DECRETO N. 2.005, DE 13 DE FEVEREIRO DE 1911

Approva e manda observar o programma de ensino para as escolas isoladas do Estado

O Presidente do Estado, de accôrdo com o artigo 4.° da lei n. 930, de 13 de Agosto de 1904, e artigo 31 do decreto n. 1239, de 30 de Setembro do mesmo anno, approva e manda observar nas escolas isoladas do Estado o programma de ensino que a este acompanha, assignado pelo Secretario de Estado dos Negocios do Interior, que assim o faça executar, revogadas as disposições em contrario.
Palacio do Governo do Estado de São Paulo, 13 de Fevereiro de 1911.
M. J. ALBUQUERQUE LINS
Carlos Guimarães.

PROGRAMMA

Para as escolas isoladas de São Paulo


Materias : Leitura - Linguagem - Arithmetica - Historia - Geographia - Sciencias naturaes (Animaes, Plantas e Lições geraes) - Calligraphia - Desenho - Canto - Trabalho manual - Gymnastica.

LEITURA

1.ª secção - 
1. Ler, primeiro no quadro negro e depois no livro, palavras faceis entrelaçadas em sentenças sob a fórma enunciativa, interrogativa e exclamativa.
2. Exercicios sobre palavras similares e rimas.
3. Analyse das palavras em seus elementos, syllabas e lettras. 

2.ª secção -
1.
Leitura e interpretação de prosa e verso.
2. Resumo do assumpto lido.
3. Leitura de jornaes, cartas e requerimentos.
4. Leitura, commentada pelo professor, de excerptos escolhidos, proprios a despertarem nos alumnos o gosto e o amor pelo bello.


3.ª secção - O mesmo programma da 2.ª, com algum desenvelvimentos a mais (1).

LINGUAGEM ORAL


1.ª secção - 
1. Palestras com os alumnos sobre cousas ou acenas de facil observação, relativas ao lar, á rua, á escola e ao campo.
2. Ennumeraçâo.
3. Exercicios de comparação; fórma, tamanha, côr e serventia.
4. Reproducção de factos suggestivos, lidos, ou melhor, contados pelo professor. 

2.ª secção -
1.
Descripção de objectos usuaes e de animaes domesticos, espastos em classe ou observados alhures.
2. Reproducção de historias, fabulas e episodios contados ou lidos pelo professor, (Vide nota 2.ª).
3. Formação de sentenças que desenvolvam no alumno, pelo facto, o conhecimento das differentes variações das palavras flexiveis.
4. Exercicios de dicção, cujo cabedal será constituido de pensamentos e versos explicados pelo professor, para que o alumno, dizendo-os, lhes dê a expressão e colorido necesarios 

3.ª secção - O mesmo programma da 2.ª, com algum desenvolvimento a mais.

LINGUAGEM ESCRIPTA


1.ª secção - 
1.
Copiar : a) nomes de objectos, animaes, flôres e fructas : b) sentenças do quadro negro e do livro de leitura; c) nomes de collegas, dos dias da semana, dos mezes, das estações, etc.;
2. Completar sentenças escriptas no quadro negro e que já tenham sido lidas no livro.
3. Construir sentenças em respostas a outras escriptas pelo professor no quadro negro.
4. Exercicios retrospectivos de palavras escriptas rapidamente e de memoria peles alumnos, sob aposta, Dictado de sentenças do livro de leitura.

2.ª secção -
1.
Copiar pequenos trechos do capitulo marcado para leitura.
2. Construir sentenças com palavras dadas e taes que o alumno, empregando-as, tenha ensejo de manifestar, por escripta, alguma cousa do que tenha aprendido sobre plantas, animaes, geographia, historia, etc.
3. Resumo do assumpto lido, por meio de perguntas escriptas a respeito pelo professor no quadro negro.
4. Dictado de pequenos trechos lidos e explicados no momento pelo professor, que chamará a atenção da classe para os vocabulos de graphia mais difficil. 

3.ª secção-
1. Dictado, como na 2.ª secção, porém, de trechos um tanto mais difficieis.
2. Reprodução de narrações, fabulas, historietas, por meio de uma direcção feita pelo professor, onde sejam assignalados, em ordem de conjuncto, os topicos principaes.
3. Exercicios praticos de flexão e concordancia pelo emprego de sentenças adrede organizadas pelo professor. (Vide nota 3.ª)
4. Descripção de estampas exportas á vista do alumno.
5. Estudo na sentença dos synonymos, homonymos e paronymos.
6. Dictados sobre os homonymos mais usuaes.
7. Redacção de bilhetes, cartas e cartões, sobre motivos faceis. (Vide nota 4.ª)

ARITHMETICA


(Vide observações). 1.ª secção -
1.
Observação directa de quantidades que o alumno possa ver e tocar.
2. Leitura e cópia das cartas de Parker, concretizando-se os primeiros passos, tornando-os sensiveis pelo emprego de tórnos, grãos de milho, lapis ou varetas. (Vide nota 5.ª)
3. Questões faceis que illustrem e acompanhem as cartas de Parker.
4. Contagem directa: a) até 10, por unidades; b) de 10 até 20, por unidades; c) até 100, por unidades e dezenas.
5. Contar por 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, respectvamente, a principio até 12, 18, 28, 30, 35, 40, 45, voltando á quantidade que serviu de ponto de partida. Assim: 2, 4, 6, 8, 10, 12; depois 12, 10, 8, 6 4, 2.
6. Contar até 100, por 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, partindo de um numero digito. Assim: tomando 4 para ponto de partida e contando por 3: 4, 7, 10, 13, 16, 19....97, 100.
7. Taboadas com o emprego de tórnos. (Vide nota 6.ª)
8. As quatro operações elementares, cujo limite maximo não passe de 100. Leitura e escripta de numeros simples.
9. Algarismos romanos: Deve-se dar primeiro o conhecimento dos signaes I V, X, L,C, para depois o alumno aprender as combinações desses algarismos em numero maiores ou menores. O relogio. 

2.ª secção. As quatro operações elementares. Revisão e ampliação da materia estudada na 1.ª secção.
2. Taboada grande e pequena.
3. Calculo mental e rapido.
4. Leitura das cartas de Parker.
5. Resolução de problemas de interesse pratico e de uso quotidiano.
6. A moéda nacional e suas diversas unidades: o real, o vintem,o testão,o mil réis,o conto de réis uso do $.
Recibos.
7. Leitura de numeros decimaes e da fracções ordinarias acompanhada de exercicios 

3ª. secção -As quatro operações elementares. Ampliação da materia estudada na 2.ª secção.
2. Systema metrico decimal.
3. Exercicios de pezagem e medições.
4. Conhecimento do valor das medidas antigas ainda em uso no commercio.

HISTORIA


(Vide observações). 1.ª secção-Idéa de Patria. Nome de nossa grande familia. O Brazil, Symbolo de nossa Patria, A Bandeira Nacional.
2. Porque devemos orgulhar-nos de nossa Patria. Suas riquezas e belezas.
3. Exhibir á classe estampas de tudo quinto se refira ao Brazil e possa deixar no espirito do alumno imagens sympathicas da terra natal.
4. Organizar com auxilio dos alumnos um pantheon escolar que os familiarize com os grandes brazileiros. (1ª, 2ª, e 3ª secções). 

2.ª e 3.ª secções. Brazil Republica.
1.
Palestras sobre o que seja o Governo do Paiz. O presidente e seus auxiliares. A eleição popular. Idéa da Constituição. (Vide nota7ª)
2. Factos principaes occorridos so Governo republicano, de preferencia os que se prendem á expansão economica e industrial.
3. A proclamação da republica. Imperio e Republica: differença entre as formas de governo. Os propagandistas. Os martyres da Republica Brazileira.
4. Brazil.-Imperio D. Pedro II.
a) Abolição dos escravos, A Princeza Izabel. Rio Branco. Euzebio de Queiroz. José Bonifacio (o moço). Patrocínio e Luiz Gama. O tabalho dos homens livres; a immigração.
b) Guerra do Paraguay. Os heróes brasileiros. Os males da guerra. A paz e o arbitramento (Vide nota 8ª).
c) O telegrapho nacional: barão de capanema.
d) As estradas de ferro. Visconde de Mauá e Chistiano Ottoni.
e) A regencia; Diogo Feijó.
f) D. Pedro I e a abdicação. 
g) A Independencia. José Bonifacio. Brazil Colonia. 
h) D. João VI. Abertura dos portos do Brazil e outros melhoramentos. Visconde de Cayzú e Visconde de Linhares.
i) Os bandeirantes, As moções. O rio Tieté
j) Fundação de S. Paulo. O Padre José de Anchieta. A primeira escola.
k) A colonização. Martim affonso. S. Vicente.
l) O descobrimento. Comparação entre Brazil actual e o Brazil por occasião da chegada des portuguezes.

GEOGRAPHIA


(Vide observações)
1.ª secção. -Palestra com os alumnos sobre a posição relativa dos objectos da sala de aula A carteira: sua parte superior e inferior; anterior e posterior; direita e esquerda.
2. As carteiras proximas e outros objetos circunvisinho; frente, atraz, á esquerda, á direita, em baixo,em cima.
3. Descripção do caminho que os alumnos percorrem ao se dirigir á escola.
4. Conhecimento pratico dos pontos cardeaes pelo nascimento do sól e pela sombra, que, em nossa latitude, ao meiodia, é dirigida para o sul quasi todo o anno.
5. Palestras sobre as planicies, rios, montanhas, mares, portos, ilhas, etc.
6. Palestras sobre a cidade, villa ou bairro onde esteja localizada a escola; suas ruas, largos e praças principaes; edificios mais notaveis ; producções ; objectos vendidos ou fabricados no logar; recordações historicas; vias de communicação (rios, estradas e caminhos de ferro) e localidades mais proximas. 

e 3ª secções-
1.
O municipio. Séde e localidades mais importantes; prodrucções e industrias; curiosidades naturaes ; lembranças historicas; homens notaveis; importação e exportação; vias de communicação ; os municipios limitrophes ; o governo municipal.
2. O Estado de S. Paulo. A capital; cidades mais importantes quanto ao commercio, industria e historia; rios e montanhas principaes; o littoral; o mar, as ilhas, os portos (cáes, docas, estaleiros, alfandega, contrabando, pharól semaphoro, a navegação de cabotagem e a internacional); productos de importação e de exportação; os estados limitrophes ; o governo estadual.
3 O Paiz. Os estudos e suas capitaes ; productos de exportação e particulariades interessantes de cada Estado. O governa federal.
4. A Terra. Estudo feita no globo e depois no planispherio dos continentes e oceanos. Paizes e capitaes principalmente aquelles que mantem transacções commercias com o Brazil.
5. Esboço do mapa de São Paulo e do Brazil.

ANIMAES


Sciencias naturaes :
(Vide observações). O homem. Suas dissimilhanças physicas: as raças. Civilizados e selvagens. Os nossas indigenas; vida e costumes. O corpo humano: suas partes exteriores. Orgams dos sentidos. A bocca. Conselhos hygienicos sobre a alimentação e o asneio individual.
2. Palestras sobre animaes conhecidos, levando-se o alumno, pela observação, a compral-os e a estabelecer-lhes as differerenças quanto ao tamanho, aspecto, predilecções, qualidades, etc.
3. Os animaes uteis assim distribuidos: a) animaes domesticos; b) animaes alimenticios ; c) animaes que fornecem materia prima ás industrias; d) animaes que nos dão o vestuario;
e) animaes que nos são alliados contra os que são damninhos;
f) animaes que servem para nosso nosso recreio.
4. Animaes damninhos assim distribuidos: a) os que atacam os rossos animaes domesticos e as plantas que cultivamos; que destróem as nossas provissões alimenticias e os productos de nossa industria; b) os que nos atacam directamente: parasitas, animes venenosos e féras.
5. Desenvolver o sentimento de piedade pelos animaes inoffensivos. Os perigos e a crueldade da caça. Respeito aos ninhos. Propaganda contra a matança e captiveiro dos passarinhos. Festa das aves.
6. Apicultura. Sericultura. (Vide nota 9.ª).

PLANTAS


(Vide observações). 1. Arvores, arbustos e hervas. Arvoredo, bosque e floresta. As arvores e sua utilidade. Arvores fructiferas. O pomar. A escola de pomologia. Principaes arvores de nossas florestas que fornecem madeira para construcção. Protecção as arvores. Os males da destratas das arvores. Festa das arvores.
3. A horta e seus productos. Plantas alimenticias. As vantagens da cultura sobre as flores silvestres.
4. O jardim. Flores mais communs. Plantas medicinaes.
5. Estudo d'après nature ; a) das flores e suas partes; b) do fructo e suas partes; c) da semente e suas partes; d)das folhas; e) dos caules; f) das raizes.


Lições Geraes


(Vide observações) 1. As côres typicas ou primarias.
2. Os tres estados dos corpos. 
3 Metodos de facil observação a chuva, o relampago o trovão, o raio. Para-raios. Benjamin Franklim. Arco-iris. O orvalho, a neblina, o nevoeiro, o gelo, a geada, a saraiva. 
4. O ar. Necessidade de ventilação. Os ventos. Importancia dos ventos na salubrificação da atmosphera e na fecundidade das terras. Navio de vela, moinhos e ventiladores.
II e III. Vagem em torno da classe: O papel, sua fabricação. O papyrus e o pergaminho. Guttemberg. A tinta. A borracha. As pennas e a caneta. O lapis e a gomma arabica. O giz. A esponja.
2. A variola e a vaccina. Jenner.
3. A raiva. Como se procedia antigamente e como se procede hoje em seu tratamento. Pasteur.
4. A mordedura das cobras. O sôro anti-ophidico. O Instituto Serumtherapico.
5. As communicações a distancia: o correio, telegrapho e o telephone.
6 O céu: o sol, a lua e as estrellas. O dia e a noite. A aurora, Vantagens do accordar cedo.
7. Os balões. Bartholomeu de Gusmão. José do Patrocinio, Augusto Severo e Santos Dumont.
8. Lacticinios: o fabrico da manteiga e do queijo
9. A illuminação: a lareira, as tochas, o azeite o kerozene, o gaz e a luz electrica. O alcoolismo.

CALLIGRAPHIA


(Vide observações). I. Cópia de sentenças escriptas pelo professor no quadro negro, onde appareçam palavras formadas de letras de elementos simples.
2 Cópia de sentenças onde appareçam palavras formadas de letras com haste para cima
3 Cópia de sentenças onde appareçam palavras formadas de letras com haste para baixo.

DESENHO 

(Vide observações) Desenhar:
a)
folhas lineares, lanceoladas, espatuladas, circulares, coddiformes, ovaes, saggitadas, dentadas, recortadas etc ;
b) galhos de folhas alternas, oppostas e verticilladas;
c) flores bem simples ;
d) objectos uzuaes ;
e) animaes.

CANTO


Canto coral e hymno. (Vide nota 10.°)

TRABALHO MANUAL


Para o sexo feminino: crochet e pontos de costura.

GYMNASTICA


Para ambos os sexos : exercicios callisthenicos na sala de aula e no recreio.
Posições fudamentaes.
Marchas cadenciadas.
Corridas, jogos e brinquedos ao ar livre. 

Nota: 1 A leitura silenciosa deve sempre preceder a leitura em voz alta. A leitura mental habilita o alumno a apanhar os pensamentos contidos na pagina impressa ou manuscripta, para depois, pela leitura oral, os transmittir aos outros que o escutam segundo as proprias palavras do autor.
Nota 2ª. O processo para a reproducção será este: a) narração pelo professor, que irá explicando e escrevendo no quadro negro todas as palavras novas á classe; b) palestra com todos os alumnos sobre o assumpto da narrativa. O professor deve conduzir-se de modo que os alumnos sejam os principaes interlocutores, despertando apenas as idéas. Quando tenha de inquirir, dirigirá suas perguntas a todos, destacando um dos alumnos para responder ; c) reproducção escripta do assumpto pela classe.
Nota . Estes conhecimentos serão ministrados aos alumnos pelos exemplos contidos nas sentenças
Nota . A corrigenda, nos dictados, se á feita no decorrer dos mesmos, em vóz alta pelo professor, que destacará dois ou tres alumnos para irem escrevendo no quadro-negro, á vista de toda a classe, as palavras emendadas. Os alumnos devem apenas escrever nas linhas pares, rezervando as impares para ahi escreverem, acima dos erros as correcções.
Nota 5ª. Para que o alumno tenha a instuição de l/2, 1/3, 1/4, 2/2 2/3, 2/4, etc, devem ser utilizados pequenos objectos communs
Nota 6ª. Tomando-se a essa dos dois, os alumnos devem dispôr os tórnos desde um, dois, até doze, dois. Assim: // //// ////// ////////, etc Sommando dirá: dois e nenhum, são dois; dois e dois, são quatro; dois e dois e dois, são seis, etc. Multiplicando dirá : um dois são dois; dois dois, são quatro , tres dois, são seis, etc, Subtrahindo, dirá: de dois tirando dois, fica nenhum ; quatro tirando dois, ficam dois; seis tirando dois ficam quatro. Dividindo, dirá: dois tem um dois; quatro tem dois dois; seis tem tres dois etc.
Nota 7ª. Ao ensino da historia e da geographia prendese o de instrucção civica. Em tom de palestra despretenciosa, no alcance de seu auditorio, o profeassores dará ao alumno a idéa de cidadão, os deveres e os direitos que lhe cabem,
Nota 8ª. Para completar esta parte, o professor lerá é' commentará, entre outros, os seguintes epizodios: A retirada da Laguna Antonio João e a de esa da fronteira -A passagem de Humay á,- Tuyuty e Riachuel ,-Greenhalgh e a defesa da Bandeira.
Nota 9ª. Como já foi dito acima, nas observações, e convém ser repetido, esta parte do programa, a visa educar a observação dos alumnos e não lhes ministrar ensinamentos estereis de zoologia, com classificações, nomenclaturas e o, que nenhum valor têm Em leves e despretenciosas palestres, afastada qualquer preocupação scientifica, o prefessores desenvolverá facilmente o programma, qua é commum a todas as secções. Para completar as observações da classe, o professor deve fazer pequenas leituras sobre a vida e o costume dos animaes pertencentes á nossa fáuna Todas estas observações se applicam analogamente ao capitulo sobre as plantas.
Nota 10. As lettras dos hymnos patrios devem ser cuidadosamente explicadas pelo professor aos alumnos, de modo que, comprehendendo, sentam devéras o que cantam. 

Observações sobre arithmetica. Conduzindo a classe ao estudo dos numeres, o professor afastará de seu trabalho a simples preoccupação de ensinar a criança a responder. Deverá, sim, guial-a, pela observação, a pensar e a raciocinar. Os primeiros dias de aulas deverá consagral-os á verificação de factos trasidos do lar pela criança. A ampliação gradual e systematica desses conhecimentos é o melhor ponto de partida, porquanto, dest'arte, o mestre terá de construir sobre alicerces que já encontra assentados.

Observações sobre o ensino da historia: O programma contém apenas os grandes factos de nessa historia de preferencia aquelles que mais directamente têm cooperado para a civilização nacional. São quadros syntheticos do trabalho actual e das gerações passadas para o engrandecimento do Brazil. É sob tal aspecto que serão contados aos alumnos esses factos, de modo que falem á sua imaginação e lhes inculquem o dever civico do trabalho collectivo.

Será evitada a sobrecarga das minuncias chronologicas e a profusão de nomes. 
Estudando se um grande facto, por-se á em destaque o grande vulto que o personifica. O alumno deve ser levado do presente, de cujos acontecimentos é contemporaneo, e, assim, menhor poderá comprehendel-os -para o passado. Procurando-se despertar no alumno o sentimento da fraternidade universal, não se deve ir ao exagero de calar os nomes e os rasgos de heroismos dos que se bateram, no momento necessario em defesa da Patria.

Observações sobre o ensino da geographia :
O ensino da geographia deve deslubrar-se de modo que o alumno fique conhecendo em conjuncto uma área determinada, na seguinte ordem : 1.º, a escola; 2.°, o quarteirão; 3.º, a cidade, villa ou bairro em que esteja situada a escola; 4.°, o municipio; 5.º, o estado ; 6.°, o paiz ; 7.°, a terra. No estudo das differentes regiões, ter-se-á em vista, não tanto a configuração physica do sólo, mas a sua vida agricola, industrial e commercial, riquezas naturaes e vias de communicação. As estampas, os panoramas geographicos, o globo e as cartas terão emprego constante.

Observações sobre o ensino de sciencias naturaes:
Esta parte do programma tem por fim exclusivo educar a observação da criança. Serão evitados com o maximo escrupulo os detalhes scientificos, as nomenclaturas áridas e incolores, que sómente servem para atravancar a memoria e desenvolver o psittacismo. Plantas e animaes devem ser expostos ao exame directo da ela se. Sómente quando o proprio especimen não o possa, devem ser exhibidas as estampas. Estas, por mais perfeitas que sejam, não offerecem comtudo as vantagens educativas resultantes da observação da propria realidade. Aliás as estampas são meros instrumentos de evocação: despertam as impressões da cousa real quando já esta tenha sido vista É de grande utilidade, e neste trabalho as crianças tomam todo o interesse e prazer, principalmente quando se registra o nome do doador, é de toda a utilidade que o professor, auxiliado pelos alumnos, organize um pequeno meseu escolar; insectos, casulos, pedras, conchas, pelles etc. Tudo isto são materiaes de acquisição facil e proveitosa.

Observações sobre o estudo das plantas : Completando a maneira já indicada por que deve ser feito o estudo das plantas, o professor guiará seus alumnos na semeadura, em casos, ou ainda melhor, em canteiros, de plantas de facil germinação como o alpiste, o arroz, o feijão, o milho etc , de modo que a classe apanhe em flagrante os mais simples phenomenos da vida vegetal.
Nenhuma preocupação scientifica, muita observação. As excursões campestres, alliando o util ao agradavel, offerecem excellente opportunidade ao professor para mostrar aos alumnos muita cousa util e interessante. Estes passeios de estudo devem ser feitos de manhan, num dia de cada mez.

Observações sobre o ensino da calligraphia: O alumno copiará, primeiro na lousa e depois no papel, pequenas sentenças constituidas de palavras escolhidas, de maneira que as suas lettras obedeçam á ordem natural de apparecimento; a) lettras de elementos simples; b) lettras de haste para cima;
c) lettras de haste para baixo. Em todos os exercios, o professor terá em vista que a escola primaria não pretende dar ao alumno a technica impeccavel no traçado de letras, de modo a tornar-se elle um calligrapho perito, mas sim fornecer-lhe a calligraphia como um instrumento que o habilite a manifestar, por escripto, com rapidez e clareza, os seus pensamentos.

Observações sobre o ensino do desenho: No ensino do desenho, deve ser adoptado o methodo natural, consagrado pelos seus esplendidos resultados. Desde o 1.° anno escolar deve ser iniciado o desenho por esse methodo. A este respeito o programma é vasto: todos os objectos e seres que pódem ser observados, todas as fórmas que a creança vê continuamente e cuja reprodução a sua mão passa tentar, serão assumpto para desenho. Folhas, flôres, animaes, mesas, cadeiras, tudo, emfim, que as creanças vêm ou imaginam, servirá de assumpto para o curso de desenho. E' natural que garatugem antes de desenhar. Não importa, porque o desenho, na escola preliminar, não póde ser ensinado como arte, mas como uma linguagem viva que sirva para desenvolver nas creanças a imaginação, a observação e o gosto esthetico.