Alesp valoriza e mantém vivas lendas, músicas e causos do estado de São Paulo

Trabalho desenvolvido pelo Parlamento Paulista incentiva cultura popular, valorizando atividades ligadas ao tema em diversos municípios; lendas, músicas, festivais e culinária como formas de preservação da identidade de um povo
22/08/2024 16:19 | Mês do Folclore | Rafael Sotero Garcia - Fotos: José Oswaldo Guimarães, Heyttor Barsalini e Arquivo FEFOL

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Dança e cultura típica no festival de Olímpia<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2024/fg332979.png' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Abertura do 60º FEFOL<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2024/fg332924.png' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Dia do Folclore: diversidade cultural<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2024/fg332921.png' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Dança e cultura típica no festival de Olímpia<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2024/fg332980.png' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

O folclore paulista é muito vasto; cada cantinho do estado tem uma tradição diferente. Lendas, músicas, danças, culinária e causos, a cultura popular que atravessa gerações tem diversas formas de expressão. Mas quem mantém todas essas tradições vivas? Nesta quinta-feira (22), Dia do Folclore, a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo apresenta pessoas e instituições que vivem e conservam esse conjunto de manifestações, responsáveis por preservar as raízes de um povo.

No estado de São Paulo, a importância do tema é reconhecida pelo decreto nº 48.310, de 27/07/1967, que institui todo o mês de agosto como o "Mês do Folclore".

A expressão deriva da junção das palavras do inglês "folk" (povo) e "lore" (tradição). O folclore de um povo é o conjunto das realizações fundamentais que fazem parte da sua cultura. Em São Paulo, e no Brasil como um todo, ele é composto por uma rica diversidade cultural, que une influências indígenas, europeias e africanas.

"Folclore não é mito, é tradição. Toda a cultura originária que for falada, passada para frente entre as comunidades de forma oral e cotidiana entra no que entendemos por folclore", explica José Oswaldo Guimarães, presidente da Associação Nacional dos Criadores de Saci (ANCS) e, acima de tudo, contador de "causos".

Muitas lendas folclóricas são criadas organicamente para educar tanto crianças como adultos. Para Guimarães, isso ocorre por conta do poder de fixação que as narrativas têm no imaginário popular.

"Alguns conceitos como o homem do saco e o curupira, por exemplo, fazem um papel de trazer uma moral educativa. O primeiro é um alerta para as crianças ficarem atentas com estranhos na rua, e o segundo é sobre a preservação das florestas", apontou o presidente da ANCS.

A associação fomenta a tradição da "criação de saci", principalmente na região de Botucatu, no Interior de São Paulo, e encoraja a todos os brasileiros a também criarem. "Quando falamos em criar saci, além de cuidar do arteiro em si, estamos nos referindo a zelar pela lenda, pela cultura", explica Guimarães, enfatizando a importância de preservar as histórias. "Se valorizarmos o folclore, valorizamos também o seu povo, que originou e manteve a cultura viva", completa.

Culinária

Para além das lendas, a culinária também é uma característica essencial na formação da identidade de um povo. "A culinária, dentro do folclore, é também um meio de manifestação cultural popular. Todo prato que nasce de forma orgânica e espontânea é um prato folclórico", aponta Heyttor Barsalini, escritor e pesquisador da história da alimentação no Brasil.

Desde a obtenção dos ingredientes até a forma de se alimentar, muitos são os processos culinários atravessados pela cultura e costumes, que são moldados naturalmente por diversos fatores, como a geografia e a vegetação do ambiente.

"O povo come o que tem, e naturalmente adapta as receitas da melhor forma possível. Por isso, se vê combinações que não são convencionais para alguém de fora, mas para aquela comunidade faz muito sentido, como o caso do azul marinho para os caiçaras", explica Barsalini.

Azul marinho: prato emblemático do Litoral paulista

O azul marinho é um prato emblemático do Litoral paulista, feito normalmente com peixe de água salgada, pela facilidade do acesso ao mar, cozido com banana verde e servido com farinha de mandioca ou milho, e temperos. A receita deve ser feita na panela de ferro, para desencadear uma reação química da casca da banana verde com o ferro da panela, trazendo a coloração azul para o caldo do prato.

"É um prato que sintetiza muito bem a formação da culinária originária brasileira. Nele vai o peixe, que já era muito consumido pelos indígenas, e a banana, que veio trazida pelos africanos que vieram escravizados para a produção de açúcar", ressalta o pesquisador, lembrando a influência de diferentes costumes na criação de novas culturas.

Além do preparo, o contexto em que o alimento é feito também impacta diretamente na experiência cultural de um povo. Assim como na "contação de causo", a culinária tradicional leva a interação social como uma de suas características mais importantes.

"Nós valorizamos muito, hoje em dia, os cadernos de receitas dos vovôs e vovós, mas, na verdade, isso é um jeito muito recente de aprender a cozinhar. Quem cuidava da comida antigamente eram as mulheres, que só foram alfabetizadas amplamente depois de 1930", destaca Barsalini. "Existia uma forte cultura de comadres que frequentavam as casas umas das outras e compartilhavam as receitas. Ensinar não era apenas dizer como se faz, e sim fazer junto. Para a culinária, isso é equivalente à oralidade na disseminação das lendas", acrescenta o pesquisador.

Festivais

Mais do que conhecer, é necessário celebrar as tradições. Aproximadamente 160 mil pessoas fizeram isso, neste mês, durante os nove dias da 60ª edição do Festival Nacional do Folclore de Olímpia (Fefol).

A festa, que teve entrada gratuita, é uma das maiores e mais tradicionais celebrações folclóricas do Brasil. Realizada desde 1965, a comemoração entrou para o Calendário Turístico do Estado através da Lei nº 9.428/1996, aprovada na Alesp. A realização do evento e a importância da cidade para a preservação do folclore brasileiro garantiram a Olímpia o título de Capital Nacional do Folclore pela Lei Federal nº 13.566/2017.

Apresentação durante o Festival Nacional do Folclore de Olímpia

Segundo a organização, o festival contou com 60 grupos folclóricos de todas as regiões do Brasil. Ao todo, foram 1,8 mil pessoas entre dançarinos, músicos e equipes de apoio participando das atrações, trazendo cultura e apresentando o folclore de todo o país.

Já na região do Vale do Paraíba, acontece entre os dias 23 e 25 deste mês a 63º edição da Festa de Folclore de Taubaté. O evento, incluído pela Alesp no Calendário Turístico do Estado na Lei nº 10.080/1998, contará com 37 atrações e terá entrada gratuita.

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