Para comemorar os 116 anos da chegada dos primeiros imigrantes japoneses ao Brasil, a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo sediou, na noite desta segunda-feira (24), um ato solene promovido pelo deputado Márcio Nakashima (PDT). Além de recordar o início do fluxo migratório, a solenidade ainda enalteceu a cultura japonesa e os vínculos entre os dois países, estabelecidos em diversas áreas.

"Falar dos mais de 100 anos da imigração japonesa no Brasil é sempre motivo de muito orgulho, principalmente para nós, descendentes. Meu pai sempre contava a mim e a minhas irmãs histórias que ele ouviu de nossos avós, que atravessaram o oceano e aqui fincaram suas raízes. O legado da luta do povo japonês está em todo lugar de nosso estado. Na espiritualidade, filosofia, agricultura, culinária, comércio, indústria, comunicação, entre tantos outros setores", disse Nakashima.

Também descendente de japoneses, o deputado Felipe Murakami Franco (União) ressaltou a importância dos valores da cultura nipônica na formação da sociedade brasileira.

"Na minha vida como atleta e educador físico, percebi que o esporte tem o poder de unir pessoas, independentemente de suas origens. A história do povo japonês, por meio da disciplina, resiliência e todo o espírito da comunidade que caracteriza sua cultura, também nos dá a oportunidade de aprender sobre isso", afirmou o parlamentar.

(Re) começo

No dia 18 de junho de 1908, o navio Kasato Maru chegou ao porto de Santos trazendo os primeiros 781 japoneses ao Brasil. No litoral paulista, esses imigrantes chegaram ao estado após 52 dias de viagem com a esperança de dar um novo começo as suas vidas e de seus familiares.

"Ao longo desse tempo, os nossos pioneiros vêm dedicando os seus esforços para o desenvolvimento da sociedade brasileira. Essa contribuição para construir uma identidade multicultural nesse país é muito preciosa e bonita e esse vínculo que se construiu não pode ser quebrado. Acredito que os imigrantes japoneses são símbolos do Brasil e da capacidade de enriquecimento que o país possui ao acolher tão bem imigrantes do Japão e de outros países", defendeu o cônsul-geral do Japão em São Paulo, Shimizu Toru.

Segundo estimativas do Consulado, existem cerca de 2,7 milhões de japoneses e descendentes ao redor de todo o país, sendo 1,3 milhão apenas no estado de São Paulo. Com esse número, o Brasil abriga a maior comunidade japonesa fora do Japão.

O 18 de junho, dia da chegada dos primeiros imigrantes, é reconhecido pela Alesp como o Dia do Descendente Japonês e o Dia da Imigração Japonesa.

Mais imagens do evento:



Laços

Para demonstrar os laços entre Brasil e Japão, a solenidade foi aberta por duas apresentações da cultura japonesa. A primeira foi uma performance de Taiko, estilo musical feito exclusivamente por instrumentos de percussão tradicionais japoneses.

"Para mim, o Taiko foi o passo Inicial para eu começar a ir buscar a cultura japonesa. Foi quando comecei a ter curiosidade sobre minha ancestralidade. Quando comecei a tocar, me diverti, fiz novos amigos, isso me ajudou bastante nesse lado social e vi muito valor nisso", contou o diretor e fundador de uma escola de Taiko, Felipe Fugimoto.

Fundada em 2015, seis anos depois de Felipe conhecer o estilo musical, a Ikkon São Paulo Taiko Dojo tem duas unidades em São Paulo e busca difundir a cultura japonesa, seja para descendentes ou não. "A mesma coisa que eu aprendi no Taiko, achei que poderia servir para muitas pessoas que passavam por problemas parecidos como os meus. Para a gente, não faz diferença a sua origem ou descendência, o que importa é se você gosta e tem curiosidade. O meu objetivo hoje é disseminar o Taiko para o máximo de pessoas possível", afirmou Fugimoto.

Nesse objetivo, Felipe comentou sobre a importância de transmitir essa cultura para as pessoas mais jovens, que seguirão um legado construído por ele. Para isso, o grupo realiza atividades gratuitas na cidade, algumas vezes em escolas, onde muitas crianças têm o primeiro contato e se interessam em começar a tocar o Taiko.

"Eu não quero que isso acabe em mim, mas que alguém siga com isso adiante e, com certeza, as crianças são quem vão levar isso para frente. Então, é um grande prazer estar ensinando elas também. Temos vários projetos para começar a ter atividades de Taiko em escolas, porque, apesar de toda essa carga cultural e meio marcial que ele traz, ele é bastante musical e pode desenvolver bastante esse lado nas crianças", completou o músico.

Valores

A outra apresentação foi de Karatê, arte marcial japonesa que se tornou um dos símbolos do país. Os responsáveis foram os atletas da academia Jyureikan Brasil, que possui representantes em cinco estados brasileiros.

"Eu comecei no karatê com 13 anos em um projeto social que acontecia lá na região da zona leste de São Paulo, no Jardim Iguatemi. Hoje, a gente está aqui do outro lado do mundo, seguindo adiante com a cultura japonesa, e temos um trabalho muito importante de entender a relevância do Karatê na formação dos cidadãos", comentou o sensei Wellington Serri, que pratica o esporte há 18 anos, apesar de não ser descendente de japoneses.

"Precisamos dar valor à filosofia, ao respeito, à disciplina e à prática constante, que vieram através da cultura japonesa. Conseguimos reforçar isso no dia a dia de treino, relacionando esses valores com a formação pessoal dos atletas", completou o carateca.

Assista ao evento, na íntegra, na transmissão feita pela TV Alesp: