18 DE OUTUBRO DE
2021 |
6ª SESSÃO SOLENE
PARA OUTORGA DE COLAR AO PROF. JOSÉ ALEX TRAJANO |
Presidência: JOSÉ
AMÉRICO LULA |
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RESUMO |
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1 - JOSÉ AMÉRICO
LULA |
Assume a Presidência
e abre a sessão. |
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2 - ISABELA
ARAÚJO DE SOUZA |
Mestre de
cerimônias, anuncia a composição da Mesa. |
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3 - PRESIDENTE
JOSÉ AMÉRICO LULA |
Informa que a
PRESIDÊNCIA efetiva convocara a presente sessão solene, para a "Outorga
do Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo ao Professor
José Alex Trajano", por solicitação deste deputado, na direção dos
trabalhos. |
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4 - ISABELA
ARAÚJO DE SOUZA |
Mestre de
cerimônias, convida o público a ouvir, de pé, o "Hino Nacional
Brasileiro", reproduzido pelo Serviço de Audiofonia da Casa. |
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5 - PRESIDENTE
JOSÉ AMÉRICO LULA |
Diz ser uma honra
homenagear um educador. Discorre sobre o desenvolvimento da Coreia e o grande
investimento na educação de crianças e jovens. Afirma ter sido esta a
vantagem comparativa do país. Ressalta que o Estado de São Paulo foi o mais
educado do País. Destaca o surgimento da primeira escola técnica, e da USP,
neste Estado. Lamenta que os investimentos educacionais em São Paulo tenham
decaído nos últimos anos, sendo hoje superados por diversos estados
brasileiros. Esclarece que a educação somente foi colocada na plataforma de
governo pela primeira vez no governo de Juscelino Kubitschek. Ressalta as
características do homenageado, José Alex Trajano. |
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6 - ISABELA
ARAÚJO DE SOUZA |
Mestre de
cerimônias, faz a leitura do curriculum do homenageado. |
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7 - PRESIDENTE
JOSÉ AMÉRICO LULA |
Faz a entrega do
Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo ao Sr. José Alex
Trajano. |
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8 - JOSÉ ALEX
TRAJANO |
Professor e
presidente da Associação Comunitária Educacional Cícera Tereza dos Santos,
membro do Conselho Municipal de Educação e Cultura de Mauá e membro fundador
e presidente da Academia Mauaense de Letras e Artes Paulo Freire, agradece o
deputado José Américo pela oportunidade e a todos os presentes na Mesa. Diz
ser esta uma homenagem a todos os professores e educadores brasileiros.
Discorre sobre sua área de atuação. Conta sua trajetória, desde a infância,
no Nordeste, até a chegada em Mauá. Defende a educação para todos. Lembra a
fundação da associação comunitária, na sala de sua casa. Afirma que devem
lutar para um Brasil cada vez melhor. |
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9 - ISABELA
ARAÚJO DE SOUZA |
Mestre de
cerimônias, anuncia apresentação musical de Mírian Warttusch, com a música de
sua autoria, "Luar de São Paulo". |
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10 - JOSÉ AMÉRICO
LULA |
Elogia o discurso
consistente do homenageado, José Alex Trajano, mostrando seu compromisso com
a Educação. Discorre sobre a superação de dificuldades na alfabetização
tardia. Comenta a trajetória do homenageado. Afirma que quem faz história é
quem tem iniciativa. Encerra a sessão. |
* * *
- Assume a Presidência e abre a sessão o Sr.
José Américo Lula.
* * *
A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - ISABELA ARAÚJO DE SOUZA -
Boa noite. Sejam todos bem-vindos à Assembleia Legislativa do Estado de São
Paulo. Esta sessão solene tem a finalidade de outorgar o Colar de Honra ao
Mérito Legislativo do Estado de São Paulo ao professor José Alex Trajano.
Comunicamos aos
presentes que esta sessão solene está sendo transmitida ao vivo pela TV Alesp e
pelo canal Alesp, no YouTube.
Convidamos para
compor a Mesa Diretora o deputado estadual José Américo. (Palmas.) O professor
José Alex Trajano, presidente e professor alfabetizador da Associação
Comunitária Educacional Cícera Tereza dos Santos, membro do Conselho Municipal
de Educação e Cultura de Mauá, membro fundador e atual presidente da Academia
Mauaense de Letras e Artes Paulo Freire. (Palmas.) A professora mestre Adriana
Rieger. (Palmas.) A escritora e compositora acadêmica Mírian Warttusch.
(Palmas.) A Sra. Ana Beatriz Jimenez, assessora jurídica, representando o
gabinete do deputado José Américo. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE - JOSÉ AMÉRICO LULA - PT -
Sob a proteção de Deus iniciamos os nossos trabalhos nos termos regimentais.
Esta Presidência dispensa a leitura da Ata da sessão anterior.
Sras.
Deputadas, Srs. Deputados, minhas senhoras e meus senhores, esta sessão solene
atende minha solicitação, deputado estadual, com a finalidade de outorgar o
Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo ao professor José
Alex Trajano.
A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - ISABELA ARAÚJO DE SOUZA -
Convido a todos os presentes para, em posição de respeito, ouvirmos o Hino
Nacional Brasileiro.
*
* *
- É reproduzido
o Hino Nacional.
*
* *
A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - ISABELA ARAÚJO DE SOUZA -
Neste momento ouviremos as palavras do deputado estadual José Américo.
O SR. PRESIDENTE - JOSÉ AMÉRICO LULA - PT -
Obrigado, querida.
Boa noite a
todos e a todas, aos componentes da Mesa. Deixa eu pegar a minha... Queria,
bom, em primeiro lugar, destacar a professora Adriana Rieger. Professora, foi
muito bom que você tenha vindo, tive um prazer muito grande em te conhecer.
A Mírian Warttusch... Warttusch. Não é
Warttusch? Warttusch, que é compositora acadêmica. Também fiquei conhecendo
você, muito bom que você tenha vindo.
A minha querida Ana Beatriz Jimenez,
que é a nossa assessora jurídica. Os amigos, os homenageados que estão aqui e o
pessoal que acompanha pelas redes sociais e pela TV Assembleia.
Nós estivemos, praticamente até a
semana passada, atuando de forma virtual; a partir da semana passada é que nós
passamos a atuar de forma presencial. Mesmo a Assembleia está tendo dificuldade
para ter quórum, porque ficou durante muito tempo só em sessões virtuais. As
comissões, hoje, continuam sendo virtuais, então a gente está retomando aqui.
Este ato, inclusive, é uma sessão presencial, isso é muito bom.
Eu queria destacar o professor Alex
Trajano, homenageado da noite, que é o presidente da Associação Comunitária Educacional
Cícera Tereza dos Santos. Bom, o Alex...
Eu queria, em primeiro lugar, dizer que
para mim, viu Alex, é uma honra estar homenageando um professor como você, que
é um educador, é um professor no sentido amplo da palavra, uma pessoa
preocupada com a educação das crianças, dos jovens. Isso é muito importante.
Eu queria contar uma pequena história
de quando eu era criança. Lá pelos anos 60, tinha mais ou menos uns dez anos,
doze anos que tinha terminado a guerra da Coreia.
Os Estados Unidos e os países da
chamada “Aliança do Atlântico” apoiaram a Coreia do Sul contra a Coreia do
Norte; impediram que a Coreia do Norte, que os comunistas, tomasse conta da
Coreia.
Enfim, foram lá no chamado paralelo 19
e teve uma guerra pesada. Os Estados Unidos inteiro vieram, digamos, colocando
como comandante do seu exército um dos heróis da Segunda Guerra Mundial, o
general Douglas MacArthur.
Mesmo assim, os chineses acabaram
expulsando os americanos de uma parte da Coreia. Sobrou uma pequena parte da
Coreia do Sul, que ficou, digamos assim, do lado capitalista.
Bom, então, todas as vezes em que tinha
uma pessoa muito esfarrapada, (Inaudível.): “Ah, esse cara veio da Coreia”.
Coreia era sinônimo de gente esfarrapada, pobre, faminta, desacreditada.
Bom, vamos lá, isso é anos 60.
Cinquenta anos depois, gente, o que é a Coreia? A Coreia é um dos países mais
industrializados e mais ricos do mundo. Um país “chiquitito”, do tamanho do
estado de Pernambuco - foi o que sobrou ao sul do paralelo 19.
Bom, muita gente fala: “Bom, mas eles
construíram estradas, vias férreas”. Também, mas outros países também
construíram estradas e vias férreas. Aonde está a diferença comparativa da
Coreia com o resto do mundo? Por que é que a Coreia se desenvolveu tanto e
outros não se desenvolveram?
“Não, mas o capital americano...”, aí
alguém dizia “Não, o capital americano teve em outros lugares também”. O
capital americano teve em várias regiões do mundo e elas não se desenvolveram,
mas a Coreia se desenvolveu. Por quê? Porque a Coreia investiu em educação.
Era essa a vantagem comparativa: a
Coreia já tinha uma tradição educacional diferenciada e ela investiu
maciçamente em educação, em educação de crianças e jovens.
Então, essa foi a grande diferença
comparativa da Coreia. Trinta, quarenta anos depois, tem uma mão de obra
altamente qualificada, que é base para o desenvolvimento industrial.
Se vocês olharem o estado de São Paulo
em relação ao Brasil, é mais ou menos a mesma coisa: o estado de São Paulo foi
um estado que começou a ser desenvolvido lá em 1560, 1580, depois foi
esquecido, porque infelizmente, ou felizmente, as minas não estavam aqui.
O chamado “Eldorado brasileiro” estava
em Minas Gerais e Goiás. Inclusive, tem um livro do Renato Pompeu de Toledo
sobre São Paulo que fala assim: “São Paulo, a Capital da solidão”, porque ficou
de 1650 até 1850 com a mesma população.
Ficou praticamente esquecida a cidade,
aí o ouro começou a ir direto para Paraty, etc. Bom, aí São Paulo recebe uma
imigração europeia - 1860, 1870. Essa imigração europeia tinha uma diferença
dos outros estados.
Primeiro, ela não era de população
escrava; ela era semiescrava, mas não era escrava, e trazia uma cultura
relacionada com a educação. O imigrante paulista queria educar os seus filhos.
Então, é por isso que São Paulo se
desenvolve de uma maneira tão rápida e vai nos surpreender 70, 80 anos depois,
no pós-guerra, como o estado mais educado do Brasil. Foi ele que recebeu as
grandes indústrias; as montadoras vieram para cá, não vieram à toa.
São Paulo, em 1942, montou um Senai na
Feira Nacional da Indústria. Trouxe um suíço chamado Roberto Mange, que montou
o Senai. Montaram a primeira oficina do Senai, a primeira escola, para mostrar
para todo mundo como que tinha que estudar, que as crianças tinham que estudar,
tinham que aprender.
São Paulo tinha tido também a primeira
escola técnica em 1907, tinha tido a USP em 1930. Nos anos 30 você tinha tido a
USP e você tinha uma escola primária e um ensino médio extremamente
qualificados.
Era para poucas pessoas, a gente sabe
disso. Para poucas pessoas, porque, afinal de contas, tinham os vestibulares,
tinha lá...
Como é a história? Agora eu não me
lembro mais o nome. Mas tinha o admissional para você entrar no colegial e tal,
né? É, o ginasial também tinha uma espécie de concurso para entrar. Só que eram
boas escolas. Então, São Paulo sai na frente do Brasil também por isso. Mas
parece...
O ser humano é muito de ir para frente
e para trás, e o ser humano que nasce, assim, nessa região aqui nossa, né,
abaixo do Equador, é mais assim ainda, né, porque... Então, tem muito essa
coisa de que, de repente, a Educação deixou de ter tanta importância, né?
Então nós vimos que os investimentos
educacionais no estado de São Paulo decaíram nos últimos 50 anos, e nos últimos
30, decaíram muito. No Brasil, nem se fala, mas no estado de São Paulo,
decaíram muito. E São Paulo começa a perder a chamada “corrida educacional”,
que São Paulo sempre esteve na frente, não é isso?
São Paulo sempre esteve na frente.
Hoje, São Paulo é superado por estados como Piauí, Rio Grande do Sul, Rio de
Janeiro... O estado do Rio de Janeiro - que eu adoro - é um estado quebrado,
arrebentado por várias coisas que a gente sabe. E no entanto, o Piauí é pobre,
saiu na nossa frente.
Então, eu acho que a homenagem ao Alex,
na minha opinião, é uma homenagem à Educação brasileira, à Educação do estado
de São Paulo. É um alerta que nós estamos dando assim: “Olhem para a Educação,
olhem para as nossas crianças, para os nossos jovens”.
Aqui temos um jovem que é educador, que
é apaixonado por ensinar, é apaixonado por métodos de ensino, é apaixonado pelo
Paulo Freire, que também encontrou, no centenário de Paulo Freire, uma forma de
homenagear Paulo Freire.
Por isso que eu acho importante. Eu me
sinto bastante convicto, bastante feliz de trazer o Alex, porque o Alex não é o
professor, o Alex é um pouco mais que o professor: é o educador.
É a pessoa que pensa, que dá aula, mas
que pensa também no método de ensino, na estratégia para trabalhar com os
alunos; não está muito ligado a uma faixa etária, tanto para criança quanto
para jovem, é a área dele, mas também se tiver que discutir com os
universitários, também discute.
Então, é o educador, né? Eu acho que é
esse tipo de gente que faz falta hoje, como faz falta para nós educadores do
passado, como vários que nós tivemos, o próprio Paulo Freire, outros educadores
que nós tivemos no Brasil.
Na sua área musical... Você se lembra?
Eu não me lembro, mas eu estudei. O Villa-Lobos montou os “Orfeões”, ou seja,
eram Orfeus, que era uma espécie de coral em centenas de milhares de escolas no
Brasil. Isso nos anos 50. Como que ele conseguiu montar e a gente não consegue
montar hoje?
O Mário de Andrade, em São Paulo,
quando foi secretário da Cultura, montou cursos de teatro em todas as escolas.
Por que a gente não consegue montar hoje, né? Isso para falar em coisa que são,
digamos assim, complementares ao ensino.
Nós tivemos grandes educadores no
estado de São Paulo, grandes professores, né? Eu mesmo conheci alguns. Eram
professores maravilhosos. Na verdade, isso está sendo deixado meio de lado.
O sujeito que vem assim, quer discutir
método de ensino, quer discutir: “Como que vou formar pessoas, como que vou
montar um curso?” e etc., é meio que deixado de lado, né? Meio chato, não
precisa disso, né? Talvez construir uma estrada seja mais fácil.
É isso. Queria que o Alex entendesse
disto: para mim, tem muito a ver com a homenagem a um educador, homenagem à
Educação, e aí entra a Educação, entra o centenário de Paulo Freire e tudo. Eu
queria que você sentisse isso, que você entendesse isso por aí.
Bom, nós tivemos, no estado de São
Paulo, muita coisa boa, muita coisa ruim, mas este estado foi um dos poucos que
investiu em Educação antes dos anos 30, antes dos anos 40.
O primeiro presidente da República que
colocou, na sua campanha eleitoral, a Educação como prioridade foi o Juscelino Kubitschek de Oliveira,
vocês acreditam nisso? Antes, nenhum tinha posto a Educação como prioridade.
Veja só que coisa impressionante.
Depois reclama que a gente andou pouco, né? Claro. Tipo assim, mesmo que fosse
para não fazer, mas eu digo assim, o presidente que colocou na sua plataforma
de governo a Educação, foi Juscelino
Kubitschek nos anos 60, já, final dos anos 50, começo dos anos 60.
Antes, nenhum tinha posto.
O Getúlio Vargas não pôs, o Washington
Luiz não pôs, nenhum deles. O Washington Luiz falava em estrada. Pegasse a
estrada e colocasse na cabeça dele. Estrada não traz desenvolvimento. Estrada
não traz desenvolvimento.
O que traz desenvolvimento é a educação
de crianças, jovens e adultos. Isso traz desenvolvimento, isso é uma vantagem
comparativa. Se o estado de São Paulo retomar a Educação - e o Brasil retomar a
Educação -, nós vamos chegar, nos próximos 10, 15, 20 anos, em um País
desenvolvido, avançado. Se a gente não fizer isso, nós vamos andar para trás
como um caranguejo.
Bom, eu queria terminar com um pouco de
otimismo. Eu acho que um jovem como Alex Trajano ser tudo isso que a gente está
falando... Ele tem uma formação sólida em Educação, ele é muito inteligente,
ele é dedicado, determinado, mas não é só isso, gente, é a iniciativa e a
vontade que ele tem, né? Isso é o grande diferencial. Alex, por você, essa
bandeira é uma bandeira que você vai carregar.
Você é muito mais jovem que a gente,
você vai carregar. Eu acho que você representa o futuro neste estado, porque
você traz de volta essa preocupação e essa paixão pela educação.
Então, fico muito feliz de estar aqui
com você, de ser seu amigo, extremamente feliz. Então, uma salva de palmas ao
Alex, muito obrigado por ter aceito nossa homenagem, Alex. (Palmas.)
A
SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - ISABELA ARAÚJO DE SOUZA - O
Colar de Honra ao Mérito Legislativo é a mais alta honraria concedida pela
Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Foi criada em 2015, e é
concedida a pessoas naturais ou jurídicas, brasileiras ou estrangeiras, civis
ou militares, que tenham atuado de maneira a contribuir para o desenvolvimento
social, cultural e econômico de nosso estado, como forma de prestar, pública e
solenemente, uma justa homenagem.
O homenageado, Professor José Alex
Trajano, nasceu em 31 de janeiro do ano de 1995. É natural de Água Branca, no
sertão da Paraíba. Seu maior sonho era saber ler e escrever.
Aos 16 anos pediu para sua mãe que
fosse emancipado, e com isso fundou a Associação Comunitária Educacional Cícera
Tereza dos Santos, entidade que tem como objetivo promover a educação de jovens
e adultos. Desde a sua fundação, já atendeu aproximadamente 500 pessoas.
Formou-se em Pedagogia, pelo Centro
Universitário Anhanguera de Santo André, pós-graduado em Docência do Ensino
Superior e Educação de Jovens e Adultos, pela faculdade Venda Nova do
Imigrante.
Há oito anos faz parte do movimento de
alfabetização de jovens e adultos do ABC, e foi também instrutor do curso de
Economia Solidária.
Trabalhou com o projeto Mais Educação.
Lecionou para a Educação de jovens e adultos pelo programa de alfabetização e
inclusão, em parceria com o Governo do Estado de São Paulo.
Acumula diversos prêmios e homenagens
em prol da Educação e Cultura. Incansável batalhador, o Sr. Alex Trajano.
Chamamos à frente o deputado estadual
José Américo e o homenageado, o Professor. José Alex Trajano, para que seja
outorgado o Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo.
*
* *
- É entregue a
homenagem.
*
* *
A
SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - ISABELA ARAÚJO DE SOUZA - Com
a palavra, o homenageado, o professor José Alex Trajano.
O
SR. JOSÉ ALEX TRAJANO - Primeiramente, boa
noite a todos, todas e todxs. Para mim é um motivo de muito orgulho estar aqui
neste momento, esse sentimento alvissareiro de anunciar essas boas novas, de
acreditar na Educação. É o que tenho feito desde os 14 anos de idade.
Gostaria muito de agradecer ao Exmo.
Sr. Deputado José Américo, por essa grandiosa oportunidade, a minha querida e
amada mestra, que muito me ensinou, porque nós somos conduzidos, sim, por
mestres.
E eu tenho muito orgulho, Adriana
Rieger, de ter sido o seu educando. A nossa relação foi além dos muros da sala
de aula. A nossa prática se validou além da teoria. Muito obrigado por tudo.
E a minha querida e amada amiga,
companheira de tantas horas, momentos de que eu tenho tanto orgulho, Mírian
Warttusch, essa mulher maravilhosa, que tem acompanhado aí, há seis anos, tem
se esforçado tanto à frente dos trabalhos da Associação Comunitária Educacional
Cícera Tereza dos Santos.
E também não poderia deixar de
agradecer à Exma. Sra. Dra. Ana Beatriz,
que tem sido uma pessoa tão generosa comigo, tão atenciosa.
Parabéns, viu, José Américo, pela
grande mulher que está ao seu lado, conduzindo os trabalhos. Obrigado, viu,
doutora.
Esta homenagem, como o José Américo
disse, realmente não é só para o Alex, mas, sim, para todos os professores,
para todos os educadores da Nação brasileira.
José Américo reforça aí uma questão
muito importante, que eu também defendo, que é questão de ser além de
professor. E aqui eu chamo a atenção às palavras de Rubem Alves. Rubem Alves
nos diz que professor existe aos milhões, mas professor talvez esteja
condicionado a ter um diploma acadêmico.
Nós devemos ser muito além. Devemos ser
educadores. E por quê? Educador é aquele que trabalha o desejo que emana e
transcende da alma, o compromisso ético com a formação cidadã, formação
conscientizadora político-reflexiva-ética, que nos chama também a atenção o
grande mestre, o grande filósofo e patrono da Educação brasileira, Paulo
Freire.
A Educação é um ato de amor, é
impregnar-se de sentido. E só faz sentido porque tem que ter amor
envolvido, tem que ter solidariedade. É olhar para o outro; é compreender a
bagagem que o outrem traz consigo e influencia na construção do eu.
Pois bem, eu não poderia também deixar
de agradecer a minha mãe. Primeiramente a Deus. A minha mãe, que nunca desistiu
de nós. Como foi lido, sou nordestino sim com muito orgulho.
Nasci na cidadezinha de Água Branca, no
agreste paraibano. Uma cidadezinha de aproximadamente 10.500 habitantes. Vim da
roça. Sei o que é ter o feijão e faltar o arroz, ter o café e faltar o açúcar,
mas ter a esperança de dias melhores.
Ter a esperança da chegada de coisas
boas, porque nós sempre sonhamos porque somos brasileiros, porque temos na
nossa veia esse sangue, essa esperança, mas não qualquer esperança. Não esperança
de espera, como nos diz Paulo Freire, mas esperança do verbo esperançar, de ir
atrás, de mover-se e é movendo-se como gente que me movo como educador, porque
é o amor que vai além.
Vindo desse contexto grande parte de
minha família, infelizmente, não teve a oportunidade de adentrar a um espaço
escolar. Não tinha escolha: ou estudava ou estudava. Não podia optar entre
estudar e trabalhar, porque o estudo não era importante neste momento. O
importante era manter-se vivo.
Então a escola foi ficando de lado. Mudamos
para São Paulo no ano de 2002. Viemos com um grande sonho: de que tudo seria
bonito. A grande selva de pedras que é São Paulo, a grande selva de esperança
para muitos, foi quem nos acolheu. A cidade de Mauá, que devo muito a essa cidade,
amo de coração, foi muito importante na minha trajetória.
Lá comecei no ano de 2002, aos sete
anos também, a estudar. A primeira vez que pisei em um ambiente escolar de fato
e ali me deparei com uma das pessoas mais importantes da minha vida que faço
questão de dizer, que foi a minha professora Célia Aparecida Portilho. A professora
Célia como foi mencionado era muito além de professora. Era uma grande educadora,
se preocupava muito comigo.
Eu era uma criança que tive muitos problemas
no processo de ensino-aprendizagem devido a algumas complicações familiares. E o
que era torturante: olhar em minha volta e ver que todas as outras crianças liam
e eu não.
E a professora sempre estava ali de
braços abertos e aquele sorriso muito grande me abraçando e dizendo: “Vamos porque
é possível. Vamos porque chegaremos lá”. E por ironia do destino o meu primeiro
livro o título era: “Eu chego lá”. Olhe só, estou aqui, estamos aqui contando
essa história.
E quando me alfabetizei então aos nove anos
de idade, no ano de 2004, percebi a importância do ato de ler e escrever como
prática libertadora, emancipadora e concomitantemente transformadora, que
possibilita ao indivíduo a sua libertação, a sua inserção, mas não pode ser
qualquer educação.
A educação tem que fazer sentido para a
vida. A educação tem que ser uma educação ontológica, ou seja, pensada no ser,
com o ser, para ser. Uma educação peremptória, pragmática, que possibilite que
o indivíduo seja capaz de denunciar e anunciar as injustiças, que é o mais que nós
precisamos.
Porque no atual desgoverno que vivemos,
que vivenciamos, há uma complexidade e uma inversão de valores muito grande,
onde nós temos um retrocesso educacional. Desde a primeira Constituição
Imperial, Art. 179, inciso XXXII, a educação já era prevista como direito para
todos. Hoje, 2021, na prática, ainda estamos estudando que todos e como
implantar.
Então tem que lutar muito, muito, e
lutar a cada dia, porque nós somos seres inacabados e precisamos sempre
continuar lutando. Como diz Mikhail Bakhtin, grande estudioso: “Somos seres com
acabamento provisório”. O que achávamos que sabíamos ontem, daqui um minuto,
uma hora, já mudou.
Paulo Freire reafirma que somos seres
inacabados e há mais de 3.000 anos atrás o filósofo Sócrates dizia: “Só sei que
nada sei”. Se eu sei que nada sei é porque preciso saber que preciso buscar e
nada saberei, porque se amanhã partir daqui não levarei o conhecimento que
contei com ele. E a mudança se faz mister, se faz necessária em todos os
âmbitos.
Eu tenho uma relação muito boa com o
José Américo. Depois de tanto tempo, é tão gratificante, deputado, encontrar alguém
que seja realmente idôneo, que realmente ouça e que não passe a mão nas coisas
erradas e que esteja disposto a construir, porque se nós temos também o que nós
temos hoje, esse desgoverno - a gente já conversou sobre isso - nós também
levamos atribuições a essa falsa esquerda fajuta que muitas vezes diz ser e não
é.
Precisamos analisar a nossa estrutura.
Muitas vezes não ouvimos realmente o que queremos, mas nós precisamos aprender.
Não é, Dra. Beatriz? Precisamos ir além, precisamos buscar essa mudança se realmente
queremos mudar algo.
Não é amaciar o ego de ninguém
e sim, buscar a transformação para uma Educação que realmente seja de todos,
para todos, visando o todo. Não, alguns. Porque a pátria amada só é amada
quando realmente ela ama a todos, e ela oportuniza que todos possam ter direito
aos seus direitos. Não somente a alguns.
Então é por
isso, tão somente por isso, que eu acredito. E, frente à Associação Comunitária
Educacional Cícera Tereza dos Santos, fundada aos 14 anos de idade, dentro de
minha casa, tudo começa com um sonho. Esse sonho realmente inicia-se com sete
pessoas, em uma sala de madeira, chão batido, e tábuas improvisadas como as
primeiras carteiras.
Naquele dia,
nascia o sonho. E esse sonho se concretizava, se formalizava. E hoje já somos
mais de 500 pessoas alfabetizadas. Pessoas estas que sofrem dois tipos de preconceito.
Primeiro, por
serem analfabetos, viverem na obscuridade. Segundo, por grande maioria serem
idosos e, infelizmente, pertencerem a uma sociedade que não valoriza a bagagem
das pessoas que trazem consigo essa herança.
Ali comecei
alfabetizando. O público foi envelhecendo. Até chegar a um ponto que a maioria
realmente foram idosos, na faixa etária de 60 a 85 anos de idade. Que tinham
como sonho, tão somente, assinar o seu nome, primeiro ato de cidadania, e marca
de existência do sujeito na sociedade.
Por meio dessa
alfabetização libertadora que nos propõe o mestre Paulo Freire, adentram e
gozam dos seus intrínsecos direitos como cidadãos e cidadãs, e compreendem seus
deveres, também como tal. Então é a favor dessa Educação, é a favor da escola
pública de qualidade, que valorize a bagagem que esses indivíduos trazem
consigo, que eu luto.
Este ano, ano
do centenário do nascimento de Paulo Freire, que tem sofrido também grandes
ataques, nós, da Associação Comunitária Educacional Cícera Tereza dos Santos,
estamos promovendo o evento “Dialogando com Paulo Freire - Novos Desafios para
um Novo Tempo”. Inicia-se amanhã. Serão 19, 20, 21 e 22 de outubro, e 4 de
novembro, por meio do canal do Youtube da Acects.
José Américo
também vai acompanhar, juntamente conosco, esse grandioso evento, onde nós
temos grandes expoentes da Educação, e mais de 1.500 inscritos para
participarem desse momento.
Realmente,
educar não é transferir conhecimento. Ninguém educa ninguém. Ninguém educa a si
mesmo. Os homens e mulheres se educam entre si, como nos dias de Paulo Freire.
Que tenhamos
esperança, que nós possamos continuar lutando para um Brasil cada vez melhor.
Então eu gostaria assim de agradecer imensamente o José Américo e a todos
vocês, por essa grande oportunidade. Estamos juntos na construção de uma pátria
educadora.
Muito obrigado
a todos. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE
- JOSÉ AMÉRICO LULA - PT - Muito bem.
A SRA. MESTRE
DE CERIMÔNIAS - ISABELA ARAÚJO DE SOUZA - Nós ouviremos agora a escritora e compositora acadêmica,
Mírian Warttusch, que vai homenagear essa solenidade, interpretando uma música
de sua autoria, “O Luar de São Paulo”.
A SRA. MÍRIAN
WARTTUSCH - Boa
noite a todos. Eu trouxe o “playback”, mas como nós não tivemos oportunidade de
ver o som, eu vou tentar cantar à capela para vocês, “O Luar de São Paulo”.
Porque eu tenho oito décadas de São Paulo.
Nasci aqui, me criei, e aqui continuo. Fui homenageada
em Mauá, pelo meu trabalho também, como cidadã mauaense, mas sou paulista.
Então, para vocês, “O Luar de São Paulo”.
* * *
- É feita a apresentação
musical.
* * *
A
SRA. MÍRIAN WARTTUSCH - Eu fico meio tímida
quando não tem acompanhamento, mas acho que me saí...
A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - ISABELA ARAÚJO
DE SOUZA - Para suas considerações e encerramento
desta solenidade, com a palavra o deputado estadual José Américo.
O
SR. PRESIDENTE - JOSÉ AMÉRICO LULA - PT - Bom, estamos
encerrando a cerimônia. Eu acho que o Alex fez um discurso muito consistente,
mostrando seu compromisso com a Educação de um ponto de vista amplo, e não de
um ponto de vista mesquinho, pequeno. E acho que isso é muito importante.
Eu acho que tem algumas pessoas que
superam todas as dificuldades, viu, Alex. Você pega algumas pessoas assim, alguns
dirigentes da humanidade, que aprenderam a ler e escrever muito tarde, porque
afinal de contas a educação, no sentido amplo da palavra, é uma coisa que era
da elite e virou algo mais popular um pouco antes da Segunda Guerra.
O Nikita Khrushchov, secretário-geral do Partido Comunista da
União Soviética, primeiro-ministro, dirigiu a União Soviética no chamado
período pós-stalinismo. “Desestalinizou”, denunciou os crimes do Stalin.
E impediu uma guerra, nos anos 60,
provocada pela CIA, que é a chamada Crise dos Mísseis, porque enquanto o John
Kennedy era um sujeito frívolo, que ficava atrás das artistas etc., o Khrushchov não era.
O Khrushchov era um cara muito sério e, quando ele
percebeu que o Kennedy queria iniciar uma guerra nuclear, ele simplesmente pôs
ordem na casa e deu uma dura no Kennedy, inclusive.
O Khrushchov se alfabetizou com 19 anos. E ele foi
responsável por dar um puxão de orelha no Kennedy, dizendo: “ô meu, pera aí,
calma; a gente fica tencionando um com o outro, mas não é para fazer uma
guerra, não é para matar milhões de pessoas. Que isso? Calma.”
E o Kennedy, não; o Kennedy era um
sujeito frívolo, que lembrava muito o pai dele, que tinha um passado muito
discutível. Lembrava também os apoiadores que ele teve, que era gente da pesada
nos Estados Unidos, quando o crime organizado era muito forte nos Estados
Unidos.
Um homem que teve a campanha dirigida,
em Chicago, pelo Sam Giancana, um dos grandes mafiosos, que foi namorado da
Marylin Monroe, né, que ele também foi.
Então, esse indivíduo frívolo da
burguesia americana foi parado por um ex-camponês que se alfabetizou com 19
anos e que falou: “Kennedy, menino, calma nisso, não é para você fazer isso,
calma.
A sua agência de espionagem está
totalmente errada. Não tem problema, você quer o quê? Eu faço o que for
necessário, mas não vamos fazer guerra nuclear. Que isso?”. Ele tomava uma
decisão ali, depois ele ia encontrar com não sei quem, tal. Essa era a vida
dele.
Bom, então você teve várias pessoas
assim, que aprenderam muito tarde e que depois conseguiram recuperar o terreno.
O Alex, que não tem 30 anos ainda, é uma pessoa que foi assim, fez isso,
superou tudo, e hoje é alguém que troca conhecimentos, como ele mesmo diz, toma
essas iniciativas que, às vezes, a gente nem acha que vão dar certo, como essa
que ele fez.
Tem 1.500 inscritos, um negócio imenso.
Tem faculdade que tenta fazer isso e não consegue. Mas as pessoas sentem
seriedade e sentem uma coisa: energia, paixão. Acho que isso mexe com todo
mundo.
Acho que esse seu jeito de se
relacionar com as coisas é que anima todas as pessoas. Todo mundo sabe que está
tratando ali com um abnegado, um cara que luta, um cara que quer as coisas.
Então, isso eu acho muito interessante.
Acho que não falei tudo que devia ter falado, a gente sempre tem mais alguma
coisa para falar, né. Sua relação com o Paulo Freire.
Eu acho importante, porque o Paulo
Freire é um grande filósofo da educação, mas eu acho mais importante sua paixão
pela educação, sua paixão por ser educador, sua personalidade de educador; isso
para mim é mais importante que qualquer outra coisa. Sua vontade férrea. Você
põe na cabeça e corre atrás.
É dessas pessoas que nós precisamos;
são essas pessoas que fazem a história. Você tem muita gente inteligente, muita
gente que escreve, que fala, que questiona, que critica. Mas quem faz a
história é quem tem iniciativa, quem tem paixão pelas coisas; essas pessoas
fazem a história.
Então, eu vou ler aqui a parte,
digamos, formal. Esgotado o objeto da presente sessão... Isso aqui é uma sessão
que vai sair no Diário Oficial, ela tem que ter um lado formal.
Eu agradeço às autoridades, à minha
equipe, aos funcionários do serviço de som, à taquigrafia, à fotografia, ao
serviço de atas, ao cerimonial, à Secretaria Geral Parlamentar, à imprensa da
Casa, à TV Alesp e às Assessorias Policiais Militar e Civil, bem como a todos
que, com suas presenças, colaboraram para o êxito desta solenidade.
Está encerrada a sessão.
Muito obrigado e boa noite a todos.
(Palmas.)
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- Encerra-se a sessão.
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