27 DE OUTUBRO DE 2023

46ª SESSÃO SOLENE PARA OUTORGA DO COLAR DE HONRA AO MÉRITO AO SR. SIDNEI BARRETO NOGUEIRA

        

Presidência: REIS

        

RESUMO

        

1 - REIS

Assume a Presidência e abre a sessão.

        

2 - RODRIGO MAR

Mestre de cerimônias, anuncia a Mesa e demais autoridades presentes.

        

3 - PRESIDENTE REIS

Informa que a Presidência efetiva convocara a presente sessão solene para "Outorga do Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo ao Sr. Sidnei Barreto Nogueira", por solicitação deste deputado.

        

4 - RODRIGO MAR

Mestre de cerimônias, convida o público para ouvir, de pé, o "Hino Nacional Brasileiro". Anuncia a apresentação musical do “Canto para Oxalá”, executada pelo tenor Jean William. Informa a execução do “Hino da Umbanda” pelo pai Balé, ogã de Xangô.

        

5 - PRESIDENTE REIS

Tece considerações simbólicas sobre esta solenidade. Reflete acerca de projetos de sua autoria, de cunho social, quando do exercício da vereança em São Paulo.

        

6 - DOUGLAS BELCHIOR

Membro da Uneafro Brasil, faz pronunciamento.

        

7 - JOÃO ANANIAS

Vereador à Câmara Municipal de São Paulo, faz pronunciamento.

        

8 - MÃE ELLEN DE OXUM

Ialorixá, faz pronunciamento.

        

9 - RODRIGO MAR

Mestre de cerimônias, anuncia apresentação musical de Ana Clara Ferraz. Informa exibição de vídeo com mensagens ao homenageado. Anuncia apresentação artística do grupo Maracatu Ouro do Congo. Informa a outorga do Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo ao Sr. Sidnei Barreto Nogueira.

        

10 - SIDNEI BARRETO NOGUEIRA

Babalorixá homenageado, faz pronunciamento.

        

11 - RODRIGO MAR

Anuncia apresentação musical dos ogãs da Casa, Comunidade da Compreensão e da Restauração Ilê Axé Xangô.

        

12 - SIDNEI BARRETO NOGUEIRA

Babalorixá homenageado, faz pronunciamento.

        

13 - PRESIDENTE REIS

Faz agradecimentos gerais. Encerra a sessão.

        

* * *

 

- Assume a Presidência e abre a sessão o Sr. Reis

 

* * *

 

O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - RODRIGO MAR - Boa noite a todos, boa noite a todas. Sessão solene com a finalidade de entrega do Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo ao ilustre babalorixá Sidnei Barreto Nogueira. Senhoras e senhores, obrigado pela presença.

Sejam todos bem-vindos e bem-vindas à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Esta sessão solene tem a finalidade de outorgar o Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo ao babalorixá Sidnei Barreto Nogueira. Comunicamos aos presentes que esta sessão solene está sendo transmitida ao vivo pela TV Alesp e pelo canal da Alesp no YouTube.

Convidamos para compor a Mesa Diretora o nosso deputado estadual Reis, proponente desta solenidade. Uma salva de palmas. (Palmas.) Convidamos com muita alegria o homenageado da noite, babalorixá Sidnei Barreto Nogueira, o nosso grande homenageado. Uma salva de palmas. (Palmas.)

Dando sequência, convidamos o vereador João Ananias, do município de São Paulo. Uma salva de palmas ao nosso vereador. (Palmas.) Convidamos, também, à mãe Ellen de Oxum, representante do Ilê Asé Omo Osé Igba Alatan e coordenadora de cultura da Unifesp. Uma salva de palmas. (Palmas.)

Convidamos, também, Douglas Belchior, da coalisão negra e cofundador da Uneafro. Seja bem-vindo. (Palmas.) A Mesa pode se sentar, por gentileza.

Com a palavra, o presidente proponente desta sessão solene, deputado estadual Reis.

 

O SR. PRESIDENTE - REIS - PT - Sob a proteção de Deus, dos orixás e dos nossos ancestrais, iniciamos os nossos trabalhos nos termos regimentais. Esta Presidência dispensa a leitura da Ata da sessão anterior. Convido a todos os presentes para, em posição de respeito, ouvirmos de pé o Hino Nacional brasileiro, entoado pelo tenor Jean William.

 

* * *

 

- É executado o Hino Nacional Brasileiro.

 

* * *

 

O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - RODRIGO MAR - Tenor Jean, ouviremos agora na sua voz o canto para Oxalá.

 

O SR. JEAN WILLIAM - Sidnei, esta é minha maneira, artisticamente dedicada, de te homenagear.

 

* * *

 

- É feita a apresentação musical.

 

* * *

 

O SR. JEAN WILLIAM - Salve Oxalá. (Palmas.)

 

O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - RODRIGO MAR - Agradecemos ao tenor Jean William pela apresentação. Hoje é uma noite de homenagens.

Ouviremos neste momento o Hino da Umbanda, cantado por pai balé, ogan de Xangô Casacrias.

 

O SR. CASACRIAS - Benção, pai. Parabéns pelo seu dia. Humildemente, vou pedir licença aos mais velhos, à minha avó, à minha mãe, para cantar o Hino da Umbanda.

 

* * *

 

- É executado o Hino da Umbanda.

 

* * *

 

O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - RODRIGO MAR - Agradecemos ao pai balé pela apresentação. Convidamos para compor a Mesa Extensora, à direita do homenageado, Vera de Oxum. Pode se dirigir para cá, o Cerimonial vai te acompanhar. Uma salva de palmas. (Palmas.)

Queremos agradecer a presença de Deia Zulu, presidente da Coordenadoria de Políticas para a População Negra do PT, municipal de São Paulo. Obrigado pela presença. (Palmas.)

Eu queria, após eu citar o nome, uma salva de palmas calorosa para Joesia Teles, que é a mãe do nosso homenageado e está aqui conosco. (Palmas.) Gratidão pela presença.

Ouviremos agora o nosso deputado estadual Reis em seu discurso inicial. Com a palavra, deputado. Gostaria de pedir que as fotos e os vídeos que forem tirados... que a gente marque nas redes sociais do deputado Reis, da nossa Mesa, e principalmente do homenageado da noite, o pai Sidnei.

Com a palavra o deputado Reis.

 

O SR. PRESIDENTE - REIS - PT - Desculpe eu vir até aqui, porque eu fico mais confortável para falar da tribuna do que lá de cima. Bom, em primeiro lugar boa noite a todos. Boa noite a todas. Boa noite a todes. É uma imensa alegria e uma grande satisfação poder fazer, na data de hoje, esta homenagem ao pai Sidnei.

E mais ainda, ver esta Casa tão bonita como está na data de hoje, com a presença de vocês. Eu sempre digo e várias vezes já disse aqui, nesta tribuna, Douglas Belchior, vereador João Ananias, porque aqui é a casa grande. É a Casa em que nós estamos de teimosos que somos.

Nós viemos do gueto, da periferia. Nós viemos do fundão da cidade e chegamos aqui. Então, não é uma Casa muito fácil, e as pessoas nem sempre se apropriam dela.

Então a presença de vocês aqui, nesta sessão solene, tem esse significado. O povo se apropriando do poder, do Poder Legislativo. Eu quero fazer aqui as saudações. Tem que cumprir as formalidades, saudar um a um.

Primeiro, quero saudar cada um de vocês aqui presentes, e dizer: parabéns pela participação nesta sessão solene. Depois, eu quero saudar o vereador João Ananias, não sei se vocês conhecem o vereador João Ananias, mas ele foi o meu sucessor na Câmara Municipal de São Paulo.

Até outro dia, eu estive na Câmara e tive de sair para vir para cá. Quinze de março, foi a minha posse aqui, no meu primeiro mandato de deputado estadual. Ele acabou ocupando o meu gabinete, e já tomou conta de tudo, inclusive dos meus projetos.

Vários projetos que tramitavam na Câmara Municipal, coautoria dele, e hoje ele continua um trabalho que nós já, por oito anos e 75 dias, vínhamos trazendo na Câmara de São Paulo. Faço essa saudação especial ao vereador João Ananias.

Saudar a mãe Ellen de Oxum, representante do Ilè Asè Omo Osè Igba Alatan e coordenadora de cultura da Unifesp. Muito obrigado e seja bem-vinda à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

O meu companheiro Douglas Belchior, que é companheiro de luta da velha guarda. Quando eu estive lá, no templo do pai Sidnei, ele falou: “Eu estou aqui apoiando o Douglas Belchior. Vieram vários estaduais aqui, mas acho que esse seria o melhor para nós”.

Então, acabamos fazendo uma dobrada, pode-se dizer, velada, porque nós tentamos tanto fazer a nossa campanha casada, acabou não progredindo, mas acabou que o pai Sidnei fez.

Muito obrigado pela presença, parabéns pelo seu trabalho, pela sua luta, principalmente no combate ao racismo, na busca da igualdade racial, na busca de tirar tantos jovens e colocar em um mundo melhor, em uma educação de qualidade. Tem feito um trabalho muito importante e que a gente acompanha de perto.

E cumprimentar... uma saudação especial para o nosso homenageado, que vai ser condecorado aqui hoje, vai receber a mais alta honraria do Estado de São Paulo, da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. O primeiro - segundo as informações que eu tenho - babalorixá que vai receber o Colar de Mérito Legislativo nesta Casa. (Palmas.)

Cumprimentar a Joesia Teles, sua mãe; seu sobrinho, Matheus Mendes, cadê o Matheus? Ah, está em cima, o Matheus; Vanessa Mendes; Percival Henrique, pode falar o grau de parentesco? Cunhado; A Vanessa é irmã; O Gabriel Mendes, sobrinho. Muito bem, vocês estão muito bem cuidados. O Robson da Silva, é babalorixá; Madhavi Murty, presente, representante da Unesco; (Inaudível.) mãe Maria (Inaudível.) de Iansã.

Alexandre Teles, Daniel Pereira, Vanessa Barreto Nogueira Mendes, o Matheus Barreto, o Percival Henrique, a Raíssa Fernandes de Oxóssi, a Josiane Rodrigues, o Fagner Aparecido Pereira, o Gabriel Barreto Mendes. Ana Beatriz de Oliveira. Tem mais alguém que eu não chamei? Mãe Vera de Oxum, minha irmã.

Todos sintam-se cumprimentados por esta Casa, pelo nosso mandato, pela nossa equipe. Quero agradecer a toda minha equipe na pessoa do Rodrigo Mar, que é meu chefe de gabinete, que ajudou bastante na organização. Os assessores fizeram até um discurso aqui, para mim, de duas horas e meia, mas acho que não precisa.

Às vezes, eu falo muito. Na Câmara, quando tinha os eventos, eu falava às vezes duas horas, três. E depois, quando estava para terminar, eu falava: “Ainda tem mais um tempo para falar para vocês”.

Mas dizer... Eu tenho acompanhado bastante a Assembleia Legislativa, e desde quando cheguei aqui, pai Sidnei, eu percebo que as matérias, os projetos que tratam da questão da religião de matriz africana, eles não tramitam muito bem nesta Casa.

Aqui, nós temos uma composição que foi eleita na urna, e que tem na oposição, que é formada pelo PT, PT/PCdoB/PV, 19 deputados. São 18 do PT, e com a Leci Brandão, dezenove. Nós temos seis do PSOL, o que dá 25 deputados. E nós temos... e parece que três do PSB, que às vezes votam com a gente; às vezes, dependendo da matéria, votam com os outros.

Ou seja, a oposição é muito pequena nesta Casa. Os demais... Nós temos um público de deputados muito conservador. Muito conservador. E temos uma bancada, também, da igreja, muito forte.

Quando vêm certos projetos que tratam da questão LGBTQIA+, projetos que tratam da questão racial, projetos que tratam da intolerância religiosa, a gente percebe o travamento desses projetos nas comissões.

E eu acho que esta aqui é uma Casa de todos, mas todos não estão representados nesta Casa, percebe? É uma Casa de todos, mas todos não estão representados nesta Casa. A Câmara Municipal também não é muito diferente. É muito importante, dentro dos processos eleitorais, porque nós somos a maioria, o povo é a maioria.

Eu não sei como nós somos a maioria e acaba, aqui na representação, virando a minoria, percebe? Nós somos a maioria, o povo é a maioria. Não é a elite que é a maioria, não são as pessoas que moram nos Jardins, que moram na Chácara Flora, nas regiões mais abastadas, que são a maioria.

A maioria é o povão. Agora, por que esse povão não está representado aqui? Por que o povão não se faz representar? Porque, em tese, nós éramos para ser a maioria, e não aqueles que acabam virando um “puxadinho” do governo.

Acaba seguindo aquilo que o governo quer. Olha só os projetos que nós temos aqui, que nós temos que enfrentar: a privatização da Sabesp. Está aqui o projeto, está tramitando.

Vai prejudicar muitas pessoas, a gente não sabe o que vai dar isso. Se naquelas comunidades pobres, carentes, se realmente vai ter água, se realmente o empresário que vai ser dono da água vai querer fornecer água para aqueles que, às vezes, não tem recursos para pagar. Se a água vai chegar limpa, se vai chegar barrenta...

Se é uma empresa que dá lucro, por que tem que ser vendida? Mas é o que está aqui no momento, é que vai ser vendida, porque, se tem uma maioria... você viu a quantidade de deputados que nós temos? Para chegar a 94 falta bastante.

E está aqui, também, um projeto para tirar dinheiro da Educação. Nove bilhões é o que se pretende tirar da Educação. “Não, tudo bem”. Com a desculpa que é para pôr na Saúde.

A Saúde precisa de dinheiro, é verdade, mas a Educação também precisa. Não se forma um médico sem educação. Não podemos tirar o dinheiro da Educação, mas o projeto do governador de São Paulo já está tramitando aqui para reduzir de 30% para 25% o montante gasto com a Educação.

Se nós somos a maioria, essa maioria não está representada aqui. Temos pessoas que se elegem porque tem seguidores, são famosos e tem milhões de seguidores, mas na hora vota a favor dos grandes, da elite, não do povão. Políticas públicas que são aprovadas aqui recebem vetos. Recebem vetos.

É uma reflexão que a gente tem que fazer, e ver como que no tempo, nos próximos momentos que vamos ter pela frente, a gente possa conscientizar as pessoas da importância da maioria estar representada aqui. De todos os setores. Brancos, negros, amarelos. Todas as religiões estejam representadas aqui.

É fato que aumentou um pouco a quantidade de mulheres. Hoje nós temos 24 mulheres aqui no Parlamento. Mas, ainda assim, nós temos uma parte dessas mulheres que são conservadoras, que estão no time do governo e não muitas vezes votando em políticas públicas para nós, para o povão que tanto precisa.

Esta homenagem ao pai Sidnei é para realmente mostrar para a sociedade a importância de que esta Casa realmente seja plural. De que esta Casa seja participativa. De que esta Casa lute por políticas públicas, lute por aqueles que mais precisam.

É o significado da luta do pai Sidnei. Pela luta, pela história. Um pesquisador, um professor e um lutador contra a intolerância religiosa, porque, quando eu o conheci, a primeira coisa que ele falou comigo foi isso.

Ele me perguntou... porque quem me apresentou ao pai Sidnei foi o Ricardo, que ali está. E quando ele começou a conversar comigo, ele começou a querer saber dos meus projetos. “Não, mas quais são os seus projetos”. Foi a pergunta que ele me fez.

Eu comecei a falar para ele: “Olha, tenho pouco tempo de vereança, mas já aprovei várias leis. Tenho 90 leis aprovadas na cidade de São Paulo, inclusive a mais recente, pai Sidnei, que foi sancionada 31 de março deste ano, é a que colocou a palavra África na Praça da Liberdade”.

A Praça da Liberdade agora se chama Praça da Liberdade África-Japão por uma lei de minha autoria, e que assim que eu saí o prefeito a sancionou. Muitas pessoas perguntam: “Por que colocou África na Praça da Liberdade?”. Às vezes, as pessoas não conhecem a história da Liberdade.

A sua essência histórica é do povo negro. Dos quilombos. A Praça da Forca, onde as pessoas escravizadas - negros e negras escravizadas, indígenas - eram capturados, levados ali e enforcados.

Por conta do enforcamento do cabo Francisco das Chagas, cuja corda quebrou três vezes, e quando a corda quebrava a pessoa era absolvida, quando a corda quebrou a primeira e a segunda, as pessoas gritavam: “Por liberdade, liberdade, liberdade”. 

A praça, que era da Forca, passou a se chamar Praça da Liberdade. E lá, também, tem um outro projeto de minha autoria, que a prefeitura vai implantar, que é o Memorial dos Aflitos.

Inclusive, na segunda-feira eu tive uma reunião na Secretaria de Cultura, pai Sidnei, em que eles apresentaram o projeto de como vai ser o memorial que vai ser instalado ali, entre o Beco dos Aflitos e a Rua Galvão Bueno, por conta de um empresário ter comprado o imóvel, demoliu o prédio, começou a escavar.

E o que foi encontrado lá? As ossadas de pessoas que foram sepultadas ali, porque o primeiro cemitério de São Paulo é o Cemitério dos Aflitos. Debaixo daqueles prédios, nós temos várias ossadas, como se deu com esse prédio.

E nós fomos para cima, fizemos audiências públicas, chamamos os institutos de preservação do patrimônio histórico, fizemos um dossiê, convencemos o prefeito a desapropriar o imóvel.

Fizemos um projeto de lei que aprovamos na Câmara de São Paulo. E, lá então, a Lei nº 17.310 diz que lá tem que ser instalado, construído, o Memorial dos Aflitos, onde vão ficar as ossadas que foram encontradas lá. Cerca de nove ossadas dos aflitos.

E quem eram os aflitos? Justamente as pessoas escravizadas, indígenas, que às vezes fugiam dos senhores, eram capturadas, levadas à Praça da Forca, enforcadas e sepultadas ali e por isso que elas vinham aflitas. Por isso que tem lá o Beco dos Aflitos, a Igreja da Nossa Senhora das Almas dos Aflitos.

Comecei a falar, também, da lei de cotas raciais, que é de minha autoria na Prefeitura de São Paulo. Toda vez que tem um concurso, 20% para negros e negras e afrodescendentes. Por esse concurso, mais de cinco mil negros e negras já entraram na prefeitura de São Paulo. Diretores de escola, procuradores, auditores, fiscais.

Eu fui à Marcha da Consciência Negra e lá fui ganhando a atenção do pai Sidnei, porque ele estava cobrando. Eu falei: “Não, eu posso até..., mas eu preciso saber”. E fui discorrendo sobre vários projetos na área das políticas afirmativas, que lá na Câmara eu aprovei, e que alguns eu já trouxe para cá, já apresentei aqui, mas aqui é mais difícil de fazer as coisas.

Para aprovar as coisas aqui, pai Sidnei, é muito difícil. Eu, com aquele ritmo de aprovação, aqui eu vejo que é muito lento. Os deputados, aqui, talvez aprovem um projeto por ano. Lá nós aprovávamos... eu tenho uma média de dez aprovados por ano.

A gente tem que buscar a conscientização de que essa composição aqui tem que ser mais povão. E a responsabilidade está na mão do povão, porque o povão é a maioria, o povão não é a minoria. Então, não pode uma minoria colocar uma maioria nesta Casa para dominar a maioria lá fora.

É essa reflexão que deixo aqui. Dou os parabéns para todos vocês.
Coloco-me à disposição, o mandato nosso está à disposição.

E dou os parabéns ao homenageado que vai receber, na data de hoje, esta tão importante honraria pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - RODRIGO MAR - Antes de ouvirmos a Mesa, eu gostaria de chamar o Nildo Oxaguiã, um babalorixá que está conosco para compor a Mesa Extensora, à direita do nosso homenageado. Seja bem-vindo, companheiro. (Palmas.)

Nós estamos com sucesso de audiência na Rede Alesp, então quero agradecer a todos e a todas que estão acompanhando pelo YouTube. Mande sua mensagem ao pai Sidnei e depois a equipe e o pai responderão as mensagens aqui no nosso chat. Vamos ouvir agora a nossa Mesa. Vou passar a palavra, para uma breve saudação, ao amigo Douglas Belchior.

Com a palavra, Douglas.

Uma salva de palmas. (Palmas.)

 

O SR. DOUGLAS BELCHIOR - Salve, boa noite. Boa noite, pessoal. Muito axé, muito obrigado, sua bênção, pai. Muito obrigado pela honra deste convite.

Eu falo em nome da Uneafro Brasil. Claro, eu fui convidado como alguém que acompanha a trajetória do pai Sidnei, mas, sobretudo represento aqui o sentimento da Uneafro Brasil, que é o movimento negro no campo da educação que ajudo a construir.

Estou muito honrado pelo convite, por poder falar para vocês, deixar meu abraço a vocês. Muitos amigos e amigas queridos aqui. Em especial, eu saúdo e cumprimento o vereador João Ananias, o nosso deputado Reis.

Obrigado, Reis, por essa possibilidade, por você aqui, nesta Casa, colocar o seu mandato a serviço dos interesses do povo negro. Foi assim como vereador. Quem não acompanha, vale a pena pesquisar as leis que Reis aprovou em São Paulo. Grande parte delas têm interferência na relação direta com a luta contra o racismo aqui na Cidade.

Não é um parlamentar, um político que fala e não tem coerência entre o que diz, promove e faz. É um dos poucos, a gente sabe que são raros aqueles que carregam coerência entre o que dizem e o que fazem quando estão no parlamento. Te agradeço por isso.

Eu estou vendo aqui o meu griô, Oswaldo Faustino, o meu abraço, querido irmão, grande referência. A quem, assim como o pai Sidnei, merece logo mais...

Com certeza alguém vai fazer isso, vai homenagear aqui a história e a vida de Oswaldo Faustino. O meu irmão, Renan. A minha irmã, Tami, que está aqui. A minha irmã Ellen, que está aqui. O meu irmão Jean William, também, satisfação imensa. Em nome de todos, cumprimento e saúdo a todos vocês.

Eu poderia gastar meus poucos minutos falando raivosamente de tudo que nos oprime e de como a gente é obrigado a gastar nossa energia e nossa vida lutando por direitos elementares, por direitos humanos de um povo que teve sua humanidade negada historicamente. O racismo é, sobretudo, um processo de desumanização do ser e de tudo aquilo que aquele ser representa política, cultural, filosoficamente, historicamente, religiosamente.

Também por isso, por ser a nossa religião ancestral, nós sofremos um processo radical de racismo religioso e as nossas religiões são perseguidas. E nós somos obrigados a gastar nossa energia e nossa vida nos defendendo, defendendo nossos territórios, defendendo nossos terreiros, lutando por direitos, quando a gente poderia fazer uso da nossa vida muito mais para celebrar, conviver e para se amar. Não é possível.

Pai Sidnei representa isso. Ele é uma liderança religiosa, é um estudioso, um intelectual, mas ele é sobretudo uma representação do que nós queremos para o mundo. E, nos momentos...

Eu quero, mais uma vez, te agradecer por isso, pai Sidnei, pela sua amizade, pela sua confiança, por você ter me recebido por sua casa e por ser merecedor de sua amizade. Eu vou terminar lendo palavras que eu conheci em um texto com o título “Tributo a um sábio africano”, que hoje eu utilizo para fazer o meu tributo ao nosso pai Sidnei.

 “Nossa cultura, nossa religião e nossa arte mantém a África viva em nós. No coração da África, onde a história ancestral se entrelaça com sons da natureza e a cadência das tradições, encontramos um sábio cuja sabedoria transcende o tempo e o espaço. Ele é um guardião dos segredos do passado, um elo entre as gerações, um farol de luz no caminho para o futuro.

Com a sua mente brilhante e a sua alma sábia, esse griô africano nos ensina a importância da conexão com a terra, com nossas raízes, com nossas ancestralidades e de nós, uns com os outros. A sua sabedoria é como uma árvore antiga, com raízes profundas que se estendem para o passado e galhos que se esticam para o céu, abraçando o presente e o futuro.

Ele nos lembra que a verdadeira riqueza está na sinceridade, na harmonia com a natureza e com a espiritualidade. No respeito pela vida em todas as suas formas. Seus olhos brilham com o conhecimento das estrelas e a compreensão das marés. Ele nos ensina a olhar para o céu e para a terra, e buscar as respostas ao ouvir o sussurro do vento em busca de orientação.

Mas a sua sabedoria não se limita ao conhecimento do mundo natural. Ele, também, é guardião das histórias e tradições que moldaram a nossa cultura. Suas palavras são como canções antigas que ecoam através das colinas e dos vales, e nos lembram de nossas origens e de nosso poder ancestral. Nos dá força para seguir e lutar. Esse sábio africano é um farol. Esse sábio africano é um farol de esperança em um mundo turbulento, injusto, violento e triste.

A sua presença é um lembrete de que o amor e a união são alicerces de uma sociedade justa. Hoje, prestamos homenagem a esse sábio africano, cuja luz brilha intensamente e cuja sabedoria ilumina nosso caminho.

Que a sua herança perdure. Que suas lições sejam passadas de geração a geração. Que a sua influência continue a inspirar todos nós a viver com sabedoria e respeito por ela e por essa vida que compartilhamos”.

Nós honramos, pai Sidnei, nós honramos não apenas como um sábio africano, mas como um tesouro global, cujas palavras e ações transcendem fronteiras e nos lembram de nossa humanidade comum.

Muito axé, saúde e vida longa ao nosso querido e amado pai Sidnei.

Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - RODRIGO MAR - Antes de passar para o próximo componente da Mesa, gostaria de chamar para compor a Mesa extensora, a ialorixá Nádia de Logunedé. Uma salva de palmas. (Palmas.)

Seja bem-vinda.

Gostaríamos de passar a palavra para o vereador João Ananias, do município de São Paulo. (Palmas.)

 

O SR. JOÃO ANANIAS - Está aberto? Boa noite a todas e todos. Vou falar, aqui, para a gente diminuir, que a pessoa mais importante a ser ouvida aqui, hoje, é o pai Sidnei. Mas eu queria parabenizar aqui o nosso Douglas Belchior. É um militante que está todo dia na luta. Parabenizar sempre a luta que ele faz no dia a dia, por aí. Parabéns.

Queria, também, cumprimentar meu deputado, Paulo Reis, que é um cara incansável no dia a dia. Como ele fala que eu o substituí na Câmara Municipal, como eu vou substituir um vereador que fez 90 leis serem aprovadas na Câmara Municipal.

Uma câmara que, na verdade, hoje em dia a gente pode falar que dificilmente você consegue aprovar um projeto lá, é difícil transitar qualquer projeto naquela casa, e ele conseguiu fazer noventa. É um cara que eu aprendi a gostar, um cara que é fiel e defende o povo. Está sempre com o povo. É isso. Parabéns por esta propositura.

Eu queria parabenizar também o pai Sidnei. E claro, gente, o que o Reis acabou de falar é muito importante, porque a Casa, é difícil você trazer...

Nós somos a maioria, por que não ocupamos esta Casa todo dia? Como ele disse, 80% da nossa população é a maioria, nós somos 80%, e por que a Câmara Municipal a gente não consegue ocupar, a Alesp a gente não consegue ocupar? A Câmara dos Deputados, lá em Brasília, por que a gente não consegue ocupar?

Eu acho que falta um pouquinho para a gente fazer esse movimento e conseguir conquistar os nossos espaços, o que é nosso, também. Como ele falou: “Aqui é nosso”.

E, também, queria parabenizar a todos vocês que estão aqui nesta Casa hoje, um dia de chuva, uma sexta-feira difícil de chegar aqui.

Parabéns a todos vocês, e claro, vamos esperar a principal homenagem, que é ao pai Sidnei.

Obrigado, gente. (Palmas.)

 

O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - RODRIGO MAR - Obrigado, vereador. Passamos a palavra para a mãe Ellen de Oxum. (Palmas.)

Mãe Ellen, seja muito bem-vinda a esta tribuna.

 

A SRA. ELLEN - Vou aproveitar para dar meu boa noite para todas, todes e todos. É uma grande satisfação enorme estar aqui. Daqui eu posso olhar melhor, também, o nosso homenageado, a quem eu saúdo. Faço meu boa-noite e saúdo o deputado Reis; o João Ananias; o meu querido amigo, Douglas Belchior; e a todos que estão aqui presentes.

Peço à dona Joesia de Iansã a benção. E cumprimento a todos que estão no auditório, sob os pés do Maracatu Congo do Ouro, porque está lindíssima essa imagem de lá de cima.

Foi impactante pensar nos nossos pés no dia de hoje, um dia de chuva. E que bom que é um dia de chuva, porque isso nos lembra Xangô, que é justamente o orixá do pai Sidnei, que é justamente aquilo que ele excorpora, aquilo que ele reverbera.

Eu concordo muito com o que o Douglas disse, que é muito difícil a gente poder falar de momentos de alegria, mas se tem alguém que festeja e vivencia a alegria é o pai Sidnei de Xangô, e nos mostra que nós temos o direito de existir. A partir da alegria dele, porque ele de fato...

Pai, quando olho para o senhor, eu sei que o senhor é o sonho dos nossos ancestrais, e isso me motiva. Eu vejo isso no brilho do olho de cada um dos nossos alunos, eu vejo isso na esperança de cada uma das mães que muitas vezes perderam seus filhos, a cada 28 minutos, e não tiveram a mesma felicidade de poder protegê-los como a dona Joesia pode proteger.

O que a gente está fazendo aqui hoje é um ato revolucionário, porque não é pouco em um país em que o cristianismo é compulsório, onde em cada espaço que eu adentro - inclusive o desta Casa, cercado de cruz -, eu possa ter uma pessoa como o pai Sidnei, que ensina que segurar exu é o direito de existir.

É aquilo que o amálgama de Xangô, que ele ensina no corpo vivo de Xangô, do Amalá, nos faz unidos. E isso me torna inteira, porque estou muito alegre de poder representar o meu axé e a minha universidade, aqui nas falas hoje.

Porque nós somos inteiras, não somos só no terreiro, e é isso que o pai Sidnei nos ensina, quando traz aqui o Hino da Umbanda. Eu fico feliz, porque não é só um ato de homenagem a uma pessoa a quem eu amo muito e tenho um carinho enorme, mas é uma das pessoas, se não a pessoa, que melhor representa o candomblé neste país hoje e a macumba de uma forma geral.

É com essa alegria que o pai sempre nos ensinou a existir, a sorrir e a estudar e se formar e se orientar, porque, também, é um professor. Eu agradeço a esta Casa por ter feito esse ato revolucionário. Tem que ser o primeiro. É um ato de reparação que o pai Sidnei seja o primeiro.

Tenho certeza de que é um dos poucos negros a receber esta honraria. É uma pessoa que faz com que todos nós possamos nos sentir bastante representados nesse espaço, que é um Estado que não à toa, não é de forma inócua, que se chama São Paulo.

Ele não chama Piratininga, como era o nome dos povos originários. E ele não chama, também, estado de Xangô. Mas, com o pai Sidnei, a gente aprende a coexistir, a gente aprende a existir, e se tem algo que a nossa religião ensinou, e ele excorpora, é o afeto e o amor.

Obrigada pela sua existência, pai Sidnei, é uma honra poder falar aqui.

Muito obrigada a todos que nos deram esta oportunidade. (Palmas.)

 

O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - RODRIGO MAR - Esta é uma grande noite de homenagens.

Neste momento, convidamos Ana Clara Ferraz, que interpretará a música “O Canto das Três Raças”, composição de Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, que ficou famosa na voz de Clara Nunes, em 1976. Fique à vontade.

 

A SRA. ANA CLARA FERRAZ - Olá, boa noite. “Agô”, para chegar. Bênção, meu pai, bênção, avó. Bênção a todos os mais velhos e mais novos.

 

* * *

 

- É feita a apresentação musical.

 

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A SRA. ANA CLARA FERRAZ - Que o nosso canto, um dia, não seja só de dor, que seja de alegria e que seja de axé. Estamos aqui e estamos vivos. Axé.

 

TODOS - Axé.

 

O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - RODRIGO MAR - Obrigado. Agora assistiremos à mensagem, pai Sidnei, de alguns amigos e amigas que não puderam estar aqui presentes, mas enviaram uma mensagem e uma saudação pelo audiovisual, em vídeo.

 

* * *

 

- É exibido o vídeo.

 

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O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - RODRIGO MAR - Neste momento, prestamos homenagem ao nosso querido amigo com uma apresentação artística. Maracatu Ouro do Congo. (Palmas.)

Enquanto os nossos companheiros e companheiras se posicionam, eu quero agradecer a todos que estão acompanhando pela Rede Alesp e pelo YouTube. Pedir para que mandem as suas mensagens pelo chat.

E lembrar que, todo mundo que está fotografando nas suas redes sociais, por favor marque o nosso homenageado e a nossa Mesa aí no Instagram.

Com vocês, companheiros.

 

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- É feita a apresentação artística.

 

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O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - RODRIGO MAR - Belíssima apresentação. Queremos agradecer a presença do pai Alberto, do PV de Paulínia. Pai Alberto.

Neste momento, damos início à entrega do Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo ao Sr. Sidnei Barreto Nogueira. (Palmas.) O Colar de Honra ao Mérito Legislativo é a mais alta honraria conferida pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

Foi criado em 2015 e é concedido a pessoas naturais ou jurídicas brasileiras ou estrangeiras, civis ou militares, que tenham atuado de maneira a contribuir para o desenvolvimento social, cultural e econômico do nosso estado, como forma de prestar-lhes, pública e solenemente, esta homenagem.

Saudemos o pai Sidnei com uma imensa salva de palmas. (Palmas.)

 

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- É feita a outorga do Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo.

 

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O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - RODRIGO MAR - Mais palmas. Mais barulho para o pai Sidnei. (Palmas.)

 

O SR. SIDNEI BARRETO NOGUEIRA - Kabecilê. Kabecilê. Eu, normalmente, não escrevo meus discursos, mas eu pensei bem e achei que este dia merecia um texto que você começa a escrever, depois deixa ele dormir um pouquinho, depois você volta, depois você deixa... Você vai... como em uma canção, vai afinando as notas musicais. Eu decidi... Eu não sei se vou segui-lo, mas eu escrevi um texto.

Boa noite a todes, todas e todos. Vamos girar com as palavras? Eu quero começar a minha partilha pedindo “agô”. No candomblé, pedimos “agô” antes de falar, antes de entrar, antes de qualquer ação que possa afetar o outro e o ambiente. Ninguém pode, deliberadamente e sem autorização, interferir no mundo do outro sem pedir “agô”.

Muito embora a palavra “agô” possa ser traduzida como um pedido de licença, trata-se de uma palavra intraduzível na língua do colonizador. “Agô” está além e aquém do pedido de licença. “Agô” quer expressar respeito, quer dizer: “Eu lhe respeito”. Quer dizer: “Produziremos respeito, juntos, se me for permitido”.

Trata-se de um pedido respeitoso que se refere à ideia de honra. Eu posso honrá-lo ao dizer, ao fazer, ao me colocar no mundo, ao participar de algo com você?

Por isso, eu saúdo e peço “agô” a todas, todes e todos os presentes. Eu saúdo e peço “agô” às autoridades presentes, babalorixás, ialorixás, pais, mães, oloyês, ogãs, equedes, mestres e mestras. Saúdo a Mesa na pessoa do querido Paulo Reis. Saúdo as equedes na pessoa de mãe Ellen de Oxum. Saúdo o vereador Genoíno... João Ananias. E o meu querido amigo, exu Douglas Belchior, laroiê.

 

TODOS - Laroiê.

 

O SR. SIDNEI BARRETO NOGUEIRA - Eu saúdo e peço “agô”, exu, laroiê. Eu saúdo e peço “agô” àqueles que vieram antes de mim. Eu saúdo e peço “agô” aos nossos ancestrais. Eu saúdo e peço “agô” à Xangô. Eu quero ser honra e produzir honra.

Eu quero falar sobre honra. Honra é “olá” em Iorubá. Há muitos nomes com este prefixo ou sufixo. “Olamidê”, a honra chegou. “Adeolá”, coroa é honra. “Olatundê”, a honra voltou. O sentido de “olá” é amplo, e se soma às ideias de algo que remete à alegria, à dignidade e à riqueza. “Olá”, também, é elemento nuclear de um código ético ancestral.

Honra faz parte do código refinado das comunidades de terreiro, das nossas comunidades, mãe Vera, das nossas comunidades, mãe Vera de Oxum. Também, por isso, não posso me furtar de começar estas generosas palavras apresentando-me, da perspectiva ancestral daqueles que me honraram, e com os quais eu partilho a honra recebida. Permitam-me honrá-los, “agô”.

Eu quero falar um pouco sobre os meus ancestrais. Eu sou filho da ialorixá Joesia Teles de Oiá, e Plácido Barreto Nogueira de Ogum. Oiá e Ogum fecundaram Xangô em mim. Uma alagoana que nos criou como empregada doméstica, mãe de santo e cartomante, e um pai analfabeto, de Rui Barbosa, na Bahia, caminhoneiro de betoneira de concreto. Homem preto retinto que morreu precocemente, como tantos homens negros na história da exploração e escravização de corpos negros no Brasil.

Papai era mesmo plácido. E dele eu herdei a calma e a prudência. De mamãe, herdei a obstinação e a autenticidade. Quando entrei na faculdade de letras, logo depois da primeira semana eu quis desistir. Mamãe só me olhou, e perguntou: “Quanto tempo dura o curso?”. Eu respondi: “Quatro anos”. E ela afirmou: “Então, quando quatro anos se passarem, você poderá desistir”.

De mamãe, eu herdei a capacidade de acreditar em dias melhores. A devoção, a fé na vida, nos espíritos encantados, em todos os orixás. Em tempos de extrema pobreza, no dia do pagamento, papai passava no açougue e comprava cinco quilos de costela. À época, isso era uma fortuna, não tínhamos Lula como presidente.

Papai fazia a melhor costela que um soteropolitano sabe fazer, um bom feijão gordo, um arroz fresquinho e dizia que aquele dia era dia de celebração. Mamãe se queixava e dizia: “Por que tudo de uma vez?”, e que precisávamos economizar. Papai dizia: “Primeiro celebramos, depois economizamos. Hoje é dia de festa.”.

De papai, herdei a certeza de dias melhores e que é preciso celebrar o que se tem, para que se tenha aquilo que se merece. Desde cedo, aprendi que teria que fazer o que é preciso, para um dia poder fazer o que se quer. Eu penso que fiz o que era preciso. Esta honraria diz que eu fiz um bom caminho. Um caminho da ética ancestral.

Mas eu quero falar que eu não fiz este caminho sozinho. Eu não o faço sozinho. Seria impossível fazê-lo sozinho. Nossos ancestrais sempre estiveram comigo; meus professores, minhas professoras; meus mais velhos e minhas mais velhas; meus filhos, meus pais e mães, todos, todas e todes vocês, tanta gente ressoa em meu corpo que seria impossível nominar.

Há um provérbio iorubá que diz: “Sábio é aquele que, mesmo quando caminha com o peso de um dinossauro, ninguém percebe as suas pegadas sobre a terra. A sua sabedoria deixa pegadas suaves sobre a terra”. Não é tarefa fácil caminhar suavemente com o peso do racismo sobre as nossas costas, e uma história escravagista que até hoje retira tudo de nós.

Todavia, os orixás me carregaram no colo, a vida toda. Caboclo Ubirajara do Peito de Aço salvou a minha vida. Sr. Tranca Rua das Almas é meu padrinho. A baiana Sebastiana, uma grande mestra orientadora. E Xangô é meu pai.

A experiência negra no Brasil é uma experiência revolucionária. Não é fácil estar em um mundo e apenas se ver espelhado em posições subalternas de dor e sofrimento. Isso pode nos devastar e aprisionar, porque o racismo não dá tréguas.

Eu quero falar de algo recente. Eu tenho uma coluna na “Carta Capital”, Diálogos da Fé. Devo escrever sobre assuntos diversos, da perspectiva do babalorixá, posição sacerdotal da religiosidade afrodiaspórica.

No mês passado, eu travei. Primeiro, a política estava tomada, Reis, pela discussão de uma comissão criada especialmente para proibir o casamento homoafetivo. Depois, tivemos os episódios de insegurança na Bahia. Depois, tivemos mais uma guerra. Depois, tivemos o crime contra o irmão da deputada Sâmia Bonfim e mais dois médicos no Rio de Janeiro.

Eu só sentia dor e revolta. Não consegui escrever. Hoje, escrever sobre ódio e violência lhe deixa nos “trending topics”. Eu estava com “Tudo Sobre o Amor”, de bell hooks. Bell hooks nos ensina que o amor é uma ação, e que é possível transformar a teoria, a escrita, a intelectualidade, em cura. Eu me vi tomado por isso e decidi que seria mais cura ainda, e, se não puder ser cura, não quero ser mais adoecimento.

Eu quero falar de racismo religioso. Racismo religioso é uma decisão de alguém que decidiu ser adoecimento no mundo. Há um provérbio iorubá que diz: “O mal não pode receber acenos, Douglas”.

O racista, o LGBTQIAP+fóbico, o misógino, o fóbico, decidiram acenar e alimentar o mal. Ser adoecimento é uma decisão. Recentemente, um homem parou o carro e desceu para impedir um ritual em uma estrada de ferro em Santos.

Depois de agredir a todes verbalmente, ele decidiu dar uma cabeçada em um iaô. Rasgou-lhe a cabeça, deputado Reis, e quebrou seus dentes. Por quê? Porque o mal não pode receber acenos, e há pessoas que querem impor seu ódio às outras.

Eu não quero isso, eu quero ser cura. Nós não podemos permitir que essas pessoas que querem nos adoecer e adoecer o mundo continuem tendo voz e voto, deputado Reis. Essas pessoas não podem mais. Nós temos que escolher bem os nossos líderes do Parlamento, que é o segundo parlamento, Reis, mais caro do mundo. Só é menos caro que o parlamento dos Estados Unidos.

Eu fiz uma pesquisa, porque eu ia escrever sobre o Orçamento da tal comissão para barrar o casamento homoafetivo, e chequei com economistas e jornalistas o quanto custa uma Comissão ao Parlamento. É o nosso dinheiro e é uma comissão discutindo algo que não vai colocar dinheiro na nossa conta bancária, não vai trazer emprego, não vai colocar comida à mesa.

Que caminhos tem tomado a política do Brasil, deputado Reis. O senhor é um herói, eu não sei como alguém consegue, Douglas Belchior. Eu não sei como vocês ainda conseguem fazer política decente neste país. É um ato revolucionário, também.

Eu quero falar de revolução, por isso estou realmente feliz e muito grato por poder dividir com vocês este momento. Esta Casa, embora nossa, não costuma nos receber e reconhecer o nosso valor.

O racismo também está aqui e na pessoa da maioria dos eleitos. Vocês babalorixás, ialorixás, ogãs, equedes, oloiês, portadores de títulos, pais e mães de santo da umbanda, mestras e mestres das mais diferentes lideranças de terreiro, fazem a verdadeira revolução em suas comunidades.

A existência de uma comunidade de terreiro é revolucionária. São vocês que oferecem escuta quando ninguém escuta os subalternizados. São vocês que oferecem cura, conforto, amparo, caminho, boas palavras e terra úmida para que as pessoas possam caminhar suavemente. Esta medalha é nossa, não é minha. Ela é nossa, e quero que sintam, recebendo-a, também.

O deputado Reis é corajoso. Ele acatou o clamor social e decidiu celebrar a minha existência e jornada de luta por equidade social. Ele é um guerreiro em um mar de acenos ao mal. É uma luta ingrata, luta difícil em meio às pessoas que querem mais adoecer a curar, e que ignoram grande parte da realidade dos brasileiros.

Do alto de seus castelos, só sabem ver o céu, ou a própria imagem refletida, também, no céu. Paulo Batista dos Reis é um homem da justiça. Um trabalhador, um professor. Ao me celebrar, ele sabe que se celebra, junto. Ele sabe que, juntos, podemos mais. Eu agradeço imensamente por isso.

Eu quero falar que sou uma pessoa conduzida pelo coração. Quem me trouxe aqui hoje, por meio dele, fez com que pessoas se mobilizassem para esta honraria, foi Ogum, na pessoa de Ricardo de Ogum, meu filho.

Ricardo chegou para o jogo de búzios guiado por sua esposa, Gisele de Oiá, hoje iniciada para Oiá na casa de Xangô. Era um momento difícil, de grandes desafios. Eu senti que estava com Ogum na minha frente. Ele era Ogum.

Depois do jogo, ele me confidencia que estava com dificuldades até com a alimentação da família. Eu não penso duas vezes. Retiro cem reais do jogo e lhe dou. Ele não aceita, mas o ato foi suficiente para que nos uníssemos pelo coração.

Ele disse que me honraria. Ele disse que faria mais pessoas me conhecerem. Ele disse que todos saberiam o meu tamanho e o tamanho do meu coração. Ricardo, meu filho, obrigado.

Eu quero agradecer. Na nossa cultura Nagô, só se agradece na minha pessoa no plural. Nunca se diz “eu agradeço”, “modupé”. É sempre “nós agradecemos”, “auadupé”. Porque gratidão é um sentimento nobre, gratidão é lembrança, gratidão conecta. Gratidão diz ao outro que, juntos, podemos mais.

Eu quero agradecer a cabaça-útero, ancestral de minha mãe, que me abrigou oito meses no aiê. Ao meu pai, aos meus ancestrais, à minha ialorixá, que já retornou à massa de origem, mãe Iara de Oxum. Ao pai Aílton de Oxóssi, que tanto me ensinou sobre o candomblé. E a todos que estão aqui, hoje, celebrando este momento conosco.

Aos meus filhes, filhas e filhos em Xangô. Uni-vos, sejamos todos macumbeires. Aos meus alunes e à todes que se deixam tocar pelo coração. Eu quero agradecer àqueles que inspiram e fortalecem a minha negritude.

Luiz Gama, Zumbi dos Palmares, Grande Otelo, Pixinguinha, Abdias do Nascimento, Milton Santos, Frantz Fanon, Carla Akotirene, Bárbara Carine, Renato Noguera, Joice Berth, Aimé Césaire, Dr. Hédio Silva Júnior, Lélia Gonzales, Sueli Carneiro, Carolina Maria de Jesus, Sobonfu Somé, Djamila Ribeiro, Cida Bento, Cidinha da Silva - que esteve comigo esta semana, lá em BH -, Chimamanda Ngozi, bell hooks e tantos outros que me alimentam.

Eu quero terminar meu giro destacando a frase, lição bell-hookiana, sobre linguagem. A linguagem é exu, Douglas. Foi a linguagem que me trouxe até aqui. A linguagem, as palavras, os sentidos discursivos são meu oxê. Machado de Xangô. Bell hooks nos ensina que é por meio da linguagem que o oprimido luta para recuperar a si mesmo. Precisamos de reconciliação.

Esta honraria é um símbolo de um passo da reconciliação da história de um Brasil racista e colonial com cinco milhões de negres escravizades. Isto não deve nos definir, mas deve definir as políticas de reparação histórica. É sobre uma política que seja cura.

Hoje, dia de Oxalá, senhor do ar, rogo a ele que não falte fôlego a todos que lutam por justiça social e igualdade. Que as pessoas entendam que ser ódio, ser adoecimento, ser morte, ser destruição, é uma decisão.

Eu quero dizer e me comprometer com a palavra proferida. O meu legado no mundo tem sido esse. Se eu não puder ser cura, não serei adoecimento. Ficarei em silêncio, inerte, quando pensar que poderei produzir mais adoecimento do que cura.

Esta é a nossa ética ancestral.

Adupé. (Palmas.)

 

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- É realizada a celebração religiosa.

 

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O SR. SIDNEI BARRETO NOGUEIRA - Kabecilê. É nossa. É nossa. Cale a sua boca.

 

O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - RODRIGO MAR - Antes de nos encaminharmos ao fim desta grade solenidade, desta grande festa, nós convidamos os ogãs da casa Comunidade da Compreensão e da Restauração Ilê Axé Xangô para cantar a Xangô.

 

O SR. - “Agô”, a benção de todos, meus mais velhos, minhas mais velhas, meus irmãos, minhas irmãs. A benção, pai. Peço “agô” para poder entoar aqui algumas cantigas de Xangô.

 

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- É realizada a celebração religiosa.

 

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O SR. SIDNEI BARRETO NOGUEIRA - Muita gente me acompanha o tempo todo. Estão aqui os pais de santo, as mães de santo, grandes amigos, pessoas para as quais eu sou inspiração. E de verdade, ser inspiração é alguma coisa da ética negro-ancestral.

Mas eu não posso me furtar de fazer uma homenagem especial a uma guerreira, uma mulher revolucionária, uma mulher de muita força. Minha irmã, minha amiga, mãe Vera de Oxum. (Palmas.)

 

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- É realizada a celebração religiosa.

 

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O SR. SIDNEI BARRETO NOGUEIRA - Todas as mulheres recebam esta homenagem na pessoa de mãe Vera de Oxum. Oraieieô.

Obrigado, obrigado. (Palmas.)

 

O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - RODRIGO MAR - Obrigado. Podemos nos sentar. Gostaria de chamar até o púlpito o deputado Reis. E gostaria também, Reis, em nome de sua equipe, te parabenizar por ser um deputado tão sóbrio com seu trabalho e imensamente plural.

Parabéns, Reis.

Para fechar esta noite tão grandiosa, a palavra é do deputado estadual Reis.

 

O SR. PRESIDENTE - REIS - PT - Na realidade, cumprindo as formalidades desta Casa, eu teria que estar encerrando esta sessão solene, mas eu gostaria de ficar falando aqui por mais pelo menos uma hora, não sei se é possível. Estou brincando, gente. As pessoas se assustaram.

Esgotado o objeto da presente sessão eu agradeço às autoridades, à minha equipe, aos funcionários do serviço de som, da taquigrafia, da fotografia, do serviço de atas, do Cerimonial, da Secretaria Geral Parlamentar, da imprensa da Casa, da TV Alesp e das assessorias policiais Militar e Civil, bem como a todos que, com suas presenças, colaboraram para o pleno êxito desta solenidade.

Declaro encerrados nossos trabalhos.

Tenham todos uma excelente noite. (Palmas.)

 

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- Encerra-se a sessão às 21 horas e 40 minutos.

 

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