O LADO PERVERSO DA "CALIFÓRNIA BRASILEIRA" - OPINIÃO
Desde que se usou pela primeira vez a expressão "Califórnia Brasileira", no final da década de 70, para se referir ao potencial de desenvolvimento de Ribeirão Preto, a cidade tem experimentado o lado perverso da publicidade. Criou-se a ilusão de que o município, encravado quase no meio de São Paulo, era o endereço certo para melhorar de vida.
E a onda migratória, estimulada principalmente pela cultura canavieira da região que é a maior produtora de açúcar e álcool do mundo, hoje é o viés de problemas sociais crônicos. De fato, a cana-de-açúcar transformou a região de Ribeirão Preto em uma das melhores rendas per capita do país, na segunda melhor cidade paulista e na sexta entre os mais de 5.000 municípios brasileiros, segundo o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), da ONU.
Anualmente, circulam pela cidade 51 bilhões de dólares, 18% de toda a riqueza gerada no Estado paulista. O nível de analfabetismo é controlável; a taxa de mortalidade infantil, que serve para medir a eficiência de uma política pública de saúde, está próxima do que a ONU considera aceitável - 10,84 (dez mortes a cada grupo de 1.000 nascidos vivos com até um ano de idade), enquanto a média do país é de 37 e a do Estado, 17.
Paradoxalmente, Ribeirão Preto tem experimentado uma explosão nos índices de violência, aumento acentuado no número de favelas e desemprego. O município não conseguiu, ao longo dos anos, criar oportunidades de emprego na velocidade do crescimento da população.
Soma-se a esses fatores a presença do narcotráfico, estimulada pelo razoável poder aquisitivo da comunidade e pela privilegiada infra-estrutura de transporte, que garante o escoamento da droga rapidamente para todo o país. Segundo a polícia, 90% dos homicídios têm origem no acerto de contas entre traficantes, queima de arquivo e brigas entre gangues rivais.
Nos últimos cinco anos, o número de homicídios cresceu 71%, sem considerar as mortes por crimes dos meses de novembro e dezembro deste ano. Foram 118 mortes durante todo o ano de 1995 contra 202 até o final de outubro deste ano. No ano passado, foram 235 assassinatos, com o envolvimento de 51 adolescentes.
Sobre esse último aspecto, há considerações importantes. Fora a capital e a Grande São Paulo, a Febem de Ribeirão Preto é a mais problemática do Estado. Ganha de cidades de médio e grande porte como São José do Rio Preto e Campinas, esta última com quase 1 milhão de habitantes, o dobro de Ribeirão Preto. O número de adolescentes em privação de liberdade em Campinas chega a 120, enquanto em Rio Preto é de 42. Já a unidade de Ribeirão possui 170 internos e registrou, no ano passado, a morte de um adolescente de 17 anos durante um motim que destruiu uma de suas alas.
Segundo análise da própria Secretaria de Estado da Assistência e Desenvolvimento Social, três fatores contribuem para isso: o narcotráfico, a baixa eficiência de equipamentos e programas sociais e, o que considero mais marcante, a existência de uma "geração problemática", resultado do desemprego, principalmente no setor agrícola, provocado, por exemplo, pela sazonalidade da cultura da cana e posterior mecanização.
Nos últimos anos, foram extintos, segundo os sindicatos, cerca de 30 mil postos de trabalho na lavoura da cana, que se somam ao contingente ainda sem emprego. São na maioria pais de família - mão-de-obra não qualificada - que vivem sem renda fixa, o que acaba "empurrando" os filhos ao tráfico e ao roubo.
A unidade da Febem de Ribeirão Preto, a exemplo do que vem ocorrendo em todo o Estado, está sendo reformulada com o intuito de recuperar o adolescente, em vez de puni-lo apenas.
Infelizmente, no caso de Ribeirão Preto somam-se dois problemas que foram se tornando cada vez mais agudos: a herança negativa de um mito que se criou sobre a bonança da cidade e a falha estrutural e histórica de um modelo de recuperação ultrapassado, que começa a ser revisto.
*Antonio Duarte Nogueira Júnior é deputado estadual pelo PSDB, vice-presidente do partido em São Paulo e vice-líder do Governo na Assembléia Legislativa. Engenheiro agrônomo, foi secretário de Estado da Habitação no governo Covas (1995/96).
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