27 DE MAIO DE 2024

33ª SESSÃO SOLENE PARA OUTORGA DO COLAR DE HONRA AO MÉRITO LEGISLATIVO AO SR. CARLOS ASSUMPÇÃO

        

Presidência: GUILHERME CORTEZ

        

RESUMO

        

1 - GUILHERME CORTEZ

Assume a Presidência e abre a sessão às 19h36min.

        

2 - MESTRE DE CERIMÔNIAS

Anuncia a composição da Mesa.

        

3 - PRESIDENTE GUILHERME CORTEZ

Informa que a Presidência efetiva convocou a presente sessão solene, para a "Outorga do Colar de Honra ao Mérito Legislativo ao Sr. Carlos Assumpção", por solicitação deste deputado, na direção dos trabalhos. Convida todos a ouvirem, de pé, o "Hino Nacional Brasileiro", executado pela Sra. Marcela Cristina Gualberto Pereira.  

        

4 - JOSÉ LOURENÇO ALVES

Representante da Academia Francana de Letras, faz pronunciamento.

        

5 - REGINA LÚCIA SANTOS

Coordenadora estadual de formação do Movimento Negro Unificado, faz pronunciamento.

        

6 - RAMON MOCAMBO

Poeta e agente cultural de Franca, faz apresentação.

        

7 - MARÍLIA MARTINS

Presidente da Associação Paulo Duarte de Preservação ao Patrimônio Material e Imaterial, conselheira do Conselho Municipal de Política Cultural e conselheira do setor de Arquitetura, Urbanismo e Museologia de Franca, faz pronunciamento.

        

8 - SIMONE NASCIMENTO

Codeputada estadual da Bancada Feminista do PSOL, faz pronunciamento.

        

9 - MONICA SEIXAS DO MOVIMENTO PRETAS

Deputada estadual, faz pronunciamento.

        

10 - PRESIDENTE GUILHERME CORTEZ

Declama diversos poemas de Carlos de Assumpção. Alegra-se em ver o plenário desta Casa ocupado pelo povo brasileiro em toda a sua diversidade. Agradece a sua assessoria e aos integrantes da Mesa. Discorre sobre quando conheceu o homenageado, Sr. Carlos de Assumpção, ao mudar-se para a cidade de Franca. Diz ser este o ato mais importante de seu mandato. Afirma que a entrega do Colar de Honra ao Mérito é um reconhecimento da luta, poesia e resistência do homenageado. Presta homenagem aos ancestrais da luta do movimento negro, que considera heróis. Ressalta que o estado de São Paulo se curva para agradecer ao poeta Carlos de Assumpção. 

        

11 - MESTRE DE CERIMÔNIAS

Faz leitura sobre o significado do colar de honra ao mérito. Lê o currículo do homenageado. Anuncia a entrega do Colar de Honra ao Mérito Legislativo ao Sr. Carlos de Assumpção e a entrega de homenagem pela Sra. Maria Helena, representando o Sarau Odilon, de Ribeirão Preto, também para o homenageado.

        

12 - MARIA HELENA

Representante do Sarau Odilon, de Ribeirão Preto, faz pronunciamento.

        

13 - CARLOS DE ASSUMPÇÃO

Homenageado, faz pronunciamento.

        

14 - IDA DO ROSÁRIO

Representante das mulheres pretas, faz pronunciamento.

        

15 - PÉRICLES APARECIDO FONSECA DE FARIA

Cantor e compositor, faz pronunciamento, seguido de apresentação musical.

        

16 - MESTRE DE CERIMÔNIAS

Anuncia apresentação do Sarau Protesto e faz pronunciamento.

        

17 - MILTON BARBOSA

Representante do Movimento Negro Unificado, faz pronunciamento.

        

18 - PRESIDENTE GUILHERME CORTEZ

Faz agradecimentos gerais. Encerra a sessão às 22h05min.

        

* * *

 

- Assume a Presidência e abre a sessão o Sr. Guilherme Cortez.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Senhoras e senhores, sessão solene de outorga do Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo ao poeta e escritor, Sr. Carlos de Assumpção, São Paulo, 27 de maio de 2024.

Daremos início neste momento à sessão solene de outorga do Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo ao poeta e escritor, Sr. Carlos de Assumpção. Comunicamos aos presentes que esta sessão está sendo transmitida ao vivo pela TV Alesp e pelo canal do YouTube.

Dando sequência a esta solenidade histórica nesta Assembleia, eu quero convidar o deputado estadual Guilherme Cortez, proponente desta sessão. Por favor. (Palmas.) Convido o Sr. Carlos de Assumpção, homenageado desta noite. (Palmas.) Convido o Sr.  Péricles Aparecido Fonseca de Faria, cantor e compositor. (Palmas.)

Convido a Sra. Lourdes Augusta do Nascimento Silva, esposa e companheira de longa data do Sr. Carlos de Assumpção, homenageado da noite. (Palmas.) Convido também para que tome seu lugar na Mesa o Dr. José Lourenço Alves, neste ato representando a Academia Francana de Letras. (Palmas.)

Convido a Sra. Regina Lúcia dos Santos, coordenadora estadual de formação do Movimento Negro Unificado. (Palmas.) Convido a Sra. Marília Martins, que foi presidente da APB, que é a Associação Paulo Duarte de Preservação ao Patrimônio Material e Imaterial.

Ela é vice-presidente do Conselho Municipal de Política Cultural e atualmente é conselheira do setor de Arquitetura, Urbanismo e Museologia de Franca. (Palmas.) Por último, convido Simone Nascimento, que faz parte e representa neste ato a bancada feminista do PSOL. (Palmas.)

Neste momento, convido o deputado Guilherme Cortez para declarar a abertura oficial desta sessão.

 

O SR. PRESIDENTE - GUILHERME CORTEZ - PSOL - Muito boa noite. Sejam todas e todos muito bem-vindos à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Declaro aberta esta sessão solene, que foi convocada pelo presidente desta Casa de Leis, deputado André do Prado, atendendo a minha solicitação, com a finalidade de outorgar o Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo ao poeta, escritor e nosso griô, Sr. Carlos de Assumpção.

Convido os presentes para, em posição de respeito, em pé, ouvirmos o Hino Nacional Brasileiro, executado pela Sra. Marcela Cristina Gualberto Pereira.

 

* * *

 

- É executado o Hino Nacional Brasileiro.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Muito obrigada pela apresentação, Marcela.

 

O SR. PRESIDENTE - GUILHERME CORTEZ - PSOL - Gostaria de chamar para compor a nossa Mesa também a deputada estadual Monica Seixas do Movimento Pretas, que acabou de chegar. Uma salva de palmas para ela. (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Neste momento, registramos e agradecemos a presença das seguintes personalidades: Sandra Maria de Assumpção e Silva, filha do Sr. Carlos; Mateus Carlos de Paula Alves Assumpção, neto do Sr. Carlos; Renata Maria Assumpção, sobrinha e afilhada do Sr. Carlos; Igor Assumpção Silva, sobrinho-neto; e Renan Assumpção Araújo, sobrinho-neto. A todos os familiares, muitíssimo obrigada.

Registramos também neste ato as carrancas decorativas que estão sendo usadas aqui, que são da Escola Professor Michel Haber, do município de Franca, estado de São Paulo.

Aproveito para registrar nosso muitíssimo obrigada ao Sarau Protesto; ao Sarau Preto; ao Coletivo das Pretas; a Batalha das Minas; Shake Shake Shake Franca; Coletivo Afronte; ao Ilê Alaketú Asé Ogiyán Ofururu, representando aqui o pai Luciano; e ao Ilê Alaketú Asé Oluwáie, representando aqui o pai Emerson.

Também ao Coletivo DC Family; a Casa do Hip Hop de Franca; ao Comitê Chaguinhas, da Baixada Santista, aqui representado pelo Sr. Bartolomeu, muitíssimo obrigada.

Agradecemos também à Jennifer Nascimento, representando a vereadora Elaine Mineiro, da mandata Quilombo Periférico; a Rosana Silva, representando as entidades Centro Cultural Iségun e Grupo Cativeiro; Flávia Mildres, presidente do Conselho da Mulher de Franca; e também ao Sr. Bartolomeu Pereira de Souza, representando o Comitê Chaguinhas, da Baixada Santista. A todos, o nosso muitíssimo obrigada. (Palmas.)

Neste momento, para fazer uso da palavra, eu convido o Dr. José Lourenço Alves, por favor, hoje representando a Academia Francana de Letras.

 

O SR. PRESIDENTE - GUILHERME CORTEZ - PSOL - Rose, enquanto José Lourenço se dirige à tribuna, também registrar a presença das duas maiores autoridades da minha vida, que é a minha mãe e a minha avó, que estão prestigiando este evento hoje. (Palmas.)

 

O SR. JOSÉ LOURENÇO ALVES - Vou pedir licença, mas aqui, agora, eu não sou José Lourenço Alves, eu sou o Carlos de Assumpção.

Sou irmão de todo mundo, todo mundo é meu irmão. Minha mãe já me dizia, quem fala demais ao cavalo dá bom-dia. Mas eu falo, não me calo, não. É liberdade de expressão.

Eu sou Carlos de Assumpção, sou irmão de todo mundo, todo mundo é meu irmão. Tenho 19 anos, logo faço 29, 39, e assim vamos rumo a 001, não é brincadeira não. O tempo sempre tem razão.

Eu sou Carlos de Assumpção, sou irmão de todo mundo, todo mundo é meu irmão. Um tambor trago no peito, batuque bate que bate, bate contra o preconceito, mas cultura, sim, violência, não. A cura vem da educação.

Eu sou Carlos de Assumpção, sou irmão de todo mundo, todo mundo é meu irmão. Então, vem, me dê a mão. (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Muito obrigada, Lourenço.

Passo a palavra agora para a Sra. Regina Lúcia Santos, por favor, Sra. Regina. Fique à vontade para fazer o uso, se a senhora quiser daí.

 

A SRA. REGINA LÚCIA SANTOS - Boa noite a todos, todas e todes. Eu queria agradecer ao deputado Guilherme por estar aqui neste momento. Eu estou extremamente emocionada, e em nome do MNU eu queria agradecer ao universo por estar aqui homenageando o poeta Carlos de Assumpção.

Para mim isso é tão importante, porque as mazelas que a vida apresenta para todos os negros têm sido curadas ao longo dos anos com arte e poesia. E eu não poderia estar em um lugar mais privilegiado do que ao lado desse homem que tanto honra o povo negro com a sua arte, com a sua delicadeza firme.

Eu queria muito, muito ter a graça de falar tão bonito como ele escreve, mas, em não tendo essa graça, eu só quero agradecer.

Muito obrigada, gratidão pela sua existência, porque a sua existência honra a vida do povo negro.

Muito obrigada. (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Estamos vivendo um momento muito especial nesta Casa com esta ação e esta noite histórica para todo o município de Franca, para todo o movimento negro deste Brasil, para toda a literatura brasileira que nos honra hoje com a presença do Sr. Carlos de Assumpção. E lógico que, em um momento como este, a gente precisa registrar um momento cultural.

Para tanto, eu convido para fazer uma apresentação nosso poeta, agente cultural do município de Franca, Ramon Mocambo. (Palmas.)

 

O SR. RAMON MOCAMBO - Boa noite. Mesmo que voltem as costas às nossas palavras de fogo não pararei de gritar, não pararei de gritar, não pararei de gritar. Mesmo que voltem as costas às nossas palavras de fogo eu não pararei de gritar, eu não pararei de gritar.

A ancestralidade pulsa a cada bpm, tio. Faço da vida um ritual no estilo África-Brasil. É body rap, acendo a vela e boto a agulha no vinil, e eu boto a agulha no vinil e eu parto para cima. Sem dó nem medo, é tudo no meu nome, enredo de samba. Mocambo é bamba e diz no microfone da nossa capacidade de almejar melhores dias, inflamado pelas ruas, igual os poemas do Abdias.

É o grito dos excluído em cada esquina que viro, povo heroico, brado, morre de enchente e fome, tiro. Moradia é direito, moradia não é esmola, tratada com descaso, veja a gestão do João Dólar.

Investimento em penitenciária demonstra a visão, reich latino, novos campos de concentração. Moinho, Camanducaia, Carandiru, Candelária, pé de pato pronto para fazer chacina na sua área. É tempo de se informar, tirar os livro da estante, a guerra é cultural, informação para esse levante. Leitura rompe gaiola, educação derrete sela, professor tem que ganhar mais do que artista de novela.

Salário de cinco mil para catador de reciclado, trabalhador com plano de vida e carreira estável. Para nós é o corre, para eles sempre foi o cooper, vários irmãos se formou e hoje trampa de Uber.

Chega de miserê, migalha na mesa, chega de nó no peito, de angústia, ódio, tristeza. Chega de desunião, que picuinha não expande. Rap é o quilombo que rejeita sobras da casa grande.

Dialética na vida, o (Inaudível.) ensinou a ter e na faculdade eu leio o que quem quer me lê. Ritmo, resistência, amor, palavra e poder, Black Panther latino, o rap me ensinou a ser.

E eu agradeço a cada irmão que estendeu a mão um dia. Talento é 5%, tio, que o resto é correria, ação, eficaz. Bom pensar no que se faz, e o que define o seu futuro é a plantação do dia a dia.

Observatório dos beco e viela, cresci sem ópio, eu vou no estilo Galileu e a caneta é meu telescópio. Observatório dos beco e viela, cresci sem ópio, eu vou estilo Galileu e a caneta é meu telescópio. E mesmo que voltem as costas às nossas palavras de fogo, não pararemos de gritar, não pararemos de gritar.

Salve, Carlos de Assumpção. (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Passo a palavra agora para a Sra. Marília Martins, por favor. Pode fazer uso daí, se você quiser.

 

A SRA. MARÍLIA MARTINS - Só uma pequena correção. No começo, eu fui vice-presidente do conselho, hoje eu sou conselheira do Conselho de Política Cultural. A minha história na Cultura começou com o Sr. Carlos de Assumpção. Quando eu tinha nove anos - não é, Sr. Carlos? -, ele passava lá em casa, pegava meu irmão e eu e nos levava para as escolas para declamar. Passou a ser exemplo e eu comecei a ver esse exemplo.

Hoje nós temos algumas leis antirracistas, programas que dizem que a intenção é poder fazer um reparo histórico, e há muito tempo o Sr. Carlos já traz o que é na prática essa educação antirracista e essa referência. Eu falo do meu lugar de mulher branca observando todas as referências que são trazidas.

Eu nem estou aqui muito para discursar mesmo, mais para agradecer e me posicionar enquanto professora sobre a importância que a gente tem. Precisa haver cada vez mais ferramentas, e a poesia do Sr. Carlos é uma grande ferramenta de educação, de formação.

Esta cerimônia hoje é mais do que merecida. É uma honra estarmos aqui. Nem estou muito na posição de falar mais. É só mesmo esse agradecimento pessoalmente ao Sr. Carlos e ao Guilherme.

A gente aqui em posições de poder trazer este reconhecimento e poder fazer o que já devia ter sido feito há muito tempo, não só pelo Sr. Carlos, mas por todo o nosso povo e por todo o povo negro em nosso País. (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Muito obrigada, Marília. Passo a palavra agora para a Simone, por favor, da bancada do PSOL.

 

A SRA. SIMONE NASCIMENTO - Boa noite a todas, todos e todes. Eu sou a Simone Nascimento, codeputada estadual da Bancada Feminista do PSOL. Nós somos um mandato coletivo de cinco mulheres negras aqui, na Alesp.

Em primeiro lugar, queria dizer o quão bonito, Guilherme Cortez, é fazer hoje esta homenagem aqui, na Alesp. Então, queria agradecer este ato de coragem e celebração em uma Casa que não costuma ser esta Casa.

Queria dizer que: “Senhores, eu fui enviada ao mundo para protestar”. É com estas palavras, do nosso querido homenageado, que eu me lembro da sua coragem, da coragem que traz ele até aqui hoje na Assembleia Legislativa de São Paulo. Esse poema, o poema “Protesto”, está nas veias de todos aqueles que levantam os punhos cerrados na luta antirracista do estado de São Paulo.

Muito nos honra que, aos 97 anos, você esteja aqui, hoje, na Assembleia Legislativa. Eu me lembro que há alguns anos eu li uma notícia em que o senhor dizia que esperava muito, em algum momento, poder ser visto, lembrado e falado.

É com muita força e honra que eu digo que, hoje, neste maio de 2024, o senhor é muito bem visto e celebrado nesta Assembleia Legislativa de São Paulo, para que os seus e os nossos sonhos floresçam, como a sua poesia escrita aos 93 anos de idade. E que bom que a gente pode fazer esta celebração aqui hoje.

Mas, além do senhor, eu quero também saudar a sua ancestralidade. Saudar a ancestralidade do senhor na pessoa do seu avô, o Cirilo, que nasceu... que foi livre com a Lei do Ventre Livre, e que nos faz lembrar de toda a sua trajetória nas suas poesias, em falar da nossa luta pela reparação histórica.

Então, que hoje a gente possa saudar essa ancestralidade presente aqui, na Assembleia Legislativa de São Paulo, esta honra e essa história, para que os seus passos, que vêm de tão longe, que vêm de Cirilo, que vêm da sua família, que vêm da luta por reparação e justiça - como tão bem o senhor descreve nas suas poesias -, possam sempre nos guiar na luta por reparação.

Parabéns.

Vida longa e, muito em breve, também, feliz aniversário. (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Só para registro, o Sr. Carlos completou, no dia 23 de maio, 97 anos. Eu costumo dizer que é nove ponto sete turbinado. (Palmas.)

Passo a palavra agora para a deputada estadual Monica Seixas, do PSOL. (Palmas.)

 

A SRA. MONICA SEIXAS DO MOVIMENTO PRETAS - PSOL - Sr. Carlos, eu estou fingindo costume. Estou fingindo costume que a gente falar da luta, de nascer, de viver e de lutar pelo povo preto, se faz com tantas belas palavras como o senhor escreve nas suas poesias.

Eu estou fingindo costume que esta Casa é feita de gente preta que fala da nossa vida e resistência aqui todos os dias. Eu estou fingindo costume que todos os dias a gente senta ao lado de Periclão.

Eu estou fingindo costume que a gente homenageia os saberes, a contribuição intelectual, artística, da engenharia, da ciência do povo preto na Assembleia Legislativa, que ainda tem pelos corredores, no Hall Monumental, em toda a parte, homenagens aos nossos algozes bandeirantes.

Eu estou fingindo costume que este lugar é ocupado por pessoas pretas que sentam aqui, na tribuna, que produzem legislação e que... meninos jovens, LGBTs, que as pessoas trans, que os indígenas e todos aqueles excluídos um dia entrarão para falar das nossas vidas.

Eu estou fingindo costume que todos os dias a gente consegue olhar nos olhos de quem contribuiu sobremaneira, como o Sr. Carlos de Assumpção, para os nossos protestos ganharem mais vida, forma e grito. A gente olha nos olhos dele e diz: “Muito obrigado”.

Como esta atividade não é só para a gente, como o Guilherme não brinca em serviço, e ela está ficando documentada na TV Alesp, nos anais da Casa etc., eu acho que, apesar de toda deferência e referência ao “Protesto”, gostaria de lê-lo, se você me permitir ocupar um tempinho da nossa atividade.

“Protesto” ficou conhecido como um grito enorme que entusiasmou e incendiou todo o movimento negro e que ecoa até hoje nas nossas lutas cotidianas:

 “Mesmo que voltem as costas

Às minhas palavras de fogo

Não pararei de gritar

Não pararei

Não pararei de gritar

Senhores

Eu fui enviado ao mundo

Para protestar

Mentiras ouropéis nada

Nada me fará calar

Senhores

Atrás do muro da noite

Sem que ninguém o perceba

Muitos dos meus ancestrais

Já mortos há muito tempo

Reúnem-se em minha casa

E nos pomos a conversar

Sobre coisas amargas

Sobre grilhões e correntes

Que no passado eram visíveis

Sobre grilhões e correntes

Que no presente são invisíveis

Invisíveis, mas existentes

Nos braços no pensamento

Nos passos nos sonhos na vida

De cada um dos que vivem

Juntos comigo enjeitados da Pátria

Senhores

O sangue dos meus avós

Que corre nas minhas veias

São gritos de rebeldia

Um dia talvez alguém perguntará

Comovido ante meu sofrimento

Quem é que está gritando

Quem é que lamenta assim

Quem é

E eu responderei

Sou eu irmão

Irmão tu me desconheces

Sou eu aquele que se tornara

Vítima dos homens

Sou eu aquele que sendo homem

Foi vendido pelos homens

Em leilões em praça pública

Que foi vendido ou trocado

Como instrumento qualquer

Sou eu aquele que plantara

Os canaviais e cafezais

E os regou com suor e sangue

Aquele que sustentou

Sobre os ombros negros e fortes

O progresso do País

O que sofrera mil torturas

O que chorara inutilmente

O que dera tudo o que tinha

E hoje em dia não tem nada

Mas hoje grito não é

Pelo que já se passou

Que se passou é passado

Meu coração já perdoou

Hoje grito meu irmão

É porque depois de tudo

A justiça não chegou

Sou eu quem grita sou eu

O enganado no passado

Preterido no presente

Sou eu quem grita sou eu

Sou eu meu irmão aquele

Que viveu na prisão

Que trabalhou na prisão

Que sofreu na prisão

Para que fosse construído

O alicerce da Nação

O alicerce da Nação

Tem as pedras dos meus braços

Tem a cal das minhas lágrimas

Por isso a Nação é triste

É muito grande, mas triste

É entre tanta gente triste

Irmão sou eu o mais triste

A minha história é contada

Com tintas de amargura

Um dia sob ovações e rosas de alegria

Jogaram-me de repente

Da prisão em que me achava

Para uma prisão mais ampla

Foi um cavalo de Tróia

A liberdade que me deram

Havia serpentes futuras

Sob o manto do entusiasmo

Um dia jogaram-me de repente

Como bagaços de cana

Como palhas de café

Como coisa imprestável

Que não servia mais pra nada

Um dia jogaram-me de repente

Nas sarjetas da rua do desamparo

Sob ovações e rosas de alegria

Sempre sonhara com a liberdade

Mas a liberdade que me deram

Foi mais ilusão que liberdade

Irmão sou eu quem grita

Eu tenho fortes razões

Irmão sou eu quem grita

Tenho mais necessidade

De gritar que de respirar

Mas irmão fica sabendo

Piedade não é o que eu quero

Piedade não me interessa

Os fracos pedem piedade

Eu quero coisa melhor

Eu não quero mais viver

No porão da sociedade

Não quero ser marginal

Quero entrar em toda parte

Quero ser bem recebido

Basta de humilhações

Minh'alma já está cansada

Eu quero o sol que é de todos

Ou alcanço tudo o que eu quero

Ou gritarei a noite inteira

Como gritam os vulcões

Como gritam os vendavais

Como grita o mar

E nem a morte terá força

Para me fazer calar”.

(Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Não pararei, não pararei de gritar. Não pararei. Não estou ouvindo: Não pararei. Mais forte. Não pararei, não pararei de gritar. Nunca. Salve Carlos de Assumpção. (Palmas.) Nosso serviço de protocolo aproveita para registrar também a presença ilustre da presidente do PSOL em Franca, a senhorita Isabella. (Palmas.)

Neste momento passo, para fazer uso da palavra, o deputado estadual Guilherme Cortez, por favor. (Palmas.)

 

O SR.  PRESIDENTE - GUILHERME CORTEZ - PSOL - Vamos animar um pouco esta noite? Vamos rodar poema? Ê poema ê-ê, ê poema-a-a. (Palmas.) Ê poema ê-ê, ê poema-a-a, nessa roda de poema, o poema vai rodar. Nessa roda de poema, o poema vai rodar. Roda poema:

 

“Arco-íris

 

Nós somos Dons Quixotes

Em cavalos de sonho vamos

Por toda parte da cidade

Semeando palavras como sementes

Dividindo o pão do bem mostrando caminhos

Levando esperanças a quem não tem

Nós somos Dons Quixotes, não importa

De sonhadores o mundo tem precisão

A vida será céu quando todos os homens

Trouxerem as estrelas aqui pro chão”

Carlos de Assumpção. (Palmas.)

Quem dera, Monica, a gente esteja vivo, com 97 anos e com tanta saúde, que seja como o Sr. Carlos de Assumpção, para ver o que a gente está vendo virar costume nesta Assembleia.

Neste plenário onde, tantas vezes, a gente vê o nosso povo sendo expulso, sendo reprimido, apanhando, perdendo os seus direitos, hoje a gente vê repleto, entregue, ocupado pelo seu legítimo dono: o povo brasileiro, em toda a sua diversidade de pessoas - lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, brancos, negros, indígenas, homens e mulheres -, todas as pessoas. Hoje, pelo menos durante esta noite, a gente pode tomar parte desta Assembleia.

Eu quero agradecer, do fundo do meu coração, a toda a equipe do meu mandado, na pessoa da Gabriela, nossa chefe de gabinete que, nos últimos meses, não mediu esforços para tudo ficar tão bonito. (Palmas.) Quero agradecer ao José Lourenço, à Marília; quero agradecer à Regina, à Simone, à Monica, à Dona Lurdes.

Eu nunca imaginei, na minha vida, nesses mistérios do universo, que eu iria ter a oportunidade de estar ao lado do Péricles aqui na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, nós dois de terno. Isso, eu não conseguiria imaginar em sonho algum.

E agradecer ao nosso grande homenageado, Carlos de Assumpção, que é a única pessoa capaz de reunir todos nós aqui nesta noite. Eu conheci o Carlos de Assumpção no ano em que eu cheguei em Franca, e isso marcou profundamente a minha vida na cidade de Franca.

Naquela época, eu mudei de cidade. Estava descobrindo uma cidade nova, me encantando com uma cidade de um povo trabalhador, que se orgulha muito da sua luta, mas, ao mesmo tempo, que é tão reprimido por pessoas que há 200 anos mandam na cidade e que não valorizam nem a cultura, nem a beleza da nossa diversidade.

Decidi fazer parte de um grupo na faculdade que fazia oficinas de direitos humanos nas escolas públicas da rede estadual de Franca. Um dia, o nosso professor, Prof. Paulo Borges, teve a grande ideia de chamar o seu Carlos de Assumpção, acompanhado da sempre presença de Don Antena, para fazer uma preparação com a gente sobre uma oficina de antirracismo.

De lá para cá, foram muitos saraus na confraria, na saudosa confraria da Marília, e eu fui criando raízes naquela cidade e me encantando por uma cidade que o que tem de melhor está muito bem expresso na figura do seu Carlos de Assumpção.

Quando fui candidato a vereador, já vai fazer quatro anos, eu dizia que o meu sonho era ocupar a câmara para que a gente pudesse fazer um sarau-protesto dentro do plenário da câmara, e não imaginaria que o negócio ia dar um “upgrade” e que agora a gente ia poder fazer um sarau-protesto no plenário da Assembleia Legislativa.

Mas eu espero, e eu sei que tem várias pessoas aqui que estão com essa missão, que no ano que vem a gente também vá conseguir fazer uma audiência como esta, uma sessão como esta, um sarau-protesto lá no plenário daquela Câmara velha de Franca, ocupando, que nem a gente está fazendo aqui hoje.

Quando eu fui candidato a vereador, eu chamei o pessoal do sarau-protesto para ir ao lançamento. E naquela época ninguém dizia, ninguém botava fé que eu poderia ser eleito deputado, porque não tinha precedente.

Não tinha nada que dizia que uma pessoa tão jovem quanto eu, uma pessoa que fala abertamente da sua sexualidade, que defende com tanta convicção as suas bandeiras, pudesse ser eleito deputado em uma cidade como Franca. Mas eu dizia que a gente precisava mudar a cara de como Franca é vista no estado de São Paulo.

Infelizmente, naquele ano, a nossa cidade virou manchete nos jornais por causa de transfobia, de racismo, de violências de todo o tipo. E eu dizia: “Eu quero que as pessoas, quando pensarem em Franca, venham à sua memória o Carlos de Assumpção.

“E, se eu puder fazer isso, se eu puder estar na Assembleia com um compromisso, que seja o de fazer toda a pessoa no estado de São Paulo conhecer a história e a trajetória do Carlos de Assumpção e associar essa trajetória à cidade de Franca, eu vou ter cumprido o meu papel como deputado”.

Hoje acho que este é o ato mais importante que eu faço nesse um ano e meio de mandato, porque a gente começa a fazer isso. A gente começa a ocupar este espaço para dar um reconhecimento ainda muito pequeno pela história, pela trajetória, pela contribuição que o seu Carlos tem para o nosso estado e que, tardiamente, hoje a Assembleia Legislativa vem a oferecer.

Porque só o racismo estrutural e três séculos de escravidão no nosso País explicam por que, em 126 anos de existência, a Academia Brasileira de Letras só teve três membros negros. E hoje pode ter Gilberto Gil.

Porque, no Brasil, quando se é negro, não basta ser talentoso para ter reconhecimento. Aliás, muitas pessoas negras no Brasil sequer têm tempo para expressar para o mundo todo o seu potencial, toda a sua riqueza, todo o seu talento, porque são interrompidas pela violência, pela fome ou pelo adoecimento mental.

Toda vez que aqui na Assembleia, Simone, a gente discute algum caso de violência policial, sobretudo contra a população negra nas periferias, sobretudo com jovens negros, eu não deixo de pensar quantas mentes brilhantes a gente não está perdendo, quantos poetas, engenheiros, médicos, cientistas que tinham uma contribuição gigantesca para dar para o nosso País a gente não está deixando de aproveitar, de contribuir para a gente ter uma sociedade melhor, porque está tendo essa existência abreviada prematuramente.

Este colar bonito, mas não mais bonito do que as guias que o seu Carlos de Assumpção usa no seu pescoço, que a gente vai entregar esta noite, é um reconhecimento não só pelos 97 anos de muita luta, de muita poesia, de muita resistência do seu Carlos, mas também um reconhecimento para cada jovem negro, como o Ramon, que esteve aqui em cima, que faz das palavras, faz da música, faz da poesia uma maneira de resistir ao adoecimento, de resistir à violência, de resistir à indiferença - seja escrevendo livros, seja improvisando em uma batalha de rimas, seja colocando a sua voz no mundo - e acreditando que, através da palavra, a gente pode tornar o nosso mundo melhor, e a gente pode mudar essa realidade tão triste que a gente vive hoje.

Porque, para nós, ser chamado de marginais nunca foi pejorativo, porque enquanto o que for considerado normal e aceitável for a indiferença, for o ódio, for o preconceito, nós sempre vamos estar nas margens, até o dia que as margens ocuparem o centro desta sociedade e deste mundo em que a gente vive.

No mês de maio, em que o seu Carlos de Assumpção completa 97 anos e que a Lei Áurea, que é a maior fraude bancária do Brasil, porque, como disse o seu Carlos de Assumpção, a princesa Isabel passou um cheque sem fundo para o povo negro do nosso País, a gente está aqui para homenagear os verdadeiros heróis do povo brasileiro.

Zum, Zum, Zum, Zum, Zumbi, Zumbi de Ogum; Dandara dos Palmares; Teresa de Benguela; Abdias do Nascimento, com muito orgulho, francano; Carolina Maria de Jesus, que escreveu seu livro em Franca; Regina e Milton, nossos ancestrais da luta do movimento negro no Brasil; e também seu Carlos de Assumpção.

E que sorte a nossa que hoje a gente tem a oportunidade e o privilégio de poder homenagear esses nossos heróis em vida, porque a gente tem que se acostumar a dizer para as pessoas o quanto elas são importantes quando elas ainda estão entre a gente.

O seu Carlos de Assumpção vai viver mais cento e poucos anos, então, quem ainda não o fez, vai ter a oportunidade de fazer daqui em diante, mas eu estou fazendo hoje, com muito orgulho disso. (Palmas.)

Hoje o estado de São Paulo se curva para homenagear, para agradecer ao poeta da Franca, o poeta do protesto, o griô de todos nós, descendente direto do Zumbi dos Palmares, para homenagear Carlos de Assumpção, o irmão de todo mundo e de quem todo mundo é irmão - menos os racistas.

Porque enquanto houver neste mundo, em qualquer canto, opressão e discriminação, nós não pararemos de gritar. E hoje, com este Colar, com o reconhecimento da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, Sr. Carlos, o senhor pode gritar ainda mais alto. E as suas palavras vão ser ouvidas por cada vez mais pessoas.

Não deixemos de ser Dom Quixotes, semeando palavras como sementes, porque a vida será céu quando todos os homens trouxerem as estrelas aqui para o chão.

Viva Carlos de Assumpção! (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Neste momento, eu já peço, então, para que o nosso deputado e também o nosso homenageado já se posicionem. Enquanto eles se posicionam, eu gostaria de ler para vocês o que significa este Colar.

O Colar de Honra ao Mérito Legislativo é a mais alta honraria conferida pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo a pessoas ou instituições que contribuam para o desenvolvimento social, cultural e econômico de nosso estado como forma de prestar-lhes pública e solenemente uma justa homenagem.

É com muita honra que hoje estamos reunidos para homenagear a vida e a obra de Carlos Assumpção, decano da literatura afro-brasileira e um dos maiores símbolos da resistência negra no País.

Nascido em Tietê, São Paulo, em 23 de maio de 1927, Carlos cresceu e completou seus estudos iniciais em sua cidade natal. Em 1969, Carlos de Assumpção mudou-se para Franca, no interior do estado de São Paulo, onde vive até hoje, e formou-se em direito e letras.

Durante décadas, além de atuar como advogado, Assumpção dedicou-se à luta pela igualdade racial, participando ativamente do movimento negro em atividades culturais e políticas. É membro da Academia Francana de Letras e, em reconhecimento à sua trajetória, recebeu inúmeras honrarias e títulos. Em 1958, recebeu o título de Personalidade Negra pela Associação Cultural do Negro.

Estreou em publicação individual em 1982, com o seu poema “Protesto”, que venceu o concurso de poesia falada de Araraquara do mesmo ano. Desde então, essa obra tornou-se um hino, um manifesto, um grito de resistência e esperança para o movimento negro até os dias de hoje, sendo traduzida, inclusive, para vários idiomas. Recebeu os títulos de doutor honoris causa pela Unesp, em 2021; e pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 2022.

Carlos de Assumpção é um poeta que atravessa gerações. Ele continua a recitar de memória os seus poemas, mantendo viva a tradição oral e evocando a ancestralidade negra do nosso País. Entre as suas obras notáveis estão: “Protesto Poemas”, de 1982; “Quilombo”, de 2000; “Tambores da Noite”, de 2009; e “Não Pararei de Gritar”, de 2020.

Nesta noite, ao entregarmos o Colar de Honra ao Mérito da Assembleia Legislativa de São Paulo ao Sr. Carlos de Assumpção, reconhecemos não apenas a sua inestimável carreira literária, mas também sua incansável luta por justiça social e igualdade racial. Sua voz potente é um lembrete constante da importância da resistência e da luta coletiva.

Neste momento, vamos aplaudir então o Sr. Carlos de Assumpção, que recebe, das mãos do deputado Guilherme Cortez, esta grandiosa honraria. (Palmas.)

 

* * *

 

- É feita a outorga do Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo.

 

* * *

 

Podem aplaudir mais. Muito mais. (Palmas.) Alô, família francana. Faz barulho aí, Franca. (Palmas.) Vamos aguardar o Sr. Carlos, então.

Vamos fazer as fotos, o registro deste momento tão importante. Eu costumo dizer que homenagens são muito bem-vindas em vida. Que a gente possa homenagear muitas pessoas em vida, para que elas possam desfrutar deste momento tão importante como hoje.

Eu vou pedir, inclusive, para todo o pessoal que quiser tirar foto depois... Eu acho importantíssimo, inclusive, que a gente possa registrar este momento. Assim que nós terminarmos a sessão, o Sr. Carlos vai estar aqui e poderá registrar este momento com vocês.

Vamos aguardar, então, o Sr. Carlos chegar aqui para que ele possa fazer uso... A família toda do Sr. Carlos, por favor. Aproveitando, o mestre Kamal está aí? Lembrando que depois a gente vai tirar muitas fotos. Quero, inclusive... a dona Maria Helena já fique a postos, que já a senhora entrega homenagem.

Quero registrar também a presença do mestre Kamal, do Cativeiro São Paulo; também da mestra Rosana, Cativeiro Ribeirão Preto. Muito obrigada. Salve, mestre Cavalo. E salve tudo, porque a Cativeiro ecoa por este mundo afora. (Vozes fora dos microfones.)

Quero registrar também neste plenário a presença, além de muitos agentes culturais do movimento de Franca, enaltecer aqui a presença da nossa querida Ida do Rosário.

Depois, quem tiver oportunidade, exposto ali, nós temos uma obra chamada “Senzala”, que faz parte do Projeto Quinquilharias da Senzala. Então, Ida do Rosário, muito obrigada por estar presente e levar a nossa cultura por este mundão afora. Obrigada, viu? (Palmas.)

O Sr. Carlos vai fazer uso da palavra aí? Está bem. Bom, então, eu vou aproveitar, enquanto vocês estão se organizando... Por favor, dona Maria Helena.

Senhor Carlos de Assumpção, neste momento, a dona Maria Helena também quer entregar para o senhor uma homenagem... Só enquanto a gente organiza, então, o restante do sarau... Dona Maria Helena, por favor, lá de Ribeirão Preto, podemos aplaudir. (Palmas.)

 

* * *

 

- É entregue a homenagem.

 

* * *

 

Senhor Carlos, Sr. Carlos, está desligado. É uma homenagem do Sarau Odilon, de Ribeirão Preto. Já vamos passar o microfone para a senhora, dona Maria Helena. Por favor. Pronto.

 

A SRA. MARIA HELENA - Ele disse que precisava de um microfone que fala. Pronto, já está falando. Então, esta é uma homenagem do Sarau Odilon, de Ribeirão Preto. Uma homenagem ao nosso baobá, maior crioulo de todos os tempos, Carlos de Assumpção, o poeta das três colinas. Não, é o nosso poeta. Além das três colinas, ele vai além.

Ele é aquele que faz um quilombo novo a cada dia, a cada frase poética dos seus poemas. Ele que aguarda Zumbi dos Palmares para tirar a gente dessa situação de invisibilidade. Carlos de Assumpção é o nosso poeta.

Parabéns. (Palmas.)

 

O SR. CARLOS DE ASSUMPÇÃO - Muito obrigado. (Vozes fora dos microfones.) Obrigado, muito obrigado. Obrigado. Ribeirão, Ribeirão, Ribeirão. É uma maravilha, Ribeirão. Nossa cidade vizinha. Nós estamos todos juntos, graças a Deus. Nós estamos todos juntos.

Eu queria agradecer ao deputado Guilherme Cortes por ter trazido tanta gente aqui neste auditório para juntos receber este troféu. É um troféu? (Vozes fora dos microfones.) Mas para mim é um troféu. E que eu divido com todos que estão aqui, porque este troféu não é meu, não. É nosso. É do povo brasileiro. (Palmas.)

É nosso, este troféu é nosso. Nós que nos encontramos na marginalidade, na marginalidade neste País, nós que ajudamos a construir este País, desde 1500. Há mais de cinco séculos que nós estamos ajudando a construir este País, e, no entanto, continuamos até hoje na marginalidade. Nós queremos ocupar o nosso lugar, nós queremos ocupar o nosso lugar, que nós merecemos, porque é uma questão histórica. É por isso que nós gritamos:

Não pararei de gritar

Não pararei

Não pararei de gritar.

Senhores

Eu fui enviado ao mundo

Para protestar

Mentiras ouropéis nada

Nada me fará calar

Senhores, atrás do muro da noite

Muitos dos meus ancestrais

Já mortos há muito tempo

Muitos dos nossos ancestrais

Já mortos há muito tempo...

Eu vou ler, porque nessa altura... eu trouxe aqui. (Vozes fora dos microfones.)

Mesmo que voltem as costas

Às minhas palavras de fogo

Não pararei de gritar

Não pararei

Não pararei de gritar

Senhores

Eu fui enviado ao mundo

Para protestar

Mentiras ouropéis nada

Nada me fará calar

Senhores

Atrás do muro da noite

Muitos dos meus ancestrais

Já mortos há muito tempo

Reúnem-se em minha casa

E nos pomos a conversar

Contra coisas amargas

Contra grilhões e correntes

Que no passado eram visíveis

Contra grilhões e correntes

Que no presente são invisíveis

Invisíveis, mas existentes

Nos braços no pensamento

Nos passos nos sonhos na vida

De cada um dos que vivem

Juntos comigo enjeitados da Pátria

Senhores

O sangue dos meus avós

Que corre nas minhas veias

São gritos de rebeldia

Um dia talvez alguém perguntará

Comovido ante meu sofrimento

Quem é que está gritando

Quem é que lamenta assim

Quem é

E eu responderei

Sou eu irmão

Irmão tu me desconheces

Sou eu aquele que se tornara

Vítima dos homens

Sou eu aquele que sendo homem

Foi vendido pelos homens

Em leilões em praça pública

Que foi vendido ou trocado

Como instrumento qualquer

Sou eu aquele que plantou

Os canaviais e cafezais

E os regou com suor e sangue

Aquele que sustentou

Sobre os ombros negros e fortes

O progresso do País

O que sofrera mil torturas

O que chorara inutilmente

O que dera tudo o que tinha

E hoje em dia não tem nada

Sou eu quem grita

Sou eu meu irmão aquele

Que viveu na prisão

Que trabalhou na prisão

Que sofreu na prisão

Para que fosse construído

O alicerce da Nação

O alicerce da Nação

Tem as pedras dos meus braços

Tem a cal das minhas lágrimas

Por isso a Nação é triste

É muito grande, mas triste

E entre tanta gente triste

Irmão sou eu o mais triste

A minha história é contada

Com tintas de amargura

Um dia sob ovações e rosas de alegria

Jogaram-me de repente

Da prisão em que me achava

Para uma prisão mais ampla

Foi um cavalo de Troia

A liberdade que me deram

Havia serpentes futuras

Sob o manto do entusiasmo

Um dia jogaram-me de repente

Como bagaços de cana

Como palhas de café

Como coisa imprestável

Que não servia mais pra nada

Um dia jogaram-me de repente

Nas sarjetas da rua do desamparo

Sob ovações e rosas de alegria

Sempre sonhara com a liberdade

Mas a liberdade que me deram

Foi mais ilusão que liberdade

Irmão sou eu quem grita

Eu tenho fortes razões

Irmão sou eu quem grita

Tenho mais necessidade

De gritar que de respirar

Mas irmão fica sabendo

Piedade não é o que eu quero

Piedade não me interessa

Os fracos pedem piedade

Eu quero coisa melhor

Eu não quero mais viver

No porão da sociedade

Não quero ser marginal

Quero entrar em toda parte

Quero ser bem recebido

Basta de humilhações

Minh'alma já está cansada

Eu quero o sol que é de todos

Quero a vida que é de todos

Ou alcanço tudo o que eu quero

Ou gritarei a noite inteira

Como gritam os vulcões

Como gritam os vendavais

Como grita o mar

E nem a morte terá força

Para me fazer calar.

(Palmas.)

 

* * *

 

- É feita a apresentação musical.

 

* * *

 

Viva o povo negro que construiu o País!

 

TODOS - Viva!

 

O SR. CARLOS DE ASSUMPÇÃO - É isso aí, é isso aí mesmo.

 

A SRA. MARÍLIA MARTINS - Quebra de protocolo, como sempre.

 

O SR. CARLOS DE ASSUMPÇÃO - Esse negócio de protocolo...

 

A SRA. MARÍLIA MARTINS - Não tem protocolo, não é, Sr. Carlos?

 

O SR. CARLOS DE ASSUMPÇÃO - É bom não existir muito protocolo, não. Eu não sou muito a favor de protocolo. Não sou nada a favor. Mas este momento a gente não vai esquecer nunca. Nunca, nunca, nunca. É um momento de lavar a alma, lavar a alma.

O povo brasileiro, o povo negro brasileiro está precisando disso aqui, precisando de atenção, está precisando sair das periferias e das favelas e morar em um lugar digno, como todo mundo. Como todo mundo, porque somos gente como todo mundo. É isso aí.

Eu me lembro do Abdias do Nascimento, ele falava assim: “O povo negro fez tudo por este País e até hoje não teve recompensa nenhuma”. Mas estamos no caminho, com essa Lei nº 10.639. Marília, essa lei vai transformar o Brasil. Desengavetar! Cadê o deputado?

Vamos desengavetar essa Lei nº 10.639, que vai ser uma benção para o Brasil. (Palmas.) Vai ser uma benção para o Brasil. Lá em Franca temos exemplo na Escola Michel Haber, onde a educação de inclusão está sendo desenvolvida com um sucesso enorme.

Essa lei pode transformar este País em um dos maiores países do mundo. Não sei por que razão está engavetada. Parece que são contra o progresso do País, porque o racismo, minha gente, não faz mal só para o negro; faz mal para o negro, faz mal para o branco também e um mal terrível para o País. Não deixa o País andar. Vamos acabar com esse racismo neste País, se quisermos andar. (Palmas.)

Graças a Deus, tem muita gente trabalhando por aí, muita gente tecendo o destino do povo negro, que é o destino do País. Somos a grande maioria da população e muitos de nós não sabemos disso, que somos a maioria da população - mais de 54% assumidos, fora os outros e fora os nossos aliados, os nossos parceiros. Somos muita gente e nós é que vamos modificar isso tudo. Pode estar certo. Não será amanhã, talvez, mas vai acontecer, sim. Vai acontecer.

Por isso que comecei dizendo que o País tem um futuro muito promissor. É esse povo negro, sofrido, que não pensa em vingança de forma nenhuma, é esse povo que precisa ocupar o seu lugar merecidamente, porque é esse povo negro que tem feito quase tudo pelo Brasil, mas não é reconhecido. Não é reconhecido. Tomara que a data de hoje seja um marco para a redenção do País. A redenção do País está em nossas mãos. Não é, dona Ida do Rosário?

 

A SRA. IDA DO ROSÁRIO - Posso quebrar o protocolo?

 

O SR. CARLOS DE ASSUMPÇÃO - Pode quebrar. Estamos na Casa do povo, ué. Cadê o deputado?

 

A SRA. IDA DO ROSÁRIO - Muito obrigada. Em nome das mulheres pretas, das mulheres escravizadas, estou aqui representando elas. Com muita alegria, com muita satisfação, Sr. Carlos, parabéns, em nome das mulheres negras, das mulheres pretas, principalmente a sua mãe. (Palmas.)

E eu bordei a senzala. Então, eu quero só isso: quantas almas do nosso povo, libertas, que estão hoje representadas naquela senzala? E onde a senzala está? Na Casa do povo. Tantos milhões de negros morreram na travessia, morreram nas senzalas da vida. E hoje a senzala está aqui na Casa do povo. Por que está aqui?

Por causa do Sr. Carlos Assumpção, que escreveu o “Protesto” há mais de 50 anos, e o Cortez viu esta oportunidade de pedir perdão em nome da branquitude e trazer o Sr. Carlos de Assumpção e a senzala, que está ali, para um ato de perdão. Eu acho que é uma renovação.

Muito obrigada, Sr. Carlos.

Quebrei o protocolo. Péricles... (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Parabéns, Ida. Aproveitando, Sr. Carlos - viu, Marília - e aproveitando que o Péricles está esperando um comandinho para ver se ele fala daqui, se ele vai aí.

 

O SR. PÉRICLES APARECIDO FONSECA DE FARIA - Opa, é para já.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Então, por favor. Com a palavra, neste momento, deixe-me convidar aqui nosso cantor, compositor; tivemos a honra de recebê-lo em Franca. (Palmas.)

Quando o Sr. Carlos completou 95 anos, e o Péricles esteve lá para uma entrevista e fez a música “Eclipse”, do poema do Sr. Carlos, uma grande música.

Então, por favor, com a palavra.

 

O SR. PÉRICLES APARECIDO FONSECA DE FARIA - Boa noite a todos. Eu espero que cada um de vocês esteja sentindo no coração a mesma alegria que eu sinto hoje, e que a semente de um Brasil melhor... a gente sinta também no coração sendo plantada uma semente hoje.

Eu estou aqui para agradecer, agora, ao meu parceiro de composição, que é o Carlos de Assumpção. Olha, que moral. E aos membros da Mesa, deputado, todos vocês aqui da Assembleia.

Hoje eu me sinto literalmente na Casa do povo. Essa mensagem que a gente está passando para todo mundo, do mesmo jeito como o poema do Carlos de Assumpção chegou ao meu coração e ao de cada um de nós, o que a gente está fazendo hoje está sendo plantado, a semente está sendo jogada. E com certeza a gente está plantando algo para um Brasil melhor a partir de hoje. Obrigado. (Palmas.)

Aqui também está funcionando. Esse é melhor? Eu tive a petulância, chamei de parceiro e tudo mais, porque eu e meu compadre Isaías, meu diretor musical, nós tivemos, como eu disse, a petulância de musicar o poema “Eclipse”, do poeta Carlos de Assumpção.

A gente lançou no ano passado, e desde então a nossa vontade é de: sempre que surgia uma oportunidade, não só no dia 20 de novembro, a gente cantar esse poema, para que ele continue esse serviço de fazer com que essa semente seja plantada, os muros sejam quebrados, e um Brasil melhor deixe de existir somente no nosso imaginário, mas que, sim, ele aconteça de fato.

Eu creio nisso, eu sei que todo mundo que está aqui e quem está vendo a gente, longe, também acredita nisso. Então, vamos em frente. (Palmas.)

 

* * *

 

- É feita a apresentação musical.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Vou aproveitar este momento e já convidar os membros do Sarau Protesto, por favor, para que se acheguem, e aproveito também para agradecer e para convidar, para que se some à roda aqui, o contramestre Palito, por favor.

Nome africano do mestre Kamal, ele representa o Grupo Cativeiro e também o Fórum Municipal de Capoeira do Estado de São Paulo.

Mestre, por favor, achegue-se. O mestre Palito vai acompanhar o Sr. Carlos de Assumpção na recitação do poema “Berimbau”. Apresentando o sarau, Don, do lado esquerdo do Sr. Carlos; Marcelo, Flávia, Marília e mestre Palito, hoje, somando aqui a esta oportunidade única.

Ramon Mocambo chegando.

 

* * *

 

- É feita apresentação musical.

 

* * *

 

O SR. CARLOS DE ASSUMPÇÃO - Cadê o Zé Pilintra? Você viu ele por aí? Pergunta do racista.

 

A SRA. MARÍLIA - Seu Carlos, e o racista?

 

O SR. CARLOS DE ASSUMPÇÃO - O racista bateu as botas.

 

O SR. - O jornalista, seu Carlos. Eu quero saber o jornalista.

 

O SR. CARLOS DE ASSUMPÇÃO - Ah, o jornalista racista que você quer saber?

 

O SR. - É!

 

O SR. CARLOS DE ASSUMPÇÃO - O jornalista racista bateu as botas.

 

O SR. - Ah, seu Carlos.

 

O SR. CARLOS DE ASSUMPÇÃO - Morreu.

 

O SR. - Oi, ai, ai!

 

O SR. CARLOS DE ASSUMPÇÃO - Deve ter ido para o inferno. Antes ele do que eu.

 

A SRA. MARÍLIA - Sr. Carlos, e São Pedro?

 

O SR. CARLOS DE ASSUMPÇÃO - Quem?

 

A SRA. MARÍLIA - São Pedro. O senhor não ligou para São Pedro outro dia?

 

O SR. CARLOS DE ASSUMPÇÃO - Passei um telefonema para São Pedro perguntando se racista entra no céu. Ele caiu na risada e respondeu: “Racista entra no céu, sim, no céu da boca do inferno”.

Adivinha, o que é, o que é... Como é mesmo? (Vozes fora do microfone.) Jacaré do papo branco ou semibranco, couro grosso, focinho em pé, boca cheia de dente, língua cheia de ferro.

O que é, o que é: não gosta de tudo que é preto, não gosta de samba, não gosta de umbanda, não gosta de candomblé, finge que ama Jesus Cristo e São Benedito não tem fé. O que é, o que é? Dou um doce a quem souber (Inaudível.). (Vozes fora do microfone.)

Ganhou um livro. Cadê o livro? Eu vou dar para ela. Ganhou um livro (Inaudível.) Ela adivinhou, é adivinhação e adivinhou. (Vozes fora do microfone.) É o menininho... Vamos fazer propaganda, é de graça. Depois a gente... Vamos tirar uma foto. Poeta tem privilégio.

 

* * *

 

- É feita a apresentação musical.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Pessoal, por gentileza, eu gostaria de apresentar para vocês, agora oficialmente, essa roda espetacular. Vou começar, aqui hoje temos participantes ilustres. Da minha esquerda para a direita, André, muito obrigada. Luciana, muito obrigada. Ramon Mocambo, muito obrigada. Marília, muito obrigada. Mestre Palito, muito obrigada.

 

O SR. CARLOS ASSUMPÇÃO - Ângela, muito obrigado.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Ângela, muito obrigada; Don, muito obrigada; Marcelo, muito obrigada; Flávia, muito obrigada. Faz barulho aí para o Sarau Protesto, gente. (Palmas.) Muito obrigada. Obrigada, seu Carlos. Este é o Sarau Protesto de Carlos Assumpção. Vamos passando para os finalmentes nesta noite espetacular e histórica.

Quero aproveitar aqui, antes de passar a palavra para o nosso deputado Guilherme Cortez, para falar para vocês que meu nome é Rose Morais. Eu sou radialista, sou locutora e estou me sentindo, como mulher, inclusive como mulher preta, a gente sabe de tudo o que acontece na nossa trajetória...

Quero também falar em nome de todas as mulheres que vieram de Franca hoje neste plenário fazer barulho para o seu Carlos Assumpção. Vamos aplaudi-las, por favor. (Palmas.) A Eliara está falando aqui que nós vamos ter a batalha das minas lá em Franca, em homenagem ao seu Carlos Assumpção. Todos estão convidadíssimos.

 

O SR. CARLOS ASSUMPÇÃO - Para tudo. Para, para. Milton Barbosa. Esse senhor que está aqui na frente, ele que pôs o movimento negro na rua. Está aqui quietinho. Milton Barbosa. (Palmas.) Pôs o movimento negro na rua. Eu sabia. Eu falei, vai perguntar lá para ele.

Há quantos anos a gente não se vê? É, muito obrigado. Nós devemos muito a este homem aqui. O movimento negro antigamente se fazia às escondidas, de portas e janelas fechadas. Milton Barbosa botou o movimento negro na rua. Demos um passo muito grande.

Aquilo que era feito às escondidas passou a ser ventilado em toda a parte. Gente, este homem aqui é um herói, quietinho aqui, Milton Barbosa. (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Milton Barbosa.

 

O SR. CARLOS ASSUMPÇÃO - Milton Barbosa.

 

O SR. MILTON BARBOSA - Poesia, os poetas e as poetisas realmente são muito fortes. Esse “nego véio”, olha a lembrança dele. Mas, realmente, foi toda a postura dos “nego véio”, que nem ele, que fez com que surgisse o Movimento Negro Unificado e, com certeza, este País vai ter uma caminhada sensacional, para o Brasil, para todas as Américas do mundo.

E esse poeta, esse “nego véio”, contribui com isso. Nós aprendemos com eles e passamos para frente. Estamos aprendendo com todo mundo. Nós estamos avançando, certo? É isso aí, “nego véio”. (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Muito bom. Obrigada, Milton.

 

O SR. CARLOS ASSUMPÇÃO - Prazer enorme reencontrá-lo, muito grande.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Muito obrigada ao Milton. Que maravilhosa lembrança, seu Carlos, muito obrigada.

 

O SR. CARLOS ASSUMPÇÃO - Milton Barbosa.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Milton Barbosa. Registrado.

 

O SR. CARLOS ASSUMPÇÃO - Certo, obrigado.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Quero, inclusive, aproveitar para agradecer também, como presidenta do Comdecon, que é o Conselho Municipal de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra de Franca, a todos os conselheiros e conselheiras que também estão aqui. Parabéns e muitíssimo obrigada. (Palmas.)

E agora sim, neste momento, eu convido o deputado Guilherme Cortez para fazer as considerações finais e declarar o encerramento desta sessão.

 

O SR. PRESIDENTE - GUILHERME CORTEZ - PSOL - Oi. Quando meu assessor Gustavo começa a chorar no fundo, é porque o evento foi muito bom mesmo, e aí todo mundo se emociona junto.

Eu quero agradecer e pedir uma salva de palmas para a nossa mestre de cerimônias, Rose Morais. (Palmas.) Mulher negra, presidente do Conselho Municipal da Condição Feminina de Franca. Muito obrigado por abrilhantar a nossa noite.

Quero agradecer e pedir uma salva de palmas para todas as pessoas - porque a gente não faz nada na vida sozinho - que constroem este mandato comigo e que passaram os últimos meses se revirando para fazer este evento acontecer. Uma salva de palmas para eles. (Palmas.)

Quero agradecer a toda a equipe do Cerimonial da Alesp e a todos os trabalhadores, fotógrafos, pessoal da câmera, da microfonia e do som, que estão aqui permitindo este evento acontecer até agora.

 

O SR. CARLOS ASSUMPÇÃO - Eu quero falar com a Rose. Rose, temos que destacar uma outra pessoa que se encontra aqui: Esmeralda Ribeiro, dos “Cadernos negros”. Vem cá. (Palmas.)

E o Márcio. Cadê o Márcio? Márcio, dos “Cadernos negros”. (Palmas.) Muito obrigado. Recebeu o convite, não é? Que bom. Márcio, vem cá. Hoje é o dia do reencontro. Eu vou dar de presente. Livrinho para criança, para criancinha pequenininha.

 

O SR. PRESIDENTE - GUILHERME CORTEZ - PSOL - Quero agradecer a todo mundo que veio.

 

O SR. CARLOS ASSUMPÇÃO - (Inaudível.) pegar um também. Você tem? Ah, você já tem.

 

O SR. PRESIDENTE - GUILHERME CORTEZ - PSOL - Agradecer a todo mundo que veio de Franca, de Ribeirão Preto, de Tietê, daqui de São Paulo, de cada canto para prestigiar esta noite tão especial.

Agradecer a cada pessoa que dividiu esta Mesa comigo: Regina, dona Lurdes, Simone, Monica, José Lourenço. Agradecer ao grande Periclão, “live in” Alesp pela primeira e não última vez. (Palmas.)

Agradecer a Deus, aos Orixás, a todas as forças que permitiram a gente estar vivo, que deram tanta saúde para o seu Carlos chegar aos 97 anos e propiciar a gente a fazer este encontro.

Esgotado o objeto da presente sessão, não pararemos de gritar, mas eu agradeço a todas e a todos os envolvidos na realização desta solenidade aqui presentes, esperando que esta não seja a última vez que a gente veja este plenário tão colorido, com tanto batuque, tão bonito. Esse dia chegará.

Está encerrada a presente sessão.

Viva seu Carlos de Assumpção! (Palmas.)

 

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- Encerra-se a sessão às 22 horas e 05 minutos.

 

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