21 DE NOVEMBRO DE 2022

27ª SESSÃO SOLENE DE INSTALAÇÃO DO PAINEL INTERNACIONAL DE PARLAMENTARES PELA LIBERDADE RELIGIOSA NO BRASIL - IPPFORB

 

Presidência: DRA. DAMARIS MOURA

 

RESUMO

 

1 - DRA. DAMARIS MOURA

Assume a Presidência e abre a sessão.

 

2 - DR. MARKUS HENRIQUE TAVARES

Mestre de cerimônias, anuncia a composição da Mesa. Convida os presentes a ouvirem, em pé, o "Hino Nacional Brasileiro".

 

3 - PRESIDENTE DRA. DAMARIS MOURA

Informa que a Presidência efetiva convocara a presente sessão solene, para o "Lançamento do Painel Internacional de Parlamentares para liberdade de religião ou crença - IPPFORB", por solicitação desta deputada, na direção dos trabalhos. Agradece aos líderes religiosos, institucionais, autoridades civis, consulares e todos os presentes.

 

4 - JANAINA PASCHOAL

Deputada estadual, faz pronunciamento.

 

5 - TENENTE NASCIMENTO

Deputado estadual, faz pronunciamento.

 

6 - CORONEL NISHIKAWA

Deputado estadual, faz pronunciamento.

 

7 - FERNANDO MARANGONI

Deputado federal, faz pronunciamento.

 

8 - PRESIDENTE DRA. DAMARIS MOURA

Lembrou o momento no qual conheceu a fé bahai. Cumprimentou os ausentes, perseguidos em razão da religião ao redor do mundo e no Brasil.

 

9 - DR. RODRIGO VITORINO

Doutor em direito, pesquisador líder do Centro Brasileiro de Estudos em Direito e Religião e palestrante, faz pronunciamento.

 

10 - DRA. FERNANDA SAN MARTIN CARRASCO

Ativista pelo direito das mulheres, advogada e atualmente Program Manager para a América Latina do Painel de Parlamentares para a Liberdade de Religião e Crença, faz apresentação sobre o IPPFORB.

 

11 - PRESIDENTE DRA. DAMARIS MOURA

Faz leitura e assinatura da Declaração de São Paulo, para a instalação da IPPFORB no Brasil, juntamente com a Dra. Fernanda San Martin Carrasco, coordenadora do Painel para a América Latina. Agradece a Dra. Fernanda pela confiança nela depositada para coordenar o Painel no Brasil. Cita Rui Barbosa, que disse que a liberdade religiosa é a mais pacificadora de todas as liberdades. Discorre sobre suas experiências durante 20 anos de trabalho. Menciona as 3 dimensões da liberdade religiosa: subjetiva, social e organizacional. Ressalta que foi a autora da primeira lei pela liberdade religiosa, em vigor há dois anos, e que hoje já está em 4 estados brasileiros. Faz agradecimentos gerais. Encerra a sessão.

 

* * *

 

- Assume a Presidência e abre a sessão a Sra. Damaris Moura.

 

* * *

 

O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - SR. MARKUS HENRIQUE TAVARES - Senhoras e senhores, boa noite. Sejam todos bem-vindos à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

Esta é a sessão solene que tem como finalidade o lançamento do Painel Internacional de Parlamentares para a Liberdade Religiosa e de Crença, a IPPFORB.

Comunicamos aos presentes que esta sessão solene está sendo transmitida ao vivo pela TV Alesp e pelos canais do Youtube, da Alesp e também da deputada Dra. Damaris Moura.

Convidamos para compor a Mesa diretora a deputada estadual Dra. Damaris Moura; convidamos também a deputada Dra. Janaina Paschoal; convidamos o deputado Coronel Nishikawa; convidamos o deputado eleito federal, Fernando Marangoni; convidamos o Dr. Rodrigo Vitorino; Dra. Fernanda San Martín Carrasco; Professora Vânia Maria da Silva Soares; Sheik Mohamad Al Bukai.

Convido a todos os presentes, para em posição de respeito, ouvirmos o Hino Nacional Brasileiro tocado pela Banda da Polícia Militar.

 

A SRA. DRA. DAMARIS MOURA - PSDB - Eu gostaria, antes da execução do Hino, de convidar o deputado Tenente Nascimento e o deputado Castello Branco, que já estão conosco, que por favor tomem assento à Mesa, e em virtude dos compromissos que os senhores terão, usarão a palavra com a precedência.

Muito obrigada pela presença. Desculpe, devolvo ao cerimonial.

O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - SR. MARKUS HENRIQUE TAVARES - Nesse instante, então, ouviremos o Hino Nacional Brasileiro tocado pela Banda da Polícia Militar.

 

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- É executado o Hino Nacional Brasileiro.

 

 

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O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - SR. MARKUS HENRIQUE TAVARES - Podemos nos assentar.

Com a palavra, a deputada estadual Dra. Damaris Moura.

 

A SRA. DRA. DAMARIS MOURA - PSDB - Boa noite a todos. Eu quero cumprimentar, inicialmente, esta Mesa ilustre que nos acompanha neste evento, que eu considero tão histórico e significativo para a liberdade religiosa no Brasil.

 Eu quero pedir licença para declinar os nomes, estão comigo aqui. E não pela ordem de importância, mas estão me ladeando a deputada Janaina Paschoal, uma querida amiga, relatora da Lei Estadual de Liberdade Religiosa, da minha autoria, e tem sido com quem eu compartilho tantos anseios relacionados à defesa desse direito. Muito obrigada deputada.

Ao seu lado, está o querido amigo deputado federal eleito, deputado Marangoni. Foi secretário executivo da habitação do estado de São Paulo, nesta última gestão. E tem manifestado o interesse em se juntar a nós numa luta que não pode ser apenas do estado de São Paulo, deputado, precisa ser nacionalizada.

Nós o faremos e, certamente agora, com mais instrumentos de atuação, que é o objetivo dessa sessão solene, a instalação no Brasil do Painel Internacional de Parlamentares pela Liberdade Religiosa e de Crença.

Quero cumprimentar a sempre deputada nacional da Bolívia, a Dra. Fernanda San Martin, minha colega, advogada e que exerceu com brilhantismo o seu mandato nacionalmente em nosso país vizinho, a Bolívia.

A Dra. Fernanda coordena os trabalhos do Painel Internacional de Parlamentares pela Liberdade Religiosa em toda a América Latina. Tornou-se uma amiga, nós temos nos encontrado frequentemente mesmo que virtualmente, não é Dra. Fernanda? E ela tem uma história muito exitosa na defesa da liberdade religiosa, dentre outros direitos humanos, pois esta é a sua vocação.

Também está conosco à Mesa, representando o secretário da justiça, a professora Vânia Soares. Professora Vânia é a coordenadora do Fórum Inter-religioso por uma Cultura de Paz e Tolerância Religiosa da Secretaria da Justiça do Governo de São Paulo.

E com a professora Vânia, nós já temos feito uma longa caminhada. É uma mulher notável pelo compromisso que tem no combate à intolerância religiosa. E ela hoje representa muitos membros do Fórum Inter-religioso da Secretaria da Justiça, que também estão conosco nessa sessão solene, e que tem se reunido desde o ano de 2006.

E eu lá estava, deputado Marangoni, quando o fórum foi criado na Secretaria de Justiça e nos saudamos, na pessoa da professora Vânia, os membros do fórum que estão conosco aqui também.

À minha esquerda, está o querido amigo deputado Coronel Nishikawa, que prontamente... Foi muito interessante o aceite do convite do Coronel Nishikawa porque ele demonstrou igualmente... Deputado, eu quero agradecer o seu interesse em se aprofundar.

E é o objetivo deste painel: Não só envolver parlamentares - que já têm uma luta em defesa da liberdade religiosa - como também envolver outros que se interessam em aprender, em se capacitar, e o Coronel Nishikawa, nosso deputado aqui da Casa, é uma destas autoridades que manifestou este interesse.

Cumprimentar meu querido amigo, deputado Tenente Nascimento. Com ele eu tenho contado também nas lutas pela liberdade religiosa. Prontamente aceitou o convite, embora tenha compromissos, mas ele disse: “eu quero estar lá ao seu lado”. Deputado, nesse momento nós estamos percebendo, com clareza aqui, os parlamentares que manifestam interesse nesta Casa em seguir conosco nesta caminhada.

Quero cumprimentar meu querido amigo Dr. Rodrigo Vitorino. Dr. Rodrigo Vitorino é uma das maiores autoridades do mundo, queridos. Nós temos a honra de recebê-lo nesta noite em defesa da liberdade religiosa. Ele é o fundador do Cedire, que é o Centro de Estudos em Lei e Religião da Universidade Federal de Uberlândia, Minas Gerais.

Mas o Dr. Rodrigo é do mundo inteiro porque ele tem viajado este planeta oferecendo o seu conhecimento técnico, acadêmico, em defesa desse direito. Nós precisamos da academia e o Dr. Rodrigo, deputada Janaina, tem nos oferecido com brilhantismo este conhecimento técnico e acadêmico.

E ele tem apoiado o Painel Internacional de Parlamentares pela Liberdade Religiosa com as capacitações, que um dos objetivos do painel é capacitar pessoas para a defesa da liberdade religiosa.

Está conosco, e eu quero ceder o meu lugar para você, deputado Castello Branco. Desde o começo, quando nós manifestamos, nesta Casa, a nossa luta pela liberdade religiosa, eu tenho podido contar com a presença e a parceria do deputado Castello Branco.

Ele está com um grande evento ali do lado. Por isso que ele ficou ali no cantinho, porque eu sei que a qualquer momento ele precisa se ausentar. E não há nenhum problema, isso já estava combinado. Deputado Castello Branco, eu quero agradecer a honra da sua presença, estar entre nós aqui.

Tomou assento à frente, e gentilmente cedeu o seu lugar, o sheik Mohamad Al Bukai lidera a maior mesquita do Brasil. A Mesquita Brasil leva este nome. E igualmente o sheik Mohamad Al Bukai tem caminhado conosco, gentilmente, e tão qualificado, defendendo liberdade religiosa para todos. Sheik, é sempre uma honra tê-lo aqui.

Eu quero, na sequência, não posso deixar de cumprimentar, está representada aqui hoje, e vou pedir para que fique de pé, a Defensoria Pública do Estado de São Paulo, na pessoa de dois defensores, amigos, que estão ali atrás. Eu vou cumprimentar a ambos na pessoa do doutor Rafael Pitanga.

Aliás, o doutor Rafael já recepcionou, na Defensoria Pública, casos por nós encaminhados, de intolerância religiosa neste Estado. Porque a Defensoria Pública tem um núcleo de combate à intolerância, em todas as suas formas. E eu gostaria de agradecer à Defensoria Pública pela presença.

Eu vou quebrar as formalidades porque eu estou vendo, esse público é bem representativo e bem qualificado. Eu preciso mencionar as pessoas. Eu quero mencionar a B'nai B'rith, representada aqui hoje pelo seu presidente nacional, o doutor Abraham Goldstein; pelo seu vice-presidente, Edgar Lagus.

É a mais antiga entidade judaica do mundo e que tem sido a nossa parceira. Aliás, parceira também da OAB, quando fui presidente da Comissão de Liberdade Religiosa, das nossas lutas em defesa da liberdade religiosa. Especialmente, fazendo um trabalho educativo.

Nós temos alguns representantes das religiões de matrizes africanas. Pai Evandro, Pai Akim, Pai Rafael, eu quero pedir licença. Acho que Mãe Carmem não pôde vir. Ai, que pena!

Estaria conosco à mesa, representando a casa de Mãe Carmem de Oxum, que é uma grande liderança na defesa da liberdade religiosa neste País. Leve a ela os meus cumprimentos. Na pessoa desses religiosos, eu cumprimento todos os religiosos de matrizes africanas aqui presentes.

Cumprimento líderes da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, mais conhecidos como mórmons, que estão conosco, alguns dos seus líderes, aqui. Cumprimento lideranças da Igreja Adventista do Sétimo dia, que estão conosco também.

Vou fazê-lo na pessoa do professor Helio Carnassale, que, por muitos anos, representou a Igreja Adventista em toda a América do Sul e criou os fóruns regionais de liberdade religiosa em toda a América do Sul. Muito obrigada, professor Helio Carnassale. Estou tão preocupada de cometer injustiça.

Temos os parlamentares municipais que estão conosco. O vereador Normino, de Itu, meu querido amigo. A vereadora Rosa Filippo, de Guaratinguetá, minha querida amiga. Onde ela está? Pequenininha como eu, está aqui também representando o interior do Estado, o parlamento municipal. Eu sei que há assessorias de outros deputados da Casa.

Eu quero cumprimentar, representando o budismo nesta noite, o meu querido amigo, monge Hyosan, que está conosco à mesa, representando o prefeito de São Lourenço da Serra. Está aqui o meu querido amigo Lyon, que está ali na Secretaria de Assistência Social, representando o secretário de Assistência Social do Município de São Paulo.

Qual dos dois representa o secretário? Cadu? O querido Gedeon, por favor, Gedeon. Já compartilhamos juntos o Fórum Municipal de Combate à Intolerância Religiosa. Gedeon hoje representa aqui o secretário Carlos Alberto Bezerra, que estaria conosco, e que também é um parlamentar municipal. Temos ainda dois cônsules conosco nesta noite.

O cônsul de Cuba, onde está? Me deram as fichas, e já estou comentando todas. Querido amigo, cônsul de Cuba, estou localizando o seu nome. Já está aqui. Do México, Gabriel Mendoza, representando o cônsul de Assuntos Culturais do México no Brasil.

Muito obrigada, Gabriel, por sua presença conosco. Está ainda conosco Luiz Fernando, que é o cônsul geral do Paraguai. Onde está Luiz Fernando? Muito obrigada. Agora sim, Pedro Monzón, que é o cônsul geral de Cuba. Ah, representando o deputado Cezinha da Madureira, deputado federal, o querido Olavo de Castilho está conosco.

Acho que já apresentei o sacerdote de Ifá, Akódá. Vamos lá. Jorge Lúcio, representando o Empreendedorismo Negro aqui no estado de São Paulo. O bispo Jorge, representando a Estaca São Paulo Sul. Já falei de Pai Evandro.

A doutora Ingrid Mônaco, representando a nossa Universidade Mackenzie. E o babalorixá Carlito, que está aqui, querido amigo, representando Mãe Carmem de Oxum. E o bispo Icaraí, que representa a Estaca de São Bernardo do Campo.

A todos os amigos, uma palavra de gratidão. Eu tenho repetido, Janaina, você sabe: aprendi com um grande pensador: a maior de todas as virtudes humanas é o dever de gratidão. Eu não estou mais gostando de pessoas ingratas.

Aliás, representando o xamanismo, o meu querido amigo Emerson Pantaleo, representando uma religião importante. É um parceiro importante na luta do combate à intolerância religiosa no estado de São Paulo.

A maior de todas as virtudes humanas é o dever de gratidão. Então a minha palavra agora é de gratidão. Todos os que estão aqui, líderes religiosos, institucionais, autoridades civis, religiosas, cônsules, autoridades consulares, estão porque se interessam por este tema.

Portanto, nós temos um público qualificado. E, na presença do qual, nós estaremos hoje, nesta sessão solene, que é tão significativa para o Brasil, que é a instalação do Painel Internacional de Parlamentares pela Liberdade Religiosa e de Crença.

Olha, eles colocaram muitas coisas para eu dizer. Tem até um discurso aqui, mas eu vou poupá-los desse discurso. Eu encerro a minha participação inicial nesta sessão solene. Então, manifestando o meu apreço e a minha gratidão a todos que estão conosco.

Alguns avisos especiais. Todos receberão um certificado de participação nesta sessão solene, oferecido pelo IPPFORB, Painel Internacional de Parlamentares pela Liberdade Religiosa e de Crença. A doutora Fernanda depois vai mostrar.

Todos receberão no seu email este certificado de participação. Portanto é importante deixar o seu email registrado nas nossas listas, que estão ali à saída, e estiveram à entrada.

Também gostaríamos de pedir a todos. Ao final da apresentação da doutora Fernanda San Martin, ela vai encerrar a sua fala, que vai consistir, e será extraordinário, na apresentação deste painel: quando surgiu, os seus propósitos, os seus objetivos.

Ele está presente em 90 países do mundo. E o Brasil vai compor este grupo de países que compõem este painel. E todos receberam, para apreciação, a Declaração de São Paulo pela Liberdade Religiosa.

Baseado em documentos internacionais, não há nenhuma novidade para os senhores que estão aqui, muitos dos quais já estão envolvidos na defesa da liberdade religiosa. Está aí, para a apreciação de todos.

No encerramento da fala da doutora Fernanda, ela vai convidar-nos a todos, simbolicamente. Ela e eu assinaremos a Declaração de São Paulo aqui à mesa e os senhores poderão assinar, à saída. Lá nós já temos a lista para que todos possam ser signatários da Declaração de São Paulo pela Liberdade Religiosa, na noite de hoje.

Dito isto, eu passo então, nesse momento, para saudações. E os nossos colegas deputados já estão acostumados a isto. Eu vou passar, nesta sequência, não por ordem de prioridade. Mas vamos passar, nesta sequência, a palavra para fazer a sua saudação.

Eu começo então com a deputada Janaina Paschoal.

 

A SRA. JANAINA PASCHOAL - PRTB - Muito obrigada, deputada Damaris. Na pessoa de V. Exa., saúdo toda a Mesa, e todos os líderes políticos e religiosos aqui presentes. É uma alegria muito grande poder participar dos projetos de V. Exa., todos voltados à proteção dessa liberdade de crença e liberdade religiosa, que eu considero - de há muito, não é de agora - a mais importante das liberdades.

Por quê? Porque quando nós falamos em diversidades, em diferenças, em respeito, nós, em regra, falamos de diferenças que não são escolhidas. Nós não escolhemos ser homem, mulher, branco, negro, rico, pobre, hétero, homossexual. Nós nascemos. Pelo menos a psicologia hoje diz que a orientação sexual é determinada geneticamente. Agora, a religião nós escolhemos.

Então, quando se respeita o outro, deve-se respeitar primeiramente as suas escolhas. Porque quando eu respeito algo quer é herdado, algo que não é possível de ser escolhido, na verdade é um respeito “vírgula”. Quando eu respeito o outro, e esse outro escolhe um caminho que é diferente daquele que eu considero o certo, que eu considero o melhor, eu estou respeitando de verdade.

É por isso que nos tratados internacionais dos direitos individuais a liberdade de crença e de religião vem antes da liberdade de expressão ou de manifestação, porque ela é intrínseca à própria noção de liberdade, e ela tem a ver com a maneira que a criatura se reconecta ao criador, daí a maior relevância dessa liberdade.

É a maneira que cada um de nós encontra um caminho de compreender, de sustentar a dificuldade que é a existência terrena. É a forma de reconectar as criaturas ao criador.

Então, eu quero cumprimentar todos os que estão aqui presentes, por esse exercício de proteção da liberdade primeira, que é a liberdade de crença, a liberdade de religião, de ter, de manter, de, por uma circunstância da vida, mudar, de educar os filhos conforme a própria fé, de professar essa fé, de praticar a ritualística dessa mesma fé. São liberdades importantíssimas para a humanidade.

Então, eu digo à colega Damaris, aos parlamentares, a todos que estão aqui presentes, contem comigo sempre. Não é como parlamentar, ou, daqui um tempinho, como ex-parlamentar, ou como professora de direito, ou como advogada. Como ser humano, porque é uma necessidade para cada um de nós.

Então, é um encontro harmonioso, um encontro com as melhores bênçãos, com as melhores vibrações. Que seja um encontro de mentes, mas, sobretudo, encontro de almas. Sejamos todos abençoados, neste painel, e em todos os seus futuros trabalhos.

Muito obrigada. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - DRA. DAMARIS MOURA - PSDB - Eu agradeço a deputada Janaina Paschoal. Ela é muito sensível a esse assunto, tem sido uma parceira, uma amiga, e temos sonhado muito juntas a esse respeito. Muito obrigada, deputada.

Eu passo a palavra agora ao deputado Tenente Nascimento, em decorrência de um evento que ele precisa também comparecer. Deputado, querido, tem a palavra para sua saudação.

 

O SR. TENENTE NASCIMENTO - REPUBLICANOS - Boa noite a todos vocês. Quero cumprimentar aqui a deputada Damaris, uma parlamentar exemplar, que muito aqui nos ensinou junto ao Parlamento nessa legislatura. Enriqueceu esta Casa com o seu trabalho, e não poderia ser diferente.

Estamos hoje em uma solene como esta, e está dizendo a diferença que faz uma parlamentear com compromisso com o povo, de uma forma geral, interdenominacional. Deputada Janaina, nossa sempre professora.

Ela fala que: “não, estou deputada”, mas sempre professora, e temos recebido diversos amigos. “Olha a deputada, Janaina. Fui aluno”. E, com certeza, vai continuar exercendo com muita galhardia aquilo que nos ensinou aqui, que aprendemos juntos nesta Casa.

Cumprimento a todos, para não errarmos a questão dos nomes. Que possam realmente se sentir em casa. Esta Casa é de vocês. Esta Casa realmente é para que vocês estejam conosco. Por causa de vocês, nós aprovamos leis importantes para que a igreja, a religiosidade, pudessem exercer de uma forma natural, de uma forma com liberdade.

Eu quero citar apenas três delas. Quero citar aqui que nós aprovamos, através da Lei nº 17.268, durante a pandemia, o Art. 10, de nossa autoria, com o aval e com a unanimidade dos parlamentares que aqui estão, deputada Damaris, deputada Janaina, deputado Nishikawa, que eu sempre cumprimento como nosso decano, e exemplar decano, comandante mais antigo, mais graduado, Coronel Nishikawa, que foi durante pandemia, quando nós tínhamos a dificuldade de visitar os nossos entes queridos.

Então, nós aprovamos aqui a visita virtual, familiar e religiosa, para que todos aqueles pudessem realmente visitar, de forma virtual, o seu ente querido, o seu familiar, independentemente de religião, seja o padre, seja a sua religião afro, ou seja o judaísmo.

Então, foi aprovada aqui nesta Casa. Pensando o quê? Que a religião precisou entrar dentro dos hospitais de uma maneira também virtual. Então, foi aprovada aqui por unanimidade, para que pudéssemos realmente dar a última palavra.

Nós perdemos também entes queridos, e teve um sobrinho meu que eu falei com ele às dez horas da manhã, e, quando foi à noite, ele veio a falecer. Creio que tenha sido um alento para aquelas pessoas que estavam no hospital. Foi uma importante lei que foi aprovada aqui, porque para isso nós estamos aqui.

Aprovamos também a comunidade judaica, o dia do “Yom Kipur”, a Dia do Perdão, para que a comunidade judaica pudesse exercer nesse dia a sua atenção a uma das datas mais importantes para o judaísmo.

E, por último, que nós tivemos a grande dificuldade, onde os templos, de uma maneira geral, foram fechados. Pode funcionar 30%, 10%, 20 por cento. Então, a Frente Parlamentar Evangélica, e a frente capitaneada aqui pelos parlamentares que estão aqui diretamente, que estão neste plenário envolvidos, para que pudéssemos, sim, a igreja e as religiões, como serviço essencial.

E digo a vocês, com muita tranquilidade, a religião, as igrejas, todos aqueles praticantes de religião, foi fundamental no combate à pandemia aquele conforto espiritual, seja qual for a sua fé processada.

Então, nós aprovamos aqui projeto de lei em que a religião, que os templos não mais viessem a ser fechados. Porque aprovamos, foi para o governo, vetou, nós trouxemos de volta para este plenário, e agora os templos, de qualquer forma ou religião, não poderão mais ser fechados, porque é serviço também essencial, para que você pratique a sua fé, observando, logicamente, as normas estabelecidas pelo Ministério da Saúde.

Então, eu quero dizer a vocês, deputada Janaina, deputada Damaris, deputado Nishikawa, que a importância que é a inter-religiosidade, que é essa liberdade de, realmente, continuar, de professar a sua fé. Eu quero aqui agradecer, por ter participado, sim, deste Parlamento, durante esse período, e eu hoje aqui estou muito feliz em saber que alguém se preocupa. Como disse a deputada Damaris, parlamentar que se preocupa realmente da integridade entre os povos através da religião.

Muito obrigado, e uma boa-noite a todos.

Parabéns, deputada Damaris.

Parabéns a todos vocês.

 

A SRA. PRESIDENTE - DRA. DAMARIS MOURA - PSDB - Nós agradecemos a participação do querido amigo, deputado Tenente Nascimento, que manifestou aí as legislações das quais foi autor, e que contribuíram, sim, com a garantia e a manutenção, inclusive, da essencialidade da atividade religiosa.

Neste momento, então, eu passo a palavra ao colega deputado Coronel Nishikawa, para sua saudação.

 

O SR. CORONEL NISHIKAWA - PL - Boa noite a todos. Dra. Damaris, quando a senhora me mandou a mensagem, eu não poderia jamais deixar de participar de um evento que diz sobre Deus. Deus nos provê aquilo que nós precisamos.

Eu sempre defendi Deus, família e pátria, porque sem Deus nós não temos família e sem família nós não temos pátria. Acho que eu já andei por quase todas as religiões, às vezes por curiosidade, às vezes por algumas divergências de fé, mas o nosso Deus é o mesmo para todos que aqui estão.

Pela diversidade de povos que nós temos aqui no nosso País, não há como você ser ou ter uma religião só, por isso que o nosso País é considerado como laico. O laicismo permite que a igreja se separe da religião. Eu aprendi quando estudei num colégio, no ginásio.

A gente tinha aula de Igreja Católica. Fui batizado aos 12 anos, mas sempre, quando a gente tem um certo discernimento do que é, a gente caminha por outros caminhos. Não é aquilo que normalmente nós queremos quando nós temos essa, vamos dizer assim, essa instrução.

Hoje, sou cristão, como muita gente é. O Brasil é um País cristão e eu tinha que vir aqui, sim. Tinha que vir, Dra. Damaris, porque devo tudo a Deus, o que eu tenho, o que eu faço. Faria tudo novamente.

Muita gente julga a gente sem nos conhecer, sem conhecer a nossa essência. Isso faz com que a gente seja julgado por coisas que a gente nem faz, mas essa é a nossa vida.

Deus jamais nos deixará sozinhos, por isso, defendo sempre a diversidade religiosa. O Deus, para todos, é o mesmo Deus e nós temos que respeitá-lo. Nós temos que, acima de tudo, ficar de joelhos para quem nos provém.

É isso. Vou ser breve, Dra. Damaris. Na verdade, eu sou até coautor lá com o Castello Branco. Ele pediu para eu ir para lá, mas eu vou permanecer aqui, me sinto bem aqui, tá?

Muito obrigado.

Que Deus acompanhe a todos. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - DRA. DAMARIS MOURA - PSDB - Agradecer ao deputado Coronel Nishikawa, porque ele nos escolheu, não é? Afinal, ele tem duas opções e ele está escolhendo permanecer conosco. Muito obrigada. É só uma brincadeira, tá, deputado? Obrigada, viu, meu amigo?

Nós vamos convidar para compor a Mesa, representando a diversidade religiosa que nós temos aqui nesta noite... Não poderemos convidar todos, naturalmente, mas eu quero convidar...

Vou priorizar aqui as mulheres, viu? Mãe Carmem não veio, estaria à Mesa, então eu vou convidar a Mãe Andréia de Iemanjá, que é ialorixá do Candomblé, para que tome assento à Mesa aqui conosco.

Eu quero convidar o monge Ryozan, representando o Budismo, para estar conosco aqui à Mesa. Por favor, monge. Quero convidar o Dr. Abraham Goldstein, representando o Judaísmo, para estar aqui conosco à Mesa também.

Quero convidar, representando o Xamanismo, o querido Emerson para estar aqui à Mesa conosco. Representando as religiões cristãs que estão aqui conosco, eu quero convidar então o professor Helio Carnassale, para que tome assento à Mesa conosco, representando as denominações cristãs que estão conosco aqui à Mesa.

Quero convidar o meu amigo Dr. Rafael Pitanga, representando a querida Defensoria Pública do Estado de São Paulo. Eu tenho uma estima enorme pela Defensoria, porque tem sido uma parceira no combate à intolerância religiosa. Dr. Rafael, por favor, querido, tome assento à Mesa.

Queridos, eu não tenho condição de dar a palavra a todos os ocupantes da Mesa, porque esta sessão se estenderia sobremaneira. Eu desejo muito ouvi-los todos, mas, das autoridades aqui à Mesa, fará uso da palavra agora o deputado Fernando Marangoni. Quando eu conheci o deputado Fernando Marangoni, deputado federal eleito, era então secretário executivo da Habitação.

O senhor me tocou muito naquele dia em que lhe conheci, porque ficou muito claro para mim a sua vocação na defesa dos direitos humanos, sua sensibilidade, sua gentileza no trato interpessoal e outros comportamentos que me fizeram imediatamente o convidar.

Não convidamos todos porque, naturalmente, a gente convida aqueles que a gente sabe que têm uma vocação para a defesa desse direito. Eu pensei no seu nome, então, nós queremos agora ouvir a sua saudação.

Então, deputado Fernando Marangoni.

 

O SR. FERNANDO MARANGONI - Boa noite a todos aqui presentes. Eu queria iniciar agradecendo à minha querida amiga, nossa deputada estadual Damaris, pela iniciativa, por todo o trabalho que a Damaris presta ao estado de São Paulo.

Para mim, é uma honra imensa compor esta Mesa, Damaris - obrigado pelo convite - principalmente cercado de mulheres e autoridades tão guerreiras e tão importantes para a construção da democracia e da liberdade no nosso País.

Nossa deputada Janaina; a Fernanda, que coordena aqui o painel na América Latina; a nossa querida amiga, que mande um abraço, professora Vania, para o meu querido amigo secretário de Justiça Fernando José da Costa, grande amigo.

Cumprimentar, e estender o cumprimento aos demais parlamentares aqui presentes e autoridades, um querido amigo e conterrâneo, Coronel Nishikawa, que está aqui conosco, Rodrigo Vitorino, todas as autoridades religiosas aqui presentes.

Sabe o que é mais lindo desta sessão? É ver todas essas diversas autoridades religiosas juntas, congregadas aqui, neste plenário, numa procissão de fé e de segurança jurídica a um direito mais do que fundamental, mas, como a nossa deputada Janaina colocou aqui, sagrado, que vem antes de todos, porque ele parte e nasce da nossa liberdade de escolha, da liberdade de escolha da nossa fé, e a gente sabe que não tem algo mais importante do que a fé para nos guiar em todos os caminhos da nossa vida.

Então, é uma honra para mim estar aqui hoje, defender e trazer aqui o nosso mandato, como deputado federal, Damaris, para defender com unhas e dentes a liberdade religiosa e combater a intolerância religiosa, essa liberdade de a gente professar aquilo em que a gente acredita.

Então, contem - todas as autoridades aqui presentes; Damaris, você, sempre; deputados e deputadas - com o nosso mandato, com a nossa luta. Estamos ao lado de vocês nessa luta pela liberdade religiosa, já garantida nos tratados internacionais, na declaração americana, na Declaração dos Direitos Humanos, garantida pela laicidade do Estado, no nosso Art. 5º, que traz o compromisso para o Estado dessa separação entre estado e religião.

Acima de tudo, assegurar aquilo que... Tem um filósofo espanhol, Juan Zaragüeta, e ele definiu religião como a homenagem do homem a Deus, ao Deus em que a gente acredita, ao Deus em que a gente escolheu acreditar e que garante para a gente esta convivência harmoniosa e os princípios que todas as religiões que estão aqui defendem: a caridade, a generosidade, o respeito, a tolerância e o amor.

Deputada Damaris, parabéns mais uma vez pela sua iniciativa. Conte comigo e com o nosso mandato e que Deus abençoe a todos nós. Contem conosco na Câmara Federal.

Muito obrigado, gente. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - DRA. DAMARIS MOURA - PSDB - Agradeço ao deputado Marangoni. Nós queremos compromissos assumidos aqui, hein? Não vou me esquecer. Olhe, querido, esta sessão está sendo transmitida ao vivo, em TV aberta, para todo o estado de São Paulo. O deputado, brincadeiras à parte, mas assume conosco esse compromisso de engrossar as fileiras do nosso Painel Internacional de Parlamentares pela Liberdade Religiosa.

Eu quero convidar, para também compor esta Mesa, Jurema. Jurema representa aqui, nesta noite, a Fé Bahá'í. Onde está Jurema? Por favor, querida. Eu conheci a Fé Bahá'í quando era presidente da Comissão de Direito e Liberdade Religiosa da OAB; fui presidente por 12 anos. E uma das experiências, Jurema, que eu vivenciei... Pode tomar assento; tem uma cadeira para a Jurema aí, não é, gente? Tem, tudo certo.

E eu conheci a Fé Bahá'í, Jurema, ao recebermos um grupo de bahá'ís que vivem no Brasil. E aqui também vocês são uma minoria religiosa. E esse grupo de bahá'í, deputada Janaina, nos pedia que fizéssemos, a OAB fizesse uma intervenção junto à embaixada do Irã em favor de um grupo de bahá'ís condenados por um tribunal iraniano a renunciar à sua fé em favor da fé islâmica.

Esses bahá'ís não o fizeram, e estavam condenados. E muitos organismos de direitos internacionais, no mundo, foram provocados a se manifestar. E nós nos manifestamos, aqui do Brasil, por meio da Ordem dos Advogados e da sua Comissão de Liberdade Religiosa, que eu tive a honra de fundar e de presidir por 12 anos.

Portanto, a Jurema, ao tomar assento aqui, representa uma passagem importante do meu aprendizado na defesa da liberdade religiosa. Representa uma minoria religiosa que sofre em outras partes do mundo, e na pessoa dela, então, eu quero cumprimentar os ausentes, perseguidos por sua religião ao redor do mundo.

E perseguidos por sua religião aqui no Brasil também. Eu quero, inclusive, pedir a todos uma salva de palmas a esses bravos religiosos, que não cedem à sua escolha religiosa, mesmo sofrendo algum tipo de perseguição. (Palmas.)

Bem, eu peço desculpas, mais uma vez, por não termos tempo de ceder a palavra a todos que nós desejávamos tanto ouvir. Querida Andréia, minha amiga... Por questão regimental, então, a sessão solene tem a participação dos deputados que estão em Mesa, mas nós vamos agora, queridos, a uma parte muito importante.

Eu passo a apresentar o Dr. Rodrigo Vitorino. Ele é professor-adjunto da faculdade de direito da Universidade Federal de Uberlândia. Ele é doutor em direito pela faculdade de direito da Universidade de Coimbra, em Portugal, um dos mais importantes centros de direitos humanos do mundo. Dr. Rodrigo, eu não fiz um doutorado em Coimbra, mas fiz uma pós-graduação em direitos fundamentais. Tenho muita honra. Certamente, tivemos professores em comum nesses estudos de pós-graduação.

Ele é pesquisador, líder do Centro Brasileiro de Estudos em Direito e Religião - CEDIRE - e do Laboratório de Direitos Humanos, o LabDH, da Universidade Federal de Uberlândia. Ele é palestrante, conferencista nacional e internacional, especialista, convidado por instituições brasileiras e estrangeiras para tratar de temas relacionados ao direito, à religião e a direitos humanos.

Neste momento, então, eu passo a palavra para fazer a sua intervenção. Ele chegou hoje, não sei de onde. Mas chegou hoje, de algum lugar deste planeta, para nos dar a honra de ouvirmos aqui a este querido amigo, uma das grandes autoridades do mundo na defesa da liberdade religiosa.

Com a palavra, então, Dr. Rodrigo Vitorino. Se desejar, poderá usar a tribuna.

 

O SR. RODRIGO VITORINO - Boa noite a todas e a todos. Para mim, é uma grande satisfação estar aqui. Cumprimento especialmente a presidente desta Mesa, Dra. Damaris. É uma honra, Dra. Damaris, poder estar aqui na sua Casa, no seu Estado, compartilhando de uma área de atuação em que temos colaborado já há tempo. Cumprimento, na pessoa da Dra. Damaris, a toda a Mesa aqui composta e a todos os presentes.

Para mim, é uma grande satisfação participar deste momento tão importante. Contarmos aqui com a visita, a presença da Dra. Fernanda San Martin, que coordena o Painel Internacional de Parlamentares Para a Liberdade de Religião ou Crença, para toda a América Latina, uma organização tão importante, que tem reunido parlamentares de variadas nações, variados países, para refletirem, para interagirem em torno deste tema, que é um tema tão importante, tanto a nível internacional...

E aqui também saúdo as autoridades consulares aqui presentes, que representam, em grande medida, a comunidade internacional.

E também um tema importante, muito caro aqui para nós, internamente. Saúdo também a todas as autoridades parlamentares e governamentais que estão aqui presentes. É um tema importante para toda a sociedade civil.

Temos aqui uma grande diversidade de lideranças religiosas, representando tanto maiorias religiosas quanto minorias religiosas, tanto grupos que já são consolidados no país quanto grupos que são novos ou que são vulnerabilizados por diferentes situações históricas ou contemporâneas.

Para mim, é uma satisfação estar aqui neste momento para falar de um tema importante a todas as pessoas. Quando nós pensamos em liberdade de religião ou crença, muitas vezes associamos com a religião.

E podemos entender que é uma liberdade que diz respeito apenas à manifestação religiosa, apenas às pessoas que professam ou que acreditam, que manifestam algum tipo de religião ou de crença religiosa.

Mas na verdade a liberdade de religião ou crença é um direito de todas as pessoas, independentemente das suas convicções, independentemente das suas crenças. Porque a liberdade de religião ou crença fundamentalmente é o direito de ter, de não ter, de mudar de religião. E, portanto, todas as pessoas... Como vimos aqui, inclusive, experiências relatadas de mudanças religiosas.

As pessoas podem ter a segurança de que esse direito fundamental é um direito de todas e de todos; é um direito de maiorias e de minorias; é um direito de pessoas religiosas e de pessoas que não são religiosas. Porque fundamentalmente estamos falando de uma liberdade.

Como a Dra. Janaina Paschoal comentou aqui, uma das grandes liberdades que nós temos, a primeira das liberdades. Se nós formos pensar a história dos direitos humanos contemporâneos, como nós os compreendemos, a liberdade de religião ou crença desempenhou um papel fundamental.

E, inclusive, precedendo historicamente a própria liberdade de consciência, porque primeiro se possibilitou crer diferente, para depois ter convicções, em geral, diferentes.

Estamos falando de uma liberdade que é antiga, que tem sido objeto de lutas históricas dos mais diversos grupos. Já ouvimos aqui relatos de lugares distintos dos nossos e de épocas distintas também.

Temos todos os grupos religiosos em alguma medida envolvidos com esse interesse, com essa luta pela liberdade de religião ou crença, porque é a liberdade que possibilita a existência das comunidades religiosas, ao mesmo tempo em que as pessoas sem religião também lutam por essa mesma liberdade, porque não querem ser coagidas ou, por coerção, serem obrigadas a professar esta ou qualquer religião ou crença que não seja de sua escolha.

É um direito de todas as pessoas, em todos os lugares; é um direito afirmado pelos principais instrumentos internacionais de direitos humanos; é também um direito reconhecido por diferentes grupos, comunidades, organizações da sociedade civil, documentos dos mais diversos, em variadas épocas, desde os documentos relacionados à defesa contra a perseguição de séculos atrás, passando por toda a Idade Média. E aqui não precisamos fazer uma história de tudo isso; ficaria algo muito maçante.

Mas passa por documentos recentes, especialmente a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que reconhece precisamente esse direito de ter, de não ter, de mudar, de professar a religião ou crença.

Inclusive, esse direito é um dos direitos que internacionalmente não estão sujeitos a qualquer tipo de suspensão em situações de emergência. É um direito que os Estados não estão livres para, em situações emergenciais, impedir que as pessoas, em nome de qualquer motivo que seja, deixem de professar as suas religiões ou de manifestá-las.

A liberdade de religião ou crença contribui para o desenvolvimento humano de forma plena. É um direito essencial para o reconhecimento, para a afirmação, para a proteção, para a promoção de um dos princípios que são mais caros e que são reconhecidos pelas mais diversas Constituições por todo o mundo, que é o reconhecimento da dignidade humana.

Essa ideia básica que orienta boa parte daquilo que nós entendemos como direitos humanos, a ideia de que cada pessoa, independentemente das suas características pessoais, independentemente da sua forma de pensamento, das suas expressões, da sua manifestação religiosa ou das suas convicções, deve ser respeitada tão-somente pelo fato de ser humana.

Não é por causa de suas preferências políticas, não é por causa de sua vida religiosa, não é em função de sua cor, de sua origem étnico-racial, nacional ou qualquer outra que seja.

A dignidade humana exige que nós sejamos respeitados e que também tenhamos o dever de respeitar os outros, tão somente porque nos reconhecemos como seres humanos, membros e compartilhando da mesma humanidade.

A liberdade de religião ou crença, portanto, tem um valor intrínseco, porque ela possibilita, é uma condição de possibilidade para o exercício da nossa autonomia. A liberdade de religião ou crença fala da nossa concepção de mundo, de como nós enxergamos a realidade, o futuro, o passado, o presente, o porvir.

Se vivemos em um mundo que é transcendental ou imanentista; se vivemos em um mundo que é metafísico, espiritual ou materialista, a liberdade de religião ou crença possibilita as diferentes concepções ou a convivência das diferentes concepções. Portanto, se, de um lado, ela tem um valor intrínseco que está associado à afirmação da dignidade humana de todas as pessoas, em todos os lugares, de outro lado ela tem um valor instrumental, porque possibilita que nós vivamos pacificamente.

Muitas vezes a convivência pacífica se dá em meio às mais profundas divergências. A liberdade religiosa não é um tema necessariamente de consenso e de alinhamento, é uma liberdade.

Se é uma liberdade, portanto pressupõe que nós tenhamos caminhos diferentes, muitas vezes convicções que sejam fortes. É a liberdade que eu tenho, que você tem para pensar que você está certo e que o caminho que você escolheu é o caminho ideal, é o caminho sagrado, é o caminho que você entende que vai te levar à salvação.

Não estamos aqui falando da verdade no campo religioso. A liberdade religiosa é a possibilidade de que as pessoas explorem os caminhos, assumam as suas conclusões e tenham as suas convicções, que podem ser ora mais relativistas, podem ser ora mais exclusivistas. A liberdade religiosa é uma liberdade que assegura todas as formas de crenças e todas as concepções. No fundo, no seu núcleo, está a exigência e o dever de respeito.

Respeito pressupõe a diferença. Em geral, é muito fácil nós tratarmos bem aquelas pessoas que concordam conosco. É muito bom isso, não é, Dr. Fernando, quando alguém pensa como nós. É muito fácil, portanto, nós tratarmos bem, nós seremos amigos, nós andarmos juntos de pessoas que pensam como nós mesmos. Isso é muito bom, isso é muito fácil.

A liberdade religiosa é para situações difíceis, é exatamente para situações em que nós temos concepções de mundo que são completamente divergentes, em que você pensa que alguém está errado e que você está certo, mas você respeita, você não viola, e você inclusive defende o direito de pensar e crer de maneira distinta, de maneira diferente.

Por isso que a liberdade de religião ou crença é uma liberdade para todas as pessoas, em todos os lugares. É uma liberdade de religiosos e de não religiosos, é uma liberdade que é essencial e que faz parte do núcleo da democracia, da cidadania e da convivência no contexto da pluralidade cultural e religiosa.

Além disso, a liberdade de religião ou crença é fundamento da laicidade do Estado. Não podemos dissociar, Dra. Damaris, a concepção da laicidade do Estado das concepções dos direitos humanos e fundamentais. O Estado laico existe para a preservação dos direitos e garantias fundamentais. A laicidade do Estado vai exigir, de um lado, que Estado e religião - e não apenas a religião, Estado e as visões de mundo, sejam elas religiosas ou não religiosas - se identifiquem.

O Estado laico é o Estado que não é religioso e que não adota para si uma concepção, uma ideologia de uma filosofia de vida como sua, como oficial. Há uma separação entre essas duas esferas. O campo das decisões políticas, o campo da governança pública é uma coisa; o campo religioso, das convicções pessoais e coletivas é outro.

No entanto, esse mesmo Estado, por força de a laicidade decorrer dos próprios direitos fundamentais, é um Estado que deve assegurar a liberdade de todas as pessoas, inclusive possibilitando espaços como este, em que a sociedade está aqui representando os seus mais diferentes campos, as diferentes comunidades religiosas que estão aqui no espaço público, no espaço legislativo para manifestarem os seus interesses de maneira legítima, para dialogarem de maneira construtiva, como se faz em uma sociedade democrática, em busca de uma forma de convivermos coletivamente de modo pacífico.

Este talvez seja o grande objetivo que nos traz aqui: como nós podemos encontrar caminhos para convivermos pacificamente em uma sociedade profundamente diferente do ponto de vista religioso, e temos visto que isso tem aumentado a cada ano que passa.

Se há alguns anos nós éramos um país que tinha uma maioria religiosa católica, como é o nosso caso - há algumas décadas chegava a 90% nas estatísticas oficiais -, temos visto que, década após década, esse quadro muda.

Há diferentes configurações sociais que vão encontrando o lugar na sociedade brasileira, e consequentemente a sociedade precisa se adaptar. Governos, parlamentos não podem ficar alheios às mudanças e precisam agir de maneira a assegurar que essa convivência pacífica alcance todas as pessoas. Essa é a cultura de paz, como chamamos muitas vezes. Não é, professora Vania?

Existem diferentes frentes de atuação em relação à liberdade de religião ou crença no mundo. São organismos, organizações, instituições e pessoas militando em defesa da liberdade religiosa para todas as pessoas.

Às vezes são lutas particulares de determinados grupos, às vezes são lutas por todos os grupos religiosos. Temos encontrado diferentes organizações na sociedade civil. Aqui eu faço menção, por exemplo, à Ablirq, que desempenha um papel fundamental, sob a liderança do Dr. Samuel.

Assim, a partir desta, menciono aqui todas as organizações da sociedade civil que têm buscado promover, atuar de maneira intencional na defesa e promoção da liberdade religiosa.

Temos organizações que são relacionadas a comunidades religiosas específicas ou às próprias comunidades que, em função dos desafios que enfrentam historicamente, têm buscado ver reconhecida também a sua liberdade.

O campo acadêmico não tem estado distante dessa temática, e aqui, em alguma medida, eu represento, como um professor de direito que me dedico a esse tema, e tantos outros colegas que no Brasil e em diferentes partes do mundo têm buscado compreender melhor, discutir esse tema e fazer avançar a pesquisa nesse campo, assim subsidiando ações, iniciativas, políticas públicas, entre outras formas de atuação.

Órgãos governamentais, secretarias de segurança pública, secretarias de direitos humanos, ministérios e tantos outros órgãos governamentais, nas diferentes instâncias, do Poder Judiciário também.

Inclusive uma resolução do Conselho Nacional de Justiça determinou, ou recomendou, melhor dizendo, que escolas de magistratura promovam a capacitação dos seus magistrados e da sociedade de forma mais ampla no tema da liberdade de religião ou crença.

E agora, hoje, nós temos uma iniciativa tão importante, não que inove na temática no campo parlamentar, porque assembleia Legislativa do Estado de São Paulo tem um destaque muito especial no contexto nacional, e não podia ser diferente.

A Dra. Damaris já havia, com seu pioneirismo, iniciado, na Ordem dos Advogados do Brasil, a primeira Comissão de Direito à Liberdade Religiosa na Ordem, em todo o Brasil.

Depois inaugura aqui, com a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, a frente parlamentar em defesa não de um grupo específico, mas da liberdade de religião ou crença para todas as pessoas.

E agora aqui estamos em um momento inaugural tão importante, um momento fundacional, em que essa atuação nacional parlamentar em defesa da liberdade de religião ou crença ganha uma dimensão especial com a sua associação com o Painel Internacional de Parlamentares e ex-parlamentares para a liberdade de religião ou crença.

Esse é um passo muito importante, porque vai possibilitar que os parlamentares brasileiros... A atuação da Dra. Damaris sesse contexto é fundamental para possibilitar a sua relação com essa comunidade internacional de parlamentares para a troca de ideias e experiências para aprendizado mútuo. Eu queria que então finalizar com esse elogio à iniciativa do IPPFORB, Painel Internacional de Parlamentares para a Liberdade de Religião ou Crença, de estabelecer no Brasil um grupo nacional, como vai ser apresentado aqui na sequência.

E a atuação parlamentar é fundamental, seja no sentido de trazer a este foro público os temas mais relevantes da nossa sociedade para a discussão coletiva, para o aprendizado coletivo, seja para, por meio de suas ações legislativas, como temos aqui este exemplo também aqui da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, da criação da Lei Estadual de Liberdade Religiosa, porque, por meio das leis, torna-se mais concreto e dá-se maior segurança àquilo que está previsto no texto constitucional.

A Constituição assegura a liberdade religiosa para todas as pessoas, mas há muitos detalhes do exercício da nossa liberdade religiosa que não estão expressos, não estão claros, e a atuação do legislador, se bem orientada, discutida, construída coletivamente, pode conduzir a boas leis que vão beneficiar a todas as pessoas, como é o caso desta brilhante lei estadual da Alesp.

Dra. Damaris, muito obrigado por este convite. Fico muito honrado em poder proferir essas palavras. Conte sempre comigo. Para mim será um prazer colaborar e o mesmo digo a todas as instituições que estão aqui representadas.

O Cedire, o Centro Brasileiro de Estudos em Direito e Religião, está à disposição como instituição acadêmica a colaborar e interagir com os variados setores da sociedade.

Muito obrigado. Boa noite. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - DRA. DAMARIS MOURA - PSDB - Nós agradecemos ao Dr. Rodrigo. Ele, hoje, nem pode, em virtude do tempo e do caráter do nosso encontro, fazer um aprofundamento mais técnico sobre o tema, mas certamente teremos outras oportunidades de ouvi-lo. Ele deixou claro para todos nós esse compromisso que ele tem de pesquisar, de debater, de promover, de proteger esse direito.

Dr. Rodrigo, quem agradece sou eu, a sua presença aqui entre nós, a sua amizade, da qual posso desfrutar, os conselhos e os aprendizados que temos tido juntos em tantos encontros no Brasil e fora do Brasil também.

Então, agradecendo ao Dr. Rodrigo, vamos passar à parte final e muito importante da nossa sessão solene. Trata-se da apresentação da Dra. Fernanda San Martin Carrasco.

Antes, porém, quero cumprimentar, entre nós, e se desejar... Aliás, convido para tomar assento à Mesa a deputada estadual de Rondônia, Cássia Gomes dos Santos. Por favor, tome assento conosco à Mesa. Ela nos prestigia. Vou pedir uma salva de palmas para a deputada Cássia, afinal, estamos falando de um painel brasileiro. (Palmas.)

Deputada Cássia, nós convidamos deputados deste país inteiro, então, considero e imagino que todos aqui compartilhem do mesmo pensamento. Considero que a deputada Cássia, ao nos prestigiar, está representando parlamentares de todos os estados da nossa federação. Então, você muito nos honra com a sua presença. Por favor, tome assento conosco. Muito obrigada.

Cumprimento ainda, entre nós, o querido amigo, o reverendo Mahesh, representando... Por favor, fique de pé, Mahesh. É um importante parceiro, representando os Hare Krishna. O Mahesh eu conheço há quase 20 anos, um parceiro, um amigo especial. Mahesh, muito obrigada por sua presença aqui entre nós.

E cumprimento, representando a umbanda aqui nesta noite, o pai Ronald. Onde está o pai Ronald? Querido, muito obrigada por sua presença, por sua amizade e por sua parceria nessa luta.

Então, neste momento, queridos, passo a apresentar a Dra. Fernanda San Martin Carrasco, advogada pela Universidad Complutense de Madrid e Panthéon-Sorbonne, de Paris.

Ela é master e... Olha, você sabe que vou ter um problema aqui, porque dizem que baiano não fala inglês. E estou estudando, hein, deputado Marangoni! Meu marido me deixou complexada, que baiano não fala inglês.

Então, master in Management and Public Policy da Universidad Catolica Boliviana em acordo com Harvard. Ela é diplomada em resolução alternativa de litígios e arbitragem.

Ela é diplomada em educação superior, especialista em questões de igualdade substantiva, democracia, direitos humanos, direitos das mulheres, participação política das mulheres, violência e assédio político contra as mulheres e liberdade de religião e crença.

Tem experiência profissional de aconselhamento e consultoria para vários partidos políticos, fundações e para o Banco Mundial, entre outros. Foi deputada nacional, promotora e autora do projeto de lei para um binômio presidencial paritário, também para modificações à lei sobre violência e assédio político, também para alterações à lei para garantir às mulheres uma vida livre de violência, entre outras questões relacionadas com a igualdade e a não discriminação.

É fundadora do partido político Movimiento Democrata Social e diretora da escola política do mesmo partido, promotora do programa de liderança Girl2Leader Bolivia para meninas e adolescentes.

Atualmente, ela é “program manager” para a América Latina do Painel Internacional de Parlamentares para a Liberdade de Religião ou Crença, IPPFORB, que, na noite de hoje, então, inaugura os seus trabalhos no Brasil.

Desculpando-me pelo péssimo inglês, mas me comprometendo a falar melhor inglês em breve, eu passo a palavra à querida amiga Dra. Fernanda San Martin, que chegou ontem da Bolívia, mas tem viajado toda a América Latina realizando um extraordinário trabalho de promoção do IPPFORB.

Aliás, presente em 90 países do mundo, esse painel.

Temos a honra de, nesta noite, passar a integrar enquanto Brasil. Dra. Fernanda, você tem a palavra.

 

A SRA. FERNANDA SAN MARTIN CARRASCO - Muito obrigada. Cumprimento a Sra. Deputada Damaris Moura e, na sua pessoa, toda a Mesa composta aqui. A todos os líderes religiosos, corpo diplomático, ilustríssimos convidados, primeiro vou pedir desculpas pelo meu português. Eu sei que está um pouco enferrujado.

Primeiro, quero também agradecer à deputada e amiga Damaris Moura, porque é graças ao seu trabalho e compromisso com os Direitos Humanos e com a liberdade religiosa e de crença que nos possibilita hoje estar aqui com o IPPFORB, lançando, fazendo este histórico lançamento do Painel da Liberdade Religiosa e a instalação do grupo Brasil.

O Brasil, para mim, é um país que levo sempre no coração. São Paulo mais ainda, porque me traz muitas lembranças e saudades.

Então, entrando no que vimos aqui, eu vou comentar um pouquinho sobre a situação da liberdade religiosa no mundo inteiro. Setenta e cinco por cento da população mundial vive em países que restringem a prática livre e pacífica da religião.

Governos abusivos e grupos extremistas impedem cada vez mais os indivíduos de praticarem a sua fé por meio de violência ou repressão. No âmbito mundial, existem ameaças crescentes à liberdade de religião ou crença, incluindo discriminação, atos de violência ou a politização da religião ou crenças.

O tema que nos convoca no dia de hoje é certamente importante, como já mencionaram os deputados e autoridades que me precederam, mas, porém, um pouco invisibilizado em nosso continente, onde os problemas como fome, pobreza e discriminação racial e de gênero ocupam majoritariamente a agenda pública.

No entanto, esses mesmos problemas guardam íntima relação com a liberdade religiosa. A falta de liberdade religiosa afeta a segurança nacional e internacional, assim como preocupações humanitárias mais abrangentes.

Situações de repressão religiosa geram instabilidade e fomentam o extremismo e geram fluxos de refugiados e imigração em massa, ao mesmo tempo que ameaçam outros direitos fundamentais, incluindo a liberdade de expressão, associação ou reunião.

O Painel Internacional de Parlamentares para a Liberdade de Religião ou Crença, IPPFORB, é uma rede global de parlamentares e legisladores de todo o mundo empenhados no combate à perseguição religiosa e no avanço da liberdade de religião, tal como definido pelo Art. 18 da Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas.

Por conseguinte, a necessidade de os parlamentares estarem equipados e dotados de recursos para trabalharem em conjunto, para protegerem o direito à liberdade de religião ou crença, como parte integrante do quadro mais amplo dos direitos humanos, nunca foi tão importante.

Os parlamentares têm um papel fundamental a desempenhar na defesa e promover a liberdade de religião ou de crença. Isso fundamenta-se no papel que os parlamentares desempenham como líderes e facilitadores, sendo os intermediários entre o estado e a sociedade civil.

Os parlamentares fazem isso a nível doméstico, avançando o direito da liberdade religiosa e amplificando esse trabalho a nível internacional, colaborando com outros colegas parlamentares e ex-parlamentares do mundo inteiro nesse sentido.

O objetivo do IPPFORB é reforçar nossa rede de parlamentares sensíveis à temática de liberdade religiosa e de crença, que trabalham também em parceria com outros atores relevantes para a liberdade religiosa nos âmbitos nacional, regional e internacional.

Em uma época de crescentes violações à liberdade de religião ou crença, procuramos agir como um catalisador, alavancando a ação coletiva para defender contra a perseguição religiosa e fazer avançar essa liberdade em todo o mundo para todos e todas.

A rede se reúne em torno da Carta de Oslo para a liberdade de religião ou crença, que foi assinada em novembro de 2014. Vamos colocar agora sim a apresentação, por favor. Vamos ver os históricos do IPPFORB.

A rede começou no ano de 2014 com a ideia de 30 parlamentares que tinham a esperança de lutarem de modo internacional para avançar a liberdade religiosa no mundo inteiro.

Foi em 2014 que se reuniram na Universidade de Oxford e depois disso fizeram a Carta de Oslo, que está baseada no Art. 18 da Declaração Universal de Direitos Humanos.

Então vou apontar alguns números para que mais ou menos percebam o alcance que tem essa rede no mundo inteiro. Estão representados mais de 90 países da América do Norte, América Latina, África, Ásia, Europa e Oceania.

Aproximadamente 300 parlamentares do mundo todo participaram de conferências globais organizadas pelo painel para destacar a discussão e discutir questões relacionadas à liberdade religiosa ou de crença. Como veem, a história do IPPFORB começa no ano de 2014 e é muito recente, mas é muito exitosa também.

O IPPFORB possui também um comitê diretivo que está composto por um presidente e outros membros que também devem ser parlamentares ou ex-parlamentares. O nosso presidente é agora...

 

A SRA. PRESIDENTE - DRA. DAMARIS MOURA - PSDB - Por gentileza, professora Fernanda. Eu vou pedir para quem está passando as projeções tentar acompanhar a professora Fernanda para a gente não ter esse descompasso, porque acho que, inclusive, ela perde um pouquinho a concentração na sua apresentação.

Parece-me que temos que ter o slide relacionado ao corpo diretivo do IPPFORB, por favor.

 

A SRA. FERNANDA SAN MARTIN CARRASCO - Obrigada. Então o comitê diretivo está formado por parlamentares e ex-parlamentares. Agora a Presidência é do parlamentar Abid Raja, que é da Noruega, e também temos os outros que compõem do Canadá, uma ex-parlamentar do Paquistão, o Kwankwa, que é parlamentar da África, um ex-parlamentar da Turquia, o Aykan, a Kasthuriraani, uma parlamentar da Indonésia, que estão compondo agora o comitê diretivo.

Contamos também com um secretariado internacional que permite avançar o trabalho do IPPFORB no mundo inteiro e é composto por uma diretora e uma equipe que trabalha diretamente em Oslo, onde está a nossa sede, e outras equipes regionais.

A transparência no nosso financiamento é uma questão muito importante para nós, já que ao ser uma temática de Direitos Humanos tão delicada procuramos financiamentos que nos permitam a maior liberdade e que vão de acordo com os nossos valores.

É assim que nossos parceiros são escolhidos escrupulosamente. No dia de hoje, o IPPFORB tem as seguintes parcerias: Norwegian Helsinki Committee, Forb Leadership Network, Humanist International, Konrad Adenauer Stiftung, USCIRF, que é a Comissão Internacional dos Estados Unidos, African Centre for Parliamentary Affairs e outras também na Ásia e na África.

A nossa visão é de um mundo no qual todas as pessoas gozam do seu direito inalienável à liberdade de pensamento, consciência e religião. Qual é a missão que temos no IPPFORB? A nossa missão é conectar, equipar e apoiar parlamentares de todo o mundo para facilitar a defesa e promoção da liberdade religiosa.

O painel procura contribuir para o fortalecimento de um espaço de deliberação em matéria de direito à liberdade religiosa no nível nacional e internacional. Os nossos valores são a diversidade. No cumprimento da sua missão, o IPPFORB está empenhado na diversidade política, religiosa, geográfica e de gênero.

A igualdade e não discriminação, o IPPFORB é guiado por esse princípio que todos os seres humanos nascem livres e iguais e que ninguém está sujeito à discriminação com base em idade, sexo, orientação sexual, cor, classe, etnia, religião ou qualquer outra diferença.

A solidariedade é outro dos pilares dos nossos valores. O IPPFORB procura criar um sentido de comunidade e apoio mútuo, onde cada membro pode trabalhar de forma solidária por uma causa comum. Cooperamos com parceiros internacionais, regionais e locais para promover essa liberdade religiosa.

Qual é o nosso trabalho e como centramos nosso trabalho? Um dos eixos é a mobilização dos parlamentares em ações, em iniciativas de advocacia em apoio à liberdade religiosa ou de crença; o apoio aos parlamentares que desejem estabelecer iniciativas tanto no âmbito nacional ou internacional, sobre a liberdade religiosa.

Isto pode incluir o fornecimento de informação, fornecendo contatos com legisladores que partilham a mesma opinião, fornecendo ligações a organizações de advocacia, e o foco está em encorajar os legisladores a agir nas suas faculdades.

O segundo eixo é mobilizar a rede de membros do painel IPPFORB em apoio a iniciativas de membros individuais. Isso significa criar plataformas de trabalho em rede, apoio entre pares, aprendizagem de boas práticas e interação. E o terceiro é de equipar os parlamentares com as ferramentas e recursos necessários para a defesa da liberdade religiosa ou de crença.

E como fazemos isso? Melhorando o conhecimento e a compreensão dos parlamentares na temática, facilitar a partilha de melhores práticas, encorajar os membros a identificar a interdependência entre a liberdade religiosa e outros direitos humanos.

E o terceiro é com relação a promover a cooperação e parcerias que reforçam a posição do IPPFORB como autor e parceiro importante e influente nessa temática. Como fazemos isto?

Encorajando os parlamentares a se desenvolver, a desenvolver em redes com liderança parlamentar a níveis nacionais, regionais e internacionais; instalar mecanismos de responsabilidade e transparência que permitam essas redes apoiar os seus membros; desenvolver parcerias estratégicas com atores internacionais e organizações da sociedade civil que partilham as bases constitutivas do IPPFORB e os compromissos com os direitos humanos e a diversidade; assegurar a participação do IPPFORB em fóruns relevantes sobre liberdade religiosa a distintos níveis.

Dentro do trabalho que fazemos, estão os eventos de alto nível. São eventos nos quais colaboramos com a nossa rede global de parlamentares legisladores, organizando conferências de alto nível e que encorajam a aprendizagem mútua, mostrando o trabalho inspirador de toda a rede.

E é uma oportunidade de aprender com os principais peritos quais são as últimas investigações e as tendências emergentes. Aqui estávamos em Singapura. Fazemos a cada dois anos esses eventos.

Esse aqui foi em Singapura, onde levamos a maior quantidade possível de parlamentares para poder debater e para poder compartilhar as visões com outros parlamentares.

Os grupos regionais e nacionais são outros dos eixos principais do nosso trabalho. O IPPFORB está empenhado em apoiar a formação de grupos regionais e nacionais no combate à perseguição religiosa e no avanço da liberdade de religião ou crença.

Acreditamos que só trabalhando em conjunto para ultrapassar as clivagens políticas religiosas e geográficas conseguiremos inverter os níveis decrescentes da liberdade religiosa.

Isso nos traz ao momento central da nossa convocatória, graças ao trabalho, colaboração e compromisso da deputada e querida amiga, Dra. Damaris Moura, com a causa comum da liberdade religiosa e de crença estamos hoje aqui na Alesp fazendo esse lançamento oficial do Painel de Parlamentares pela Liberdade Religiosa no Brasil.

Este é um fato importantíssimo nos níveis regional e nacional, pois convoca os parlamentares e outros atores da sociedade civil, lideranças religiosas, a se manifestarem e se comprometerem na luta pela liberdade religiosa e de crença.

Sem dúvida, a grande trajetória da deputada Damaris Moura na sua luta pelo reconhecimento e aplicação efetiva da liberdade religiosa para homens e mulheres em todo o Brasil constituiu uma referência principal e coordenadora do Grupo Brasil do IPPFORB e sua trajetória como advogada também em uma atuação como fundadora da primeira comissão da OAB para liberdade religiosa, as suas atividades parlamentares, em especial o estabelecimento e a condução da frente parlamentar da Alesp para a defesa da liberdade religiosa, assim como a lei estadual de São Paulo para a liberdade religiosa, pioneira no Brasil, que são determinantes para avançar esse direito para todos e para todas.

A histórica instalação do Grupo Brasil do IPPFORB será o ponto de partida para um trabalho sustentável e amplo na temática da liberdade religiosa e que tem aqui uma ampla convocatória para que outros parlamentares, de todo o Brasil, possam aderir à causa e ao trabalho.

Eu tenho a plena confiança de que a deputada Damaris Moura fará, como é sua característica, um trabalho de altíssimo nível na coordenação do IPPFORB do Brasil e gostaria de pedir à Dra. Damaris para que realizemos a leitura e a assinatura da declaração do IPPFORB Brasil. Eu vou fazer a leitura, então, da Declaração de São Paulo que foi distribuída para vocês.

“Considerando que a liberdade de pensamento, consciência e religião é um direito humano universal estabelecido e não derrogável, consagrado em tratados internacionais das Nações Unidas, convenções vinculativas de organismos regionais e constituições nacionais; considerando que a liberdade de religião ou crença é um direito fundamental assegurado no Brasil por todas as suas constituições republicanas, desde 1891 até a vigente constituição da República Federativa do Brasil de 1988; considerando que religiões e convicções para quem as profere constituem um dos elementos fundamentais em sua concepção de vida e que, portanto, a liberdade de religião ou crença guarda estreita relação com o reconhecimento e a proteção da dignidade humana, devendo ser integralmente respeitada e garantida, considerando que estudos e relatórios indicam que violações à liberdade de religião ou crença continuam a ocorrer em todo o mundo, inclusive no Brasil; considerando que o desprezo e a violação dos direitos humanos, em particular o direito à liberdade de pensamento, de consciência, de religião ou de qualquer convicção causaram direta ou indiretamente grandes guerras e grandes sofrimentos à humanidade; considerando o disposto na Carta de Oslo, em especial, os compromissos de promover a liberdade de religião ou crença, para todas as pessoas, através do seu trabalho e das suas respectivas instituições, de melhorar a cooperação global, esforçando-se por trabalhar para além das fronteiras geográficas, políticas e religiosas, e de envidar esforços para promover conjuntamente a liberdade de religião ou crença, partilhar informação e mobilizar respostas eficazes.”

Os signatários e signatárias reafirmam o seguinte: Art. 18, da Declaração Universal dos Direitos Humanos. “Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião.”

Esse direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar a sua religião ou crença pelo ensino, pela prática, pelo culto, em público ou em particular. Art. 3º da Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem. “Toda pessoa tem o direito de professar livremente uma crença religiosa, e de manifestá-la e praticá-la pública e particularmente.”

Art. 12 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos. “Toda pessoa tem direito à liberdade de consciência e de religião.” Esse direito implica a liberdade de conservar a sua religião ou suas crenças, ou de mudar de religião ou de crenças, bem como a liberdade de professar e divulgar sua religião ou suas crenças individual ou coletivamente, tanto em público, como em privado.

Ninguém pode ser objeto de medidas restritivas que possam limitar sua liberdade de conservar sua religião ou suas crenças, ou de mudar de religião ou de crenças. A liberdade de manifestar a própria religião e as próprias crenças está sujeita unicamente às limitações prescritas pela lei e que sejam necessárias para proteger a segurança à ordem, à saúde ou à moral públicas, ou os direitos ou liberdades das demais pessoas.

Os pais e, quando for o caso, os tutores, têm direito a que seus filhos ou pupilos recebam a educação religiosa e moral que esteja acorde com as suas próprias convicções.

A liberdade de pensamento, consciência e religião é um direito humano inalienável que engloba o direito de ter ou não ter qualquer fé ou crença, de mudar a sua crença e não ser coagido a adotar uma crença diferente.

A liberdade de religião ou crença é um direito humano único, no sentido de que para ser plenamente desfrutado deve também respeitar outros direitos incorporados, tais como a liberdade de expressão, reunião, educação e locomoção.

Os signatários e signatárias comprometem-se a promover a liberdade de religião ou crença para todas as pessoas por meio do seu trabalho e das suas respectivas instituições no Brasil, melhorar a cooperação local, regional e global, esforçando-se para trabalhar para além das fronteiras geográficas, políticas e religiosas, envidar esforços para promover conjuntamente a liberdade de religião ou crença, partilhar informação e mobilizar respostas eficazes para sua máxima efetivação no Brasil.

 

A SRA. PRESIDENTE - DRA. DAMARIS MOURA - PSDB - Nesse momento, então, eu quero pedir que tragam até nós, nós temos uma lista de assinaturas que será composta por signatários e signatárias desta declaração de São Paulo.

Eu gostaria de que a lista com as assinaturas fosse trazida até mim e Fernanda e, simbolicamente, nós iniciaremos aqui, nesse momento, a Dra. Fernanda e eu, a assinatura desta declaração de São Paulo, nesta sessão solene de instalação do IPPFORB do Brasil.

Nós, então, vamos declinar as primeiras assinaturas dessa declaração. Os senhores, que receberam cópia dessa declaração, certamente já puderam examiná-la, e agora ao ouvir a sua leitura, poderão também à saída, por favor, deixar a sua assinatura em apoio a essa declaração São Paulo em defesa da liberdade religiosa por meio de IPPFORB. Está comigo a lista de assinaturas.

A Dra. Fernanda, então, fará a primeira assinatura como coordenadora do painel na América Latina. Eu tenho a honra então de apor a segunda assinatura, muito honrada em poder coordenar o painel no Brasil. (Palmas.)

Muito obrigada a todos. Nós retornaremos aos nossos assentos para nos encaminharmos, então, para o encerramento dessa sessão.

Eu gostaria apenas de fazer alguns breves registros antes de encerrarmos o objeto da presente sessão. Primeiro é que a minha palavra agora, e não tem como ser diferente, vai seguir a cadência da minha emoção. Primeiro, agradecer a Dra. Fernanda San Martin pela confiança, Fernanda, que você está depositando em mim, de poder coordenar os trabalhos deste painel, por toda a competência que você demonstra à frente do painel na América Latina, por toda a sua generosidade para conosco aqui no Brasil e todos os apoios possíveis que foram dados pelo IPPFORB na sua pessoa, para que nós realizássemos este encontro. Daqui a pouquinho vamos nos confraternizar em um coquetel. Todos estão convidados.

Então, Fernanda, leve com você a minha admiração, embora eu a conheça tão recentemente, mas tenho apreciado muito a sua liderança à frente deste tema na América Latina e deste painel, que é parte dos esforços, queridos, que nós temos feito para promover o que o deputado Marangoni disse, o que a deputada Janaina disse, a primeira das liberdades.

Aliás, eu quero citar Rui Barbosa, meu ilustre conterrâneo Rui Barbosa, grande jurista brasileiro, político brasileiro. Ele disse que a liberdade religiosa é a mais pacificadora de todas as liberdades e é a mais civilizatória de todas as liberdades.

Então, queridos, há 20 anos eu tenho feito esse trabalho, quase 20 anos. Eu o faço com o meu coração. São Paulo me deu essa oportunidade. Eu não sou de São Paulo, vocês sabem, eu venho do estado da Bahia, mas São Paulo me deu três coisas preciosíssimas.

São Paulo me deu a minha família, eu me casei com um paulista e tenho um filho paulista. São Paulo me deu trabalho. Meu primeiro cliente na advocacia eu tive em São Paulo. Você já me ouviu dizer isso, Janaina.

E São Paulo me deu uma missão, da qual eu tenho me desincumbido com grande satisfação, empenho pessoal. São Paulo me deu a oportunidade de ocupar uma cadeira neste Parlamento, o maior Parlamento estadual da América Latina. Eu trouxe para este Parlamento a técnica, mas trouxe também as experiências práticas, os acúmulos, as vivências.

Eu devo estar escrevendo em breve as minhas experiências vividas nesses quase 20 anos defendendo liberdade religiosa para todos. Eu olho para muitos religiosos aqui representando os mais diversos segmentos.

Já vivi com cada um desses segmentos que estão aqui representados hoje algum tipo de experiência em defesa da liberdade religiosa. Embora eu tenha a minha religião, eu me desnudo dela quando preciso defender o direito que precisa ser distribuído igualmente para todos, como disse o Dr. Rodrigo, em todos os lugares.

Então, queridos, o que nós sonhamos, e aí vou parafrasear Martin Luther King, é que a liberdade religiosa escorra como uma enxurrada pela montanha e que ela esteja sustentada sob um tripé sem o qual não há liberdade religiosa, lições da atual ministra do Tribunal Superior Eleitoral, minha querida amiga, professora Maria Cláudia Bucchianeri Pinheiro. Ela diz que não há liberdade religiosa se não tiver a dimensão subjetiva, que é o direito de escolher. E isso ninguém nos retira.

Porque, como disse Viktor Frankl, um psicólogo sobrevivente dos campos de concentração nazista, tudo pode ser tirado de um homem, menos a última das liberdades humanas, a de escolher o seu próprio caminho. Mas também a dimensão social, nós queremos poder falar da nossa religiosidade sem sermos privados de direitos por essa razão. E a dimensão organizacional, nós queremos ter o direito de nos organizar, estabelecer nossos templos, mesquitas, capelas, catedrais, terreiros, igrejas.

São as três dimensões da liberdade religiosa pela qual, Fernanda, nós temos o compromisso de também, por meio da IPPFORB, promovermos dimensões subjetiva, social e organizacional, que compõem as dimensões da liberdade religiosa.

Eu tive a honra de ser autora da primeira lei de liberdade religiosa deste País. É um legado para as próximas gerações. Já está em quatro estados da Federação. Já temos um projeto de lei nacional, que é um espelho rigoroso da nossa lei, e você foi relatora na Comissão de Constituição, Justiça e Redação desta Casa.

Foi aprovada e está em vigor há dois anos, socorrendo religiosos em todo o Estado, porque eu percorro todo este Estado e eu tenho tido testemunhos daqueles que já estão se socorrendo dessa lei. Vamos divulgar, Lei 17.346, porque o direito não socorre aqueles que dormem.

Então, é com emoção, Fernanda, Dr. Rodrigo Vitorino, que eu recebo hoje mais este encargo. Recebo-o com alegria, com leveza, com vontade de continuar esta luta que carece de permanente vigilância, porque a dádiva humana mais frágil é a dádiva da liberdade.

Há pessoas que dormem livres e acordam encarceradas. Portanto, não durmamos, vigiemos a nossa liberdade religiosa. Que seja para todos, em todos os lugares, escorrendo pela montanha, como disse Martin Luther King.

Eu encerro com gratidão. Mais uma vez, sempre com gratidão. Eu aprendi lá na minha casa, no interior da Bahia, a ser grata por tudo, mesmo nas circunstâncias mais difíceis e desafiadoras, como muitas que nós vivemos nos últimos tempos. Nós precisamos ser gratos.

Aos companheiros de caminhada, a todos os que estão aqui, mas existem muitos que não estão aqui, existem os invisíveis, os perseguidos, e é por eles que nós estamos nesta luta.

E nós vamos seguir firmes com a IPPFORB e com outros organismos que, se nos apresentarem, nós queremos estar juntos, lutando cada vez mais por liberdade religiosa para todos.

Muito obrigada, porque vocês vieram pacientemente, nos ouviram e, daqui a pouquinho, celebrarão conosco esse momento que é parte das conquistas e dos esforços que nós temos feito a respeito de um direito que é árido, deputado Marangoni, Janaina - você sabe -, Nishikawa.

É árido esse direito, nossa querida deputada de Rondônia, mas nós queremos que ele seja fértil, que ele pare de ser árido e seja fértil, frutifique, porque tem sementes neste auditório. E são sementes de uma nova floração.

 Nós cremos que é com essas sementes que nós vamos transformar essas realidades injustas, intolerantes, desiguais em realidades mais justas, mais iguais, mais fraternas e mais solidárias. Muito obrigada, IPPFORB, Fernanda, Dr. Rodrigo e todos os que estão à mesa, que estão assentados aí.

Eu penso que agora, depois de ouvirem a emoção das minhas palavras, o Dr. Markus me diz ainda que eu preciso declinar, mas precisa estar aqui comigo, as autoridades que não puderam estar, mas nos enviaram saudações e cumprimentos por esta sessão solene. Rapidamente, Dr. Markus, se puder nos trazer aqui. Nós receberemos então os cumprimentos.

É muita gente, 48 deputados desta Casa, não conseguimos declinar os nomes, nos encaminharam saudações. Não são 48, são 49. Para ser mais precisa, esta lista se encerra o cumprimento do meu deputado, querido amigo, deputado Vinícius Camarinha, mas também do desembargador, presidente do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, Paulo Sérgio Brant.

Também da desembargadora federal, presidente não sei de qual Tribunal, me perdoe, Marisa Santos. TRF-3, desembargadora federal, presidente Marisa Santos; Presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, querido amigo Carlão Pignatari; Presidente do Tribunal de Justiça Militar; desembargador Orlando Eduardo Geraldi; Reitor da Unesp, professor Pasqual Barretti; Secretário da Fazenda e Planejamento de São Paulo, Felipe Salto; Secretário de Governo, Marcos Penido; Secretário da Justiça, o querido amigo Dr. Fernando José e o secretário do Transporte, João Octaviano Machado Neto.

Parece-me que nós temos outra lista. Nós queremos agradecer a todos os que nos cumprimentam nesta noite. Vamos, então, queridos, mais uma vez, com uma palavra de gratidão.

Esgotado o objeto da presente sessão solene, nós declaramos encerrados os trabalhos desta noite.

Muito obrigada.

Boa noite a todos.

Vamos celebrar, juntos, na Sala dos Espelhos. (Palmas.)

 

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- Encerra-se a sessão às 21 horas e 28 minutos.

 

 

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