Líder do PORT Jeremias foi morto por usineiros ainda antes do golpe militar de 1964
27/05/2014 13:25 | Da Redação: Keiko Bailone Fotos Roberto Navarro









A personalidade, a militância política e o assassinato, aos 22 anos, do jovem dirigente trotskista Paulo Roberto Pinto, conhecido como Jeremias, foram relembrados pela Comissão estadual da Verdade Rubens Paiva. Pessoas que vivenciaram a sua trajetória política ou que resgataram sua passagem na história enquanto líder do Partido Operário Revolucionário Trotskista (Port) participaram nesta segunda-feira, 26/5, da 123ª reunião da Comissão estadual da Verdade Rubens Paiva.
Logo no início da sessão, o deputado Adriano Diogo, presidente da Comissão, lembrou que a situação de Jeremias é diferente, pelo fato de o militante político ter sido assassinado antes do golpe militar de 1964 e a repressão, nesse caso, ter sido exercida por usineiros, latifundiários de Itambé, Pernambuco. O jovem militante reivindicava o 13º salário para os trabalhadores de usinas de açúcar. Foi assassinado por pistoleiros a serviço do latifúndio Oriente, quando liderava uma greve de trabalhadores rurais.
Preparação para o golpe
O professor da Unifesp Murilo Leal, autor do livro À Esquerda da Esquerda - Trotskistas, Comunistas e Populistas no Brasil Contemporâneo, explicou a fase histórica por que passava o país no período de 1962 a 1964, principalmente em Itambé, PE, onde ocorriam greves de trabalhadores de canaviais.
A organização de Jeremias tinha poucos seguidores, "e atuava atacando problemas estruturais do Brasil que permanecem até hoje, ou seja, políticas de conciliação que davam permanência ao poder dos latifundiários". Segundo registro histórico feito por Leal, a atuação do núcleo de Jeremias "tomou para si a tarefa de lutar contra essa situação, levando a experiência que tinha em fábricas" - nascido em Minas Gerais, em 1940, Jeremias passou parte de sua infância e juventude em Mogi das Cruzes, quando trabalhou em gráficas e tornou-se sindicalista.
Repetindo Adriano Diogo, Leal destacou que o assassinato do jovem dirigente trotskista "foi uma preparação para o movimento contrarrevolucionário de 1964".
Desvendando memórias
José Felipe Rangel Gallindo, autor do livro Jeremias - O Trotskismo no Campo em Pernambuco e também roteirista do vídeo Jeremias, produzido pela Comissão Rubens Paiva, contou que sua pesquisa demorou dez anos. Nessa época, foi ao engenho Oriente, onde ocorreu o assassinato, conversou com familiares e com a comunidade de Itambé.
"Fui mexer na onça com a vara curta porque tentaram apagar o nome do Jeremias; até crianças eram proibidas de ser batizadas com o nome de guerra de Paulo Roberto Pinto", relatou. Mesmo a aproximação com a família foi difícil, disse.
Segundo o resgate histórico feito por Gallindo, o sindicalismo rural efervescia em Pernambuco, razão pela qual Jeremias foi enviado à região. "No contexto histórico, ele chegou no olho do furacão. À época, para os latifundiários, pagar um direito trabalhista era impensável", observou o pesquisador. Ele denunciou também o caso do juiz Edgar Sobreira, encarregado do caso Jeremias, preso e afastado por tentar esclarecer os fatos.
Ternura do militante
Lélia Pinto fez um longo relato do convívio familiar que teve com o irmão até que este completou 16 anos. Nessa idade, lembrou, seu pai o expulsou de casa, pois havia liderado uma greve dos trabalhadores da gráfica de seu próprio genitor.
Na realidade, apesar de ter sido criado por pais comunistas e em cuja casa discutia-se política de classes no almoço e jantar, Paulo Roberto Pinto tinha frequentes embates com o pai. Por vezes, Lélia Pinto recorreu às páginas dos oito livros que chegaram às suas mãos sobre o trotskismo e a militância política de seu irmão, a quem chamava de Paulinho, para lembrar fatos passados. Confessou que não conhecia a importância de seu irmão como militante político e mostrou-se admirada com a importância que "Paulinho dava ao próximo".
Essa qualidade do militante político trotskista foi também lembrada pelos companheiros Cláudio Antonio de Vasconcelos Cavalcanti e Martinho Leal Campos. "Na minha vida de militante, conheci poucos que demonstravam tanto amor ao próximo quanto o Jeremias", disse Cavalcanti. Segundo ele, Jeremias nunca adotava uma posição sem antes consultar as massas. Em Itambé, apesar de convidado pelos usineiros para negociatas, nunca aceitava acordos, fossem quais fossem, sem ouvir a plenária de camponeses. "Ele sempre acatava o que os camponeses propunham, mas nunca radicalizava".
A ternura e a firmeza de Jeremias foi igualmente destacada por Martinho Leal Campos, para quem o dirigente trotskista "representava a postura legítima de avanços no processo com destemor".
Maria José Lenise de Sá, companheira de Aybirê Ferreira de Sá, autor do livro Das Ligas Camponesas à Anistia - Memória de um Militante Trotskista, comentou que "Jeremias era de uma humanidade profunda". Destacou que tanto seu companheiro quanto Jeremias tinham a preocupação de doutrinar as pessoas ao seu redor, fazer com que trocassem ideias, e não ficavam arrebanhando pessoas pura e simplesmente.
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