Audiência das comissões da Verdade estadual e nacional aborda casos de militantes da ALN
24/02/2014 21:00 | Da Redação: Gabriel Cabral Fotos: José Antonio Teixeira e Yara Lopes

















Em audiência conjunta, a Comissão da Verdade do Estado de São Paulo, presidida pelo deputado Adriano Diogo (PT), e a Comissão da Verdade nacional abordaram, nesta segunda-feira, 24/2, casos de assassinatos de militantes da ALN pela ditadura militar. O advogado José Carlos Dias e a psicanalista Maria Rita Kehl, integrantes da comissão nacional, participaram da sessão.
Iara Xavier Pereira, ex-militante da ALN e irmã de Iuri e de Alex de Paula Xavier Pereira, relatou os casos de Alex e Gelson Reicher, ambos assassinados em 20 de janeiro de 1972, na mesma emboscada. Além de abordar aspectos de sua formação e militância, Iara questionou a versão oficial dada às mortes dos ativistas, que teriam ocorrido em tiroteio com policiais. "Trata-se de um caso de ocultação de cadáveres, que merece análise aprofundada por parte da Comissão da Verdade", afirmou, lembrando que após a exumação dos corpos pôde-se constatar discrepâncias em relação à versão oficial.
Emocionada, Iara também descreveu os casos de Iuri, Ana Maria Nacinovic Corrêa e Marcos Nonato, os três cariocas e assassinados aos 23, 25 e 19 anos, respectivamente. "É muito difícil resgatar a história; já se passaram 40 anos. Hoje sei que nunca teremos o conhecimento pleno das verdadeiras circunstâncias das mortes de nossos companheiros, mas somos persistentes, não desistimos nunca", declarou.
Falsidade nos laudos oficiais
Os peritos da Comissão nacional da Verdade, Mauro Yared e Pedro Luiz Lemos Cunha, discorreram sobre a análise que fizeram dos casos de Iuri e Alex, mediante elementos extraídos de documentos e da exumação dos corpos. De acordo com Mauro Yared são casos que permitem a definição de padrões de atuação específicos. Os peritos demonstraram, através de projeção de figuras, a existência de discrepâncias evidentes em relação à versão oficial das mortes, especialmente quanto ao número de perfurações causadas por armas de fogo.
Em seu depoimento, Francisco Carlos de Andrade, ex-preso político e militante da ALN, falou sobre as lembranças dos casos de Alex, Gelson, Iuri, Ana Maria e Marcos, companheiros com os quais convivia quase que diariamente e, portanto, conhecia muito bem. Contou que certa vez, quando preso, foi levado ao Detran - o que acontecia com certa frequência, para proceder a alguma identificação -, quando o carro que o levava parou ao lado de um fusca. No local, reconheceu os corpos de Alex e Gelson. Em outra ocasião, no pátio da Oban, onde ficou preso por um ano, viu, jogados no chão, os corpos de Iuri, Ana Maria e Marcos. Em todos os casos, Francisco Carlos afirmou ter certeza de se tratarem desses companheiros.
O advogado José Carlos Dias afirmou que o trabalho realizado pela Comissão Estadual da Verdade tem sido de valor inestimável e que contribuirá, de forma significativa, para a confecção do relatório final da comissão nacional, a ser apresentado em dezembro deste ano.
Vala clandestina
Antônio Pires Eustáquio foi administrador do cemitério Dom Bosco, em Perus, e deu seu depoimento às comissões. José Carlos Dias e Maria Rita Kehl realizaram perguntas ao ex-administrador, que entrou na direção do cemitério em 1976, época em que ainda eram realizados enterros clandestinos, mas sem seu conhecimento.
A permissão para abertura da vala clandestina de Perus somente foi concedida pela então prefeita da época, Luiza Erundina. O próprio Eustáquio foi responsável pela descoberta e anúncio da vala, e quando o caso ganhou repercussão internacional, o então administrador passou a ser ameaçado de morte e teve de mudar de endereço com sua família, sob proteção oferecida pela prefeita. Quando questionado sobre quem fazia ou mandava fazer as ameaças, Antônio contou que algumas pessoas lhe falaram que foi Paulo Maluf.
Iara Xavier Pereira contou que Eustáquio sempre colaborou muito com os familiares durante a procura das ossadas. Na vala clandestina foram encontrados os restos mortais de seus irmãos Alex e Iuri, bem como de Gelson Reicher.
T vermelho
Em seu depoimento, Eustáquio lembrou que os documentos que vinham com alguns corpos tinham um T vermelho, e que, anos depois, Antônio descobriu significar que aquela pessoa enterrada seria, de acordo com a polícia, terrorista. Disse também ter descoberto que alguns corpos com o T eram trazidos individualmente em um camburão, o que era incomum, pois corpos de indigentes eram normalmente trazidos em grupos de seis ou mais.
Falou sobre as exumações rotineiras e para onde foram levadas as ossadas, já que se abriu uma grande vala clandestina para que fossem depositados os ossos retirados das sepulturas de indigentes. Disse ter estranhado o fato de o governo ter se recusado a criar um crematório, e que ossadas também foram guardadas em sacos e deixadas em salas de velório que não eram utilizadas.
A comissão quis saber sobre os nomes dos administradores que antecederam a gestão de Eustáquio, o terceiro administrador empossado no cemitério Dom Bosco, criado por Paulo Maluf, prefeito de São Paulo, de 1969 a 1971. Antônio recordava apenas dos primeiros nomes: Dilermano e Rubens. Disse que não mantém contato com os administradores anteriores e que muitas pessoas que sabiam ou que estavam envolvidas com a questão da vala se recusavam a falar sobre o assunto.
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