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11 DE FEVEREIRO DE 2020

6ª SESSÃO EXTRAORDINÁRIA

 

Presidência: GILMACI SANTOS e SEBASTIÃO SANTOS

 

RESUMO

 

ORDEM DO DIA

1 - GILMACI SANTOS

Assume a Presidência e abre a sessão. Dá conhecimento e coloca em votação requerimento, do deputado Jorge Caruso, de alteração da Ordem do Dia.

 

2 - JORGE CARUSO

Encaminha a votação do requerimento de alteração da Ordem do Dia, em nome do MDB.

 

3 - PRESIDENTE GILMACI SANTOS

Suspende a sessão por cinco minutos, por conveniência da ordem, às 19h17min, reabrindo-a às 19h22min.

 

4 - ALTAIR MORAES

Solicita a suspensão dos trabalhos por cinco minutos, por acordo de lideranças.

 

5 - PRESIDENTE GILMACI SANTOS

Defere o pedido e suspende a sessão às 19h22min, reabrindo-a às 19h30min.

 

6 - MONICA DA BANCADA ATIVISTA

Encaminha a votação do requerimento de alteração da Ordem do Dia, em nome do PSOL.

 

7 - BETH LULA SAHÃO

Encaminha a votação do requerimento de alteração da Ordem do Dia, em nome do PT.

 

8 - PROFESSORA BEBEL LULA

Encaminha a votação do requerimento de alteração da Ordem do Dia, em nome da Minoria.

 

9 - SEBASTIÃO SANTOS

Assume a Presidência.

 

10 - GILMACI SANTOS

Assume a Presidência.

 

11 - LUIZ FERNANDO LULA DA SILVA

Encaminha a votação do requerimento de alteração da Ordem do Dia, em nome da Minoria.

 

12 - CAMPOS MACHADO

Encaminha a votação do requerimento de alteração da Ordem do Dia, em nome do PTB.

 

13 - PRESIDENTE GILMACI SANTOS

Coloca em votação e declara aprovado o requerimento de alteração da Ordem do Dia.

 

14 - SEBASTIÃO SANTOS

Solicita uma verificação de votação.

 

15 - PRESIDENTE GILMACI SANTOS

Defere o pedido. Determina que seja feita a verificação de votação, pelo sistema eletrônico.

 

16 - BETH LULA SAHÃO

Declara obstrução do PT ao processo de votação.

 

17 - ADRIANA BORGO

Declara obstrução do PROS ao processo de votação.

 

18 - MONICA DA BANCADA ATIVISTA

Declara obstrução do PSOL ao processo de votação.

 

19 - ED THOMAS

Declara obstrução do PSB ao processo de votação.

 

20 - THIAGO AURICCHIO

Declara obstrução do PL ao processo de votação.

 

21 - MARTA COSTA

Declara obstrução do PSD ao processo de votação.

 

22 - GIL DINIZ

Declara obstrução do PSL ao processo de votação.

 

23 - BRUNO GANEM

Declara obstrução do Podemos ao processo de votação.

 

24 - SARGENTO NERI

Declara obstrução do Avante ao processo de votação.

 

25 - CARLA MORANDO

Declara obstrução do PSDB ao processo de votação.

 

26 - SEBASTIÃO SANTOS

Declara obstrução do Republicanos ao processo de votação.

 

27 - ROGÉRIO NOGUEIRA

Declara obstrução do DEM ao processo de votação.

 

28 - DELEGADO OLIM

Declara obstrução do PP ao processo de votação.

 

29 - HENI OZI CUKIER

Declara obstrução do Novo ao processo de votação.

 

30 - PRESIDENTE GILMACI SANTOS

Registra as manifestações. Dá conhecimento do resultado da verificação de votação, que rejeita a alteração da Ordem do Dia. Coloca em discussão o PL 346/19. Convoca uma segunda sessão extraordinária, a ter início dez minutos após o término da presente sessão.

 

31 - TENENTE COIMBRA

Discute o PL 346/19.

 

32 - ERICA MALUNGUINHO

Discute o PL 346/19.

 

33 - ALTAIR MORAES

Discute o PL 346/19 (aparteado pelo deputado Jorge Caruso).

 

34 - DOUGLAS GARCIA

Discute o PL 346/19.

 

35 - MONICA DA BANCADA ATIVISTA

Para comunicação, rebate o discurso do deputado Altair Moraes. Tece críticas à Presidência desta Casa.

 

36 - ERICA MALUNGUINHO

Discute o PL 346/19.

 

37 - PRESIDENTE GILMACI SANTOS

Suspende a sessão por um minuto, por conveniência da ordem, às 21h26min, reabrindo-a às 21h27min.

 

38 - ISA PENNA

Discute o PL 346/19.

 

39 - PRESIDENTE GILMACI SANTOS

Encerra a discussão do PL 346/19. Faz aditamento à Ordem do Dia da próxima sessão extraordinária, lembrando sua realização, com início previsto para as 21 horas e 42 minutos. Encerra a sessão.

 

* * *

 

- Assume a Presidência e abre a sessão o Sr. Gilmaci Santos.

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - Presente o número regimental de senhoras deputadas e senhores deputados, sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos. Esta Presidência dispensa a leitura da Ata da sessão anterior.

Ordem do Dia.

 

* * *

 

- Passa-se à

 

ORDEM DO DIA

                                                                

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - Há sobre a Mesa um requerimento. Requeiro, nos termos regimentais, que a disposição da Ordem do Dia desta sessão extraordinária seja alterada com a seguinte conformidade:

- Que o item nº 2, Projeto de lei nº 721, de 2019, do Professor Kenny, que torna obrigatória a apresentação da carteira de vacinação no ato da matrícula nas redes públicas e particulares de ensino, passe a constar como item nº 1, renumerando-se os demais. Assina o nobre deputado Jorge Caruso, do MDB.

Em votação.

 

O SR. SEBASTIÃO SANTOS - REPUBLICANOS - Pela ordem, Sr. Presidente.

 

O SR. JORGE CARUSO - MDB - Sr. Presidente, para fazer o encaminhamento do requerimento.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - Tem V. Exa. o tempo regimental. Deputado Sebastião.

 

O SR. SEBASTIÃO SANTOS - REPUBLICANOS - Quero pedir uma verificação.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - Não, mas não votamos ainda, deputado. É regimental. Tem V. Exa. o tempo regimental para encaminhar para o MDB.

 

O SR. JORGE CARUSO - MDB - Sr. Presidente, eu gostaria de que V. Exa. disponibilizasse o projeto para que eu pudesse acompanhar.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - O 721?

 

O SR. JORGE CARUSO - MDB - Ambos, Sr. Presidente. Sr. Presidente, antes, só a título de curiosidade, por informação, os painéis estão desligados hoje?

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - Não, nobre deputado, os painéis estão funcionando em perfeita ordem.

 

O SR. JORGE CARUSO - MDB - SEM REVISÃO DO ORADOR - Não, desculpe, Sr. Presidente, o painel grandão ali em cima. Agora sim, Sr. Presidente. Antes não estava. Estava apagado, Sr. Presidente. 

Sr. Presidente, Sras. Deputadas e Srs. Deputados, hoje é um dia importante, com a retomada da semana passada, mas hoje complementando o início dos trabalhos do ano 2020, e nós temos a oportunidade hoje de votar dois projetos de senhores deputados. Projetos interessantes, projetos importantes, onde há bastante divergência, em especial no projeto do deputado Altair Moraes.

Nós tivemos a oportunidade já de nos manifestarmos, e até de propor uma emenda nesse projeto, que tem a seguinte descrição inicial: que o sexo biológico será o único critério definidor do gênero dos competidores em partidas esportivas oficiais do estado de São Paulo, restando vedada a atuação de transexuais em equipes que correspondam ao sexo oposto ao de nascimento.

Esse projeto tem sido debatido, é um projeto interessante. A gente ouve os dois lados. Eu aprendi muito nesse período, ao longo do tempo, e me causa um pouco de receio a votação desse projeto por alguns fatos. Primeiro porque creio, pelos números que nos foram fornecidos, que o número de atletas transexuais em partidas oficiais é muito pequeno. É um universo muito pequeno.

Eu entendo plenamente a vontade do deputado Altair de favorecer sobretudo as mulheres, mas eu entendo que é um universo tão pequeno, e talvez poucas mulheres sejam favorecidas neste momento se a gente votar um projeto dessa natureza, mas o ponto que cerca mais esse projeto, que eu acho que é o que traz uma maior preocupação é que no mundo, no mundo todo, há a admissibilidade da atleta trans. 

Não há uma lei formal, mas há uma regulamentação do Comitê Olímpico Internacional que disciplina essa matéria em todo o mundo. Inclusive respeitado pelos Estados Unidos, por todos os países, e é aplicada aqui no Brasil.

Aí a Assembleia Legislativa de São Paulo - que ontem, infelizmente, foi palco de um roubo à mão armada dentro desta Casa, no banco Santander - claro, tem obrigação, acima de tudo, de fazer deste estado cada vez um estado melhor, em aprovando um projeto dessa natureza, que diz mais ou menos o seguinte: homem é homem e mulher é  mulher, o problema do trans é um problema de outro mundo; não é um problema nosso... Mais ou menos o projeto diz isso. Nós vamos fazer do estado de São Paulo o primeiro estado no mundo a regulamentar essa questão.

Acho que nós somos deputados de um estado e a gente tem orgulho disso. A gente tem que lutar por um estado cada vez melhor, um Brasil cada vez melhor, mas acima de tudo pelo estado de São Paulo. Eu acho que é muito triste a gente ganhar o rótulo no mundo do primeiro estado a regular essa matéria e eu confesso que eu não sei se o mérito dela...

O deputado Altair está com a razão, o Comitê Olímpico Internacional está com a razão, mas é algo que ainda depende de muitos e muitos estudos. Estão sendo feitas comissões para esses estudos. São Paulo tem que se orgulhar de ser o estado a ter o maior número de indústrias novamente, de ser o maior produtor, de ser a alavanca deste País.

Agora, o que trará de benefício para o estado de São Paulo regulamentar uma matéria como essa? Qual a fama que o estado de São Paulo terá? Porque muitas vezes - eu sei que não é esse objetivo do deputado Altair - fica parecendo isso daqui uma provocação muito forte ou talvez até um estímulo ao ódio, ao preconceito.

Eu acho um perigo para nós, deputados, votarmos um projeto dessa natureza, ainda que ele atinja uma única pessoa, duas, três, quem quer que seja. Eu acho que não dá orgulho para esta Casa e não resolve o problema da população do estado de São Paulo a votação deste projeto.

Então por isso que há um esforço muito grande de vários deputados no sentido de adiar essa votação, no sentido de que a gente deixe para cada federação de cada esporte que regulamente este quesito. Deixe para quem entenda.

Eu entendo, deputado Altair, que veio com um parecer importante de uma universidade norte americana dizendo que há uma diferenciação e há prejuízo, só que essa universidade americana não foi suficientemente forte para fazer com que o seu próprio país revisse essa matéria.

Aí nós vamos nos basear num estudo de uma universidade americana que não consegue convencer o seu próprio presidente local, mas vem convencer o Parlamento paulista? Quer dizer, não faz sentido. A gente está indo na contramão da lógica. Então eu peço encarecidamente a cada um dos Srs. Parlamentares que a gente não aprove esse projeto, com todo respeito ao deputado Altair.

É inadmissível que a gente entre em uma seara tão delicada e tão perigosa. Acima de tudo, nós estamos vivendo um momento de disseminação de ódio nas redes sociais muito forte e creio que esse é um projeto que mais uma vez instiga as diferenças, maltrata pessoas, judia, e o ganho real para cada família, para a população como um todo é zero.

Esta Casa tem que votar projetos aqui que façam de São Paulo cada vez mais um estado forte. Que a gente crie mecanismos para receber dos devedores deste estado aquilo que de fato eles têm que pagar. Nós temos que combater aqueles que maltratam o estado de São Paulo, acima de tudo, e não acima de tudo nos preocuparmos em combater gente nossa.

A gente tem que propor acima de tudo aqui a união de todos. Pode haver diferenciação? Eu conversei muito com a deputada Janaina sobre isso. Pode haver tecnicamente, mas não há uma certeza. Eu creio aqui, pelo que eu li bastante, com todo respeito, viu, Erica?

 Eu acho que não há uma certeza para nenhum dos lados. Há uma prática do Comitê Olímpico Internacional e uma orientação e é isso que vem sendo seguido no mundo. Eu entendo o objetivo de se legislar sobre isso, mas eu acho que nós não temos amparo técnico nenhum para fazer isso nesta Casa de Leis e eu acho um perigo muito grande.

Por isso acima de tudo, ainda que a gente em vez de aprovar o projeto, a gente podia suspender esse processo, esperar alguns estudos, deixar essa matéria ser discutida. Foi muito importante a propositura do projeto.

Eu vi matérias em vários jornais, inclusive uma matéria grande da Rede Globo onde o Comitê Olímpico Brasileiro se reuniu, está montando uma comissão para estudar isso melhor; as federações estão preocupadas. Então esse projeto fez reacender essa discussão.

Acho que talvez a gente avance tecnicamente isso nos próximos meses ou em alguns anos. Mas acho realmente prejudicial a esta Casa de Leis, ao estado de São Paulo e, sobretudo, a pessoas que podem sofrer, ser atingidas diretamente com algo. Eu não diria nem a preocupação do emprego de “a”, “b”, “c”, que deixa de jogar profissionalmente.

Mas, acima de tudo, de sua dignidade. Acima de tudo, da gente fazer deste estado, cada vez mais, um estado conservador e mais dividido. Um estado triste, essa é que é a verdade. Então vejo com muita tristeza esse projeto. Entendo a motivação. Cada um tem seus méritos, tem suas crenças.

Mas, acima de tudo, acho que tem que prevalecer o bom senso. E o bom senso indica que não há parâmetro técnico algum para que a gente tenha necessidade de votar esse projeto. Então é muito cedo.

Peço a compreensão dos Srs. Deputados. Ainda falta um pouquinho de tempo para esse encaminhamento. Para a gente atentar, na hora da votação. Se a gente não for votar “sim”, não for votar “não”, que a gente se abstenha e a gente adie. E deixe para quem de fato conhece, para quem de fato vivencia. Traz equipes técnicas. Traz equipes profissionais, para os estudiosos e as universidades apresentarem elementos, para que cada deputado tenha uma convicção melhor.

Eu, a priori, deputada Erica, amiga nossa, quando estive com a Tiffany, que é jogadora de vôlei conhecida, bati o olho na Tiffany e falei: “Pô, se sou mulher, vou me sentir prejudicado”. Foi a minha primeira impressão.

Mas depois, ela me explicando, me explicando tudo aquilo que envolve para se chegar, nos exames que ela faz para chegar naquela aceitação, para aquilo que o Comitê Olímpico Internacional faz, aí passei de fato a ter uma outra visão da questão.

Que é algo muito mais complexo do que a gente apenas bater o olho numa pessoa e dizer: “Pô, não dá para jogar”. Então peço isso, Srs. Deputados. Desculpe a sinceridade, mas peço a colaboração de todos para que a gente, de fato, não vote esse projeto na noite de hoje.

Muito obrigado.

 

A SRA. MONICA DA BANCADA ATIVISTA - PSOL - Pela ordem, Sr. Presidente.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - Deputada Monica, esta Presidência vai suspender essa sessão por cinco minutos, por conveniência da ordem. Na volta, V. Exa. já fala. Eu queria falar com os senhores líderes e com os senhores deputados. Cinco minutos, por conveniência da ordem.

 

* * *

 

- Suspensa às 19 horas e 17 minutos, a sessão é reaberta às 19 horas e 22 minutos, sob a Presidência do Sr. Gilmaci Santos.

 

* * *

 

O SR. ALTAIR MORAES - REPUBLICANOS - Sr. Presidente, para pedir mais cinco minutos de suspensão.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - É regimental. Mais cinco minutos de suspensão.

 

* * *

 

- Suspensa às 19 horas e 22 minutos, a sessão é reaberta às 19 horas e 30 minutos, sob a Presidência do Sr. Gilmaci Santos.

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS – Reaberta a sessão.

Nós estamos aqui discutindo, encaminhando.

 

A SRA. MONICA DA BANCADA ATIVISTA - PSOL – Pela ordem.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS – Pela ordem, deputada Monica.

 

A SRA. MONICA DA BANCADA ATIVISTA - PSOL – Para encaminhar pela Bancada do PSOL.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS – Tem V. Exa. o tempo regimental para encaminhar pela Bancada do PSOL.

Há inversão de pauta.

 

A SRA. MONICA DA BANCADA ATIVISTA - PSOL – SEM REVISÃO DO ORADOR – Bom, recomeçou, não é, gente?

Infelizmente, a gente está aqui numa situação muito simbólica do que é este Parlamento, da dificuldade de a gente se opor, de a gente propor legislatura, de a gente ter um debate transparente e verdadeiro, dos parlamentares aqui poderem usar das atribuições do Poder Legislativo, que é imposta por um ritmo bem peculiar desta Casa, que tem o Regimento Interno mais arcaico das casas legislativas deste País.

Veja bem, a gente propôs agora uma inversão de pauta neste momento justamente porque faz parte da nossa atribuição. A gente acha que é melhor votar uma pauta primeiro porque tem mais acordo sobre ela; a pauta mais problemática vai para depois.

A livre organização das pautas entre os deputados é uma coisa muito simples de ser resolvida em qualquer parlamento; mas, aqui, não. Aqui a Presidência é onipotente, é onipresente.

Chegar um projeto até aqui em votação, quem conseguiu, metade da Casa conseguiu ano passado, sabe que percorreu um árduo caminho de acordos, de pedir favor, de negociação, etc.

Porque protocolar um projeto aqui e esperar que ele siga a ordem legal da coisa, passar pelas comissões e chegar aqui para ser votado não é uma coisa que acontece. Não é alguma coisa que acontece.

A gente precisa explicitar aqui uma coisa que me incomoda muito nesta Casa, e que a gente não veio aqui para fazer isso: só é votado e do jeito que é votado, é sempre uma escolha na mão de quem senta na Presidência.

Não dá para a gente aceitar passar pelo crivo das urnas, não dá para a gente iludir a população de São Paulo, que investe na gente, que investe os seus sonhos políticos, a sua esperança, nos nossos salários, nos nossos gabinetes, etc, e continuar refém dessa lógica, reféns de uma lógica que não nos deixa fazer o nosso trabalho.

A gente sabe que tem setores aqui que a duras penas vão conseguir colocar alguma coisa em pauta. E, tem outros setores que nem isso vão conseguir.

A gente sabe, por exemplo, e todo mundo sabe disso, que o projeto da deputada Erica Malunguinho, no que depender desta Casa, não chega em pé de pauta. Não chega em pé de pauta. Nunca chegará aqui em votação. Porque ele fala de levar mulheres trans para emprego, para alfabetização, de enxergá-las como humanas, de dar para elas oportunidades de vida.

Agora, outros projetos, que falam de exclusão, que as levam para prostituição compulsória, que dão para elas como única oportunidade de vida vender seus corpos, estão aqui rapidinho.

E, está toda a Casa se mobilizando e nos forçando a votá-lo quando a gente não quer votar. A gente cumpriu o rito legal. A gente apresentou uma ordem de inversão de pauta, porque a gente tem acordo de votar um item mas não tem acordo de votar outro.

É nossa prerrogativa. É triste ver que a gente vai ficar sempre presa aos acordos. Por isso, a minha fala aqui é uma fala até que desesperada.

Uma fala de uma parlamentar de primeiro mandato que faz parte de uma leva de outros parlamentares que se elegeram falando que iam chegar aqui, que não iam se render aos acordos, e que iam fazer política de forma diferente, que iam fazer política transparente, que iam fazer política participativa, que iam falar dos mais variados temas, e que chegaram aqui e durante um ano inteiro se renderam a uma lógica de acordos desta Casa.

E, eu não estou dizendo que a gente não pode ter confiança, que a gente não pode ter diálogo, que não pode mexer um aqui e outro ali para ajudar, para melhorar pautas.

Mas, é ruim para nós e para a Casa que o último e o único rito de votação e ordem seja do presidente da Assembleia Legislativa. Por isso, eu quero fazer aqui uma provocação a minha própria bancada, que eu sei que tem acordo comigo, mas que eu quero chamar para o engajamento, para a luta; para a bancada do Novo, porque eu estava falando para os meninos do Novo que é o momento de a gente, realmente, agir de uma forma diferente; ao PSL, que também tem parlamentares de primeiro mandato; ao Arthur, que vem aqui gritar, ganhar os seus “likes” na internet para falar de uma política diferente. É momento de a gente fazer uma reforma regimental.

Não dá para a gente continuar esperando que seja a vontade da Presidência alterar algum item no Regimento Interno desta Casa, porque não existe essa vontade. E a gente vai continuar preso às vontades e necessidades da Mesa Diretora. Isso não é um Poder Legislativo se continuar funcionando assim.

Se tudo depender da vontade de uma maioria contra uma minoria, se as bancadas em condições de minoria não tiverem possibilidades de apresentar projetos, de debater as suas ideias, de fazer obstrução... Obstrução é uma ferramenta legítima, prevista, que todas as casas usam. E aí a gente fica preso, aqui, aos acordos.

A reforma regimental é uma das coisas que Janaina Paschoal falou quando foi candidata a presidente da Casa, que eu falei quando fui candidata à Presidência da Casa, que o Novo deve concordar, porque vem aqui prometendo fazer a diferença, que os parlamentares, todos, de primeiro mandato devem saber da importância, porque estão se sentindo amarrados.

Você precisa passar por uma lista, e, olha, já melhorou bastante a tal lista de intenção de votos, etc. na organicidade, mas 50% dos parlamentares apenas puderam trazer as suas ideias e as suas propostas até aqui. Tudo em regime de urgência, tudo passando por cima das comissões, a gente chegou a um ponto nesta Assembleia Legislativa em que os projetos aprovados só são aprovados se não passarem pelas comissões.

Já pararam para pensar sobre o quanto resumimos o nosso trabalho contra o nosso trabalho, uma vez que só votamos e aprovamos aqui projetos que não passam pelas comissões, que não são debatidos nas comissões? Estamos tirando de nós mesmos o direito de trabalho, que a gente chegou aqui para fazer.

Então, essa minha fala é, mais ou menos, um apelo para que, enfim, a gente tire a comissão de reforma regimental de uma ideia e transforme em um plano de ação, para que a gente fique, cada vez menos, reféns de situações como essa.

Fazer oposição e ser situação é legítimo, todo mundo tem o seu posicionamento político aqui. O que não dá é sempre a Presidência ser quem decide quem é que pode jogar e quem é que não pode jogar aqui na Assembleia Legislativa.

Assim não dá para ficar. Se está confortável para a situação, eu quero dizer que amanhã pode ser a oposição. E, se você não for dos 50% que aprovaram o seu projeto, pode ser que você não chegue a aprovar, que você não tenha nem condições de fazer oposição às ideias a que você se contrapõe.

Nós não chegamos aqui para enfeitar essas cadeiras de couro. Eu queria fazer, mesmo, esse apelo à reflexão para esta Casa. Nós não chegamos aqui para ficar refém de acordos feitos em salas fechadas por lideranças partidárias apenas.

Nós não chegamos aqui para aceitar as regras do jogo, feitas no paralelo, por vontade de uma bancada ou de outra. Nós somos todos parlamentares aqui e estamos, de livre e espontânea vontade, cedendo a uma regra de jogo que não está escrita em lugar nenhum e que não deveria ser assim.

Então, que os projetos passem pelas comissões. Que as comissões, de fato, sejam instâncias analíticas e críticas dos projetos, que sejam oportunidades de a gente corrigir erros, que sejam oportunidades de a gente melhorar proposituras, que sejam oportunidades de reflexão e que todos os parlamentares possam seguir a mesma ordem e a mesma preferência de tramitação das suas ideias nesta Casa.

Não dá para a gente passar outro ano... Já de primeiro, olhem a situação em que estamos. De primeira estamos aqui na correria para dar quórum em congresso de comissão, porque foi aprovado o regime de urgência de projetos de uma bancada e de outra, inversão de pauta de projeto que a gente não conseguiu debater direito em comissão.

Estamos atestando contra o nosso próprio trabalho e está todo mundo fingindo que não é com ele, até o calo apertar.

Eu, de verdade, fiquei bastante constrangida de hoje, na primeira pauta, a gente propor uma inversão de pauta porque, explicitamente, é legal, é regimental, porque a gente tem mais acordo com uma pauta do que com a outra, e a gente ficar tentando derrubar a proposta e a possibilidade de uma bancada ou de outra fazer aqui a obstrução que julga necessária, que julga importante.

Eu já vou terminando a minha fala, mas eu queria mesmo encaminhar aqui para fazer essa reflexão. Este ano de 2020 não pode ser outro ano que a gente se contente apenas com listas de intenções. A gente precisa garantir que esta Casa, de fato, trabalhe com as suas responsabilidades. As comissões precisam funcionar e os projetos precisam sair das comissões para vir para cá para votação.

 

A SRA. BETH LULA SAHÃO - PT - Pela ordem, Sr. Presidente. Para encaminhar em nome da bancada do Partido dos Trabalhadores.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - Tem V. Exa. o tempo regimental.

 

A SRA. BETH LULA SAHÃO - PT - Sr. Presidente, deputadas e deputados desta Casa, público da galeria, telespectadores que nos seguem pela TV Alesp, eu vou mais ou menos nessa direção.

Hoje eu estive no Colégio de Líderes, substituindo o nosso líder Teonilio Barba, e externamos a nossa solidariedade à Mesa Diretora, em função do episódio que nós tivemos ontem aqui, do assalto ao banco Santander, mas deixamos claro que entendemos que, apesar de tudo, que a Casa pode até aprimorar os seus procedimentos e mecanismos de segurança, para proteger as pessoas, para proteger os funcionários, para proteger os equipamentos, para proteger os parlamentares, mas ela não pode fechar as suas portas.

Ela não pode limitar o acesso da população aqui ao interior da Assembleia Legislativa. A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo sempre se caracterizou por ser um dos parlamentos mais abertos que nós temos no Brasil, senão o maior. Ele já é o maior parlamento na América Latina, mas ele sempre se caracterizou por esse espaço priorizar a democracia, e priorizar o acesso a todo tipo de movimentos, movimentos sociais, sindicatos, transeuntes, pessoas que entram, que saem, sem nenhum problema.

Nunca tivemos nenhum problema aqui. Na verdade, às vezes ocorre alguma coisa, como acontece em qualquer outro lugar deste país. Não é exatamente o fato de a Assembleia ter suas portas abertas que vai fazer com que ela passe a ser agora um local de risco, e isso acaba envidando uma atitude de restrição de acesso à população.

Isso seria muito ruim para a própria imagem da Casa. Como disse agora há pouco a deputada Monica, a gente já tem aqui que lidar com uma série de questões que acabam cerceando o direito que a oposição tem nesta Casa, deputada Erica. Hoje, logo depois dessa discussão lá no Colégio de Líderes, ainda eu fiquei um pouco indignada com a atitude da Presidência da Casa.

Por quê? Porque quando nós estamos discutindo a questão dos vetos, por exemplo, da derrubada de vetos, nós, deputados de oposição, tivemos praticamente todos os nossos projetos que foram aprovados no ano anterior, no ano passado, vetados pelo governador, e é interessante que deputados da situação tiveram seus projetos aprovados e sancionados pelo governador, em um procedimento que a gente sabe que há acordo para votação nos projetos do governo.

Como nós somos de oposição e fazemos uma oposição responsável aqui nesta Casa, a gente tem os nossos projetos vetados, e quando estávamos discutindo hoje para a derrubada desses versos, o presidente simplesmente vira e fala que esse critério é dele.

Olha, pelo amor de Deus, vamos democratizar essas relações. Ele não pode interferir em uma coisa que eu quero derrubar. O projeto é da minha autoria, da autoria sua, da autoria da deputada Bebel, da autoria de todos os deputados que tiveram os seus projetos vetados.

A escolha tem que ser individualizada. Esse direito tem que ser respeitado. Ele não pode interferir a este ponto. Ele tem as prerrogativas dele como presidente, mas nós temos, deputado Jorge, as prerrogativas nossas, enquanto parlamentares eleitos pelo povo e, portanto, quando os projetos nossos são aprovados nesta Casa...

Muitos desses projetos não são aprovados porque nós queremos que eles sejam aprovados. São aprovados porque eles trazem consigo uma demanda e um anseio de determinados segmentos da população.

É para isso que nós estamos lutando aqui também, como agora estamos lutando para poder derrubar o projeto com o qual nós não concordamos, como bem colocou o deputado Caruso. Um projeto recheado de preconceitos, que estimula o ódio, que estimula a segregação.

A gente luta tanto para que as pessoas possam viver em paz, possam viver em comunidades, que a diversidade possa ser respeitada. De repente vem um projeto que fala o seguinte: “transexuais não podem participar de disputas oficiais esportivas no estado de São Paulo”, quando esta recomendação vai contra tudo aquilo que organismos internacionais dos mais respeitados do ponto de vista científico dizem que isso não tem nenhuma interferência.

Então é esse debate que nós teríamos que fazer aqui. Não é um debate que mistura muitas vezes até crenças religiosas com Ciência. Ciência é uma coisa; crença religiosa é outra, com todo o respeito que eu tenho a todas as crenças religiosas. Mas é preciso levar isso em conta e nós vamos fazer esse debate ainda mais; já fizemos muito.

A deputada Erica tem capitaneado isto aqui nesta Casa e nós estamos ao lado dela sendo solidários para poder tentar fazer com que esse projeto não seja aprovado, porque isso é um retrocesso para uma Assembleia Legislativa que se diz a mais importante Assembleia da América Latina.

E é com isso que nós temos que enfrentar aqui e também trazemos aqui - mudando um pouco de assunto - a nossa indignação com o que aconteceu no dia de ontem nesta cidade. Dois bilhões de reais deixaram de ser investidos, seja somando a irresponsabilidade do Governo do Estado com a irresponsabilidade do governo do município, que não faz investimentos na prevenção de enchentes porque isso ninguém vê.

E aquilo que as pessoas não veem, elas às vezes não votam e é por isso que fica... Deputada Bebel, eu estou aqui no meu quinto mandato. Nós cansamos de votar aqui empréstimos para os sucessivos governos do PSDB para poderem fazer investimentos, deputada Janaina, para evitar enchentes tanto no Rio Pinheiros quanto no Rio Tietê.

E cadê esses recursos? Aonde eles foram investidos, a ponto de mexer com a estrutura de uma cidade de mais de 12 milhões de habitantes? A Ceagesp perdeu sete mil toneladas de alimentos. O que é isso? É uma irresponsabilidade. Alimentos que poderiam estar sendo utilizados para matar a fome de muita gente que está passando necessidade.

Quantas pessoas tiveram seus carros avariados, suas casas tomadas pela água, seus móveis que foram embora pela redondeza? Fora o risco que elas têm de perder as suas vidas. Graças a Deus nós não tivemos isso. “Ah, mas São Pedro não foi generoso conosco. Fez chover muito”.

Coitado do São Pedro, deixe ele quieto lá. Chove porque não tem planejamento. Chove porque não cuida, acaba impermeabilizando todo o solo. A água não tem drenagem.

A água que chega não tem para onde ir. A ocupação foi feita de forma irregular ao longo de décadas nesta cidade e hoje quem paga é a população que sofre. E nesse sentido sofre grande parte dela, porque eu vi até piscina no Morumbi coberta de lama. Então todo mundo sofre com enchentes desse tipo. O duro é quando a gente perde vidas como hoje.

Em cidades do interior, cinco pessoas morreram por conta das chuvas grandes que aconteceram. E sabe por que acontece isso? Como isso acontece também lá na minha cidade. Lá em Catanduva, neste momento a prefeitura faz uma obra absolutamente desnecessária ao custo de 12 milhões de reais para canalizar um córrego. Sabe o que vai acontecer?

As próximas chuvas fortes que ocorrerem vai dar enchente na cidade, vai prejudicar todo aquele povo que ali mora, que ali tem seus comércios, para poder atender a questão estética da urbanidade. É a estética que está em jogo; não é a vida das pessoas. Nós não queremos beleza.

Nós queremos cuidados com o Meio Ambiente. Nós queremos cuidado para que as águas que caem e que cada vez vão ser maiores, porque as inversões climáticas são intensas e elas não vão parar, infelizmente, pela mão do ser humano que acaba destruindo uma boa parte das questões ambientais.

Esse é o resultado. O resultado que vimos ontem. O resultado de uma cidade que deixou de andar por conta de uma chuva cuja água não tinha como ser escoada. É desta maneira que esses governos atuam. É rasgando o dinheiro, rasgando os recursos que são destinados para esses projetos, que são pessimamente mal utilizados.

Sabe Deus para qual ralo, para qual cano esse dinheiro acaba sendo tragado. Espero que ele não seja tragado como vêm sendo, às vezes, vidas humanas que, por conta de chuvas como essas que deram, acabam se perdendo pela irresponsabilidade, pela falta de compromisso e, sobretudo, pela falta de competência desses governos que aí estão.

Então é isso. Agora fiquem com a próxima oradora, que certamente já está aí no microfone de aparte.

 

A SRA. PROFESSORA BEBEL LULA - PT - Que ousadia da Beth. Para falar pela Minoria do Partido dos Trabalhadores.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - Para encaminhar pela Minoria, tem V. Exa. o tempo regimental para encaminhar.

 

A SRA. PROFESSORA BEBEL LULA - PT - Quero dividir com o deputado Luiz Fernando.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - Vossa Excelência pode fazer isso assim que achar necessário ou adequado o tempo de Vossa Excelência.

 

A SRA. PROFESSORA BEBEL LULA - PT - SEM REVISÃO DO ORADOR - Boa noite, Sr. Presidente. Cumprimento a Mesa Diretora de trabalho, a assessoria à minha esquerda e à minha direita, Srs. Deputados, Sras. Deputadas, público presente, e todos e todas que nos assistem através da TV Alesp. É sempre uma satisfação falar com vocês.

Subo a essa tribuna por duas razões. Tem um caráter de encaminhamento já delineado aqui, tanto pela companheira Monica, como também a deputada Beth Sahão. Acredito que a gente tem que começar a refletir por que é que os projetos têm sido tratados de forma muito diferenciada. Isso é um fato.

É verdade que às vezes a pessoa fala: “Mas não interessou para o governador”. Mas espera aí. Se nós aqui representamos a sociedade paulista, entendemos que um projeto tem sim factibilidade e tem razão de ser votado, por que uma única pessoa não sanciona? Só passar o chamegão, pronto. Acabou. Derruba todo um processo de discussão que foi feito nesta Casa.

Acho que a gente deveria ter, no mínimo, alguma coisa que salvaguardasse as nossas proposituras, os nossos encaminhamentos. Não estamos aqui porque nos colocaram. A sociedade paulista nos colocou aqui. Isso tem que ser respeitado. Sobre o projeto em questão, fico muito com a ponderação feita pelo deputado Caruso. Acho correta. Por que uma correria numa coisa tão complexa como essa?

Tenho um posicionamento. Não acho que tem que ter restrição para quem é trans, para quem é homem, mulher, praticar esporte. Acho que, se está dentro das normas, pratica-se. É isso. Está dentro das normas, praticar. Agora, criar restrição me parece... Me parece, não. Claramente, é romper com a democracia e com o direito também.

É não aceitar que uma comunidade que vem cada vez mais ganhando espaço, que é a comunidade transexual, seja tratada de forma segregada, como a história de banheiro, história de poder ou não fazer esporte. Não. Tem que fazer. Está dentro da possibilidade de fazer. Então, claro, vou votar contra um projeto desse que tem restrição. Isso não tem como ser diferente. Acho que o respeito à diversidade também tem que ser respeitado.

Por último e não menos importante - vou dar aqui um minuto e 45, deputado -, quero me dedicar à Educação, que é a causa permanente deste mandato, um mandato que considero popular, e que tem sido duramente atacada.

Já disse aqui no período da tarde que o Papa destinou todo um encontro que haverá no mês de maio, e nesse período todo, para defender os professores. Por quê? Esta categoria está sendo vilipendiada, está em extinção, desrespeitada com salários, com falta de condições.

E pego o que aconteceu no estado de São Paulo com a clareza de quem dirige o maior sindicato da América Latina, que acompanhou nas 96 subsedes e municípios deste país a suspensão conseguida pela Apeoesp e os militantes todos para que as atribuições de aulas não ocorressem. Foi um trabalho lindo, maravilhoso, da nossa militância na sua totalidade.

Assim como foi também o nosso congresso, nesse último fim de semana, que tirou uma pauta unificada, no dia 18, contra o ataque aos servidores públicos, greve geral dos servidores públicos no estado de São Paulo, rumo à greve geral de toda a classe trabalhadora.

Então, acredito que saio fortalecida de um congresso de dois mil delegados e delegadas, com debate profícuo e profundo sobre a Educação pública no estado de São Paulo, sobre a reforma administrativa em curso no governo federal, a reforma da Previdência em curso aqui no estado de São Paulo, e a dita modernização da carreira, que está intrinsecamente ligada às duas reformas.

 

* * *

 

- Assume a Presidência o Sr. Sebastião Santos.

 

* * *

 

Por essa razão e não menos importante, já para chamar o meu companheiro - pode já vir, Luiz, a gente deu o tempo um para o outro -, quero dizer para vocês que a Apeoesp foi vitoriosa em uma ação de mérito, junto com meu querido Emidio - é uma satisfação vê-lo após as férias, apesar da perda da sua mãezinha, mas está aqui entre nós, meu querido -, e dizer que essa ação questiona os casos estranhos à reforma da Previdência. Quais? Subsídios, a questão da readaptação, doenças funcionais e um quarto item, que é a inclusão de décimos nos salários dos servidores.

Boa noite, muito obrigada.

 

* * *

 

- Assume a Presidência o Sr. Gilmaci Santos.

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - Pelo tempo remanescente do encaminhamento, o deputado Luiz Fernando.

 

O SR. LUIZ FERNANDO LULA DA SILVA - PT - Sr. Presidente, nobres pares, queria saudar o pessoal da galeria, o pessoal que trabalha na Casa, os policiais militares e civis.

Quem chegou à Casa, a grande maioria, percebe que não sou uma pessoa muito afeita à tribuna. Tenho um trabalho muito mais de gabinete e tal, mas, em alguns momentos, algumas pessoas nos provocam a vir a esta tribuna, Sr. Presidente.

Hoje, a Exma. Sra. Deputada líder do PSDB trouxe algumas questões que merecem e precisam ser respondidas, motivo pelo qual pedi à Bebel para que pudesse usar parte do tempo. Quero agradecer à deputada Bebel.

Todos nós acompanhamos São Bernardo embaixo da água e mais uma vida ceifada na nossa cidade em virtude das chuvas. No ano passado, morreu uma pessoa no centro da cidade.

E esse ano perdemos mais uma vida, também na cidade. E a cidade toda suja, sem varrição, uma coleta deficiente, uma varrição seletiva. E tivemos, como nunca tivemos antes, perdas na cidade, mortes acontecendo em virtude de enchentes no centro da cidade.

O ex-prefeito Luiz Marinho fez um post demonstrando... Esse que fez a grande obra de drenagem na cidade. Lugares em que se perdia tudo e hoje não têm mais enchentes.

No ano passado teve enchente porque o prefeito se esqueceu de ligar a bomba do piscinão, ou seja, encheu o piscinão, e aí a água veio. A bomba não foi ligada. Isso o próprio Ministério Público está averiguando, inclusive a responsabilidade civil e penal do prefeito em relação a essa questão, mas hoje vem dizer que o prefeito fez um post quando ele lamentou aquelas mortes, culpando o atual prefeito.

É fato que São Bernardo está sob o mato, não existe a menor varrição na cidade. A coleta é deficiente, áreas importantes da cidade não têm o lixo coletado, e hoje a gente vê vidas sendo ceifadas por conta das chuvas.

Então, eu quero primeiro aproveitar este microfone, Sr. Presidente, apresentar mais uma vez as nossas condolências à família dessa pessoa que perdeu e protestar aqui.

A primeira-dama, que é deputada nesta Casa, vem trazer um comentário totalmente fora. Em momento algum ela veio aqui se solidarizar com a família, mas veio tentar defender o marido de um post correto do prefeito Luiz Marinho.

A responsabilidade do prefeito é objetiva nessa situação, porque, se a nossa cidade fosse limpa, fosse varrida, tivesse uma manutenção em dia, nós não teríamos a enchente que nós tivemos naquela cidade. Então, eu quero protestar.

Segundo, Sr. Presidente, a mesma deputada diz que eu entrei com uma ação, uma representação contra o marido, proibindo ciclovias. Eu gostaria de dizer aos pares desta Casa o que aconteceu.

O Código Nacional de Trânsito diz que nas ciclovias a cor a ser pintada é vermelha, assim como espaços para deficientes, deputada Bebel, são azuis. O prefeito de São Bernardo resolveu pintar as ciclofaixas de azul, que é a cor do partido dele, assim como pintar escolas e tal.

Nós entramos com um mandado de segurança, o juiz concedeu a liminar. Ele, em uma articulação esdrúxula no Tribunal de Justiça, conseguiu que essa liminar fosse cassada. O juiz de primeira instância, que é quem vai julgar essa ação, confirmou a sua decisão.

Então, eu quero deixar claro, deputada Carla Morando, que em momento algum nós somos contra o ciclismo, mas nós vamos nos insurgir, sim, se o seu marido resolver mudar a cor do semáforo de vermelho, amarelo e verde para vermelho, amarelo e azul, porque é a cor do partido dele. Somos contra e queremos que a lei seja cumprida.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - Para concluir, deputado.

 

O SR. LUIZ FERNANDO LULA DA SILVA - PT - Então depois vou mandar entregar no seu gabinete o Código Nacional de Trânsito, o que diz a respeito das ciclovias, para que a senhora possa entender o que aconteceu nessa ação.

É isso, Sr. Presidente, muito obrigado.

 

 O SR. CAMPOS MACHADO - PTB - Sr. Presidente, para encaminhar pelo PTB.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - Vossa Excelência tem o tempo regimental para encaminhar pelo PTB.

 

O SR. CAMPOS MACHADO - PTB - Meu querido amigo, meu caro irmão deputado Gilmaci, vou fazer expressamente, mas agora eu vou falar verbalmente. Quero cumprimentar a Igreja Universal.

Eu quero cumprimentar expressamente nesta noite, e de coração aberto, com sinceridade, a Igreja Universal do Reino de Deus pelo grande trabalho que está fazendo com os policiais militares em todo o país.

Não está fazendo pregação religiosa, não está usando a religião, não está procurando angariar fiéis. Está fazendo, deputado Gilmaci, o que muita gente deveria fazer, está dando força interior aos policiais militares nessa onda de suicídio que existe aí, pregando paz, levando a palavra de Deus e mostrando a necessidade que tem um policial militar, que às vezes não tem nada na sua casa, mas tem o conforto da alma.

Daí, eu quero cumprimentá-lo e lhe pedir, uma vez mais, publicamente, o nome e o endereço do presidente da Igreja Mundial, que eu vou fazer uma moção prestando homenagem à igreja do meu querido amigo, bispo Edir Macedo.

Diz o poeta Paixão Leite que a escuridão e as trevas não podem embaçar uma decisão que não possua luz própria. O que quis dizer, deputada Edna Macedo, esse tal de Paixão Leite? Ele é poeta. Eu sei que ele é poeta.

O que será que ele quis dizer? Que as decisões não podem ser tomadas ao sabor dos ventos, nem podem ser tomadas porque eu sou amigo do deputado, amigo disso ou aquilo. Não. Eu não tenho nada contra o projeto do meu amigo, o deputado Altair. Nada contra, não. Só que eu não conheço o projeto.

E, como eu, dezenas de deputados podem até ter vergonha de falar. O que eu faço, deputado Jorge? Onde estão as palavras, onde estão as manifestações de cientistas? Onde está a voz da medicina?

Por que não fizemos mais reuniões, mais eventos, mais audiências públicas? Por que não? Não é porque eu recebi esse ofício da Comissão de Direitos Humanos da OAB, contrário ao projeto. Não é isso, não. Eu não me sinto capacitado para votar um projeto dessa envergadura.

Eu não quero fazer injustiças. Eu não estou aqui para fazer pré-julgamento; não sou julgador. Sou apenas um advogado criminalista travestido de advogado. Como diz um amigo meu, deputado Douglas, um criminalista travestido de deputado. O mandato do deputado, Major Mecca, é transitório. Eu sou advogado; eu estou deputado.

Hoje, algumas pessoas ficaram um tanto quanto enlouquecidas quando eu defendi, aqui, o presidente da Assembleia. Ele vai ficar bravo comigo, o deputado Cauê Macris. Mas eu vou dizer: ele não está nada bem de saúde, não.

Não está bem; está com problemas na vesícula, quem sabe em função da cirurgia bariátrica que fez, com dores fortíssimas. E teve que ir embora. Quando eu percebi a fala que ele teve aqui, não era o deputado Cauê Macris. Ele tinha acabado de tomar remédios, e o deputado Gilmaci sabe disso.

Fui várias vezes hoje à sala dele pedir para ele ir embora. A mesma coisa fez o deputado Gilmaci. “Vai para casa.” Ele, com dores profundas, tem que ser operado com certa urgência. Aí diz alguém: “Mas o que tem a ver o deputado Cauê com o homem Cauê Macris?”. Muito a ver.

Eu acabei de falar da ação da Igreja Universal em relação aos policiais militares. O que custa, para nós, ser solidários com as pessoas? Só porque houve um assalto aqui embaixo, eu vou o quê? Tripudiar em cima do presidente? Diz para mim. Vou vir aqui dizer o quê? Que ele é o culpado do assalto? É coautor do assalto? É moralmente culpado?

A gente tem que ter um pouco não só de dignidade: um pouco de solidariedade com as pessoas. E, eu estou dizendo aqui: vou defender o deputado Cauê Macris em toda e qualquer circunstância.

Fica fácil, minha querida irmã. Eu guardo a foto dessa mulher, dessa grande mulher, junto com o irmão dela, bispo Edir Macedo, na minha agenda há 20 anos. O tempo vai envelhecendo a foto, mas rejuvenesce essa mulher.

É estranho o tempo, não é? O tempo rejuvenesce uma pessoa, mas as suas lembranças, às vezes, vão para as calendas gregas. Mas, o que eu vim mesmo fazer aqui, deputado Major Mecca? É uma boa pergunta, que deve ser feita.

Já se foram quase oito minutos, e o que eu disse? Meu caro capitão da honrada Aeronáutica, onde meu irmão, brigadeiro... Eu tenho um profundo orgulho da Aeronáutica. Sabe bem V. Exa. que eu convivi muito tempo com brigadeiros, coronéis, e tenho um carinho muito grande pela Aeronáutica, como tenho pela Polícia Militar.

Mas, eu dizia: eu, Campos Machado, simples deputado, líder ocasional, presidente de um partido que sonha demais, como posso eu ter convicções definidas? Como? Onde estão as audiências públicas que deveriam ter sido feitas?

Deveriam ouvir os grandes nomes da medicina. Como é que eu posso tomar uma medida dessa, não é, deputado Douglas? Embora seu sorriso de quando em quando não é mais aquele sorriso de antes. Seu sorriso não é mais antipático.

Publicamente, deputado Douglas, eu quero cumprimentá-lo. V. Exa., realmente, hoje merece o meu respeito. Pouco lhe importava, mas eu estou dizendo isso hoje. Pelo seu comportamento, merece o meu respeito.

V. Exa., que não veio das estrelas, não, nem nasceu naquela mansão que tem campo de futebol, cujo dono da mansão está viajando, como sempre faz na vida. Temporais, Rio Pinheiros com cheia, Tietê com cheia, e ele viajando.

Não. Você veio, sim, como veio o próprio deputado que hoje é candidato a prefeito pelo Patriota: veio de baixo. Conseguiu subir, alcançar um lugar na maior Assembleia Legislativa da América Latina.

Parabéns, deputado Douglas. Eu estou te elogiando. Não faço elogios fáceis, não. Eu sou sincero com as pessoas. O que tem aqui é muito mentiroso. O que tem aqui é muito traidor, é cara que toma, acha, pega o lugar dos outros, pega a autoria dos outros; está cheio aqui na Casa, aqui pulula isso aí.

Você, não. V. Exa. é um moço simples e humilde. Portanto, Sr. Presidente, peço desculpas, mas eu não tenho ainda convicção para votar um projeto dessa envergadura sem que eu possa amanhã me arrepender de ter votado de maneira equivocada.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS – Em votação o requerimento.

As Sras. Deputadas e os Srs. Deputados que forem favoráveis permaneçam como estão. (Pausa.) Aprovado.

 

O SR. SEBASTIÃO SANTOS - REPUBLICANOS – Pela ordem, Sr. Presidente.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS – Pela ordem, deputado Sebastião Santos.

 

O SR. SEBASTIÃO SANTOS - REPUBLICANOS – Para pedir uma verificação de votação.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS – É regimental o pedido de Vossa Excelência.

Sras. Deputadas e Srs. Deputados, vamos proceder à verificação de votação pelo sistema eletrônico. A partir deste momento estamos fazendo soar o sinal intermitente por quatro minutos para que as Sras. Deputadas e os Srs. Deputados que não se encontram em plenário tomem conhecimento da votação que se realizará.

 

A SRA. BETH LULA SAHÃO - PT - Coloco a bancada do Partido dos Trabalhadores em obstrução.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - O PT está em obstrução.

 

A SRA. ADRIANA BORGO - PROS - Coloco o PROS em obstrução.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - O PROS está em obstrução.

 

A SRA. MONICA DA BANCADA ATIVISTA - PSOL - Coloco o PSOL em obstrução.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - O PSOL está em obstrução.

 

O SR. ED THOMAS - PSB - Para colocar o PSB em obstrução.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - O PSB está em obstrução.

 

O SR. THIAGO AURICCHIO - PL - Para colocar o PL em obstrução.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - O PL está em obstrução.

 

A SRA. MARTA COSTA - PSD - Coloco o PSD em obstrução.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - O PSD está em obstrução.

 

O SR. GIL DINIZ - PSL - Coloco o PSL em obstrução.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - O PSL está em obstrução.

 

O SR. BRUNO GANEM - PODE - Para colocar o Podemos em obstrução.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - O Podemos está em obstrução.

 

O SR. SARGENTO NERI - AVANTE - Avante em obstrução.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - O Avante está em obstrução.

 

A SRA. CARLA MORANDO - PSDB - Para colocar o PSDB em obstrução.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - O PSDB está em obstrução.

 

O SR. SEBASTIÃO SANTOS - REPUBLICANOS - Coloco o Republicanos em obstrução.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - O Republicanos está em obstrução.

 

O SR. MARCIO DA FARMÁCIA - PODE - Queria colocar o Podemos em obstrução.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - O Podemos já está em obstrução, já foi colocado.

 

O SR. ROGÉRIO NOGUEIRA - DEM - Coloco o DEM em obstrução.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - O DEM está em obstrução.

 

O SR. DELEGADO OLIM - PP - Coloco o Progressistas em obstrução.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - O PP está em obstrução.

 

O SR. HENI OZI CUKIER - NOVO - Novo em obstrução.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - O Novo está em obstrução.

Tendo decorrido os quatro minutos, o sistema eletrônico ficará aberto para que as Sras. Deputadas e os Srs. Deputados votem “sim”, “não”, ou registrem abstenção nos terminais dispostos em suas mesas.

 

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- É feita a verificação de votação pelo sistema eletrônico.

 

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O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - Votaram 52 Sras. Deputadas e Srs. Deputados: 10 “sim”, 41 “não”, e este presidente, que não vota, quórum que rejeita a inversão da pauta.

Passamos ao Item nº 1. Discussão e votação do Projeto de lei nº 346, de 2019.

            Para discutir a favor, Tenente Coimbra. Tem V. Exa. o tempo regimental de 15 minutos.

Sr. Deputado, antes, porém, de V. Exa. se dirigir à tribuna, convocação. Srs. Deputados, Sras. Deputadas, nos termos do Art. 100, inciso I, do Regimento Interno, convoco V. Exas. para uma segunda sessão extraordinária, a realizar-se hoje, dez minutos após o término na primeira sessão extraordinária, com a finalidade de ser apreciada a seguinte Ordem do Dia: Projeto de lei nº 346, de 2019, de autoria do nobre deputado Altair Moraes.  Com a palavra o deputado Tenente Coimbra.

 

O SR. TENENTE COIMBRA - PSL - SEM REVISÃO DO ORADOR - Obrigado, presidente. Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sras. Deputadas, “staff” aqui da Casa e todos que nos assistem pela TV Alesp, primeiro, queria parabenizar o deputado Altair pela coragem e o pioneirismo do projeto. Discordo um pouco dos pares que vieram anteriormente aqui discursar, que falam que nós não temos competência para discutir tal projeto.

Se fosse nessa prerrogativa, projetos da área de Medicina só poderiam ser discutidos pelos parlamentares médicos; projetos da área de Segurança só poderiam ser discutidos por parlamentares oriundos da Segurança Pública. Então, como é uma prerrogativa e já foi passado pela questão constitucional do tema, é uma prerrogativa de nós, deputados, debatermos ele aqui.

E quando colocam que são poucos os integrantes na categoria que é discutida no projeto, eu concordo. Realmente são poucos, mas são poucos que fazem a diferença. Para quem já competiu esporte de alto rendimento, sabe que qualquer centímetro faz diferença, qualquer milésimo de segundo faz diferença. Esporte é inclusão. Realmente é inclusão, mas o esporte de alto rendimento é competição.

Envolve financeiramente, envolve dinheiro, envolve competitividade, envolve exposição. Então, quando falamos que uma atleta ou um atleta, depende da categoria, ocupa o lugar do outro, ele automaticamente elimina. E nesse caso aqui a gente está falando de mulheres que estão sendo prejudicadas sim no esporte.

Estão sendo prejudicadas como uma melhor remuneração no final da partida, como um prêmio de melhor atleta, como uma própria titularidade dentro do seu time. Então existe sim esse prejuízo dentro do esporte. E como é competência sim deste Parlamento debater sobre o tema, eu debati, eu estudei, eu fui a fundo, discordando até humildemente do próprio Campos.

E fica nítido que na comparação homem cis e mulher cis, isso tem realmente diferença. Então quando a gente pega, por exemplo, a parte de coração, o débito cardíaco do homem é de 5,6 litros por minuto; o da mulher é de 4,9. Não tem hormônio que vá mudar isso ao longo do tempo. Na capacidade pulmonar, a capacidade do homem é de 25% a 33% maior e não tem tratamento hormonal que vá diminuir isso.

A capacidade pulmonar vai ajudar esse atleta ou essa atleta, depende da categoria, a conseguir um melhor resultado. Então isso não muda de acordo com o tempo. A parte muscular, a gente pode falar aqui a parte de ossos. O quadril do homem é menor, ele dá mais impulsão. A mulher tendencialmente no quadril tem mais gordura. Isso não é achismo; isso é físico.

Então é esse tipo de debate que a gente tem que ter, que a gente tem que trazer para cá. Na relação de glóbulos vermelhos, os homens possuem um maior número, o que dá vantagem na relação aeróbica. A hemoglobina do homem é de 14 a 16 e das mulheres é de 12 a 14. Enfim, então eu trouxe também alguns vídeos relatando atletas trans no esporte e como é prejudicial para a própria mulher.

Eu queria primeiro passar o vídeo da Fallon Fox, por favor, que é uma atleta de MMA. Ela serviu na Marinha em 2012, iniciou sua vida profissional e tem já um cartel de seis lutas e cinco vitórias. Essa é uma pequena demonstração dela, que é uma atleta trans competindo contra mulheres.

 

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- É exibido o vídeo.

 

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            Eu gostaria de passar agora uma foto da Mary Gregory, que quebrou todos os recordes mundiais femininos de levantamento de peso.

 

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- É feita a exibição de foto.

 

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Essa levantadora de peso, que começou na sua origem como um levantador de peso, passou a ser uma levantadora de peso. Na sua categoria, quebrou todos os recordes mundiais. Por quê? Porque ela tem a sua força oriunda de sua puberdade, quando ela era homem. Gostaria de passar o vídeo da Terry Miller, que é do atletismo.

 

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- É feita a exibição de vídeo.

 

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Ela é uma atleta de 55 metros. Observem a diferença de explosão. Nessa prova em questão, ela quebrou o recorde mundial em 6,95. A segunda atleta, que também é trans, ficou em 7,01. A terceira, mulher, finalizou a prova com 7,23. Inclusive, as duas que ganharam dentro dessa categoria conseguiram obter a bolsa, enquanto a terceira, uma mulher cis, não conseguiu, e perdeu a bolsa numa universidade dos Estados Unidos.

A terceira, ela deu a seguinte colocação: “Todos nós sabemos o resultado da corrida antes mesmo de começar. É desmoralizante. Apoio a causa delas. Estou feliz por elas serem fiéis ao que acreditam. Quero que elas tenham o direito de se expressar na escola. Mas o atletismo sempre teve regras para manter a competição justa”.

Por fim, o caso que acredito que gerou esse debate. Curiosamente, fiz um vídeo sobre esse caso em 2017. Então acho importante trazer para o Parlamento, porque desde então não se fala. Quando se fala que não tem nenhum estudo conclusivo, é verdade.

Não tem nem para admitir, nem para proibir. Só que é um fato que, sem o estudo conclusivo, quem estão sendo prejudicadas são as mulheres. As mulheres que estão perdendo espaço. Então eu gostaria de passar um vídeo relacionado à Tiffany, que é uma atleta, e que fala o seu sentimento perante a outra atleta. Por favor.

 

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- É feita a exibição de vídeo.

 

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A Tandara, que é da Seleção feminina de vôlei, ela coloca muito bem: não é questão de transfobia, não é questão de preconceito. É questão fisiológica, é questão de justiça no esporte. E as mulheres estão, sim, sendo prejudicadas.

A Tiffany, a atleta a que estava se referindo a Tandara, em 2018, quebrou diversos recordes. Foi a atleta que mais pontuou em uma partida, a que teve mais média ao longo do campeonato. Quebrou historicamente esses recordes.

E quando ela fala da explosão, é comparativo. Durante a terapia hormonal, Tiffany perdeu potência e explosão. Sim, ela saltava 3,50 e agora pula, no máximo, 3,25. O número ainda é alto se comparado a outras jogadoras de altura parecida. Exemplo: a Tiffany tem 1,94 e salta 3,25. A Thaisa tem 1,96 e salta 3,16. Então, faz diferença no esporte.

Isso é questão de justiça, é questão da parte competitiva. Se a gente pegar “n” exemplos... Vamos imaginar se o Michael Phelps tivesse mudado a sua designação sexual. Ele não iria mudar o tamanho da sua mão, ele não iria mudar o tamanho do seu pé, não iria mudar a sua capacidade pulmonar, não iria mudar sua estatura física e, com certeza, teria muito mais vantagem do que atletas mulheres cis.

Então, parabéns, Altair. É por isso que me posiciono a favor desse projeto.

Muito obrigado, presidente.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - Para falar contra, a deputada Erica Malunguinho.

 

A SRA. ERICA MALUNGUINHO - PSOL - SEM REVISÃO DO ORADOR - Boa noite a “todes”. Quero desejar boas-vindas a quem não tive ainda a oportunidade de ver. Somos muitas pessoas, então, à medida que o tempo for passando, vamos nos cumprimentando no decorrer desse processo.

Vou começar prestando solidariedade às vítimas das enchentes em São Paulo. É muito triste perceber a negligência do estado e do município. Tenho dito constantemente que o que se pratica não é negligência, não é esquecimento, não é alienação, mas sim a necropolítica, a política da morte.

Existe um objetivo muito claro quando não se utilizam recursos que eram destinados para garantir que as pessoas não tivessem suas casas invadidas. Esses recursos não são aplicados.

Porque as chuvas, afinal de contas, são previsíveis. Sabemos que há de chover, sabemos que há de transbordar. O que não é previsível é que os governos e o estado sejam tão ausentes nesse sentido.

Agora, tão previsíveis quanto as chuvas que caem do céu são os discursos de boicote e de estigmatização da população em relação às pessoas LGBTs.

Sabe por que falo, Tenente Coimbra, que isso é transfobia? Eu falo sobre estrutura e institucionalidade. À mesma medida que projetos negativos em relação à população trans passam, projetos afirmativos não têm tramitação na Casa.

Tenho falado de um projeto que se chama Transcidadania, que está sendo julgado como mérito em uma comissão que deveria julgar a constitucionalidade.

Falo, por exemplo, de uma lei antidiscriminação que foi, novamente, hoje, com voto contrário na Comissão de Direitos Humanos, que fala sobre discriminação em relação à população LGBT em estabelecimentos públicos. Quando falo de LGBTfobia, falo exatamente disso. É extremamente e diretamente proporcional: à medida que projetos excludentes avançam, projetos afirmativos não avançam.

Uma vez que nós entendemos... Sim, porque, afinal de contas, temos o polegar opositor e o telencéfalo altamente desenvolvido, a gente sabe, por sermos humanos, a gente sabe muito bem que existe preconceito, que existe estigmatização e que existe a expulsão de determinados grupos de pessoas a partir de suas condições, sejam elas étnico-raciais, sejam elas de gênero ou de orientação sexual.

Então, acho que isso é uma coisa que a gente precisa acertar, para entender quando falo sobre o que é transfobia ou até mesmo racismo do ponto de vista estrutural, institucional.

Agora, falando sobre a competência para legislar, em nenhum momento eu disse ou eu acho que não temos competência para tal. Eu acho que nós temos competência para tal, desde que sejamos profundamente avalizados por especialistas ou pessoas que possuam um profundo conhecimento técnico sobre determinados assuntos. Este assunto é um deles. Não existem estudos conclusivos. É certo que não existem estudos conclusivos.

Então por que esta Casa precisa determinar uma legislação que vai dar um recado... Porque isso é um recado muito mais político do que efetivamente de reparação; um recado político de que pessoas trans não são bem-vindas também nesse lugar.

Uma população da qual - eu repito - 90% está em situação de prostituição, porque foi expulsa de casa, do mercado de trabalho e, consequentemente, da família também. E efetivamente não estão nos esportes.

Quando você fala da população trans nos esportes, de verdade, eu conheço uma, que é a Tiffany. Eu conheço uma. Não sei quem são outras pessoas trans que estão em atividades de alto rendimento aqui no Brasil.

Eu acho, sim, incipiente; acho que é um recado político negativo, num cenário de ódio e de violência em que já vivemos. Reiterando isso: enquanto não há estudos conclusivos, nós temos, sim, orientação do Comitê Olímpico Internacional, que tece sobre o tema.

Inclusive, a União Internacional de Ciclistas se reuniu agora, no dia 30 de janeiro, na Suíça. Em reunião da UCI que foi feita na Suíça, houve uma revisão dos critérios de elegibilidade para a competição na categoria correspondente à identidade de gênero organizada pelo Comitê Olímpico Internacional.

Os novos regulamentos entrarão em vigor em primeiro de março de 2020. São projetados para incentivar atletas trans a competir na categoria correspondente ao seu novo sexo, garantindo condições equitativas para todos os atletas nas competições em questão.

E aqui tem uma série de critérios: que ele deve provar seu nível sérico de testosterona abaixo de cinco nanomols por pelo menos 12 meses antes da data da elegibilidade; solicitação ao gerente médico indicado pela União Internacional de Ciclistas pelo menos seis semanas antes da data da primeira competição; avaliação de documentos por uma comissão de três especialistas internacionais independentes; entre outras determinações. O Comitê Olímpico Brasileiro também.

O que eu quero dizer sobre isso é que é uma pauta, sim, que efetivamente causa inúmeras indecisões, inúmeras dúvidas. Mas que nós, efetivamente... E não são os critérios - me desculpe - e os argumentos que você acabou de usar aqui que podem ajudar a definir isso, quando há uma comunidade científica que eu acredito séria, principalmente dos esportes, tratando disso no âmbito que se deve.

Uma outra coisa que eu acho interessante é que eu circulei muito pela comunidade desportiva por esses meses, por conta desse tema. Eles e elas têm inúmeras pautas. E a pauta que não aparece é a presença das pessoas trans nos esportes.

A comunidade desportiva está falando dos alojamentos, está falando do incentivo dos esportes nas escolas; as mulheres cisgênero estão falando do comportamento das federações quando essas mulheres estão grávidas, estão falando da volta delas para o esporte. Ou seja, há inúmeras demandas e inúmeras injustiças e coisas a serem reparadas dentro do esporte.

Mas eu tenho certeza de que não é a população trans que está fazendo essa balança se desequilibrar. Isso é nitidamente um recado político para a sociedade; é um recado, mais uma vez, de que a população LGBT não é permitida ou não é bem-vinda em alguns espaços.

Não adianta a gente falar de respeito a partir de uma teoria; nós não estamos falando de teoria, estamos falando de práticas, práticas desconstrutivas em relação ao rompimento da discriminação, preconceito e estigmatização de algumas pessoas. Eu acho que é sobre esses termos que nós poderíamos começar a elaborar sobre esse tema.

E de forma alguma eu estou, aqui, sendo categórica ou tentando definir e dar um ponto final nessa discussão. Mas nós não temos argumentos científicos suficientes para fazer tal separação, para produzir mais uma assepsia em relação a uma população, repito, extremamente vulnerabilizada.

Agora, ao mesmo tempo em que essa população está exclusa de determinados espaços, como universidades, assembleias legislativas, câmaras municipais, escolas, etc. e tal, essa população está nas ruas, principalmente as mulheres trans, se prostituindo.

Agora, me digam vocês: por que essas mulheres estão lá engrossando um mercado absolutamente precário de trabalho, vulnerabilizando seus corpos? Porque há quem consome.

Agora, eu fico muito indignada com isso: quem consome? Quem consome esses corpos em situação de extrema vulnerabilidade? Eu garanto a você que são as mesmas pessoas que olham para a gente em lugares como esse, ou em lugares de sociabilidade saudável, e viram as costas, e cospem nas nossas caras.

É sobre isso que estamos falando, é sobre o recado político que esta Assembleia vai dar não só para o País, como para o mundo, em relação à exclusão e à pontuação de mais um espaço que uma população que já está extremamente vulnerabilizada não pode acessar.

Repito? Não existe número de pessoas “TS” suficiente para que possamos debater sobre a presença delas ou não no esporte, porque nós não estamos nesses lugares. E, vocês estão falando especificamente das mulheres trans, quando são os homens trans que passam por processos terapêuticos. Vocês querem que eles concorram com as mulheres cisgênero?

É óbvio que eles vão ter mais força, porque eles passam por um processo hormonal que faz com que eles fiquem mais robustos e tenham uma disposição e massa muscular maior do que as mulheres transgênero.

Então, assim, realmente é um tema muito delicado. É um tema delicado, mas o fato e a lógica, e a constante, é que da primeira vez nesta Legislatura, nos primeiros dias em que eu fui aqui ameaçada de forma subjetiva, ou outras travestis, de forma subjetiva, de sair do banheiro arrastada a tapas e ser chamada a polícia, essa fala corrobora uma porção de outras em relação à nossa exclusão, como a da amiga agora em Maceió, entre outras situações. Entre outras situações.

Cada vez mais que a gente caminhar para a exclusão, nós estamos caminhando para a violência, nós estamos caminhando para um profundo conflito. E, não vamos sair do abismo social, da falência social, que estamos adentrando, desde os períodos mais históricos.

Essa proposta de que nós avaliemos isso e que possamos, eu me disponho, com o coração muito aberto, a produzir outras discussões a partir do momento em que a comunidade científica trouxer outras considerações sobre o caso. Sou a primeira pessoa a aderir a isso.

Senti-me muito triste e muito enganada quando nós tínhamos combinado uma audiência pública, inclusive, eu em parceria com Altair Moraes, para ele trazer metade das pessoas da audiência, e eu trazer uma outra metade para falar sobre o assunto.

E, no entanto, essa audiência não aconteceu. Sabe por quê? Porque de uma hora para outra ela foi boicotada. Agora, por que a gente não quer ter um debate sério sobre uma questão tão delicada?

Tínhamos combinado que metade dos oradores seria da parte dele, metade, da minha parte. Vamos ter debates qualificados. Eu acho que precisa ter endocrinologista. Sabe, esses argumentos que foram trazidos aqui, eu quero que você fale das organizações internacionais e nacionais, Conselho Federal de Medicina.

Vamos falar de gente capacitada e habilitada, para ajudar a formular nosso debate. Porque, se não, a gente está falando de um achismo. Eu posso trazer aqui uma dúzia de vídeos também falando o contrário.

Mas, eu não peço que vocês se atenham ao que eu digo; eu peço que se atenham ao que a comunidade científica tem debatido sobre esse assunto. E, nesse sentido, sim, nós somos incipientes, “todes” nós, salvo quem está dentro da área, estudando sobre o tema.

Quando eu não sei um tema de Segurança Pública, ou quando não sei um tema que fala sobre Habitação, para discutir de forma profunda, eu vou atrás, eu quero ouvir especialistas.

E, não são especialistas do meu espectro político, ou do meu campo político. Eu quero ouvir pessoas e entidades e organizações autorizadas, respeitadas, idôneas, que teçam sobre o tema.

Agora, o que não dá é para a gente fazer desta Assembleia um balcão de vontades próprias. Isso é que não dá. Não dá, porque uma prática e uma assinatura nos papéis daqui, eles ressoam, mais tarde, na sociedade. Uma outra coisa que eu acabei de lembrar, que eu falei do anacronismo, deputada Carla Morando.

Deputada Carla Morando, que é uma pessoa que estava muito integrada no tema, seria importante se a senhora ouvisse, por favor. Eu faço questão de ouvir as pessoas quando estão aqui na tribuna.

Outra coisa muito importante que eu considero extremamente anacrônica, acabei de falar, são projetos afirmativos em relação à população LGBT. Eles não tramitam. Falei hoje de uma lei que falava sobre discriminação em instituições públicas ou privadas, foi vetada.

O programa Transcidadania, que prevê um processo de reparação escolar e do mercado de trabalho está empacado na comissão de Constituição e Justiça. O projeto que a Isa Penna apresentou, o Dossiê Mulher, esse projeto só passou quando as mulheres trans saíram do projeto.

Ou seja, existe um recado objetivo sendo dado para essa população. E eu acho que tudo bem se a gente, no caso não eu, assumir que existe uma prática compulsória de exclusão em relação a essa população.

Agora, não dá para velar isso em um discurso falacioso de respeito, porque respeito não é teórico. Respeito é prática. Não é dar oi, beijinho no rosto, respeito é quando você compreende a alteridade e a dimensão da subjetividade do outro.

Não lhe cerceia espaço e permite circulação e, acima de tudo, garantia de direitos que a população trans, infelizmente, hoje, nunca... Aliás, nunca que eu pensaria ter que debater trans nos esportes, porque nossa pauta primeira é o direito à vida. Ainda. Para vocês entenderem a incipiência, ainda, da vida de uma pessoa transexual no Brasil.

Espero que tenhamos parcimônia e serenidade para não sermos levianas para além da população trans, mas para o recado à sociedade em relação a um grupo tão estigmatizado como esse.

Muito obrigada.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - Para falar a favor, nobre deputado Sebastião Santos.

 

O SR. SEBASTIÃO SANTOS - REPUBLICANOS - Quero indicar o deputado Altair Moraes.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - Passando o tempo para o Altair. É regimental. Deputado Altair, tempo regimental de 15 minutos para discutir a favor.

 

O SR. ALTAIR MORAES - REPUBLICANOS - Sr. Presidente, Sras. Deputadas, Srs. Deputados, telespectadores da TV Alesp, fico muito feliz em falar sobre o meu projeto. Muito consciente de tudo que nós vamos falar, eu gostaria de pedir muita atenção de todos que estão aqui.

É impressionante quando a gente vê um projeto que define o sexo biológico para as competições esportivas e a gente vê deputados subindo aqui e levando para a parte ideológica e não biológica, anatômica, fisiológica.

Quando se fala de preconceito, de transfobia, de necropolítica... É uma coisa impressionante. É simples para quem está assistindo a gente agora pela TV Alesp e para quem está aqui. Vamos entender o seguinte: não podemos, por causa de opinião de quem quer que seja, jogar na lata do lixo a fisiologia, a biologia, a anatomia. É simples assim.

Uma mulher, eu não vou dizer cis... Para mim mulher é mulher e homem é homem e pronto. Uma mulher e um homem, nascem totalmente diferentes biologicamente falando. O homem tem um nível de testosterona altíssimo, que nunca, jamais, em tempo algum, nenhuma mulher terá.

O homem desenvolve toda a sua capacidade hormonal, física, biológica, fisiológica, pulmonar com o passar do tempo. Porque ele é homem e tem testosterona muito alta.

Aí vem um homem que fez uma transposição, se sente mulher, se acha mulher, e quer competir com mulher. “Ah, não, porque fez um ano de reposição hormonal.” Ok. Mas e os anos em que este homem teve a testosterona lá em cima? Construiu toda a sua carga genética, muscular, que a mulher não tem.

É uma grande injustiça no esporte, meu Deus do céu. É muito simples quando se sobe em uma tribuna como esta e quer levar lá tudo para o lado ideológico.

Eu queria perguntar aos senhores, por favor, Coronel Telhada e todos que estão aqui, meus amigos. Eu queria perguntar aos senhores. Os senhores já viram algum homem competindo em barra assimétrica? Eu vou dizer o que é, para alguns que não entendem.  Nas Olimpíadas, tem a barra assimétrica, que é uma barra reta que algumas mulheres fazem piruetas ali, tal e tal.

Alguém já viu algum homem competir ali? Não. Sabe por quê? Porque a anatomia do homem não permite. Não permite, porque o tronco do homem é mais alongado do que o da mulher. O da mulher é menor. Então, o centro de gravidade da mulher é para baixo. Por isso que os homens não competem nas barras assimétricas.

Agora é o quê? Aí vai dizer: “Ah, não, mas então vai ter que competir, vai ter que ser contra a fisiologia, vai ter que ser contra a anatomia, vamos jogar tudo no lixo”. Pelo amor de Deus, onde é que estamos? Eu até admito e aceito, e sou um grande incentivador do esporte.

Nós não estamos proibindo ninguém de praticar esporte. Pode praticar tranquilamente, mas quando se fala de competição de alto rendimento, se está falando de corpo, de físico, é o que está usando, e, pasmem vocês, senhores, o único estudo que existe no mundo é da Joanna Harper, uma trans que fez um estudo.

Desculpa, não é um estudo, é um artigo, com quatro trans. E, pasmem vocês, esse artigo é baseado sabem em quê? Em comportamento.

Nós não estamos falando aqui de comportamento, senhores. Nós não estamos falando aqui de opção sexual. Nós estamos falando de fisiologia, de biologia, de anatomia, porque é isso que define o esporte. Aí a gente vê uma demagogia violenta aqui, falando um monte de bobagem que não sabe nem o que está falando.

Me prova por “a” mais “b” que uma pessoa, fazendo transposição hormonal, fazendo resignação, um homem se torna igual, idêntico à mulher. Já falei aqui e falo novamente. O dia em que me provarem e tiverem um estudo abalizado em cima disso, eu rasgo, eu como o meu projeto, porque é uma grande injustiça, e, para os senhores que não sabem, eu vou mostrar algumas coisas aqui.

Primeiro, nos Estados Unidos cinco estados já são contra os trans no esporte, porque entenderam que é uma grande injustiça. Nós não vamos fazer retrocesso nenhum aprovando esse projeto, senhores. Nós vamos sair na vanguarda. Nós vamos sair à frente, e em defesa, principalmente, das mulheres.

Eu vi o deputado Caruso falando aqui - eu o respeito e gosto muito dele -  ele falou uma coisa aqui que eu não concordo de forma nenhuma. Me perdoe, mas é minha opinião.

Ele falou assim: “Ah, mas só tem uma competidora trans aqui no estado de São Paulo”. Verdade, mas e a mulher que perdeu para a vaga dela? Quer dizer, se eu matar uma pessoa, eu sou assassino? Ou eu tenho que matar dez para ser assassino? Se eu fizer um roubo, eu sou ladrão? Ou tenho que roubar dez vezes para provar que eu sou ladrão?

Se há uma injustiça, é injustiça, e ponto final. Eu quero saber onde é que a gente vai chegar, porque quando for passando isso para o lado ideológico, e não para o lado biológico, fisiológico e anatômico, a gente vai perder, porque é uma grande injustiça no esporte.

Então, senhores, eu peço a consciência de todos, e o pensamento. Nós não estamos aqui lidando com a opção sexual de ninguém. A pessoa pode ser o que ela quiser, problema dela. Eu não tenho nada a ver com isso.

Agora, quando se trata do esporte, Caruso, não é um RG que vai competir, meu amigo. Não é: “Ah, não, porque eu me sinto isso”. Não é sentir, não. O que compete é corpo, é físico, e isso conta.

Não existe no mundo... Me prova. A deputada Erica falou que tinha alguns vídeos. Ponha os vídeos, vamos ver. Não existe nenhum estudo no mundo que comprove essa realidade.

 

O SR. JORGE CARUSO - MDB - Permite um aparte?

 

O SR. ALTAIR MORAES - REPUBLICANOS - Permito.

 

O SR. JORGE CARUSO - MDB – COM ASSENTIMENTO DO ORADOR - Deputado Altair, eu quero até concordar com V. Exa. em muita coisa. Eu também não sou... Eu, na verdade, não sei o que é certo, o que é errado, se tem diferença ou não. É uma questão técnica de exames, enfim.

 

O SR. ALTAIR MORAES - REPUBLICANOS - Eu sei.

 

O SR. JORGE CARUSO - MDB - Eu acho uma questão muito delicada. Mas eu só me permito divergir de uma palavra que você falou, que é uma questão de justiça. Eu só queria entender qual que é o conceito de justiça, porque se o mundo, se nos esportes olímpicos, se o mundo todo adota um critério, então nós estamos falando o seguinte: que o mundo todo é injusto.

 

O SR. ALTAIR MORAES - REPUBLICANOS - Desculpe, o mundo todo não adota esse critério, não. Isso é uma recomendação do COI, e muitos países não adotam. Só para deixar claro isso. Não é o mundo todo.

 

O SR. JORGE CARUSO - MDB - Mas tudo bem, mas é a recomendação do Comitê Olímpico Internacional.

 

O SR. ALTAIR MORAES - REPUBLICANOS - Sem estudos.

 

O SR. JORGE CARUSO - MDB - Mas é do Comitê Olímpico Internacional.

 

O SR. ALTAIR MORAES - REPUBLICANOS - Mas está errado.

 

O SR. JORGE CARUSO - MDB – Então, o Comitê Olímpico Internacional está errado?

 

O SR. ALTAIR MORAES - REPUBLICANOS - Está errado.

 

O SR. JORGE CARUSO - MDB - Está errado? Então os cinco estados americanos estão certos e o Comitê Olímpico Internacional está errado?

 

O SR. ALTAIR MORAES - REPUBLICANOS - E você vai ver isso nas Olímpiadas.

 

O SR. JORGE CARUSO - MDB - Eu estou aprendendo também. Então quer dizer, os cinco estados americanos estão certos. O estado de São Paulo vai estar certo e o resto do mundo está errado?

 

O SR. ALTAIR MORAES - REPUBLICANOS - Claro, graças a Deus. O resto do mundo não, porque não é todo mundo, torno a dizer.

 

O SR. JORGE CARUSO - MDB - Dê um exemplo de um país que não aceita. O Afeganistão, por exemplo?

 

O SR. ALTAIR MORAES - REPUBLICANOS - A própria Itália, aonde a Tiffany jogava.

 

O SR. JORGE CARUSO - MDB - Não aceita?

 

O SR. ALTAIR MORAES - REPUBLICANOS - Ela não aceitou lá ser trans.

 

O SR. JORGE CARUSO - MDB - Mas ela não jogava lá.

 

O SR. ALTAIR MORAES - REPUBLICANOS - Desculpe, ela jogava como homem, não como trans, entendeu? Por favor, conclua.

 

O SR. JORGE CARUSO - MDB - Eu só acho prematura uma análise daquilo que é certo ou errado porque se é uma prática, vamos falar de um regime democrático onde a maior parte dos países e a maior parte das entidades admitem, eu acho que nós aqui, numa votação dessa natureza, representamos a minoria e eu não acho que isso é importante neste momento para o estado de São Paulo. Talvez lá na frente.

 

O SR. ALTAIR MORAES - REPUBLICANOS - Obrigado, deputado.

 

O SR. JORGE CARUSO - MDB - É só isso.

 

O SR. ALTAIR MORAES - REPUBLICANOS - Está bom. Bom, não estou falando aqui de achismo. Eu estou falando de Biologia, de Fisiologia e da parte biológica. Não estou falando de achismo, estou falando o seguinte: a Escola Americana de Desportos, a maior entidade do mundo em desportos é totalmente contra esse artigo que a Joana Harper fez, por quê?

 Porque não é comprovatório. Eu não posso fazer um estudo para esporte comportamental, meu amigo. É simples assim. Não precisa ser expert; não precisa ser médico; não precisa entender muito não. É só entender que o estudo que eles estão baseados é um estudo comportamental.

Eu não estou falando de comportamento; eu estou falando de competição. É muito diferente isso. Eu queria passar esse tempo que eu tenho para o deputado Douglas Garcia, por favor. Queria que segurasse o tempo, se possível.

Obrigado, senhores.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - O tempo está correndo e tem o deputado Douglas Garcia o tempo restante para falar, discutir a favor.

 

O SR. DOUGLAS GARCIA - PSL - SEM REVISÃO DO ORADOR - Muito obrigado, Sr. Presidente. Caros pares aqui presentes, senhores, diante da exposição do Tenente Coimbra e do deputado Altair Moraes, não há mais o que nós questionarmos.

Todos os vídeos que foram trazidos aqui pelo deputado Tenente Coimbra mostram e evidenciam que isso se trata de uma injustiça gigantesca permitir com que homens que se sentem mulheres compitam com mulheres.

Ora, vejam só em que ponto que nós chegamos. Deputado Altair Moraes, eu parabenizo o projeto de lei de Vossa Excelência, que é um projeto maravilhoso, mas sabe qual é o comentário que o povo mais faz na internet? “Chegaram ao ponto de ter a necessidade de se protocolar um projeto que diz que homens que se sentem mulheres não podem competir com mulheres” - ou ditas mulheres trans, tanto faz.

É um verdadeiro absurdo. Chegou a época, senhores. Já que foi dito aqui muito pela questão ideológica, também vou defender pela questão ideológica, porque eles atacam dessa forma tentando nos tachar de preconceituosos, tentando nos tachar de LGBTfóbicos e etc.

Chegou o momento de nós dissermos que a grama é verde e a neve é branca. Olhe só, o Tenente Coimbra trouxe aqui um vídeo de uma mulher, entre aspas, socando a outra na porrada, sendo que aquilo ali nasceu como um homem enquanto todos estavam aplaudindo.

Chegou o momento no mundo em que nós estamos aplaudindo os homens agredindo mulheres e vocês acham isso normal? Acham isso como se fosse algo comum?

É um absurdo, senhores, nós termos que discutir aqui e ouvir ainda por parte de deputados esquerdistas dizendo que nós não temos comprovação técnica para dizer que um homem nasceu diferente de uma mulher, que nós não temos capacidade técnica de poder discutir esse projeto.

Não, isso que está acontecendo no Brasil e no mundo trata-se de uma engenharia social esquerdista sim e o que é completamente contraditório, porque eles costumam falar que defendem os direitos das mulheres, mas estão aplaudindo as mulheres sendo agredidas. Estão tirando os direitos das mulheres. Sofri sim, sofri muito. A deputada Erica Malunguinho trouxe à baila a história do banheiro.

Não consegue esquecer a história do banheiro. Daqui até o último ano de mandato, vai relembrar disso. Mas foi defendendo esse projeto. E mais do que defender esse projeto, é defender o direito das mulheres. É defender o direto da minha mãe. É defender o direito da minha irmã. É defender o direito da sua esposa, caro deputado casado. Da sua filha. É defender o direito das mulheres do nosso Brasil, do nosso mundo, pelo amor de Deus.

Não podemos mais permitir que tamanho absurdo se propague. Essa agenda tem cada vez mais sido tratada como comum. “Mas porque o Comitê Olímpico Internacional recomendou, etc, etc”. Se tem uma coisa que aprendi, foi desconfiar de organizações internacionais.

Se a ONU diz, uma coisa, faço exatamente o contrário do que a ONU diz. Se a OMS diz que é quadrado, eu acredito que é redondo. Se a Ordem dos Advogados do Brasil, completamente tomada por ideologismos, diz uma coisa, sigo exatamente o contrário.

Porque sei que a turminha que está lá é a mesma turminha que está no Condepe, protocolando projetos e moções contra o projeto do deputado Altair Moraes.

É o presidente do Condepe, que é petista, por exemplo. É o ouvidor da Polícia, que é do Partido Comunista do Brasil. A galera que geralmente faz com que essas resoluções existam, não só no Brasil como também no mundo, segue exatamente a mesma linha. Uma linha ideológica, uma linha comunista, uma linha esquerdista, que não quer saber de fazer outra coisa que não seja destruição.

“Ah, mas você é hipócrita.” Ora, sou um deputado gay sim, só que nasci de um homem e de uma mulher. Sei exatamente o que estou falando. Não acredite, deputado Altair Moraes, quando eles dizem que toda a comunidade LGBT é contra o projeto de Vossa Excelência. Porque não existe procuração nenhuma, por parte deles, para dizer isso.

Inclusive, quando fui mais atacado por parte dessa militância LGBT, que é completamente imoral, que é completamente antidemocrática, tive sim algumas pessoas trans que me defenderam.

Que vieram atrás de mim: “Ó, concordo em gênero, número e grau. Só que não exponho porque eles são violentos”. De fato, são pessoas completamente violentas. Ameaçaram esfregar a minha cara no asfalto. Ameaçaram me agredir. Ameaçaram fazer de tudo comigo. Mas essas coisas não são levadas a público.

Porque parece que apenas ao pessoal da militância LGBT é permitido existir um certo vitimismo. Infelizmente é nisso que eles trabalham: vitimismo e ideologismos completamente fora da realidade. Peço aos nobres deputados que votem favorável ao projeto do deputado Altair Moraes. Em nome do direito de todas as mulheres do nosso Brasil. E, é claro, em nome da verdade, da realidade e do povo são do nosso País.

 

A SRA. MONICA DA BANCADA ATIVISTA - PSOL - Pela ordem, Sr. Presidente.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - Com a palavra, o deputado Paulo Lula Fiorilo, para falar contra.

 

A SRA. MONICA DA BANCADA ATIVISTA - PSOL - Pela ordem, uma breve Comunicação.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - É para falar do tema?

 

A SRA. MONICA DA BANCADA ATIVISTA - PSOL - É para falar do tema, mas também a gente...

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - Do tema, não. É para uma Comunicação. Porque não é para discutir.

 

A SRA. MONICA DA BANCADA ATIVISTA - PSOL – Mas é importante a gente pontuar aqui quando faltam com a verdade nessa tribuna. Houve a divulgação de uma informação incorreta. Na Itália, não é proibida a presença das pessoas trans. Além do que, esta Mesa tem a obrigação de regular o que é crime e o que não é crime na fala de parlamentares. É inaceitável que parlamentares recorram á tribuna para cometer crimes de transfobia.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - Vou dar a palavra para Vossa Excelência. Tenha calma.

 

A SRA. MONICA DA BANCADA ATIVISTA - PSOL - Estou calma e estou aguardando.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - A senhora pediu pela ordem, e vou te dar pela ordem. Mas, calma. Com a palavra, Paulo Lula Fiorilo, para falar contra.

 

O SR. PAULO LULA FIORILO - PT - SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr. Presidente, vou transferir o meu tempo para a deputada Erica Malunguinho, que vai falar em meu lugar.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - É regimental. Agora, V. Exa. tem o tempo regimental por dois minutos para uma Comunicação. Que V. Exa. não vai fazer a Comunicação, vai fazer debate. Mas vou dar o tempo a Vossa Excelência.

 

A SRA. MONICA DA BANCADA ATIVISTA - PSOL - PARA COMUNICAÇÃO - Obrigada, Sr. Presidente. O senhor não precisa me explicar quais são as minhas atribuições como parlamentar, porque estudei. Uma delas é o artigo regimental que cabe ao senhor zelar pela ordem.

Já apresentei, por requerimento, essa Questão de Ordem, várias vezes. Parlamentar que sobe à tribuna para incorrer em crime de transfobia, não aconteceu nem uma e nem duas vezes. Inclusive, a Procuradoria desta Casa deve ser consultada a respeito e orientar a Mesa Diretora.

Estou apresentando a Questão de Ordem mais uma vez pedindo que o mesmo rigor aplicado para a minha fala seja aplicado aos parlamentares que sobem a esta tribuna para cometer crime.

E também corrigir uma fake news: na Itália não é proibida a participação de pessoas trans no esporte.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - Com a palavra a deputada Erica Malunguinho.

Vossa Excelência, se julga que algum deputado cometeu crime, pode representar no Conselho de Ética.

 

O SR. ALTAIR MORAES - REPUBLICANOS - Uma questão de ordem, presidente, por favor?

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - Deputado Altair, vamos continuar aqui e depois V. Exa. fala. Pode ser assim? Obrigado.

Com a palavra a deputada Erica Malunguinho.

 

A SRA. ERICA MALUNGUINHO - PSOL - SEM REVISÃO DO ORADOR - Volto para, além de reiterar que é mentira, que é uma fake news que na Itália são proibidas as pessoas trans nos esportes, mas também dizer rapidamente para o Douglas que, sobre a defesa das mulheres, você fala em defesa das mulheres ao mesmo tempo em que está defendendo os homens de consumirem os nossos corpos nas esquinas das cidades. Não é isso?

E o que fez você, vergonhosamente, ter que ser assumido e sair literalmente do seu armário, foi você ter sido ameaçado por isso depois de tecer aquelas palavras que eu nunca vou esquecer. Nunca vou esquecer, porque uma violência como essa, que mata todos os dias, não nos deixa esquecer.

Sinto muito. Infelizmente, você não é o primeiro nem vai ser o último a tecer coisas muito parecidas. O que me entristece é saber que você tem uma aptidão de um parlamentar, a chancela de um parlamentar para tecer tais coisas, o que torna mais grave ainda, torna sua fala mais grave ainda.

Mas, infelizmente, não vou esquecer, porque é por conta de discursos como esse que muitas são assassinadas. Cada vez que vejo uma transexual assassinada, eu lembro do que você falou, de tirar no tapa e chamar a polícia depois. Eles começam no tapa, depois eles dão soco e depois arrancam o coração e colocam uma santa dentro. Você já viu essa notícia? É por isso.

Agora, a questão é ideológica, sim. Eu queria que mostrasse, por favor, uma imagem que eu trouxe. É uma questão ideológica. Esse rapaz é um rapaz gay - que inclusive é assessor da Monica - e que postou uma imagem com o namorado dele na internet.

É tão ideológico e é uma pessoa tão fora do nosso contexto que o deputado Altair Moraes, um pastor evangélico, um homem adulto com faculdades mentais ditas organizadas, foi ao Twitter desse menino e escreveu assim: “Homem com homem juntos só fazem barriga de chope. Homem com homem é par, não casal”. Gente, por favor. Por favor! É sobre ideologia? Deve ser. Isso não é...

 

O SR. ALTAIR MORAES - REPUBLICANOS - Sr. Presidente, questão de ordem, Sr. Presidente. Isso não tem nada a ver com o projeto.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - A palavra está com a deputada. Assegurem o tempo dela. A palavra está com a deputada.

 

A SRA. ERICA MALUNGUINHO - PSOL - Isso corresponde a como você elabora as coisas, como você pensa nas coisas. Isso corresponde ao seu desrespeito quando você fala que “homem é homem, mulher é mulher”, e quando fala que trans é....

É o seguinte, eu exijo ser respeitada como mulher trans que sou. Exijo! Isso é uma decisão. Se vocês não querem respeitar organismos internacionais competentes e adequados para determinadas discussões, respeitem o Supremo Tribunal Federal, porque, no momento em que a gente não respeitar as instituições que regem o mínimo de civilidade neste país, a gente vai cair em uma barbárie.

Então, me respeite! Sou uma mulher trans. As pessoas trans se reivindicam dessa forma. Não estamos reivindicando ser mulheres cisgênero. Então, exijo esse respeito, por favor.

Continuando, vou ler para vocês uma carta, rapidamente, do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Extensão da Universidade Federal de São Paulo, a Escola Paulista de Medicina:

“Dirijo-me respeitosamente a V. Exa. em resposta ao PL 346, que propõe que a Casa do Povo do estado de São Paulo vote pela exclusão da população trans no esporte com base na classificação restrita, incompleta e superficial de categorização de sexo biológico.

Ao longo dos últimos 25 anos de trabalho como médico e professor de endocrinologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, aprendi e pude exercer minha prática docente a partir de uma leitura acadêmica criteriosa e atualizada de livros e artigos científicos e de literatura biomédica relacionados ao desenvolvimento do sexo desde o período de embrião até a puberdade.

 Nesse sentido, reconheço a ampla e qualificada produção científica nessa área e reafirmo para os “deputades” e toda a sociedade com a segurança de um pesquisador e interlocutor do conhecimento científico produzido de que a definição de sexo biológico é muito complexa e não se limita à categorização binária mais comum de distribuição cromossômica, 46 xx e 46 xy gonadal; ovários e testículos; genitália interna, presente ou ausente, e externa, vagina e pênis; secreção e ação hormonal; estrogênios e androgênios.

Asseguro a vocês que a biologia reconhece os corpos variantes, pessoas trans e intersexo, como parte importante e necessária da natureza adaptativa e diversa do ser vivo. Além disso, o sexo biológico não é compreendido como fator compulsório e determinante da identidade de gênero.”

É tão importante isso. Identidade de gênero e orientação sexual são coisas diferentes. Espero que caminhemos nessa mesma página. Identidade de gênero é como se identifica em termos de gênero.

Existem homens cisgênero, como o Caruso; existem mulheres cisgênero, como Janaina; existem mulheres transgênero, como eu; e homens transgênero, que não temos exemplo aqui. Mas enfim, isso é diferente de quem eu decido me relacionar afetivamente, então existe homossexualidade, bissexualidade e heterossexualidade para todos esses grupos também.

“Peço a compreensão de V. Exas. para o fato de que o dimorfismo sexual macho e fêmea só tem sentido dentro da dimensão reprodutiva, ou seja, para além da biologia da preservação da prole, todos os demais órgãos, tecidos e funções e sistemas biológicos podem apresentar diferenças funcionais, competências e capacidades entre macho e fêmea que são equivalentes e circunstancialmente compensatórias, tais como transporte de oxigênio, nível de hemoglobina e hormônios sexuais, capacidades cardiovascular e osteoarticular, estatura e pelve óssea, força e memória muscular.

Em outras palavras, podemos observar essas diferenças de desempenho funcional e de forma física entre os sexos se compararmos o valor da média e mediana do fenômeno analisado entre grupos. No entanto, é igualmente científico reconhecer que existe uma margem de distribuição populacional em que essas funcionalidades e competências mensuráveis se sobrepõem.”

Por exemplo, se atribuíssemos como único critério a norma da cisgeneridade, pensando no corpo biológico, quenianos e muitos oriundos do continente africano não poderiam competir com alemães e poloneses, por exemplo, por ter, sim, biofisicamente, corpos e estaturas diferentes e anatomias também diferentes no que diz respeito a uma porção de aspectos. Essa variação também se dá entre mulheres cisgênero.

“Frente a essa observação, pesquisadores da área consideram cientificamente coerente a comparação de medidas avaliativas entre pessoas transgênero e cisgênero somente quando dentro da mesma categoria de gênero, ou seja, avaliar mulheres trans dentro da categoria mulheres cis para fins de competição. Fora desse rigor metodológico e ético, o estudo está enviesado e não tem sustentação científica, além de violar o princípio da equidade e honestidade.

Seria, portanto, devastador para todos nós, inclusive para cidadãs e cidadãos transgênero e intersexo de São Paulo, que V. Exa. contribuísse com a exclusão de pessoas trans nos esportes, especialmente aquelas que já modificaram seus corpos e funcionalidades hormonais, atendendo aos critérios previamente estabelecidos por comitês especializados de um determinado esporte.

Negar o acesso de pessoas trans ao esporte, desconsiderando o esforço da pessoa trans em se adequar equitativamente aos critérios da média mediana de medições objetivas no gênero de afirmação desconsidera as bases endocrinológicas das mudanças corporais induzidas pela hormonioterapia.

Reitero a minha disposição para construirmos uma alternativa a essa apresentada de forma enviesada, e que seja, portanto, mais consenso entre pesquisadores e representantes da sociedade, mais humana, mais inclusiva e melhor respaldada cientificamente.”

Este daqui é um professor da Universidade Federal de São Paulo, professor de medicina, que está há anos pesquisando o assunto. Eu considero que, assim como ele, outras pessoas que são gabaritadas, com profundidade no assunto, pudessem vir aqui, por meio de audiência pública ou qualquer outro recurso, trazer os argumentos para que nós pensássemos de forma propositiva sobre isso.

Agora, eu quero voltar à mesma questão que comecei abordando aqui, sobre o posicionamento do Altair, de ir na rede de um casal de gays falar aquilo. Da mesma forma como infelizmente tive o dissabor, no final do ano passado, de ler meu nome no jornal, por supostas matérias do deputado Gil Diniz falando sobre minha genitália.

Eu acho que é sobre isso que a gente diz quando a gente está falando sobre violências, sobre discriminação, sobre estigmatização.

É absolutamente sobre isso, porque é a partir desse critério definidor que nos colocam à disposição constante de um sistema violento de opressões. E aí reduzem isso - porque, para mim, quem fala “mimimi” é porque não tem argumento - a “mimimi”.

Eu estou reivindicando o meu direito ao respeito e à preservação da minha vida e da minha integridade física e emocional. E não só minha, porque a minha saúde social, a saúde social de pessoas trans corresponde à saúde social de “todes”. Porque, enquanto tivermos gente em condição de vulnerabilidade, essa vulnerabilidade e essa violência incutida nesses corpos, elas voltam, porque isso é sistêmico.

Então, se nós não queremos... A não ser que nós digamos aqui: “ah sim, é normal, natural, e deixemos que aquela população esteja à margem, tanto em situação de rua, como na condição da prostituição compulsória”.

A não ser que nós estejamos acordando isso. Porque, diferente disso, eu não vejo prática propositiva alguma nesse sentido. Então, esse projeto, sim, como eu falei e repito, tem um viés... Não sei por que falam tanto de ideologia, porque ideologia é o praticável dentro dos discursos. Ele tem um viés político-ideológico de negação de direitos, de negação de espaço, de negação do mínimo, que é acesso à cidadania.

Repito: não há pessoas trans nos esportes; não há gente e número suficiente para se produzir uma legislação enviesada, que não está sustentada por argumentos coerentes e consistentes do ponto de vista científico.

Nós iremos cometer, aqui, uma injustiça. É disso que se trata. E toda vez que a gente vê uma pessoa trans em condição de vulnerabilidade, temos que lembrar disso, sim, porque se essas pessoas ocupam esses lugares de vulnerabilidade, é porque não houve outros espaços. Eu sei dessas histórias, eu reconheço essas histórias.

Eu sei quantas de nós são colocadas para a prostituição de forma compulsória aos 13, 14 anos de idade. Os defensores das crianças, onde estão? Do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Porque nós somos expulsas de casa aos 13, 14 anos, e somos colocadas na prostituição de forma compulsória. Essa é a realidade. E, muitas vezes, dentro dessa realidade das ruas, modificando e colocando nos seus corpos silicone industrial e toda sorte de medicamentos, de drogadição e toda sorte de vulnerabilidade possível.

E uma última coisa, que não se encerra nesse assunto, é que a diversidade existe. Eu sempre digo isso: a diversidade é lei, e ela é a lei soberana. É a maior de todas as verdades; é a diversidade. Ninguém é igual a ninguém. Tentaram nos acomodar em padrões, em caixas, mas a diversidade é ação, é o gesto, é a insurgência mais poderosa e mais positiva das humanidades.

E, para a diversidade ser real, precisamos tratar os diferentes com oportunidades diferentes. Não dá para achar que todo mundo é igual e que temos os mesmos direitos e que estamos submetidas à mesma obtenção desses direitos.

É sobre isso, sobre reparações; é sobre justiça. Não é injustiça o que está acontecendo com as mulheres cisgênero nos esportes. A injustiça - eu disse - que elas estão reivindicando é quando elas saem das federações. Saem das federações porque engravidam. E, contrariando todo um discurso de uma biologia ultrapassada, muitas vezes, como uma atleta cujo nome esqueci agora, voltou depois da gestação e bateu um recorde mundial.

Elas querem falar sobre a gravidez, querem falar sobre o bolsa-atleta, querem falar sobre a inclusão qualificada dos esportes dentro das escolas públicas. A cidade está se acabando em chuvas, e nós estamos debatendo a exclusão de pessoas trans nos esportes.

É anacrônico isso, esquizofrênico. Não entendo, mas, enfim, essa carta do professor Magnus está à disposição para quem quiser se aprofundar mais sobre o tema. E, repito, reitero: que possamos fazer uma escolha consciente, não baseada em argumentos enviesados.

E, repito: não é sobre o que eu estou falando. Eu estou falando sobre a inconclusão de estudos para produzir uma política pública que atinge de forma tão objetiva e direta certas pessoas.

Obrigada.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS – Obrigado, deputada.

Eu vou suspender os trabalhos pela conveniência da ordem por um minuto, e gostaria de falar aqui, de novo, com os Srs. Líderes, por gentileza.

 

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- Suspensa às 21 horas e 26 minutos, a sessão é reaberta às 21 horas e 27 minutos, sob a Presidência do Sr. Gilmaci Santos.

 

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O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS – Reaberta a sessão.

Deputado Carlos Giannazi para falar contra. (Pausa.) Ausente. Ausente, não. Então, o deputado Giannazi não vai falar. Com a palavra a deputada Isa Penna, por quatro minutos restantes aqui no nosso acordo.

 

A SRA. ISA PENNA - PSOL – Eu queria me dirigir a todas, todos, “todes”, os deputados e as deputadas que estão aqui hoje.

Esta Assembleia Legislativa tem uma oportunidade. Esta Assembleia Legislativa pode e deve legitimar a luta de um setor da população pela sua própria vida, porque a aprovação desse projeto eventualmente implica na prática, na exclusão de pessoas transexuais de esportes, de uma forma geral.

Eu fico pensando que não é possível que isso não toque o coração dos deputados e das deputadas que estão aqui hoje. Esse processo, que, como a Monica, minha colega de bancada, disse mais cedo, é um processo absolutamente atropelado, em que os projetos que vêm à pauta são definidos pelo critério, um critério absolutamente arbitrário.

E, nós estamos num país com 14 milhões de desempregados, pessoas passando fome, com uma crise generalizada no sistema de Saúde público, e nós estamos aqui debatendo sobre um tema que absolutamente cruel, absolutamente violento, para um setor da população.

E, aí, eu pergunto: quem é que traz a ideologia para cá? Quem é que traz a ideologia para esta tribuna? Até agora, quem trouxe a ideologia para esta tribuna é quem está propondo a exclusão das pessoas de um direito constitucionalmente garantido, que é o acesso ao esporte.

Quem está trazendo ideologia a esta tribuna é o deputado Altair Moraes. Nós estamos, sim, defendendo o direito à vida, o direito à existência.

E eu confesso que, dentro de mim, eu ainda tenho esperança de que os deputados, por mais pressionados que estejam, votem contra essa barbaridade que, aliás, se aprovada aqui na Assembleia e sancionada pelo governador, deve ser derrubada judicialmente, porque, como advogada que sou, devo adverti-los de que esse projeto é inconstitucional.

Projetos muito mais dúbios que esse já foram derrubados e nós, da bancada do PSOL, não vamos titubear. Nós vamos levar essa luta até as últimas consequências, porque eu sou uma mulher cis, como disse a Erica, bissexual e trago para mim essa luta, porque não só aqueles que passam fome têm que lutar pela extinção da fome.

Não só aqueles que estão morrendo têm que lutar por um sistema de Saúde pública melhor. Essa luta é de todos nós, porque nós somos todos parte desse grande coletivo chamado humanidade.

E, por mais que se queira, as mulheres transexuais, os homens transexuais vão existir. Ao deputado Douglas, que se assumiu homossexual e saiu do seu armário, eu aviso, um dia já foi crime. Um dia pessoas já foram mortas por fazer o que o senhor fez.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - Deputada Isa, para conclusão, porque nosso tempo de sessão já está encerrado.

 

A SRA. ISA PENNA - PSOL - Já vou encerrar.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - Não, mas para concluir, porque o tempo de sessão já encerrou, não temos mais tempo regimental.

 

A SRA. ISA PENNA - PSOL - Pois não, muito obrigada.

 

O SR. PRESIDENTE - GILMACI SANTOS - REPUBLICANOS - De nada, deputada.

Não havendo mais oradores inscritos, está encerrada a discussão.

Esta Presidência adita à segunda extra o Projeto de lei nº 721, de 2019, de autoria do nobre deputado Professor Kenny.

Está encerrada a sessão.

 

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- Encerra-se a sessão às 21 horas e 32 minutos.

 

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