Discurso de posse do governador José Serra

Já se tornou um clichê citar Winston Churchill afirmando que a democracia é o pior dos regimes políticos com a exceção de todos os outros. Por mais batida que seja a frase, a sua atualidade se comprova a cada dia. No Estado de São Paulo, esta é a Casa por excelência da representação democrática. Aqui teremos a interlocução necessária para fazer de São Paulo um exemplo de políticas sociais responsáveis e inclusivas, de batalhas pela segurança, pelo emprego e o desenvolvimento, de solidariedade ao Brasil e todas suas regiões.
Meu governo vai procurar convencer, não cooptar. Vamos buscar a maioria para realizar um programa, não para viver o conforto de não ter adversários. Aliás, deixo aos presentes uma reflexão: tanto melhor será para o país e, no nosso caso, para o povo de São Paulo, se os aliados do governo jamais se esquecerem de ter convicções e se a oposição convicta jamais se esquecer de que tem responsabilidades.
A democracia supõe a existência de oposição. Uma oposição que, entendo, há de ser também propositiva. Em todas as esferas de poder estão presentes as duas éticas, a da convicção e a da responsabilidade. O convicto que ignora os limites da realidade é irresponsável; o homem responsável que não luta por suas idéias vê afrouxar a convicção.
Por isso, nesta Casa, espero encontrar sempre interlocutores francos. Eles encontrarão sempre um governador sincero, direto, que cumpre a palavra. Um governador obstinado por fazer São Paulo dar certo. Um brasileiro obstinado em ajudar a melhorar o país e a vida do seu povo.
A população brasileira cobra de todos nós eficiência, respeito à coisa pública, honradez. Cobra segurança, desenvolvimento econômico e social e empregos. Fazemos parte, governador e parlamentares, da linha de frente de uma das melhores coisas que a cultura ocidental produziu: a democracia representativa. Mas vivemos no Brasil um período de crise de valores.
Não se trata de uma indisposição passageira ou de uma simples pane. Trata-se de uma crise mesmo. Crise moral, que prospera numa economia onde faltam empregos e sobra estagnação. Crise política que se alimenta da teimosa incoerência entre os discursos e as ações na vida pública.
Além da legitimidade jurídica, as recentes eleições expressam confiança da maioria da população nos governantes " os reeleitos e os novos, os executivos e os parlamentares. A confiança do povo é uma instituição "invisível", que amplia a qualidade da legitimidade, dando-lhe uma dimensão moral e uma dimensão substancial. É ela que passa a ser posta a prova a cada dia. Aqui em São Paulo, sua reconquista contínua tem de ser feita por nós, trabalhando juntos, respeitando nossas diferenças de estilo, de formação e de interesses particulares.
Tenho para mim que a ineficiência crônica, a corrupção, o compadrio, o fisiologismo desmoralizam a democracia. Ser eficiente e ético no trato da coisa pública é um imperativo dos democratas.
Ser ético significa, entre outras coisas, evitar o loteamento de cargos, que traz ineficiência, estimula a corrupção e suas causas e conseqüências. Não fizemos loteamento no primeiro escalão, não estamos fazendo nem faremos loteamento no segundo escalão.
A desigualdade desmoraliza a democracia; e, no entanto, sabemos que as ditaduras são o reino dos homens desiguais. Logo, buscar políticas que promovam o desenvolvimento sustentado do Brasil, para que possamos distribuir renda e combater a pobreza com responsabilidade, é um imperativo dos democratas.
Venho a esta Casa propor uma ação pela ética, pelo desenvolvimento, pela justiça social, pela solidariedade ao Brasil. Sem cooptação nem barganhas fisiológicas, com uma situação responsável e uma oposição sadia e vigilante.
Desenvolvimento e justiça social em São Paulo exigem competência administrativa, relação cooperativa entre os poderes, diálogo com a sociedade, proximidade com os municípios. Exigem prioridade à segurança das pessoas, que passa pelo enfrentamento do crime organizado. Exigem prioridade absoluta à saúde e à educação. Assistência aos mais pobres e vulneráveis e valorização dos direitos humanos. Oportunidades na cultura. Defesa efetiva do meio ambiente, não apenas artigos, moções e discursos. Exigem a coordenação dos grandes investimentos em infra-estrutura, para abrir oportunidades ao investimento privado e à geração de empregos.
Assumo o governo do Estado consciente da responsabilidade de São Paulo para com o Brasil. Jamais seremos indiferentes às questões nacionais. Temos um quarto da população brasileira, um terço do PIB e mais de 40% da indústria. Aqui são recolhidos até a metade dos principais tributos federais. Para que o Brasil vá bem, é preciso que São Paulo vá bem. Para que São Paulo vá bem, é preciso que o Brasil vá bem.
A Independência foi proclamada às margens do Ipiranga, com a participação decisiva de um santista, José Bonifácio. Não devemos nos esquecer dos republicanos e de seu ideário que conquistou o Brasil, dos democráticos que lutaram pela Revolução de 1930, dos inconformados que foram às armas para que o Brasil tivesse uma Constituição democrática em 1932, da resistência às ditaduras do século XX, da inesquecível campanha das Diretas Já, com Franco Montoro e Ulysses Guimarães.
São Paulo é a terra da liberdade. É a terra dos abolicionistas, dos caifases, de Luis Gama, que se "apaulistou" defendendo os escravos, dos estudantes do Largo São Francisco sempre na luta pela liberdade. Terra de adoção de milhões e milhões de migrantes de todo o Brasil e de imigrantes de tantos países, que adotaram São Paulo como sua nova terra. É a terra que os recebeu sem segregá-los: eu mesmo sou filho de uma família imigrante. É a terra dos operários que já em 1917 na cidade de São Paulo lutaram por melhores salários e condições dignas de trabalho. Terra de artistas, terra dos intelectuais modernistas, terra da radicalidade e da liberdade.
São Paulo é a dialética, estado das contradições e da superação. Os romanos antigos disseram, pela boca de Pompeu Magno, que "navegar é preciso, viver não é preciso". Fernando Pessoa a transformou, trazendo-a aos dias de hoje, e disse: "Para casar com o que sou: viver não é necessário, o que é necessário é criar".
Criar é transformar, é inovar. Não tenho medo do novo. Não há bom governo na história que não tenha ousado. E eu vou ter a coragem de ousar, enfrentando interesses quando for preciso, aumentando o controle do Estado pelo Estado, e estimulando o controle do
Estado pela sociedade, pelo povo.
Reitero, nesta Assembléia e a todos os paulistas, o meu convite e meu propósito: juntos, vamos fazer de nosso Estado um lugar melhor para se viver. Mais justo, mais fraterno, mais igualitário, mais seguro, mais livre. Juntos, vamos trabalhar por São Paulo, vamos trabalhar pelo Brasil.
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