A Assembleia Legislativa realizou na sexta-feira, 24/3, sessão solene com a finalidade de recordar os 12 anos de morte do presidente libanês Rafic Hariri " vítima, com mais 21 pessoas, da explosão de um carro-bomba " e o surgimento da Revolução do Cedro. Iniciativa do deputado Alencar Santana (PT), a cerimônia foi conduzida por Beth Sahão (PT) e contou com a participação do deputado federal Antonio Goulart (PSD-SP), do ex-deputado Simão Pedro, além de diversos representantes da comunidade libanesa no Brasil. Mohamed Laila, presidente de honra do Movimento Futuro do Brasil, afirmou que a morte de Rafic Hariri foi uma perda para todo o povo libanês, independentemente de religião, já que o líder implementou uma política de união e de modernização do Líbano que não fazia diferença entre cristãos, muçulmanos ou ateus. "Ele servia a todos na igualdade e na justiça social". Para o xeique Muhamed Barakat, do Conselho Superior dos Teólogos e Assuntos Islâmicos do Brasil, o mártir proporcionou ensino a milhares de jovens, que não haviam tido essa oportunidade por conta dos vários anos de guerra civil. Além disso, promoveu união e diálogo entre todo o povo do Líbano, o que permitiu um consenso sobre a unidade nacional como prioridade. Moguls abi Banuk, representante do Levante Popular da Síria, lembrou que Hariri iniciou as conversações com o então presidente Hafez al-Assad " e com a comunidade internacional " para a retirada do exército sírio do país. "Quando sentiram que Hariri iria conseguir a ordem para a retirada de todos os exércitos do país, ele pagou com a vida". Banuk ressaltou, entretanto, que o povo sírio também vivia "em um barril de pólvora", porque já não conseguia se calar " oprimidos que eram, como são agora no governo do filho, Bashar al-Assad " diante das injustiças. "Mas agora o povo está conseguindo conquistar seus objetivos, e os militantes revolucionários já estão nas portas de Damasco". Também se pronunciaram em memória a Rafic Hariri e à reconstrução do Líbano Mohamad El Kadri, da Associação Islâmica de São Paulo; Amir Mazloum, da Sociedade Islâmica de Guarulhos; e Ali Ahmad Majdoub, da União de Estudantes Muçulmanos do Brasil. Líbano: história de conflitos Berço da cultura fenícia, o Líbano, com seus 7 mil anos de história, já foi dominado por assírios, persas, gregos, bizantinos, turcos otomanos e, após a Primeira Guerra Mundial, pelos franceses. A França, em 1942, estabeleceu no Líbano um sistema político conhecido como confessionalismo, uma partilha de poder com base em comunidades religiosas. O país ganhou a independência em 1943, e as tropas francesas se retiraram em 1946, mas o período de relativa calma e prosperidade durou menos de 30 anos. Também pertencente ao império otomano até a Primeira Guerra, a Palestina passou a ser dominada pela Inglaterra, que a cedeu, em 1948, para a instituição do Estado de Israel. O afluxo migratório de refugiados muçulmanos palestinos alterou o tênue equilíbrio do mosaico demográfico libanês. Eclodiu então a guerra civil. De 1975 a 1990, lutaram muçulmanos contra cristãos maronitas, palestinos contra libaneses. Até o final da guerra, quase todos os partidos tinham se aliado e traído as alianças pelo menos uma vez. O exército sírio, com aval da Liga Árabe, interveio pelo norte e leste, e Israel, a pretexto de neutralizar as forças da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) instaladas no país, invadiu pelo sul, chegando a tomar Beirute. Mesmo após o fim da guerra civil, as forças de Israel permaneceram no sul do Líbano até 2000 (depois disso, houve a Guerra de Julho, ocorrida em 2006). Já a Síria, que controlava na prática o resto do território libanês, não retirou suas tropas até 2005, quando foi obrigada a abandonar o país após as repercussões do assassinato do presidente Rafik Hariri, que culminaram com a eclosão da Revolução do Cedro e com a intervenção diplomática de Estados Unidos, França e Nações Unidas. O atentado foi atribuído a autoridades do governo sírio, conforme apuração realizada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.