Comissão da Verdade ouve depoimentos sobre militantes do MRT

Entre outros casos, foi abordado o de Ivan Seixas, coordenador da comissão
26/04/2013 22:35 | Da Redação: Josué Rocha e Monica Ferrero Foto: Maurício Garcia de Souza

Compartilhar:

Adriano Diogo,  coordenador da Comissão da Verdade<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-04-2013/fg124253.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Isaura Coqueiro<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-04-2013/fg124254.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Ivan Seixas<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-04-2013/fg124255.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Adriano Diogo e Ivan Seixas<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-04-2013/fg124256.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Ivan Seixas e Rosalina Santa Cruz<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-04-2013/fg124257.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Público presente<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-04-2013/fg124258.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Presentes na Comissão da Verdade<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-04-2013/fg124259.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Pedrina José de Carvalho<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-04-2013/fg124260.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Maria Amélia Teles, Ivan Seixas, Isaura Coqueiro e Pedrina José de Carvalho<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-04-2013/fg124261.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

A audiência pública da Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva realizada nesta sexta-feira, 26/4, na Assembleia Legislativa, ouviu testemunhos sobre os casos de Joaquim Alencar de Seixas, Ivan Seixas, Devanir José de Carvalho e Aderbal Alves Coqueiro, que eram militantes do Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT).

Ivan Seixas prestou testemunho de sua prisão e as torturas a que foi submetido, aos 16 anos de idade, em 16/4/1971, juntamente com seu pai, Joaquim Alencar de Seixas, que veio a falecer no dia seguinte. Seixas frisou que há de se observar aspectos humanos e sociais das pessoas que foram presas, torturadas, assassinadas durante o período da ditadura (1964/1985).

"Eles viveram para o Brasil, tinham família, eram trabalhadores, estudantes. Sem essa consciência dos fatos, a resistência não faz sentido", disse. Ele ressalvou também que as pessoas que resistiram ao golpe não eram apenas estudantes, mas operários, mulheres, nordestinos, negros, enfim representantes de vários segmentos do povo brasileiro.

Família Seixas

O pai de Seixas era mecânico de aeronaves e trabalhava na Varig, tendo sido demitido e perseguido pela classe patronal quando denunciou, entre os anos de 1943 e 1944, que o governo de Getúlio Vargas e a própria empresa tinham ligações com o governo de Hitler, na Alemanha.

Ivan Seixas rememorou a formação da Ala Vermelha, espécie de facção armada do PCdoB, que deu origem à criação do Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT), do qual Joaquim Seixas se tornou dirigente. Uma ação notória do grupo, em conjunto com a Aliança Libertadora Nacional (ALN), foi o "justiçamento" do empresário Albert Henning Boilensen, que financiava a repressão.

Segundo Seixas, o MRT teve perdas significativas após terem prendido e torturado Edgar de Almeida, que passou a delatar ex-companheiros. Ele afirma que as prisões e torturas se seguiram e foram importante fonte de informações das forças repressivas.

Para se evitar maiores perdas, os grupos de ação eram pequenos com, no máximo, dez pessoas. Ele relatou que Devanir José de Carvalho e seu pai foram presos e torturados, mas conseguiram não delatar os companheiros. Já Dimas Antonio Casemiro, outro companheiro e dirigente do MRT, não chegou a ser torturado, pois morreu fuzilado em 17/4/1971.

Ivan Seixas ainda relatou a prisão de sua mãe e irmãs, que foram também levadas ao DOI-Codi e torturadas. A casa da família foi saqueada. Ieda Seixas, irmã de Ivan, também prestou testemunho da prisão e das agressões, inclusive sexuais, a que foi submetida. Ieda ficou presa por um ano e meio, e não era militante política.

Operários militantes

No período da tarde, o primeiro caso a ser abordado foi o de Aderbal Alves Coqueiro, que havia iniciado sua atuação política no Partido Comunista Brasileiro (PCB), mas por último militou no MRT. Preso em 1969, foi torturado no Dops/SP pelo delegado Fleury.

Em junho de 1970, Coqueiro foi banido do Brasil, com mais 39 presos, em troca da libertação do embaixador da Alemanha no Brasil, Von Holleben. Retornou ao Brasil clandestinamente, após treinamento para guerrilha em Cuba, em janeiro de 1971, indo ao Rio de Janeiro, onde foi executado em operação policial do DOI-Codi/RJ em 6/2/1971. O laudo necroscópico elaborado na época indicava que Coqueiro teria morrido em confronto com a polícia, que teria montado grande operação para prendê-lo.

Sobre o caso, prestaram depoimento a viúva Isaura e a filha Célia Aderbal Alves Coqueiro. Isaura contou que soube da morte do marido pela tevê, pois sequer sabia de seu retorno ao Brasil. Quando da prisão de Aderbal, Isaura deixou o Brasil, indo com os dois filhos primeiramente ao Chile e depois a Cuba, onde ficaram por sete anos, retornando com a anistia. Célia Coqueiro deu detalhes sobre o que levantou sobre a militância, a prisão e a morte de seu pai.

Influência norte-americana

A seguir, a comissão abordou o caso de Devanir José de Carvalho, também militante do MRT. Nascido em 1943, sua família mudou para São Paulo. Passou a trabalhar como metalúrgico no ABCD paulista, sendo um dos fundadores do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema. Após o golpe de 1964, foi para o Rio de Janeiro, retornando a São Paulo em 1969, quando se desligou da Ala Vermelha e, juntamente com outros companheiros, fundou o MRT. Participou do sequestro do cônsul japonês em março de 1970.

Devanir foi preso em 5/4/1971, numa emboscada no bairro do Tremembé, na capital. Levado ao Dops/SP, morreu três dias depois, sob tortura da equipe do delegado Fleury. Ele era uma pessoa muito procurada pela repressão, e no período em que foi torturado consta no livro de presença do Dops/SP a visita de Claris Halliwell, adido consular dos EUA.

Em seu laudo necroscópico, consta um T em vermelho, e na profissão está escrito "terrorista". Consta ainda que seu corpo foi levado ao cemitério de Vila Formosa, mas sua família, que teve de fugir do país, nunca encontrou seus restos mortais, bem como os de seu irmão Joel.

Segundo Ivan Seixas, Devanir era uma "figura de respeito pela sua determinação revolucionária e amor ao Brasil, e comandava as ações da esquerda armada em São Paulo. De origem operária, sua trajetória de vida deve ser lembrada para sempre como um dos heróis do país".

Esteve presente à reunião da Comissão da Verdade a viúva de Devanir José de Carvalho, Pedrina, que também falou sobre a militância de Aderbal, que era como um irmão para seu marido. Para Ivan Seixas, as viúvas de militantes foram heroínas, pois com força e garra lutaram para manter as famílias unidas.

Memórias vivas

No início dos trabalhos, o deputado Adriano Diogo (PT), presidente da Comissão da Verdade, disse que os relatos dessa audiência, a 35ª reunião da comissão, trariam detalhes da resistência armada à ditadura militar. Disse também que embora os fatos tenham ocorrido há quase 40 anos, eles estão ainda muito presentes. "Tenho a impressão de que vai entrar alguém e mandar parar tudo isso", declarou.

Diogo comemorou o fato de o governo do Estado de São Paulo, após solicitação feita pela Comissão da Verdade, ter decidido alterar o registro nos assentamentos funcionais de Fernando Santa Cruz, desaparecido político após ter sido levado preso por agentes do DOI-Codi do Rio de Janeiro. Cópia desse documento, regularizando a situação funcional de Fernando no DAEE foi entregue, dirante a reunião, à Rosalina Santa Cruz, irmã de Fernando.

A Comissão da Verdade, no período da manhã, teve o depoimento de Asier Altuna, militante do partido político espanhol Sortu (nascer em língua basca), que tem como bandeira política a independência do povo que vive nas comunidades autônomas do País Basco e Navarra. Ele relatou perseguição política sofrida por um professor universitário, ex-guerrilheiro, que atualmente se encontra no Rio de Janeiro e já pediu asilo político ao Brasil. Ivan Seixas ponderou que até hoje a Espanha não instituiu a Comissão da Verdade para reconstruir a história vivida durante a ditadura de Francisco Franco.

alesp