueira, na justificativa do projeto constavam os números da pesquisa do Instituto Gallup sobre a aceitação das eleições diretas pela população. "A Assembleia Legislativa de São Paulo deve mais uma vez refletir a opinião do povo paulista, reprovando aqueles representantes do povo que vierem a contrariar a opinião popular", afirmou o parlamentar na justificativa do projeto. O projeto não chegou a ser votado em plenário.

Votação em Brasília

No período que antecedeu a votação em Brasília, ocorria na Assembleia Legislativa uma exposição "Diretas Já", com cartoons relacionados ao assunto. Os jornais da época noticiaram que, na noite da votação, um funcionário da Assembleia, partidário do PDS, chegou a rasgar um dos cartoons, com a caricatura do presidente Figueiredo, que dizia que preferiria o cheiro de cavalo. Numa entrevista, o ex-presidente mencionara que preferiria o cheiro do cavalo ao cheiro do povo.

A votação em Brasília começou por volta das 23h de 25 de abril de 1984. Enquanto isso, no Plenário Juscelino Kubitschek, os deputados estaduais estavam reunidos em sessão extraordinária. Durante toda a tarde e noite, a Assembleia Legislativa paulista ficou em vigília cívica, acompanhando as discussões e votações em Brasília. Os parlamentares paulistas seguiam passo a passo o que acontecia no Congresso Nacional e informavam, na tribuna da Alesp, as parciais da votação, chegando a nominar os deputados federais que votavam contra a emenda em Brasília. Por lá, a ordem da votação era por Estado. Assim, quando chegou a vez de os deputados federais paulistas voltarem, foi grande o alvoroço na Alesp.

Durante a esperada votação do deputado federal Ulysses Guimarães, o "Senhor Diretas", o deputado estadual Ary Pedroso anunciou: "Com muita honra devemos participar à Casa e aos presentes que o deputado Ulysses Guimarães, o grande presidente do PMDB, chamado de ?o homem das diretas?, no momento em que foi chamado para votar, não conseguiu nem votar, de tão aplaudido e ovacionado que foi pelos presentes na Câmara dos Deputados".

Instantes depois, o deputado Waldemar Chubaci informou: "Companheiros, o deputado Ulysses Guimarães, ?cidadão-diretas?, acaba de votar ?sim?." Muitas palmas também em São Paulo, para o voto de Ulysses Guimarães em Brasília.

Em seguida, foi a vez de o deputado José Yunes comentar sobre outro parlamentar paulista, Paulo Maluf: "Quero anunciar a esta Casa e ao povo aqui presente, que acompanha com entusiasmo esta noite cívica de vigília, que aquele que personificou em São Paulo a violência, o arbítrio e a corrupção, aquele que foi candidato simplesmente para conquistar a imunidade parlamentar, aquele que se ausentou da sua dignidade, da sua honradez e do seu trabalho, o sr. Paulo Salim Maluf ausentou-se do plenário". A taquigrafia registrou a reação no Plenário: vaia estrondosa.

Faltaram 22 votos para a emenda Dante de Oliveira ser aprovada. O final da sessão do Congresso Nacional foi tumultuado e as informações chegavam aos deputados estaduais paulistas aos poucos -não havia TV Legislativa naquela época. Às duas horas e meia da madrugada, a sessão em São Paulo foi suspensa, para aguardarem informações mais precisas sobre o final da votação da emenda. Às três horas e um minuto, o presidente Néfi Tales reabriu a sessão no Plenário Juscelino Kubitschek e informou aos deputados que a emenda não havia sido aprovada e a sessão no Congresso Nacional havia terminado. Assim sendo, encerrou os trabalhos na Alesp também, às três horas e dois minutos.

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