Sexta feira - 13 de agosto de 1954
13/08/2004 17:25



Um presidente Vargas sorridente desembarcou no Aeroporto Santos-Dumont, no Rio de Janeiro, vindo de Belo Horizonte. Foi recebido pelo ministério e autoridades civis e militares. Após os cumprimentos, dirigiu algumas palavras à imprensa carioca e seguiu diretamente para o Palácio do Catete, no Rolls-Royce presidencial.
Teve início uma verdadeira caçada aos envolvidos no crime da Tonelero; João Antonio Soares e Climério Euribes de Almeida, por parte da polícia e de oficiais da FAB, que, cansados de esperar alguma ação efetiva por parte das autoridades policiais, resolveram formar grupos que se dirigiram para vários pontos do Estado do Rio e subúrbios da capital do país.
O ministro Nero Moura determinou a prisão do brigadeiro Franco Faria e do coronel Alvim em virtude dos pronunciamentos feitos durante a assembléia no Clube de Aeronáutica, em que pregaram a destituição do presidente da nação. À noite, no Clube Naval, reuniram-se os associados, em assembléia, para manifestar a solidariedade aos oficiais da Aeronáutica e corroborar a defesa intransigente da Constituição.
Na sede da Diretoria das Rotas Aéreas, órgão onde trabalhava Rubens Vaz, o major Gustavo Borges, que estava auxiliando nas diligências para a captura dos criminosos, realizou uma exposição sobre o desenvolvimento dos acontecimentos, a fim de evitar desencontros de informações entre os integrantes da corporação.
O deputado Afonso Arinos, líder da UDN na Câmara dos Deputados, pronunciou um longo discurso, considerado um dos melhores de toda a sua vida pública, em resposta ao do presidente Getúlio Vargas feito em Belo Horizonte. Em determinado momento de sua locução, Arinos disse:
"O governo do sr. Getulio Vargas é um estuário de lama e sangue.... Não é mentira a viuvez, a orfandade, os homens assassinados e feridos. Apelo a Vargas como presidente e como homem.. " E finalizou: "...lembre-se dos homens e deste país e tenha a coragem de ser um desses homens, não permanecendo no governo, se não for digno de exercê-lo".
No Senado Federal, o senador Arthur Bernardes Filho (UDN-MG), da tribuna, disse: "que o sr. Getúlio Vargas não tem mais autoridade para governar".
Por indicação de um detetive da Polícia Técnica e depois de uma busca incessante, foi efetuada a prisão, às 3 horas da madrugada, em sua própria casa, em São João do Meriti, de Alcino João do Nascimento, assassino do major Rubens Vaz e causador dos ferimentos em Carlos Lacerda e no vigilante municipal Sálvio Romeiro, na madrugada do dia 5 de agosto. Às 15 horas e 30 min., o pistoleiro foi levado preso para a Base Aérea do Galeão. Em depoimento aos membros integrantes da Comissão responsável pelo IPM, confessou a autoria do crime e acusou como mandante do crime o deputado federal Lutero Vargas, filho do presidente. A divulgação dessa informação pela imprensa caiu como uma verdadeira bomba em todo o Brasil.
Ao tomar conhecimento da denúncia, depois de intensa movimentação no Ministério da Guerra, o general Zenóbio da Costa dirigiu-se em proclamação ao país, pedindo que o povo confiasse na ação das autoridades.
Também foi divulgada uma possível articulação para a criação de uma aliança entre comunistas e getulistas. Segundo a oposição ao governo, estaria sendo encabeçada pelo deputado Roberto Morena, na Câmara Federal, e o vereador Aristides Saldanha, na Câmara Municipal do Distrito Federal, que atacavam a UDN, e os que exigiam a renúncia do presidente. Em Minas Gerais estava sendo articulada uma greve geral para o dia 16.
No palácio do governo, ao tomar conhecimento da grave acusação envolvendo seu filho Lutero, o presidente Vargas solicitou ao seu ajudante de ordens, major aviador Hernani Fittipaldi, que chamasse com urgência Lutero Vargas, o vice-presidente Café Filho e o chefe de polícia, coronel Paulo Torres.
Lutero foi o primeiro a chegar. Entrou logo no gabinete, teve uma conversa tensa e séria, jurando ao seu pai que não estava envolvido no atentado contra o jornalista Carlos Lacerda, e que tudo era um complô contra o presidente e o seu governo. A família Vargas, pouco depois, também se reuniu com Lutero, que mais uma vez jurou inocência. Ele foi aconselhado a utilizar os meios de comunicação para proclamar sua defesa. Terminado seu pronunciamento, apresentou-se, logo em seguida, à Comissão de Inquérito Policial Militar, disposto a renunciar até mesmo a suas imunidades do mandato parlamentar para se defender.
Em proclamação lida nas rádios Nacional e Mayrink Veiga e divulgada pela imprensa escrita de todo o Brasil, o deputado Lutero Vargas afirmou:
"Nesta hora em que a insânia de maus brasileiros, trabalhados por ódios pessoais mesquinhos, procura envolver o meu nome numa trama engendrada e urdida por eles próprios, venho diante da opinião pública denunciar essas manobras e proclamar, sem nenhum receio, que estou sendo vítima de torpe difamação".
E ao final disse:
"Juro perante Deus e a Nação que nenhuma ingerência, direta ou indireta a nenhuma responsabilidade, por ação ou omissão, tive no deplorável acontecimento".
Foi uma ducha de água fria na oposição, que não esperava que a fala de Lutero pudesse surtir efeito na opinião pública, como ocorreu.
Atendendo ao chamado, Café Filho chegou ao Catete às 17 horas; recebido pelo presidente Vargas, este não deixou que o vice falasse nada. Comunicou que não iria à Bolívia, conforme já havia anunciado, e esperaria mais um pouco. E falou para um surpreso vice-presidente:
"- Vou passar-lhe o governo".
Acrescentou que iria para a sua fazenda no Rio Grande do Sul e que, depois, de lá mesmo, faria a viagem à Bolívia. E em tom de cansaço e desprezo, disse:
"- Talvez nem volte mais a isto."
Café Filho tentou escusar-se e disse:
"-Presidente, estamos em redor de uma fogueira. Não sei se terei condições de sustentar a ordem pública" e ainda argumentou:
"- Seu filho está sendo envolvido no noticiário do crime. Nestas condições..."
O presidente Getúlio Vargas interrompeu e disse:
"- Meu filho apresentar-se-á hoje à Comissão de Inquérito. Renunciará às imunidades parlamentares. Faço questão de ver tudo apurado".
Café Filho tentou replicar, mas novamente o presidente não deixou:
"-Vou falar com os ministros militares para que lhe dêem a necessária cobertura. Assim você poderá desempenhar-se bem."
Getúlio levantou-se como que se despedindo, dando a impressão de que não admitia objeções e nem queria debater o problema.
Para o hoje coronel Hernani Fittipaldi, residente em Brasília desde 1960, contando com 81 anos, estava claro o porquê da convocação do filho, do chefe de polícia e do vice-presidente. Caso houvesse o envolvimento de Lutero no crime, o presidente não teria nenhum constrangimento em entregar o filho à autoridade policial e o governo a seu substituto constitucional, o vice-presidente da República, João Café Filho.
Ainda nesse dia, o então major Fittipaldi, ao cumprir suas obrigações de encaminhar os documentos já despachados pelo presidente Vargas, encontrou sobre a mesa de trabalho no seu gabinete, no Palácio do Catete, um bilhete manuscrito, em um papel de memorando timbrado da Presidência da República, com os dizeres:
"À sanha dos meus inimigos deixo o legado da minha morte. Levo a mágoa de não ter podido fazer pelos humildes tudo aquilo que desejava".
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