DA REDAÇÃO Sob presidência de Geraldo Vinholi (PDT), a Comissão de Agricultura e Pecuária realizou sua última reunião de 2003, abordando os problemas que atingem o setor da pecuária de corte no Estado. Para tanto compareceram Eduardo Soares de Camargo, representando a Sociedade Rural Brasileira, Carlos Viacava, presidente da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil, e João Gilberto Bento, diretor do Fundo de Desenvolvimento da Pecuária do Estado de São Paulo (Fundepec). Os membros da comissão presentes foram Beth Sahão e José Zico Prado (PT), Edson Gomes (PFL) e Ricardo Castilho (PV).Camargo afirmou que o mercado de carnes, como um todo, vai muito bem em São Paulo, que, embora não tenha o maior rebanho do país, é o Estado que mais exporta, devido à estratégia de investimento na qualidade dos pastos. "Isso permite que a produção pecuária continue crescendo sem a necessidade de aumentar a área de pastagens", afirmou. O pecuarista chamou a atenção também para a reforma tributária. Em sua opinião, a reforma deveria isentar do pagamento de ICMS as transações com matrizes e sêmen. "Esse tipo de investimento em tecnologia se equipara à aquisição de máquinas industriais", argumentou.Viacava chamou atenção para a situação do Estado como importante centro de desenvolvimento genético de gado, além de ter as melhores pastagens do país, que totaliza anualmente US$ 1,5 bilhões em exportação de carne. "O Brasil tem o segundo maior rebanho comercial do mundo. Só perde para os Estados Unidos, que tem um consumo interno muito maior", afirmou. Viacava informou também que o brasileiro consome em média 40 quilos de carne bovina por ano e declarou que os pecuaristas não podem esperar aumento na demanda interna, pois esta está diretamente ligada à renda.Devido à importância das exportações para o futuro do setor, Viacava chamou destacou a responsabilidade da Assembléia Legislativa e do Executivo estadual na questão sanitária. "Os mercados importadores, principalmente o europeu, exigem rigorosa qualificação dos alimentos importados", disse ele. "Um único foco de febre aftosa no Estado representaria uma verdadeira tragédia econômica para os pecuaristas".RastreabilidadeUma das exigências sanitárias do mercado europeu é a rastreabilidade, ou seja, um certificado de procedência de cada animal ou lote de animais. Viacava afirmou que essa exigência é muito fácil de cumprir, pois bastam 40 dias em uma fazenda para que se possa qualificar o rebanho a ser abatido. "A oferta de gado rastreado aumentou tanto que, hoje, seu preço está equiparado ao rebanho sem a especificação", comentou.João Gilberto alertou para o fato de que a Agência de Defesa Sanitária conta atualmente com apenas 1.600 funcionários, dentre os quais apenas 120 veterinários. "O último concurso para o órgão foi em 1989 e a média de idade dos quadros está em torno de 53 anos. Isso significa que, se não forem realizados concursos em breve, os funcionários atuais vão se aposentar sem transmitir o conhecimento adquirido durante décadas aos novos agentes".Carlos Viacava informou que São Paulo foi o pioneiro na criação do Fundo de Desenvolvimento da Pecuária (Fundepec) a partir de doações voluntárias de pecuaristas. "Sua função era ajudar a Vigilância Sanitária e sua contribuição foi fundamental para a erradicação da aftosa no Estado", lembrou. Viacava disse também que a iniciativa foi implantada com êxito por outros sete Estados, mas lamentou que a criação da Guia de Transporte Animal (GTA) tenha duplicado os gastos do setor. "Esse investimento é somado no bolo do orçamento e não volta para o setor da pecuária. Se o GTA fosse informatizado, e há recursos mais que suficientes para isso, a própria guia poderia substituir a certificação de rastreabilidade". O presidente da comissão, Geraldo Vinholi, afirmou que pretende marcar, ainda neste ano, reunião com o governador do Estado para discutir a regulamentação da Agência de Defesa Sanitária, mas sugeriu a implementação de uma câmara setorial para discussões mais profundas com o governador e com o secretário de Agricultura e Abastecimento.