27 DE OUTUBRO DE 2023
46ª SESSÃO SOLENE PARA OUTORGA DO COLAR DE HONRA AO MÉRITO AO SR. SIDNEI BARRETO NOGUEIRA
Presidência: REIS
RESUMO
1 - REIS
Assume a Presidência e abre a sessão.
2 - RODRIGO MAR
Mestre de cerimônias, anuncia a Mesa e demais autoridades presentes.
3 - PRESIDENTE REIS
Informa que a Presidência efetiva convocara a presente sessão solene para "Outorga do Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo ao Sr. Sidnei Barreto Nogueira", por solicitação deste deputado.
4 - RODRIGO MAR
Mestre de cerimônias, convida o público para ouvir, de pé, o "Hino Nacional Brasileiro". Anuncia a apresentação musical do “Canto para Oxalá”, executada pelo tenor Jean William. Informa a execução do “Hino da Umbanda” pelo pai Balé, ogã de Xangô.
5 - PRESIDENTE REIS
Tece considerações simbólicas sobre esta solenidade. Reflete acerca de projetos de sua autoria, de cunho social, quando do exercício da vereança em São Paulo.
6 - DOUGLAS BELCHIOR
Membro da Uneafro Brasil, faz pronunciamento.
7 - JOÃO ANANIAS
Vereador à Câmara Municipal de São Paulo, faz pronunciamento.
8 - MÃE ELLEN DE OXUM
Ialorixá, faz pronunciamento.
9 - RODRIGO MAR
Mestre de cerimônias, anuncia apresentação musical de Ana Clara Ferraz. Informa exibição de vídeo com mensagens ao homenageado. Anuncia apresentação artística do grupo Maracatu Ouro do Congo. Informa a outorga do Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo ao Sr. Sidnei Barreto Nogueira.
10 - SIDNEI BARRETO NOGUEIRA
Babalorixá homenageado, faz pronunciamento.
11 - RODRIGO MAR
Anuncia apresentação musical dos ogãs da Casa, Comunidade da Compreensão e da Restauração Ilê Axé Xangô.
12 - SIDNEI BARRETO NOGUEIRA
Babalorixá homenageado, faz pronunciamento.
13 - PRESIDENTE REIS
Faz agradecimentos gerais. Encerra a sessão.
* * *
- Assume a
Presidência e abre a sessão o Sr. Reis
* * *
O SR. MESTRE DE
CERIMÔNIAS - RODRIGO MAR - Boa noite a todos, boa
noite a todas. Sessão solene com a finalidade de entrega do Colar de Honra ao
Mérito Legislativo do Estado de São Paulo ao ilustre babalorixá Sidnei Barreto
Nogueira. Senhoras e senhores, obrigado pela presença.
Sejam todos
bem-vindos e bem-vindas à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Esta sessão
solene tem a finalidade de outorgar o Colar de Honra ao Mérito Legislativo do
Estado de São Paulo ao babalorixá Sidnei Barreto Nogueira. Comunicamos aos
presentes que esta sessão solene está sendo transmitida ao vivo pela TV Alesp e
pelo canal da Alesp no YouTube.
Convidamos para
compor a Mesa Diretora o nosso deputado estadual Reis, proponente desta
solenidade. Uma salva de palmas. (Palmas.) Convidamos com muita alegria o
homenageado da noite, babalorixá Sidnei Barreto Nogueira, o nosso grande
homenageado. Uma salva de palmas. (Palmas.)
Dando
sequência, convidamos o vereador João Ananias, do município de São Paulo. Uma
salva de palmas ao nosso vereador. (Palmas.) Convidamos, também, à mãe Ellen de
Oxum, representante do Ilê Asé Omo Osé Igba Alatan e coordenadora de cultura da
Unifesp. Uma salva de palmas. (Palmas.)
Convidamos,
também, Douglas Belchior, da coalisão negra e cofundador da Uneafro. Seja
bem-vindo. (Palmas.) A Mesa pode se sentar, por gentileza.
Com a palavra,
o presidente proponente desta sessão solene, deputado estadual Reis.
O SR.
PRESIDENTE - REIS - PT - Sob a proteção de
Deus, dos orixás e dos nossos ancestrais, iniciamos os nossos trabalhos nos
termos regimentais. Esta Presidência dispensa a leitura da Ata da sessão
anterior. Convido a todos os presentes para, em posição de respeito, ouvirmos
de pé o Hino Nacional brasileiro, entoado pelo tenor Jean William.
* * *
- É executado o
Hino Nacional Brasileiro.
* * *
O SR. MESTRE DE
CERIMÔNIAS - RODRIGO MAR - Tenor Jean, ouviremos
agora na sua voz o canto para Oxalá.
O SR. JEAN
WILLIAM - Sidnei, esta é minha maneira,
artisticamente dedicada, de te homenagear.
* * *
- É feita a
apresentação musical.
* * *
O SR. JEAN
WILLIAM - Salve Oxalá. (Palmas.)
O SR. MESTRE DE
CERIMÔNIAS - RODRIGO MAR - Agradecemos ao tenor
Jean William pela apresentação. Hoje é uma noite de homenagens.
Ouviremos neste
momento o Hino da Umbanda, cantado por pai balé, ogan de Xangô Casacrias.
O SR. CASACRIAS
- Benção, pai. Parabéns pelo seu dia.
Humildemente, vou pedir licença aos mais velhos, à minha avó, à minha mãe, para
cantar o Hino da Umbanda.
* * *
- É executado o
Hino da Umbanda.
* * *
O SR. MESTRE DE
CERIMÔNIAS - RODRIGO MAR - Agradecemos ao pai balé
pela apresentação. Convidamos para compor a Mesa Extensora, à direita do
homenageado, Vera de Oxum. Pode se dirigir para cá, o Cerimonial vai te
acompanhar. Uma salva de palmas. (Palmas.)
Queremos
agradecer a presença de Deia Zulu, presidente da Coordenadoria de Políticas
para a População Negra do PT, municipal de São Paulo. Obrigado pela presença.
(Palmas.)
Eu queria, após
eu citar o nome, uma salva de palmas calorosa para Joesia Teles, que é a mãe do
nosso homenageado e está aqui conosco. (Palmas.) Gratidão pela presença.
Ouviremos agora
o nosso deputado estadual Reis em seu discurso inicial. Com a palavra,
deputado. Gostaria de pedir que as fotos e os vídeos que forem tirados... que a
gente marque nas redes sociais do deputado Reis, da nossa Mesa, e
principalmente do homenageado da noite, o pai Sidnei.
Com a palavra o
deputado Reis.
O SR.
PRESIDENTE - REIS - PT - Desculpe eu vir até
aqui, porque eu fico mais confortável para falar da tribuna do que lá de cima.
Bom, em primeiro lugar boa noite a todos. Boa noite a todas. Boa noite a todes.
É uma imensa alegria e uma grande satisfação poder fazer, na data de hoje, esta
homenagem ao pai Sidnei.
E mais ainda,
ver esta Casa tão bonita como está na data de hoje, com a presença de vocês. Eu
sempre digo e várias vezes já disse aqui, nesta tribuna, Douglas Belchior, vereador
João Ananias, porque aqui é a casa grande. É a Casa em que nós estamos de
teimosos que somos.
Nós viemos do
gueto, da periferia. Nós viemos do fundão da cidade e chegamos aqui. Então, não
é uma Casa muito fácil, e as pessoas nem sempre se apropriam dela.
Então a
presença de vocês aqui, nesta sessão solene, tem esse significado. O povo se
apropriando do poder, do Poder Legislativo. Eu quero fazer aqui as saudações.
Tem que cumprir as formalidades, saudar um a um.
Primeiro, quero
saudar cada um de vocês aqui presentes, e dizer: parabéns pela participação nesta
sessão solene. Depois, eu quero saudar o vereador João Ananias, não sei se
vocês conhecem o vereador João Ananias, mas ele foi o meu sucessor na Câmara
Municipal de São Paulo.
Até outro dia,
eu estive na Câmara e tive de sair para vir para cá. Quinze de março, foi a
minha posse aqui, no meu primeiro mandato de deputado estadual. Ele acabou
ocupando o meu gabinete, e já tomou conta de tudo, inclusive dos meus projetos.
Vários projetos
que tramitavam na Câmara Municipal, coautoria dele, e hoje ele continua um
trabalho que nós já, por oito anos e 75 dias, vínhamos trazendo na Câmara de
São Paulo. Faço essa saudação especial ao vereador João Ananias.
Saudar a mãe
Ellen de Oxum, representante do Ilè Asè Omo Osè Igba Alatan e coordenadora de
cultura da Unifesp. Muito obrigado e seja bem-vinda à Assembleia Legislativa do
Estado de São Paulo.
O meu
companheiro Douglas Belchior, que é companheiro de luta da velha guarda. Quando
eu estive lá, no templo do pai Sidnei, ele falou: “Eu estou aqui apoiando o
Douglas Belchior. Vieram vários estaduais aqui, mas acho que esse seria o
melhor para nós”.
Então, acabamos
fazendo uma dobrada, pode-se dizer, velada, porque nós tentamos tanto fazer a
nossa campanha casada, acabou não progredindo, mas acabou que o pai Sidnei fez.
Muito obrigado
pela presença, parabéns pelo seu trabalho, pela sua luta, principalmente no
combate ao racismo, na busca da igualdade racial, na busca de tirar tantos
jovens e colocar em um mundo melhor, em uma educação de qualidade. Tem feito um
trabalho muito importante e que a gente acompanha de perto.
E cumprimentar...
uma saudação especial para o nosso homenageado, que vai ser condecorado aqui
hoje, vai receber a mais alta honraria do Estado de São Paulo, da Assembleia
Legislativa do Estado de São Paulo. O primeiro - segundo as informações que eu
tenho - babalorixá que vai receber o Colar de Mérito Legislativo nesta Casa. (Palmas.)
Cumprimentar a
Joesia Teles, sua mãe; seu sobrinho, Matheus Mendes, cadê o Matheus? Ah, está
em cima, o Matheus; Vanessa Mendes; Percival Henrique, pode falar o grau de
parentesco? Cunhado; A Vanessa é irmã; O Gabriel Mendes, sobrinho. Muito bem,
vocês estão muito bem cuidados. O Robson da Silva, é babalorixá; Madhavi Murty,
presente, representante da Unesco; (Inaudível.) mãe Maria (Inaudível.) de
Iansã.
Alexandre
Teles, Daniel Pereira, Vanessa Barreto Nogueira Mendes, o Matheus Barreto, o
Percival Henrique, a Raíssa Fernandes de Oxóssi, a Josiane Rodrigues, o Fagner
Aparecido Pereira, o Gabriel Barreto Mendes. Ana Beatriz de Oliveira. Tem mais
alguém que eu não chamei? Mãe Vera de Oxum, minha irmã.
Todos sintam-se
cumprimentados por esta Casa, pelo nosso mandato, pela nossa equipe. Quero
agradecer a toda minha equipe na pessoa do Rodrigo Mar, que é meu chefe de
gabinete, que ajudou bastante na organização. Os assessores fizeram até um
discurso aqui, para mim, de duas horas e meia, mas acho que não precisa.
Às vezes, eu
falo muito. Na Câmara, quando tinha os eventos, eu falava às vezes duas horas,
três. E depois, quando estava para terminar, eu falava: “Ainda tem mais um
tempo para falar para vocês”.
Mas dizer... Eu
tenho acompanhado bastante a Assembleia Legislativa, e desde quando cheguei
aqui, pai Sidnei, eu percebo que as matérias, os projetos que tratam da questão
da religião de matriz africana, eles não tramitam muito bem nesta Casa.
Aqui, nós temos
uma composição que foi eleita na urna, e que tem na oposição, que é formada
pelo PT, PT/PCdoB/PV, 19 deputados. São 18 do PT, e com a Leci Brandão, dezenove.
Nós temos seis do PSOL, o que dá 25 deputados. E nós temos... e parece que três
do PSB, que às vezes votam com a gente; às vezes, dependendo da matéria, votam
com os outros.
Ou seja, a
oposição é muito pequena nesta Casa. Os demais... Nós temos um público de
deputados muito conservador. Muito conservador. E temos uma bancada, também, da
igreja, muito forte.
Quando vêm
certos projetos que tratam da questão LGBTQIA+, projetos que tratam da questão
racial, projetos que tratam da intolerância religiosa, a gente percebe o travamento
desses projetos nas comissões.
E eu acho que esta
aqui é uma Casa de todos, mas todos não estão representados nesta Casa,
percebe? É uma Casa de todos, mas todos não estão representados nesta Casa. A
Câmara Municipal também não é muito diferente. É muito importante, dentro dos
processos eleitorais, porque nós somos a maioria, o povo é a maioria.
Eu não sei como
nós somos a maioria e acaba, aqui na representação, virando a minoria, percebe?
Nós somos a maioria, o povo é a maioria. Não é a elite que é a maioria, não são
as pessoas que moram nos Jardins, que moram na Chácara Flora, nas regiões mais
abastadas, que são a maioria.
A maioria é o
povão. Agora, por que esse povão não está representado aqui? Por que o povão
não se faz representar? Porque, em tese, nós éramos para ser a maioria, e não
aqueles que acabam virando um “puxadinho” do governo.
Acaba seguindo
aquilo que o governo quer. Olha só os projetos que nós temos aqui, que nós
temos que enfrentar: a privatização da Sabesp. Está aqui o projeto, está
tramitando.
Vai prejudicar
muitas pessoas, a gente não sabe o que vai dar isso. Se naquelas comunidades
pobres, carentes, se realmente vai ter água, se realmente o empresário que vai
ser dono da água vai querer fornecer água para aqueles que, às vezes, não tem
recursos para pagar. Se a água vai chegar limpa, se vai chegar barrenta...
Se é uma
empresa que dá lucro, por que tem que ser vendida? Mas é o que está aqui no
momento, é que vai ser vendida, porque, se tem uma maioria... você viu a quantidade
de deputados que nós temos? Para chegar a 94 falta bastante.
E está aqui,
também, um projeto para tirar dinheiro da Educação. Nove bilhões é o que se
pretende tirar da Educação. “Não, tudo bem”. Com a desculpa que é para pôr na
Saúde.
A Saúde precisa
de dinheiro, é verdade, mas a Educação também precisa. Não se forma um médico
sem educação. Não podemos tirar o dinheiro da Educação, mas o projeto do
governador de São Paulo já está tramitando aqui para reduzir de 30% para 25% o
montante gasto com a Educação.
Se nós somos a
maioria, essa maioria não está representada aqui. Temos pessoas que se elegem
porque tem seguidores, são famosos e tem milhões de seguidores, mas na hora
vota a favor dos grandes, da elite, não do povão. Políticas públicas que são aprovadas
aqui recebem vetos. Recebem vetos.
É uma reflexão
que a gente tem que fazer, e ver como que no tempo, nos próximos momentos que
vamos ter pela frente, a gente possa conscientizar as pessoas da importância da
maioria estar representada aqui. De todos os setores. Brancos, negros,
amarelos. Todas as religiões estejam representadas aqui.
É fato que
aumentou um pouco a quantidade de mulheres. Hoje nós temos 24 mulheres aqui no Parlamento.
Mas, ainda assim, nós temos uma parte dessas mulheres que são conservadoras,
que estão no time do governo e não muitas vezes votando em políticas públicas
para nós, para o povão que tanto precisa.
Esta homenagem
ao pai Sidnei é para realmente mostrar para a sociedade a importância de que esta
Casa realmente seja plural. De que esta Casa seja participativa. De que esta Casa
lute por políticas públicas, lute por aqueles que mais precisam.
É o significado
da luta do pai Sidnei. Pela luta, pela história. Um pesquisador, um professor e
um lutador contra a intolerância religiosa, porque, quando eu o conheci, a
primeira coisa que ele falou comigo foi isso.
Ele me
perguntou... porque quem me apresentou ao pai Sidnei foi o Ricardo, que ali
está. E quando ele começou a conversar comigo, ele começou a querer saber dos
meus projetos. “Não, mas quais são os seus projetos”. Foi a pergunta que ele me
fez.
Eu comecei a
falar para ele: “Olha, tenho pouco tempo de vereança, mas já aprovei várias
leis. Tenho 90 leis aprovadas na cidade de São Paulo, inclusive a mais recente,
pai Sidnei, que foi sancionada 31 de março deste ano, é a que colocou a palavra
África na Praça da Liberdade”.
A Praça da
Liberdade agora se chama Praça da Liberdade África-Japão por uma lei de minha
autoria, e que assim que eu saí o prefeito a sancionou. Muitas pessoas
perguntam: “Por que colocou África na Praça da Liberdade?”. Às vezes, as
pessoas não conhecem a história da Liberdade.
A sua essência
histórica é do povo negro. Dos quilombos. A Praça da Forca, onde as pessoas
escravizadas - negros e negras escravizadas, indígenas - eram capturados,
levados ali e enforcados.
Por conta do
enforcamento do cabo Francisco das Chagas, cuja corda quebrou três vezes, e
quando a corda quebrava a pessoa era absolvida, quando a corda quebrou a
primeira e a segunda, as pessoas gritavam: “Por liberdade, liberdade,
liberdade”.
A praça, que
era da Forca, passou a se chamar Praça da Liberdade. E lá, também, tem um outro
projeto de minha autoria, que a prefeitura vai implantar, que é o Memorial dos
Aflitos.
Inclusive, na
segunda-feira eu tive uma reunião na Secretaria de Cultura, pai Sidnei, em que
eles apresentaram o projeto de como vai ser o memorial que vai ser instalado
ali, entre o Beco dos Aflitos e a Rua Galvão Bueno, por conta de um empresário
ter comprado o imóvel, demoliu o prédio, começou a escavar.
E o que foi
encontrado lá? As ossadas de pessoas que foram sepultadas ali, porque o
primeiro cemitério de São Paulo é o Cemitério dos Aflitos. Debaixo daqueles
prédios, nós temos várias ossadas, como se deu com esse prédio.
E nós fomos
para cima, fizemos audiências públicas, chamamos os institutos de preservação
do patrimônio histórico, fizemos um dossiê, convencemos o prefeito a
desapropriar o imóvel.
Fizemos um
projeto de lei que aprovamos na Câmara de São Paulo. E, lá então, a Lei nº
17.310 diz que lá tem que ser instalado, construído, o Memorial dos Aflitos, onde
vão ficar as ossadas que foram encontradas lá. Cerca de nove ossadas dos
aflitos.
E quem eram os
aflitos? Justamente as pessoas escravizadas, indígenas, que às vezes fugiam dos
senhores, eram capturadas, levadas à Praça da Forca, enforcadas e sepultadas
ali e por isso que elas vinham aflitas. Por isso que tem lá o Beco dos Aflitos,
a Igreja da Nossa Senhora das Almas dos Aflitos.
Comecei a
falar, também, da lei de cotas raciais, que é de minha autoria na Prefeitura de
São Paulo. Toda vez que tem um concurso, 20% para negros e negras e
afrodescendentes. Por esse concurso, mais de cinco mil negros e negras já
entraram na prefeitura de São Paulo. Diretores de escola, procuradores,
auditores, fiscais.
Eu fui à Marcha
da Consciência Negra e lá fui ganhando a atenção do pai Sidnei, porque ele
estava cobrando. Eu falei: “Não, eu posso até..., mas eu preciso saber”. E fui
discorrendo sobre vários projetos na área das políticas afirmativas, que lá na
Câmara eu aprovei, e que alguns eu já trouxe para cá, já apresentei aqui, mas
aqui é mais difícil de fazer as coisas.
Para aprovar as
coisas aqui, pai Sidnei, é muito difícil. Eu, com aquele ritmo de aprovação,
aqui eu vejo que é muito lento. Os deputados, aqui, talvez aprovem um projeto
por ano. Lá nós aprovávamos... eu tenho uma média de dez aprovados por ano.
A gente tem que
buscar a conscientização de que essa composição aqui tem que ser mais povão. E
a responsabilidade está na mão do povão, porque o povão é a maioria, o povão
não é a minoria. Então, não pode uma minoria colocar uma maioria nesta Casa
para dominar a maioria lá fora.
É essa reflexão
que deixo aqui. Dou os parabéns para todos vocês.
Coloco-me à disposição, o mandato nosso está à disposição.
E dou os
parabéns ao homenageado que vai receber, na data de hoje, esta tão importante
honraria pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.
Muito obrigado.
(Palmas.)
O SR. MESTRE DE
CERIMÔNIAS - RODRIGO MAR - Antes de ouvirmos a
Mesa, eu gostaria de chamar o Nildo Oxaguiã, um babalorixá que está conosco
para compor a Mesa Extensora, à direita do nosso homenageado. Seja bem-vindo,
companheiro. (Palmas.)
Nós estamos com
sucesso de audiência na Rede Alesp, então quero agradecer a todos e a todas que
estão acompanhando pelo YouTube. Mande sua mensagem ao pai Sidnei e depois a
equipe e o pai responderão as mensagens aqui no nosso chat. Vamos ouvir agora a
nossa Mesa. Vou passar a palavra, para uma breve saudação, ao amigo Douglas
Belchior.
Com a palavra,
Douglas.
Uma salva de
palmas. (Palmas.)
O SR. DOUGLAS
BELCHIOR - Salve, boa noite. Boa noite, pessoal.
Muito axé, muito obrigado, sua bênção, pai. Muito obrigado pela honra deste
convite.
Eu falo em nome
da Uneafro Brasil. Claro, eu fui convidado como alguém que acompanha a
trajetória do pai Sidnei, mas, sobretudo represento aqui o sentimento da
Uneafro Brasil, que é o movimento negro no campo da educação que ajudo a
construir.
Estou muito
honrado pelo convite, por poder falar para vocês, deixar meu abraço a vocês.
Muitos amigos e amigas queridos aqui. Em especial, eu saúdo e cumprimento o
vereador João Ananias, o nosso deputado Reis.
Obrigado, Reis,
por essa possibilidade, por você aqui, nesta Casa, colocar o seu mandato a
serviço dos interesses do povo negro. Foi assim como vereador. Quem não
acompanha, vale a pena pesquisar as leis que Reis aprovou em São Paulo. Grande
parte delas têm interferência na relação direta com a luta contra o racismo
aqui na Cidade.
Não é um
parlamentar, um político que fala e não tem coerência entre o que diz, promove
e faz. É um dos poucos, a gente sabe que são raros aqueles que carregam
coerência entre o que dizem e o que fazem quando estão no parlamento. Te
agradeço por isso.
Eu estou vendo
aqui o meu griô, Oswaldo Faustino, o meu abraço, querido irmão, grande
referência. A quem, assim como o pai Sidnei, merece logo mais...
Com certeza
alguém vai fazer isso, vai homenagear aqui a história e a vida de Oswaldo
Faustino. O meu irmão, Renan. A minha irmã, Tami, que está aqui. A minha irmã
Ellen, que está aqui. O meu irmão Jean William, também, satisfação imensa. Em
nome de todos, cumprimento e saúdo a todos vocês.
Eu poderia
gastar meus poucos minutos falando raivosamente de tudo que nos oprime e de
como a gente é obrigado a gastar nossa energia e nossa vida lutando por
direitos elementares, por direitos humanos de um povo que teve sua humanidade
negada historicamente. O racismo é, sobretudo, um processo de desumanização do
ser e de tudo aquilo que aquele ser representa política, cultural,
filosoficamente, historicamente, religiosamente.
Também por
isso, por ser a nossa religião ancestral, nós sofremos um processo radical de
racismo religioso e as nossas religiões são perseguidas. E nós somos obrigados
a gastar nossa energia e nossa vida nos defendendo, defendendo nossos
territórios, defendendo nossos terreiros, lutando por direitos, quando a gente
poderia fazer uso da nossa vida muito mais para celebrar, conviver e para se
amar. Não é possível.
Pai Sidnei
representa isso. Ele é uma liderança religiosa, é um estudioso, um intelectual,
mas ele é sobretudo uma representação do que nós queremos para o mundo. E, nos
momentos...
Eu quero, mais
uma vez, te agradecer por isso, pai Sidnei, pela sua amizade, pela sua
confiança, por você ter me recebido por sua casa e por ser merecedor de sua
amizade. Eu vou terminar lendo palavras que eu conheci em um texto com o título
“Tributo a um sábio africano”, que hoje eu utilizo para fazer o meu tributo ao
nosso pai Sidnei.
“Nossa cultura, nossa religião e nossa arte
mantém a África viva em nós. No coração da África, onde a história ancestral se
entrelaça com sons da natureza e a cadência das tradições, encontramos um sábio
cuja sabedoria transcende o tempo e o espaço. Ele é um guardião dos segredos do
passado, um elo entre as gerações, um farol de luz no caminho para o futuro.
Com a sua mente
brilhante e a sua alma sábia, esse griô africano nos ensina a importância da
conexão com a terra, com nossas raízes, com nossas ancestralidades e de nós,
uns com os outros. A sua sabedoria é como uma árvore antiga, com raízes
profundas que se estendem para o passado e galhos que se esticam para o céu,
abraçando o presente e o futuro.
Ele nos lembra
que a verdadeira riqueza está na sinceridade, na harmonia com a natureza e com
a espiritualidade. No respeito pela vida em todas as suas formas. Seus olhos
brilham com o conhecimento das estrelas e a compreensão das marés. Ele nos
ensina a olhar para o céu e para a terra, e buscar as respostas ao ouvir o
sussurro do vento em busca de orientação.
Mas a sua
sabedoria não se limita ao conhecimento do mundo natural. Ele, também, é
guardião das histórias e tradições que moldaram a nossa cultura. Suas palavras
são como canções antigas que ecoam através das colinas e dos vales, e nos
lembram de nossas origens e de nosso poder ancestral. Nos dá força para seguir
e lutar. Esse sábio africano é um farol. Esse sábio africano é um farol de
esperança em um mundo turbulento, injusto, violento e triste.
A sua presença
é um lembrete de que o amor e a união são alicerces de uma sociedade justa.
Hoje, prestamos homenagem a esse sábio africano, cuja luz brilha intensamente e
cuja sabedoria ilumina nosso caminho.
Que a sua
herança perdure. Que suas lições sejam passadas de geração a geração. Que a sua
influência continue a inspirar todos nós a viver com sabedoria e respeito por
ela e por essa vida que compartilhamos”.
Nós honramos,
pai Sidnei, nós honramos não apenas como um sábio africano, mas como um tesouro
global, cujas palavras e ações transcendem fronteiras e nos lembram de nossa
humanidade comum.
Muito axé,
saúde e vida longa ao nosso querido e amado pai Sidnei.
Muito obrigado.
(Palmas.)
O SR. MESTRE DE
CERIMÔNIAS - RODRIGO MAR - Antes de passar para o
próximo componente da Mesa, gostaria de chamar para compor a Mesa extensora, a ialorixá
Nádia de Logunedé. Uma salva de palmas. (Palmas.)
Seja bem-vinda.
Gostaríamos de
passar a palavra para o vereador João Ananias, do município de São Paulo. (Palmas.)
O SR. JOÃO
ANANIAS - Está aberto? Boa noite a todas e todos.
Vou falar, aqui, para a gente diminuir, que a pessoa mais importante a ser
ouvida aqui, hoje, é o pai Sidnei. Mas eu queria parabenizar aqui o nosso
Douglas Belchior. É um militante que está todo dia na luta. Parabenizar sempre
a luta que ele faz no dia a dia, por aí. Parabéns.
Queria, também,
cumprimentar meu deputado, Paulo Reis, que é um cara incansável no dia a dia.
Como ele fala que eu o substituí na Câmara Municipal, como eu vou substituir um
vereador que fez 90 leis serem aprovadas na Câmara Municipal.
Uma câmara que,
na verdade, hoje em dia a gente pode falar que dificilmente você consegue
aprovar um projeto lá, é difícil transitar qualquer projeto naquela casa, e ele
conseguiu fazer noventa. É um cara que eu aprendi a gostar, um cara que é fiel
e defende o povo. Está sempre com o povo. É isso. Parabéns por esta
propositura.
Eu queria
parabenizar também o pai Sidnei. E claro, gente, o que o Reis acabou de falar é
muito importante, porque a Casa, é difícil você trazer...
Nós somos a
maioria, por que não ocupamos esta Casa todo dia? Como ele disse, 80% da nossa
população é a maioria, nós somos 80%, e por que a Câmara Municipal a gente não
consegue ocupar, a Alesp a gente não consegue ocupar? A Câmara dos Deputados,
lá em Brasília, por que a gente não consegue ocupar?
Eu acho que
falta um pouquinho para a gente fazer esse movimento e conseguir conquistar os
nossos espaços, o que é nosso, também. Como ele falou: “Aqui é nosso”.
E, também,
queria parabenizar a todos vocês que estão aqui nesta Casa hoje, um dia de
chuva, uma sexta-feira difícil de chegar aqui.
Parabéns a
todos vocês, e claro, vamos esperar a principal homenagem, que é ao pai Sidnei.
Obrigado,
gente. (Palmas.)
O SR. MESTRE DE
CERIMÔNIAS - RODRIGO MAR - Obrigado, vereador.
Passamos a palavra para a mãe Ellen de Oxum. (Palmas.)
Mãe Ellen, seja
muito bem-vinda a esta tribuna.
A SRA. ELLEN - Vou
aproveitar para dar meu boa noite para todas, todes e todos. É uma grande
satisfação enorme estar aqui. Daqui eu posso olhar melhor, também, o nosso
homenageado, a quem eu saúdo. Faço meu boa-noite e saúdo o deputado Reis; o
João Ananias; o meu querido amigo, Douglas Belchior; e a todos que estão aqui
presentes.
Peço à dona Joesia
de Iansã a benção. E cumprimento a todos que estão no auditório, sob os pés do Maracatu
Congo do Ouro, porque está lindíssima essa imagem de lá de cima.
Foi impactante
pensar nos nossos pés no dia de hoje, um dia de chuva. E que bom que é um dia
de chuva, porque isso nos lembra Xangô, que é justamente o orixá do pai Sidnei,
que é justamente aquilo que ele excorpora, aquilo que ele reverbera.
Eu concordo
muito com o que o Douglas disse, que é muito difícil a gente poder falar de
momentos de alegria, mas se tem alguém que festeja e vivencia a alegria é o pai
Sidnei de Xangô, e nos mostra que nós temos o direito de existir. A partir da
alegria dele, porque ele de fato...
Pai, quando
olho para o senhor, eu sei que o senhor é o sonho dos nossos ancestrais, e isso
me motiva. Eu vejo isso no brilho do olho de cada um dos nossos alunos, eu vejo
isso na esperança de cada uma das mães que muitas vezes perderam seus filhos, a
cada 28 minutos, e não tiveram a mesma felicidade de poder protegê-los como a dona
Joesia pode proteger.
O que a gente
está fazendo aqui hoje é um ato revolucionário, porque não é pouco em um país
em que o cristianismo é compulsório, onde em cada espaço que eu adentro -
inclusive o desta Casa, cercado de cruz -, eu possa ter uma pessoa como o pai
Sidnei, que ensina que segurar exu é o direito de existir.
É aquilo que o
amálgama de Xangô, que ele ensina no corpo vivo de Xangô, do Amalá, nos faz
unidos. E isso me torna inteira, porque estou muito alegre de poder representar
o meu axé e a minha universidade, aqui nas falas hoje.
Porque nós
somos inteiras, não somos só no terreiro, e é isso que o pai Sidnei nos ensina,
quando traz aqui o Hino da Umbanda. Eu fico feliz, porque não é só um ato de
homenagem a uma pessoa a quem eu amo muito e tenho um carinho enorme, mas é uma
das pessoas, se não a pessoa, que melhor representa o candomblé neste país hoje
e a macumba de uma forma geral.
É com essa
alegria que o pai sempre nos ensinou a existir, a sorrir e a estudar e se
formar e se orientar, porque, também, é um professor. Eu agradeço a esta Casa
por ter feito esse ato revolucionário. Tem que ser o primeiro. É um ato de
reparação que o pai Sidnei seja o primeiro.
Tenho certeza
de que é um dos poucos negros a receber esta honraria. É uma pessoa que faz com
que todos nós possamos nos sentir bastante representados nesse espaço, que é um
Estado que não à toa, não é de forma inócua, que se chama São Paulo.
Ele não chama
Piratininga, como era o nome dos povos originários. E ele não chama, também, estado
de Xangô. Mas, com o pai Sidnei, a gente aprende a coexistir, a gente aprende a
existir, e se tem algo que a nossa religião ensinou, e ele excorpora, é o afeto
e o amor.
Obrigada pela
sua existência, pai Sidnei, é uma honra poder falar aqui.
Muito obrigada
a todos que nos deram esta oportunidade. (Palmas.)
O SR. MESTRE DE
CERIMÔNIAS - RODRIGO MAR - Esta é uma grande
noite de homenagens.
Neste momento,
convidamos Ana Clara Ferraz, que interpretará a música “O Canto das Três
Raças”, composição de Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, que ficou famosa na
voz de Clara Nunes, em 1976. Fique à vontade.
A SRA. ANA
CLARA FERRAZ - Olá, boa noite. “Agô”, para
chegar. Bênção, meu pai, bênção, avó. Bênção a todos os mais velhos e mais
novos.
* * *
- É feita a
apresentação musical.
* * *
A SRA. ANA
CLARA FERRAZ - Que o nosso canto, um dia, não
seja só de dor, que seja de alegria e que seja de axé. Estamos aqui e estamos
vivos. Axé.
TODOS - Axé.
O SR. MESTRE DE
CERIMÔNIAS - RODRIGO MAR - Obrigado. Agora
assistiremos à mensagem, pai Sidnei, de alguns amigos e amigas que não puderam
estar aqui presentes, mas enviaram uma mensagem e uma saudação pelo
audiovisual, em vídeo.
* * *
- É exibido o
vídeo.
* * *
O SR. MESTRE DE
CERIMÔNIAS - RODRIGO MAR - Neste momento,
prestamos homenagem ao nosso querido amigo com uma apresentação artística.
Maracatu Ouro do Congo. (Palmas.)
Enquanto os
nossos companheiros e companheiras se posicionam, eu quero agradecer a todos
que estão acompanhando pela Rede Alesp e pelo YouTube. Pedir para que mandem as
suas mensagens pelo chat.
E lembrar que,
todo mundo que está fotografando nas suas redes sociais, por favor marque o
nosso homenageado e a nossa Mesa aí no Instagram.
Com vocês,
companheiros.
* * *
- É feita a
apresentação artística.
* * *
O SR. MESTRE DE
CERIMÔNIAS - RODRIGO MAR - Belíssima
apresentação. Queremos agradecer a presença do pai Alberto, do PV de Paulínia.
Pai Alberto.
Neste momento,
damos início à entrega do Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São
Paulo ao Sr. Sidnei Barreto Nogueira. (Palmas.) O Colar de Honra ao Mérito
Legislativo é a mais alta honraria conferida pela Assembleia Legislativa do
Estado de São Paulo.
Foi criado em
2015 e é concedido a pessoas naturais ou jurídicas brasileiras ou estrangeiras,
civis ou militares, que tenham atuado de maneira a contribuir para o
desenvolvimento social, cultural e econômico do nosso estado, como forma de
prestar-lhes, pública e solenemente, esta homenagem.
Saudemos o pai
Sidnei com uma imensa salva de palmas. (Palmas.)
* * *
- É feita a
outorga do Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo.
* * *
O SR. MESTRE DE
CERIMÔNIAS - RODRIGO MAR - Mais palmas. Mais
barulho para o pai Sidnei. (Palmas.)
O SR. SIDNEI
BARRETO NOGUEIRA - Kabecilê. Kabecilê.
Eu, normalmente, não escrevo meus discursos, mas eu pensei bem e achei que este
dia merecia um texto que você começa a escrever, depois deixa ele dormir um
pouquinho, depois você volta, depois você deixa... Você vai... como em uma
canção, vai afinando as notas musicais. Eu decidi... Eu não sei se vou
segui-lo, mas eu escrevi um texto.
Boa noite a
todes, todas e todos. Vamos girar com as palavras? Eu quero começar a minha
partilha pedindo “agô”. No candomblé, pedimos “agô” antes de falar, antes de
entrar, antes de qualquer ação que possa afetar o outro e o ambiente. Ninguém
pode, deliberadamente e sem autorização, interferir no mundo do outro sem pedir
“agô”.
Muito embora a
palavra “agô” possa ser traduzida como um pedido de licença, trata-se de uma
palavra intraduzível na língua do colonizador. “Agô” está além e aquém do
pedido de licença. “Agô” quer expressar respeito, quer dizer: “Eu lhe
respeito”. Quer dizer: “Produziremos respeito, juntos, se me for permitido”.
Trata-se de um
pedido respeitoso que se refere à ideia de honra. Eu posso honrá-lo ao dizer,
ao fazer, ao me colocar no mundo, ao participar de algo com você?
Por isso, eu
saúdo e peço “agô” a todas, todes e todos os presentes. Eu saúdo e peço “agô”
às autoridades presentes, babalorixás, ialorixás, pais, mães, oloyês, ogãs,
equedes, mestres e mestras. Saúdo a Mesa na pessoa do querido Paulo Reis. Saúdo
as equedes na pessoa de mãe Ellen de Oxum. Saúdo o vereador Genoíno... João
Ananias. E o meu querido amigo, exu Douglas Belchior, laroiê.
TODOS - Laroiê.
O SR. SIDNEI
BARRETO NOGUEIRA - Eu saúdo e peço “agô”,
exu, laroiê. Eu saúdo e peço “agô” àqueles que vieram antes de mim. Eu saúdo e
peço “agô” aos nossos ancestrais. Eu saúdo e peço “agô” à Xangô. Eu quero ser
honra e produzir honra.
Eu quero falar
sobre honra. Honra é “olá” em Iorubá. Há muitos nomes com este prefixo ou
sufixo. “Olamidê”, a honra chegou. “Adeolá”, coroa é honra. “Olatundê”, a honra
voltou. O sentido de “olá” é amplo, e se soma às ideias de algo que remete à
alegria, à dignidade e à riqueza. “Olá”, também, é elemento nuclear de um
código ético ancestral.
Honra faz parte
do código refinado das comunidades de terreiro, das nossas comunidades, mãe
Vera, das nossas comunidades, mãe Vera de Oxum. Também, por isso, não posso me
furtar de começar estas generosas palavras apresentando-me, da perspectiva
ancestral daqueles que me honraram, e com os quais eu partilho a honra
recebida. Permitam-me honrá-los, “agô”.
Eu quero falar
um pouco sobre os meus ancestrais. Eu sou filho da ialorixá Joesia Teles de
Oiá, e Plácido Barreto Nogueira de Ogum. Oiá e Ogum fecundaram Xangô em mim.
Uma alagoana que nos criou como empregada doméstica, mãe de santo e cartomante,
e um pai analfabeto, de Rui Barbosa, na Bahia, caminhoneiro de betoneira de
concreto. Homem preto retinto que morreu precocemente, como tantos homens
negros na história da exploração e escravização de corpos negros no Brasil.
Papai era mesmo
plácido. E dele eu herdei a calma e a prudência. De mamãe, herdei a obstinação
e a autenticidade. Quando entrei na faculdade de letras, logo depois da
primeira semana eu quis desistir. Mamãe só me olhou, e perguntou: “Quanto tempo
dura o curso?”. Eu respondi: “Quatro anos”. E ela afirmou: “Então, quando quatro
anos se passarem, você poderá desistir”.
De mamãe, eu
herdei a capacidade de acreditar em dias melhores. A devoção, a fé na vida, nos
espíritos encantados, em todos os orixás. Em tempos de extrema pobreza, no dia
do pagamento, papai passava no açougue e comprava cinco quilos de costela. À
época, isso era uma fortuna, não tínhamos Lula como presidente.
Papai fazia a
melhor costela que um soteropolitano sabe fazer, um bom feijão gordo, um arroz
fresquinho e dizia que aquele dia era dia de celebração. Mamãe se queixava e
dizia: “Por que tudo de uma vez?”, e que precisávamos economizar. Papai dizia:
“Primeiro celebramos, depois economizamos. Hoje é dia de festa.”.
De papai,
herdei a certeza de dias melhores e que é preciso celebrar o que se tem, para
que se tenha aquilo que se merece. Desde cedo, aprendi que teria que fazer o
que é preciso, para um dia poder fazer o que se quer. Eu penso que fiz o que
era preciso. Esta honraria diz que eu fiz um bom caminho. Um caminho da ética
ancestral.
Mas eu quero falar
que eu não fiz este caminho sozinho. Eu não o faço sozinho. Seria impossível
fazê-lo sozinho. Nossos ancestrais sempre estiveram comigo; meus professores,
minhas professoras; meus mais velhos e minhas mais velhas; meus filhos, meus
pais e mães, todos, todas e todes vocês, tanta gente ressoa em meu corpo que
seria impossível nominar.
Há um provérbio
iorubá que diz: “Sábio é aquele que, mesmo quando caminha com o peso de um
dinossauro, ninguém percebe as suas pegadas sobre a terra. A sua sabedoria
deixa pegadas suaves sobre a terra”. Não é tarefa fácil caminhar suavemente com
o peso do racismo sobre as nossas costas, e uma história escravagista que até
hoje retira tudo de nós.
Todavia, os
orixás me carregaram no colo, a vida toda. Caboclo Ubirajara do Peito de Aço
salvou a minha vida. Sr. Tranca Rua das Almas é meu padrinho. A baiana
Sebastiana, uma grande mestra orientadora. E Xangô é meu pai.
A experiência
negra no Brasil é uma experiência revolucionária. Não é fácil estar em um mundo
e apenas se ver espelhado em posições subalternas de dor e sofrimento. Isso
pode nos devastar e aprisionar, porque o racismo não dá tréguas.
Eu quero falar
de algo recente. Eu tenho uma coluna na “Carta Capital”, Diálogos da Fé. Devo
escrever sobre assuntos diversos, da perspectiva do babalorixá, posição
sacerdotal da religiosidade afrodiaspórica.
No mês passado,
eu travei. Primeiro, a política estava tomada, Reis, pela discussão de uma
comissão criada especialmente para proibir o casamento homoafetivo. Depois,
tivemos os episódios de insegurança na Bahia. Depois, tivemos mais uma guerra.
Depois, tivemos o crime contra o irmão da deputada Sâmia Bonfim e mais dois
médicos no Rio de Janeiro.
Eu só sentia
dor e revolta. Não consegui escrever. Hoje, escrever sobre ódio e violência lhe
deixa nos “trending topics”. Eu estava com “Tudo Sobre o Amor”, de bell hooks.
Bell hooks nos ensina que o amor é uma ação, e que é possível transformar a
teoria, a escrita, a intelectualidade, em cura. Eu me vi tomado por isso e
decidi que seria mais cura ainda, e, se não puder ser cura, não quero ser mais
adoecimento.
Eu quero falar
de racismo religioso. Racismo religioso é uma decisão de alguém que decidiu ser
adoecimento no mundo. Há um provérbio iorubá que diz: “O mal não pode receber
acenos, Douglas”.
O racista, o
LGBTQIAP+fóbico, o misógino, o fóbico, decidiram acenar e alimentar o mal. Ser
adoecimento é uma decisão. Recentemente, um homem parou o carro e desceu para
impedir um ritual em uma estrada de ferro em Santos.
Depois de
agredir a todes verbalmente, ele decidiu dar uma cabeçada em um iaô. Rasgou-lhe
a cabeça, deputado Reis, e quebrou seus dentes. Por quê? Porque o mal não pode
receber acenos, e há pessoas que querem impor seu ódio às outras.
Eu não quero
isso, eu quero ser cura. Nós não podemos permitir que essas pessoas que querem
nos adoecer e adoecer o mundo continuem tendo voz e voto, deputado Reis. Essas
pessoas não podem mais. Nós temos que escolher bem os nossos líderes do Parlamento,
que é o segundo parlamento, Reis, mais caro do mundo. Só é menos caro que o
parlamento dos Estados Unidos.
Eu fiz uma
pesquisa, porque eu ia escrever sobre o Orçamento da tal comissão para barrar o
casamento homoafetivo, e chequei com economistas e jornalistas o quanto custa
uma Comissão ao Parlamento. É o nosso dinheiro e é uma comissão discutindo algo
que não vai colocar dinheiro na nossa conta bancária, não vai trazer emprego,
não vai colocar comida à mesa.
Que caminhos
tem tomado a política do Brasil, deputado Reis. O senhor é um herói, eu não sei
como alguém consegue, Douglas Belchior. Eu não sei como vocês ainda conseguem
fazer política decente neste país. É um ato revolucionário, também.
Eu quero falar
de revolução, por isso estou realmente feliz e muito grato por poder dividir
com vocês este momento. Esta Casa, embora nossa, não costuma nos receber e
reconhecer o nosso valor.
O racismo
também está aqui e na pessoa da maioria dos eleitos. Vocês babalorixás,
ialorixás, ogãs, equedes, oloiês, portadores de títulos, pais e mães de santo
da umbanda, mestras e mestres das mais diferentes lideranças de terreiro, fazem
a verdadeira revolução em suas comunidades.
A existência de
uma comunidade de terreiro é revolucionária. São vocês que oferecem escuta
quando ninguém escuta os subalternizados. São vocês que oferecem cura,
conforto, amparo, caminho, boas palavras e terra úmida para que as pessoas
possam caminhar suavemente. Esta medalha é nossa, não é minha. Ela é nossa, e
quero que sintam, recebendo-a, também.
O deputado Reis
é corajoso. Ele acatou o clamor social e decidiu celebrar a minha existência e
jornada de luta por equidade social. Ele é um guerreiro em um mar de acenos ao
mal. É uma luta ingrata, luta difícil em meio às pessoas que querem mais
adoecer a curar, e que ignoram grande parte da realidade dos brasileiros.
Do alto de seus
castelos, só sabem ver o céu, ou a própria imagem refletida, também, no céu.
Paulo Batista dos Reis é um homem da justiça. Um trabalhador, um professor. Ao
me celebrar, ele sabe que se celebra, junto. Ele sabe que, juntos, podemos
mais. Eu agradeço imensamente por isso.
Eu quero falar
que sou uma pessoa conduzida pelo coração. Quem me trouxe aqui hoje, por meio
dele, fez com que pessoas se mobilizassem para esta honraria, foi Ogum, na
pessoa de Ricardo de Ogum, meu filho.
Ricardo chegou
para o jogo de búzios guiado por sua esposa, Gisele de Oiá, hoje iniciada para
Oiá na casa de Xangô. Era um momento difícil, de grandes desafios. Eu senti que
estava com Ogum na minha frente. Ele era Ogum.
Depois do jogo,
ele me confidencia que estava com dificuldades até com a alimentação da
família. Eu não penso duas vezes. Retiro cem reais do jogo e lhe dou. Ele não
aceita, mas o ato foi suficiente para que nos uníssemos pelo coração.
Ele disse que
me honraria. Ele disse que faria mais pessoas me conhecerem. Ele disse que
todos saberiam o meu tamanho e o tamanho do meu coração. Ricardo, meu filho,
obrigado.
Eu quero
agradecer. Na nossa cultura Nagô, só se agradece na minha pessoa no plural.
Nunca se diz “eu agradeço”, “modupé”. É sempre “nós agradecemos”, “auadupé”.
Porque gratidão é um sentimento nobre, gratidão é lembrança, gratidão conecta.
Gratidão diz ao outro que, juntos, podemos mais.
Eu quero
agradecer a cabaça-útero, ancestral de minha mãe, que me abrigou oito meses no
aiê. Ao meu pai, aos meus ancestrais, à minha ialorixá, que já retornou à massa
de origem, mãe Iara de Oxum. Ao pai Aílton de Oxóssi, que tanto me ensinou
sobre o candomblé. E a todos que estão aqui, hoje, celebrando este momento
conosco.
Aos meus
filhes, filhas e filhos em Xangô. Uni-vos, sejamos todos macumbeires. Aos meus
alunes e à todes que se deixam tocar pelo coração. Eu quero agradecer àqueles
que inspiram e fortalecem a minha negritude.
Luiz Gama,
Zumbi dos Palmares, Grande Otelo, Pixinguinha, Abdias do Nascimento, Milton
Santos, Frantz Fanon, Carla Akotirene, Bárbara Carine, Renato Noguera, Joice
Berth, Aimé Césaire, Dr. Hédio Silva Júnior, Lélia Gonzales, Sueli Carneiro,
Carolina Maria de Jesus, Sobonfu Somé, Djamila Ribeiro, Cida Bento, Cidinha da
Silva - que esteve comigo esta semana, lá em BH -, Chimamanda Ngozi, bell hooks
e tantos outros que me alimentam.
Eu quero
terminar meu giro destacando a frase, lição bell-hookiana, sobre linguagem. A
linguagem é exu, Douglas. Foi a linguagem que me trouxe até aqui. A linguagem,
as palavras, os sentidos discursivos são meu oxê. Machado de Xangô. Bell hooks
nos ensina que é por meio da linguagem que o oprimido luta para recuperar a si
mesmo. Precisamos de reconciliação.
Esta honraria é
um símbolo de um passo da reconciliação da história de um Brasil racista e
colonial com cinco milhões de negres escravizades. Isto não deve nos definir, mas
deve definir as políticas de reparação histórica. É sobre uma política que seja
cura.
Hoje, dia de
Oxalá, senhor do ar, rogo a ele que não falte fôlego a todos que lutam por
justiça social e igualdade. Que as pessoas entendam que ser ódio, ser
adoecimento, ser morte, ser destruição, é uma decisão.
Eu quero dizer
e me comprometer com a palavra proferida. O meu legado no mundo tem sido esse.
Se eu não puder ser cura, não serei adoecimento. Ficarei em silêncio, inerte,
quando pensar que poderei produzir mais adoecimento do que cura.
Esta é a nossa
ética ancestral.
Adupé. (Palmas.)
* * *
- É realizada a
celebração religiosa.
* * *
O SR. SIDNEI
BARRETO NOGUEIRA - Kabecilê. É nossa. É
nossa. Cale a sua boca.
O SR. MESTRE DE
CERIMÔNIAS - RODRIGO MAR - Antes de nos
encaminharmos ao fim desta grade solenidade, desta grande festa, nós convidamos
os ogãs da casa Comunidade da Compreensão e da Restauração Ilê Axé Xangô para
cantar a Xangô.
O SR. - “Agô”,
a benção de todos, meus mais velhos, minhas mais velhas, meus irmãos, minhas
irmãs. A benção, pai. Peço “agô” para poder entoar aqui algumas cantigas de
Xangô.
* * *
- É realizada a
celebração religiosa.
* * *
O SR. SIDNEI
BARRETO NOGUEIRA - Muita gente me
acompanha o tempo todo. Estão aqui os pais de santo, as mães de santo, grandes
amigos, pessoas para as quais eu sou inspiração. E de verdade, ser inspiração é
alguma coisa da ética negro-ancestral.
Mas eu não
posso me furtar de fazer uma homenagem especial a uma guerreira, uma mulher
revolucionária, uma mulher de muita força. Minha irmã, minha amiga, mãe Vera de
Oxum. (Palmas.)
* * *
- É realizada a
celebração religiosa.
* * *
O SR. SIDNEI
BARRETO NOGUEIRA - Todas as mulheres
recebam esta homenagem na pessoa de mãe Vera de Oxum. Oraieieô.
Obrigado,
obrigado. (Palmas.)
O SR. MESTRE DE
CERIMÔNIAS - RODRIGO MAR - Obrigado. Podemos nos
sentar. Gostaria de chamar até o púlpito o deputado Reis. E gostaria também,
Reis, em nome de sua equipe, te parabenizar por ser um deputado tão sóbrio com
seu trabalho e imensamente plural.
Parabéns, Reis.
Para fechar esta
noite tão grandiosa, a palavra é do deputado estadual Reis.
O SR.
PRESIDENTE - REIS - PT - Na realidade,
cumprindo as formalidades desta Casa, eu teria que estar encerrando esta sessão
solene, mas eu gostaria de ficar falando aqui por mais pelo menos uma hora, não
sei se é possível. Estou brincando, gente. As pessoas se assustaram.
Esgotado o
objeto da presente sessão eu agradeço às autoridades, à minha equipe, aos
funcionários do serviço de som, da taquigrafia, da fotografia, do serviço de atas,
do Cerimonial, da Secretaria Geral Parlamentar, da imprensa da Casa, da TV
Alesp e das assessorias policiais Militar e Civil, bem como a todos que, com
suas presenças, colaboraram para o pleno êxito desta solenidade.
Declaro
encerrados nossos trabalhos.
Tenham todos
uma excelente noite. (Palmas.)
* * *
- Encerra-se a
sessão às 21 horas e 40 minutos.
*
* *