Por iniciativa do deputado Padre Afonso Lobato (PV), foi realizada nesta quinta-feira, 16/3, solenidade para comemorar o lançamento da Campanha da Fraternidade edição 2017, que tem como tema biomas brasileiros e defesa da vida. Duplamente qualificado para a missão, por ser padre e por pertencer ao Partido Verde, Afonso Lobato presidiu a mesa que orientou os trabalhos e que foi composta pelo cardeal de São Paulo, Odilo Scherer, pelo bispo de Mogi das Cruzes, Pedro Luiz Stringhini, pelo secretário estadual da campanha, Antonio Evangelista, e pelo mestre de cerimônias e também coordenador regional da campanha, Antônio Carlos Frizzo. Apresentar o tema O tema é escolhido com bastante antecedência para que sejam feitos debates e preparado o material que dará apoio à campanha, tanto que para 2018 o tema já foi escolhido e será sobre violência, conforme informou o padre Jaime Crowe, um ativista na luta pelos direitos humanos em Jardim Ângela, zona sul de São Paulo, e que representava, na solenidade, o bispo da diocese de Campo Limpo, Luiz Antônio Guedes. Primeiro a falar na solenidade, o secretário da campanha Antonio Evangelista explicou a importância de se ensinar o tema, que é desconhecido para a grande maioria, que não vê as consequências de uma agressão ao meio ambiente num bioma como a floresta amazônica, por exemplo, para outro bioma, como a Mata Atlântica, tão distante, mas tão dependente do que ocorre a mais de 2.000 km de distância. Ninguém cuida do que não conhece, alertou Evangelista. Foi nessa mesma linha a abordagem de Dom Pedro Stringhini ao tema que, segundo ele, causa estranheza em muitas pessoas, porque não veem relação entre a defesa do meio ambiente e a Bíblia. No entanto, Deus nos deu uma casa comum para que cuidemos dela, e devemos respeitar o dom da criação, explicou. Dom Pedro falou ainda de como o tema se preocupa com a vida " porque começa com bioma (bio=vida e oma=massa) e termina com vida " e acrescenta que a ecologia está presente, nos 54 anos de existência da Campanha da Fraternidade, em pelo menos oito edições. Nesta versão de 2017 a preocupação com os biomas se justifica não só no cuidado com as plantas, os animais, mas também e principalmente com as pessoas, especialmente com as que vivem nesse "bioma humano", na selva de pedra que se transformou a metrópole de São Paulo, e também dos indígenas, dos caiçaras e outros povos, que vivem dentro do bioma Mata Atlântica. Dom Pedro agradeceu ao deputado Padre Afonso pela acolhida à campanha na Assembleia Legislativa, local onde ela terá possíveis desdobramentos que venham ao encontro do tema. Preocupação da Igreja O cardeal Odilo Scherer fez sua intervenção falando da responsabilidade de todos nós no cuidado com a natureza: "alguns entendem que a palavra bíblica dirigida por Deus ao homem "sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a" tenha sido uma autorização dada pelo Criador ao homem para que este avance sobre a natureza com sofreguidão e se aposse de suas riquezas. No entanto, essa interpretação da bênção divina originária dada ao homem não é boa. O mundo foi, de fato, entregue aos cuidados do homem, mas para que este seja um aliado de Deus no cuidado e na administração da natureza. A imagem do jardim, no qual Deus colocou o homem, expressa bem essa ideia: "O Senhor Deus tomou o homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e guardar". Portanto, a depredação da natureza não encontra seu fundamento na narração bíblica da criação. O cardeal continuou falando sobre a preocupação do cristianismo com a temática ecológica, citando, entre os papas mais recentes, Paulo 6º, que na encíclica Octogesima Adveniens adverte: "por causa da exploração irrefletida da natureza, o homem corre o risco de destruí-la e de se tornar, ele próprio, vítima dessa degradação". Dom Odilo Scherer argumenta que já convivemos com parte dessa degradação, apenas 50 anos após a edição dessa encíclica. Passando por João Paulo 2º " que sugeriu a inclusão do direito a um ambiente seguro na Carta de Direitos Humanos, por Bento 16, que também se manifestou em diversas ocasiões em favor da causa ambiental, reiterando que a Igreja tem responsabilidade em relação à questão ambiental e deve fazer ouvir a sua voz em âmbito público, e chegando a Francisco, que propôs, na encíclica Laudato si, de 2015, "uma ecologia integral, em que as questões ambientais, as humanas e as sociais caminhem juntas". Francisco foi mais longe, questionando o impacto presente e futuro do progresso econômico, das novas tecnologias e do sistema financeiro sobre os seres humanos e o ambiente. O papa ainda denunciou a idolatria ao dinheiro e às riquezas, que acaba por sacrificar a natureza e o próprio ser humano à sua lógica, critica a cultura do desperdício e do descarte das pessoas, e fala da urgência de unir esforços na busca de soluções para a grave crise ambiental. Presente à solenidade, o Centro de Apoio e Pastoral do Migrante fez sua intervenção falando sobre o direito dos imigrantes no mundo "nenhum direito a menos" e distribuiu para os presentes o jornal Nosotros Imigrantes, cuja edição apresenta a 10ª marcha dos imigrantes realizada em São Paulo, e faz uma homenagem à memória de Dom Paulo Evaristo Arns.