20 DE SETEMBRO DE 2019
34ª SESSÃO SOLENE EM HOMENAGEM AOS 40 ANOS DO PROJETO SOL E
OUTORGA DO COLAR DE HONRA AO MÉRITO LEGISLATIVO DO ESTADO DE SÃO PAULO À IRMÃ
ANGELA MARY E AO SENHOR LUIZ CARLOS DOS SANTOS
Presidência: ENIO LULA TATTO
RESUMO
1 - ENIO LULA TATTO
Assume a Presidência e abre a sessão. Anuncia a composição da
Mesa e demais autoridades presentes. Comunica que o deputado federal Nilto
Tatto fora convidado, pelo Papa Francisco, para participar do Sino da Amazônia,
a realizar-se em outubro. Informa que a Presidência efetiva convocara a
presente sessão solene para "Homenagem aos 40 Anos do Projeto Sol e
Outorga do Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo à Irmã
Ângela e ao Senhor Luiz Carlos dos Santos", por solicitação do deputado Enio
Lula Tatto. Convida os presentes para, de pé, ouvirem o "Hino Nacional
Brasileiro", executado pela Orquestra Acadêmica da Unesp, sob regência do
maestro professor Lutero Rodrigues, a quem agradece. Anuncia apresentação, pela
Orquestra Acadêmica da Unesp, da música "Ponteio", do compositor
Cláudio Santoro. Lembra a realização de exposição do Projeto Sol, em andamento
nesta Casa.
2 - ARSELINO TATTO
Vereador à Câmara Municipal de São Paulo, saúda os presentes.
Ressalta a importância da atuação de Irmã Ângela e de Luiz Carlos dos Santos,
“Carlinhos”. Lembra-se do movimento "Tome Atitude Zona Sul", contra a
violência. Discorre acerca das origens do Projeto de Sol, na periferia.
Comemora o acesso de crianças e de jovens carentes às universidades. Informa
que a Irmã Ângela Mary e Luiz Carlos dos Santos foram agraciados,
respectivamente, com o título de Cidadã Paulistana e Medalha Anchieta.
3 - NILTO TATTO
Deputado federal, saúda os presentes. Parabeniza os
fundadores e colaboradores do Projeto Sol. Comenta influência da Irmã Ângela e
de Luiz Carlos dos Santos em sua trajetória política. Destaca conselho de Dom
Paulo Evaristo Arns, a favor da atividade política em prol dos oprimidos e de
trabalhadores. Assevera que decisões em parlamentos repercutem no dia a dia dos
cidadãos. Defende o respeito às diversidades e à inclusão, no país. Critica o
governo federal. Reflete acerca de mortes violentas de negros e de jovens.
4 - PRESIDENTE ENIO LULA TATTO
Informa a exibição de vídeo institucional do Projeto Sol.
Anuncia apresentação da "Dança Primavera", por membros do referido
projeto. Comunica apresentação da "Dança Mãe Natureza", por
integrantes do Projeto Sol. Critica política do governo federal sobre o meio
ambiente. Tece considerações regimentais a respeito do Colar de Honra ao Mérito
Legislativo do Estado de São Paulo. Anuncia a entrega das comendas à Irmã
Ângela e ao Sr. Luiz Carlos dos Santos, "Carlinhos". Anuncia
apresentação musical da Orquestra Acadêmica da Unesp, com a música "Moda e
Rasqueado", do compositor Guerra-Peixe. Lembra exposição da Unesp,
realizada recentemente, nesta Casa.
5 - IRMÃ ÂNGELA MARY
Fundadora e presidente do Projeto Sol, afirma-se emocionada.
Agradece ao deputado Enio Lula Tatto pela iniciativa da solenidade. Menciona a
relevância do mandato do vereador Arselino Tatto para o Projeto Sol. Destaca
seu empenho, alegria e esperança. Lista colaboradores, educadores e apoiadores
do projeto social. Defende a permanência da comunidade com os interesses do
Projeto Sol.
6 - LUIZ CARLOS DOS SANTOS
Fundador do Projeto Sol, "Carlinhos", convida para
assomarem à tribuna, cinco educadoras do Projeto Sol, as quais lista. Afirma
que está em formação uma nova geração de jovens que poderão se marginalizar.
Lembra diálogo com o ex-presidente Lula, sobre os efeitos da violência para a
democracia. Acrescenta que a citada mazela é organizada, inclusive em partidos.
Argumenta que a periferia padece com o controle do tráfico, a prostituição, e a
escassez de lazer, de cultura, de esporte e de educação. Lamenta a prática da violência
do pobre em desfavor do pobre. Comenta índices de mortes de jovens negros em
periferias. Defende políticas em defesa da geração de empregos, em prol da
dignidade e da transformação social. Critica o governo federal.
7 - MARA CALOI
Agradece ao Sr. Luiz Carlos dos Santos. Afirma que os 30 anos
de trabalho no Projeto Sol constitui sua razão de vida.
8 - PRESIDENTE ENIO LULA TATTO
Lembra casos de tortura, em supermercados, em razão de furtos
de chocolate e de carne. Comenta a expansão da violência. Informa que o segundo
maior orçamento do estado é destinado à Segurança Pública. Narra breve
histórico do Projeto Sol e seus objetivos em prol de crianças em
vulnerabilidade social. Lista mazelas sociais e econômicas a afetar a população
das periferias. Destaca o trabalho de prevenção à delinquência e ao consumo de
drogas ilícitas. Ressalta o incentivo às artes plásticas, à leitura, às artes
cênicas, à dança, ao esporte, e às atividades externas, como ferramentas de
inclusão, adotadas pelo Projeto Sol. Tece breve comentário a respeito dos
históricos de Irmã Ângela e de Luiz Carlos dos Santos, em apoio à população da
Capela do Socorro e da Comunidade 20. Afirma que, ontem, o educador Paulo
Freire completaria 100 anos. Faz agradecimentos gerais. Encerra a sessão.
*
* *
- Assume a
Presidência e abre a sessão o Sr. Enio Lula Tatto.
* * *
O
SR. PRESIDENTE - ENIO LULA TATTO - PT - Sob a proteção
de Deus, iniciamos os nossos trabalhos. Nos termos regimentais, esta
Presidência dispensa a leitura da Ata da sessão anterior.
Convido para compor a Mesa principal
desta sessão solene a Irmã Angela Mary, fundadora e presidente do Projeto Sol.
Uma salva de palmas. (Palmas.) O Sr. Luiz Carlos dos Santos, fundador do
Projeto Sol. (Palmas.) Convido, com muita honra, a pessoa que deu a ideia de
fazer a exposição que está acontecendo há alguns dias aqui na Casa e que está
presente também, minha querida esposa Yolanda Nunes Rocha Tatto. (Palmas.)
Convido também o deputado federal Nilto
Tatto. (Palmas.) Já antecipo a todos vocês que temos uma notícia muito boa: o
Nilto foi convidado, recebeu o convite do Papa Francisco para participar, como
parlamentar, como deputado federal aqui do Brasil, do Sínodo da Amazônia, que
ocorrerá no mês de outubro. Então, parabéns, Nilto, pelo seu trabalho e seu
comprometimento. (Palmas.) Convido também, se já chegou, ou deve estar
chegando, o vereador Arselino Tatto. Ainda não chegou? Deve estar chegando.
Srs. Deputados, Sras. Deputadas, minhas
senhoras e meus senhores, esta sessão solene foi convocada pelo presidente
desta Casa, deputado Cauê Macris, atendendo solicitação deste deputado, com a
finalidade de homenagear os quarenta anos do Projeto Sol e outorgar o Colar de
Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo à Irmã Angela e ao
Carlinhos.
Convido a todos
os presentes para, em posição de respeito, ouvirmos o Hino Nacional Brasileiro,
que será executado pela Orquestra Acadêmica da Unesp - Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho, sob a regência do maestro e professor Lutero
Rodrigues.
*
* *
- É executado o
Hino Nacional Brasileiro.
* * *
O SR. PRESIDENTE - ENIO LULA TATTO - PT - Agradeço
à Orquestra Acadêmica da Unesp, que continuará conosco. Queria chamar o
vereador Arselino Tatto para compor a Mesa. O Arselino, com certeza, Carlinhos
e Irmã, deve ser a pessoa da minha família que mais acompanhou vocês de perto,
desde o início, em todas as lutas e conquistas. Então, vamos receber o vereador
Arselino Tatto. Obrigado pela presença, vereador. (Palmas.)
Queria
agradecer também a presença da Irmã Dayane. Cadê a Irmã Dayane? Obrigado pela
presença, Irmã Dayane. Uma salva de palmas. (Palmas.) A nossa querida -
saudade! - Irmã Cecília. (Palmas.) Obrigado, Irmã Cecília, pela presença. A
Sônia e o Salomão, nossos companheiros, amigos. (Palmas.) E agradecer a
presença de cada um de vocês, diretores do Projeto Sol, a Mara Caloi. Cadê
eles? Obrigado pela presença. (Palmas.)
Provavelmente,
muitas pessoas, todos vocês poderiam ser nomeados aqui, mas, em nome da
Assembleia Legislativa, em nome do presidente Cauê Macris, agradeço a presença
de cada um de vocês, crianças, jovens, orientadoras, professoras, todo o
pessoal que está nesse projeto, o X Bine, presidente da Associação X, da IX. É
um orgulho muito grande estar com vocês aqui. Minha filha também está aí, a
Carmen, o Lennon. Obrigado pela presença.
Comunicamos os
presentes que esta sessão solene está sendo transmitida ao vivo pela TV Web. Se
alguém quiser mandar um... Hoje, está tudo fácil através dos nossos
aplicativos. Será retransmitida pela TV Alesp nesse sábado, dia 21 de setembro,
às 22 horas e 30 minutos. Então, podem divulgar para o pessoal assistir: pela
Net, canal 7; pela TV Vivo, canal 9; pela TV Digital, canal 61.2.
Assistiremos
agora à apresentação musical da Orquestra Acadêmica da Unesp, sob a regência do
maestro e professor Lutero Rodrigues, a quem quero agradecer mais uma vez pela
presença. A música é “Ponteio”, do compositor Claudio Santoro.
* * *
- É feita a
apresentação musical.
* * *
O SR. PRESIDENTE - ENIO LULA TATTO - PT -
Agradecemos, mais uma vez, ao regente, maestro professor Lutero Rodrigues, e à
Orquestra Acadêmica da Unesp pela bela apresentação. Muito obrigado. Hoje eu
acertei, não é? Hoje eu chamei de orquestra.
Lembro a todos de
que, além deste ato solene em homenagem aos 50 anos do Projeto Sol, está
ocorrendo na Assembleia, desde o dia 9 de setembro, a exposição de todo o
trabalho do Projeto Sol. Todo não dá, porque não cabe, mas é um raio-x, uma
fotografia dos 40 anos de trabalho, que está havendo aqui na Assembleia.
Termina hoje, então,
todos vocês, com certeza, vão dar uma passada por lá para conhecer, de perto,
desde quando começou o Projeto Sol, lá no barraco, não é, Irmã? Vocês tiveram
que dar um cheque para dois dias, porque não tinha dinheiro para comprar. Depois
eles vão falar sobre isso. Terminando aqui, vamos fazer uma visita e conhecer
de perto, através de tudo que está exposto lá.
Queria passar a
palavra ao vereador Arselino Tatto, para fazer a saudação dele. Repito, mais
uma vez, que o vereador Arselino, com certeza, é uma das pessoas que acompanhou
de perto, desde o início, os 40 anos do Projeto Sol.
O SR. ARSELINO TATTO -
Bom dia a todos e a todas. Quero agradecer ao deputado Enio Tatto por esta
brilhante iniciativa, agradecer a presença do deputado federal Nilto Tatto,
filhos da mesma mãe e do mesmo pai, Luiz Carlos, nosso querido Carlinhos,
Yolanda, esposa do Enio, e nossa querida Irmã Angela.
Estou vendo a Irmã
Cecília aqui. A Irmã Cecília me educou. Bem feito, Irmã Cecília. Quero
agradecer a presença de todos os colaboradores do Projeto Sol, a presença de
todos os moradores da comunidade da 19 e da 20, agradecer também ao X-Bini, da
Associação X. Tudo lá surgiu por causa da Irmã Angela e do Carlinhos, 40 anos
atrás.
Hoje nós vivemos num
país em que se fala muito de violência, de intolerância, de ódio, de rancor,
muita morte. Não se fala de desemprego, dos problemas sociais; fala-se que tem
que armar a população. Essa é a tese do nosso presidente da República,
infelizmente.
Pois bem. Há três
décadas, a Irmã Angela e o Carlinhos criaram um movimento chamado “Tome uma
Atitude Zona Sul contra a Violência”. Parece que a questão é atual, continua
sendo atual. Essa foi uma das atividades do Projeto Sol, mas vamos mais para a
questão da periferia. O que eles fizeram nesses 40 anos e o que eles estão
fazendo, nós precisamos contar, desde a canalização do córrego, porque a sede
era na beira de um córrego. As casas não eram casas, eram verdadeiros barracos.
A luta deles fez com
que, hoje, as pessoas morem com dignidade naquele local. O córrego foi
canalizado, a pavimentação ocorreu, e eles lutaram também pela construção, não
só da sede do Projeto Sol, mas também de uma creche. É conveniada, tudo bem,
mas está lá.
Tudo foi luta do
trabalho desenvolvido por eles. A Irmã Angela e o Carlinhos, com os
colaboradores e muitos patrocinadores, entre eles a Caloi, desenvolveram um
trabalho - que nada tira, nada é mais bonito, nada é mais sublime - de
transformar jovens carentes, crianças sem nenhuma possibilidade de sobreviver e
de crescer na vida. Fizeram com que dezenas e centenas deles pudessem cursar a
universidade. Muitos deles e delas, hoje, são médicos, professores, assistentes
sociais, psicólogas, enfim, várias profissões.
Este trabalho
mereceu, da Câmara Municipal... Eu acredito que, há uns 20 anos, tive a
oportunidade e a honra de conceder à Irmã Angela o Título de Cidadã Paulistana,
porque ela é americana, e ao Carlinhos, como ele é paulista, a Medalha
Anchieta. Foi uma homenagem singela da Câmara Municipal pelo trabalho que eles
desenvolvem.
Hoje, o deputado Enio
Tatto concede a eles a maior honraria da Assembleia Legislativa de São Paulo, a
maior Casa de Leis de São Paulo, uma honraria a esses 40 anos do Projeto Sol.
Agradeço a todos vocês pela presença aqui, por esse carinho a este homem e a
esta mulher, e a toda a sua equipe, ao trabalho que eles vêm desenvolvendo em
favor da periferia de São Paulo, em favor de São Paulo.
Esse é um exemplo a
ser seguido. Que venham mais 40 anos. Parabéns, Irmã Angela. Parabéns, Carlinhos.
Um abraço a todos vocês.
O SR. PRESIDENTE - ENIO LULA TATTO - PT -
Obrigado, vereador Arselino Tatto. Queria passar a palavra agora, para fazer
uma saudação, ao deputado federal Nilto Tatto.
O SR. NILTO TATTO - Bom
dia a todas e todos. Bom dia! Quero aqui saudar o deputado estadual Enio Tatto
e parabenizá-lo por essa bela homenagem, aos 40 anos do Projeto Sol.
Cumprimentar o meu irmão querido, o vereador Arselino Tatto, cumprimentar a
Yolanda, esposa do deputado Enio Tatto.
Luiz Carlos, o
Carlinhos, e Irmã Angela, parabéns. Aqui quero estender o cumprimento para a
Daiane e para a Irmã Cecília. Um abraço também para o Maycon e para a Ruth.
Talvez nós sejamos também fruto do trabalho de vocês. Eu me lembro de que,
ainda no início da década de 1980, em uma atividade no Colégio Santa Maria, eu
tive talvez uma das melhores palestras para poder entender um pouco o Brasil
profundo, as desigualdades que, historicamente, foram se construindo e fizeram
do Brasil um dos países mais desiguais do mundo.
Vocês, como disse o
vereador Arselino Tatto, ajudaram a educar a gente, a formar a gente; ajudaram,
inclusive, a nos levar para a vida política. Eu lembro
quando eu me elegi, em 2014 - e até então eu não tinha participado do
Parlamento -, de uma conversa com o Enio Tatto, que já era deputado. E o Enio
falou: “Mas como é fazer política no outro lado? Porque a gente fez política a
vida toda e vocês ajudaram a gente a levar a gente para a política”.
E o Enio
lembrou de uma dúvida, porque ele também tinha dúvida quando se elegeu deputado
estadual pela primeira vez. Numa conversa com Dom Paulo Evaristo Arns, ele
levou essa dúvida. E o Dom Paulo, com aquela simplicidade profética dele: “Não
se preocupe; lá você vai saber como se comportar. Sempre vote a favor dos oprimidos,
dos marginalizados, dos mais pobres, dos trabalhadores, e você vai estar sempre
trilhando um caminho certo”. São valores que vocês ajudaram a construir.
Mais
recentemente, a gente ouve o Papa Francisco, neste momento que a gente vive no
Brasil, de demonização, inclusive, da política... E é na política que se
transforma a vida de todos de forma mais intensa. Porque aqui dentro do
Parlamento, eu, o vereador Arselino Tatto, o Enio Tatto - a gente toma decisões
que mexem no dia a dia das pessoas. E o Papa Francisco falou que a melhor forma
de fazer a caridade é na política. Mas a caridade transformadora.
E aí, aquilo
que o Projeto Sol vem fazendo ao longo desses 40 anos é transformar as pessoas.
Quantas famílias foram transformadas com o trabalho que vocês desenvolvem lá,
Angela e Carlinhos? Quantas histórias que mudaram completamente o futuro?
Então, esta é a política que é feita no dia a dia por milhares de organizações
locais, como o Projeto Sol, projetos como esse. Ou por pessoas que, dentro do
Parlamento, aprenderam também com essas experiências, e é isso que dá a
esperança de que um dia a gente vai construir um país que seja inclusivo, de
respeito à diversidade.
Nós não
queremos esta violência de que o vereador Arselino Tatto falou - e que é
expressa verbalmente pelo próprio presidente da República hoje -, que vem
matando quase 60 mil pessoas por ano, no Brasil, de morte violenta. Na sua
grande maioria, jovens de 16 a 24 anos; e na sua grande maioria, negros da
periferia das grandes cidades.
É este Brasil
que nós precisamos transformar e fazer com que a gente tenha, de fato, um país
que seja inclusivo e de respeito à grande riqueza que a gente tem nesse país,
que é a nossa diversidade étnica e cultural. Um Brasil para todos.
Parabéns,
Projeto Sol. Viva o Projeto Sol; vida longa ao Projeto Sol. E grande abraço
para todos vocês. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE - ENIO LULA
TATTO - PT - Obrigado, deputado federal Nilto Tatto. Parabéns pelo seu trabalho.
Registrar mais uma vez a presença, aqui, da vice-presidente do Projeto Sol,
Mara Caloi. O Projeto Sol produziu um vídeo de quatro minutos. Então, todos nós
vamos assistir ao vídeo agora, para a gente conhecer um pouquinho do trabalho
do Projeto Sol.
* * *
- É feita a exibição de vídeo.
* * *
O SR. PRESIDENTE - ENIO LULA
TATTO - PT - Muito bem, muito bonito, muito bem produzido. Tudo isso está na
exposição, né, Carlinhos? Para o pessoal ver depois do ato aqui. Termina hoje.
Desde o dia 9 de setembro, está aqui na Assembleia, para toda a população. Os
visitantes da Assembleia Legislativa, do estado todo, tiveram a oportunidade de
presenciar.
E assistiremos, agora, à apresentação dos
participantes do Projeto Sol, com a “Dança da Primavera”. É uma apresentação de
cinco minutos, agora, ao vivo e a cores.
* * *
- É feita a apresentação musical.
* * *
O SR. PRESIDENTE - ENIO LULA TATTO - PT -
Muito bem, muito bonito, parabéns pela apresentação.
Agora, vamos
assistir a mais uma apresentação dos participantes do Projeto Sol, com a “Dança
da Primavera”. “Dança da Primavera” aconteceu agora, né? Os participantes do
Projeto Sol, com a “Dança Mãe Natureza”.
Vamos à
apresentação.
*
* *
- É feita a apresentação
musical.
*
* *
O SR. PRESIDENTE - ENIO LULA TATTO - PT -
Muito bem. Que bonito, né? Nossa floresta, tão devastada, não é, Carlinhos?
Fruto de políticas erradas, de anistia de multas, de afrouxamento na
fiscalização, de aumento nas queimadas. Todo mundo está assistindo a isso.
E, o pior de
tudo, aumento nas queimadas por conta do desmatamento. Isso que é triste, né?
Que estejamos sempre atentos. E também contra a criminalização das entidades,
das ONGs ambientalistas que, hoje, estão sendo criminalizadas por um governo
que não tem o compromisso com a nossa vida, com o nosso meio ambiente.
Isso posto,
depois de a gente assistir ao vídeo e às duas bonitas apresentações, tenho a
alegria de, neste momento, homenagear a Irmã Angela e o Carlinhos com o Colar
de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo.
O Colar
destina-se a homenagear pessoas que tenham atuado de maneira a contribuir para
o desenvolvimento social, cultural e econômico do estado de São Paulo. A
concessão do Colar é deliberada pela Mesa Diretora da Assembleia Legislativa do
Estado de São Paulo mediante a proposta de um deputado, acompanhada do
histórico das pessoas homenageadas. Assim, convido os nossos homenageados a
ficarem de pé. (Palmas.)
E também,
quebrando o protocolo, peço para que entregue o Colar ao Carlinhos o deputado
federal Nilto Tatto, que tanto nos honra com sua presença aqui.
*
* *
- É entregue o
Colar de Honra ao Mérito Legislativo.
*
* *
O SR. PRESIDENTE - ENIO LULA TATTO - PT -
Convido agora, também, aquele - eu já falei diversas vezes - que talvez seja o
parlamentar no estado de São Paulo, o vereador aqui da cidade, que mais tem
acompanhado todo trabalho do Projeto Sol, do Carlinhos, da Irmã Angela, de toda
comunidade ali da região da Cidade Dutra, Rio Bonito, da 20 e da 19, o vereador
Arselino Tatto, para entregar a medalha à querida Irmã Angela. (Palmas.)
Obrigado.
Obrigado a todos. Obrigado, parabéns Carlinhos e Angela. Gostaríamos também de
continuar a homenagem assistindo à apresentação musical da Orquestra Acadêmica
da Unesp, sob a regência do querido maestro professor Lutero Rodrigues, com a
música “Moda e Rasqueado”, do compositor Guerra-Peixe.
* * *
- É feita a apresentação musical.
* * *
O SR. PRESIDENTE - ENIO LULA TATTO - PT -
Obrigado. Obrigado à Orquestra Acadêmica da Unesp. Em nome do maestro professor
Lutero Rodrigues, agradecer todos os músicos. A Unesp, essa importante
universidade aqui de São Paulo, principalmente no interior do estado, que
também fez uma exposição aqui, antes da de vocês, da nossa, do Projeto Sol,
durante uns dias, mostrando todo o trabalho que a Unesp tem no estado de São
Paulo.
Muito obrigado
a todos vocês, pela participação, e voltem sempre à Casa do povo. Uma salva de
palmas, mais uma vez, à orquestra. (Palmas.)
Muito bem.
Vamos ouvir os homenageados? Vamos? Vocês querem ouvir o Carlinhos? Querem
ouvir a Irmã Angela? Então, vamos começar com a Irmã Angela. Com a palavra a
Irmã Angela. Uma salva de palmas à Irmã Angela. (Palmas.)
A SRA. ANGELA MARY - Estou muito
emocionada para falar, mas tenho duas palavras-chaves só. A primeira é
“obrigada”. Excelentíssimo deputado Enio Tatto, obrigada por este belo dia,
esta homenagem da cidade, do estado, do país que eu amo.
É tão bom rever
os amigos. Arselino, que... A presença dele na 19 e 20 sempre foi muito
importante para nós, e ontem, no seu trabalho, indo agora para sustentar a
Amazônia... Estamos muito orgulhosos da família toda. Têm sido nossos amigos.
Mas o Projeto Sol tem a presença de alegria e de esperança, e isto é devido a
todo mundo que está aqui.
Primeira, na
fundação, todos os dias dos últimos 40 anos, o Carlinhos estava lá, dando
força, alegria e esperança, e, no meio do caminho, chegou Mara Caloi Gosson
Jorge, o marido dela, Cláudio, e o grupo do tempo, e deu para nós os fundamentos de uma sólida
presença jurídica na cidade, estado e município de São Paulo, e o País.
Estamos com
nossos apoiadores, nossos fundadores, junto com os nossos educadores, a
Nilzete, a Cleusa, a Rosa, a Cida, a Fátima, a Rosilene, o Renan. Estão lá
todos os dias, imbuídos com o espírito do Projeto Sol, transformando as vidas
que você viu aqui no concreto.
Então, obrigada
à minha coligação, que me sustenta lá na periferia. Porque não é fácil, viu? Na
periferia, para mim, me sustentar não é fácil.
À equipe que temos, de nossos
apoiadores, serviço social, a Nívea, a Taís a Mara, nossos cozinheiros, a
Eunice, a Daiane, e aquelas que mantêm tudo em beleza, a Neide, eu digo os meus
obrigadas. E aos nossos amigos que chegaram aos poucos e colocaram fogo no
Projeto Sol. Nossas famílias, tão leais. Nossas Irmãs de Santa Cruz, que sempre
estão conosco, e os nossos jovens. Que vocês sejam sempre... Obrigada por todo
o interesse que trazem para a nós.
A segunda palavra é “fique”. Fique
conosco que, com vocês, vamos transformar a nossa pequena comunidade, que vai
irradiar num lugar mais justo e mais fraterno. Porque acreditamos em Deus.
Acreditamos nessa mensagem de Jesus Cristo. Acreditamos nos pés, nas mãos, nas
bocas, nos corpos de vocês, que estão junto conosco. Então, muito obrigada. E
fiquem conosco. (Palmas.)
O
SR. PRESIDENTE - ENIO LULA TATTO - PT - Pode aplaudir.
Vamos aplaudir. Pode aplaudir de pé, inclusive. (Palmas.)
Depois de ouvir essas bonitas palavras
da Irmã Angela, agora vamos ouvir o Luiz Carlos dos Santos. O nosso querido e
popular Carlinhos. (Palmas.)
O
SR. LUIZ CARLOS DOS SANTOS - É a primeira vez que
falo aqui. Posso quebrar o protocolo? Quero chamar aqui a Mara Caloi Gomes. Por
favor. Quero chamar também as cinco educadoras que iniciaram o projeto. Por
favor. A Cleusa não está. Está de recuperação. Mas, por favor, a Nilzete, a Rosa,
a Fátima. Por favor. A Cida.
O
SR. PRESIDENTE - ENIO LULA TATTO - PT - Carlinhos,
aliás, depois a gente vai tirar uma foto com todo mundo. Então eu já pediria
para o pessoal da galeria vir aqui. Já estamos terminando. Pode descer todo
mundo aqui. O Sílvio está lá e vai conduzir vocês. Quem mais, Carlinhos? Vai
chamando. Pode chamar. Pode subir aqui. Fica do lado dele.
O
SR. LUIZ CARLOS DOS SANTOS - Rosa? Cadê a Rosa,
gente? Cadê a Rosa? Cadê o pessoal, Nilzete? Vamos esperar eles descerem.
(Palmas.)
Cadê as educadoras? Chegou? Cadê a
Cida?
O
SR. PRESIDENTE - ENIO LULA TATTO - PT - Está chegando,
Carlinhos. Está chegando. O pessoal está tirando bastante foto, filmando.
Não se preocupem, não. Depois a gente
vai ter todo o filme, tudo gravado. E a gente vai mandar para o Projeto Sol.
Fica à disposição de todos vocês. Todas as famílias, todo o pessoal que está
participando aqui, para guardar de lembrança. Inclusive as fotos também.
Carlinhos, a minha filha disse que está assistindo ao vivo, a Carla. Um beijo,
Carla. Quem mais está faltando, Carlinhos? (Voz fora do microfone.) Ah tá. Uma
salva de palmas para essas educadoras. (Palmas.)
O
SR. LUIZ CARLOS DOS SANTOS - Tem a Leninha e o
Renan também. Mas eles entendem que
essas cinco educadoras... A Cleusa fez uma cirurgia no joelho e está de
repouso. Mas essas cinco educadoras cresceram com a gente. Desde 1992
transformaram o Projeto Sol no que ele é hoje. Então não é justo, na minha
opinião, elas também não serem homenageadas.
Porque todas as crianças... Tem jovens
aqui que estão caminhando e já participaram do projeto. Sabem da caminhada que
foi junto com essas educadoras, de batalhar, de ir na feira pedir coisas na
feira para cozinhar. Toda aquela história, de dificuldade e dificuldade. Então
tem que ser a minha homenagem da Irmã Angela e todos vocês para essas
educadoras aqui, porque elas fizeram o projeto ser o que é hoje. A Mara, todo
mundo já conhece da nossa caminhada.
Eu também não podia deixar de agradecer
profundamente o Projeto Sol. Não podia deixar de agradecer profundamente.
Porque no momento que a gente, trabalhando e trabalhando, chegou atrás da Mara,
um grupo de pessoas atrás da Mara, ela trouxe um grupo para perto da gente, que
nos organizou totalmente.
Documentos que não tínhamos, CNPJ,
registro em carteira para essas educadoras, para mim e para quem está agora
trabalhando no Projeto Sol. Não um salário. Mas um salário bom para que a gente
pudesse continuar esse trabalho. Porque a gente realmente nunca pensou para
onde a gente ia, nem aonde a gente ia chegar.
Então quero dar a palavra para a Mara
também. Porque a Mara tem um alicerce profundo nesse Projeto Sol também. E o
meu grande agradecimento para ela também, e para o esposo dela, o Cláudio, que
não está presente no momento. Mas é momento de agradecer, é momento de... Vocês
sabem como gosto de falar. Mas não vou falar muito. Então vou pedir para a Mara
umas palavras. (Palmas.)
A
SRA. MARA CALOI - Oi gente. Então, também tenho
muito a agradecer. Que encontrei no Projeto Sol e no trabalho de todos eles, de
todos nós, uma razão de vida. Há 30 anos estamos caminhando juntos.
Mas eu gostaria de citar uma pessoa
muito importante no meio empresarial que falou assim: “Me tirem todas as
máquinas. Me tirem todas as fábricas. Me
tirem todos os alicerces. Mas me deem o meu pessoal, e construo de novo.”
Então, se a gente não tiver sede, se a gente não tiver mais nada, mas só tiver
essa turma, a gente constrói tudo de novo, com toda essa turma aqui. Então,
obrigada, gente. (Palmas.)
O
SR. LUIZ CARLOS DOS SANTOS - Obrigado, todos da
Mesa. O Arselino. (Voz fora do microfone.) Enio Lula? É Enio. Excelentíssimo
Enio, Arselino, Nilto, vocês estão lá. Vocês estão na Casa do povo. Tanto na
Câmara Municipal como aqui na Assembleia, como lá na Câmara dos Deputados.
Vocês sabem que já temos uma geração de jovens e adolescentes perdidos.
Infelizmente, sempre digo isso. É difícil dizer isso?
É difícil dizer isso. Tem uma geração
de jovens, adolescentes, crianças, perdidas. Que não vão ter mais caminho, não
vão ter mais para onde andar. Não vão para onde mais chegar, senão à violência.
Num encontro que tivemos com o Lula, não sei se vocês lembram disso, falei para
o Lula que a violência é muito perigosa, e ela vai destruir a democracia.
A violência destrói a democracia. Do
jeito que está, virou uma violência política. É uma violência organizada. Não é
mais a violência do Joãozinho. Não é mais a do Pedrinho. Não é mais roubando
carteira. Não é mais o trombadinha. É uma violência organizada. E organizada em
partidos.
Em partidos. Porque não são só um
partido, a violência. São vários partidos da violência, que dominam esse estado
de São Paulo, dominam as penitenciárias, dominam as comunidades, estão
dominando o País. Todos estão perdidos. Até o Poder Público está com medo de
enfrentar. O perigo que a gente corre é o perigo que a gente já corre na
periferia: de ser controlado pelo tráfico, ser controlado pelas drogas, ser
controlado pela prostituição, ser controlado... tudo pelo poder econômico desse
pessoal.
O silêncio na periferia está cada vez
maior. Então tenho que falar isso daqui. A turma fica falando para eu não falar
essas coisas. Mas tenho que falar isso na Casa do povo.
Tenho que falar dos jovens que estão
sofrendo. A escola está péssima. As
áreas de lazer não existem. Cultura? Está bem distante desse povo. Acredito que
foi a primeira vez que muitos aqui viram uma orquestra ao vivo. Então estamos
na Casa do povo. E quero dizer que, lá fora, o povo está dominado.
E a gente, desde 78 e desde,
principalmente, 92, com o Movimento Atitude Pela Paz, a gente está lutando
contra essa correnteza. Mas, eu vou dizer para vocês: essa correnteza está
levando a gente, infelizmente.
Então, eu peço para vocês, no
Congresso, o Nilto, aqui na Assembleia, na Câmara, Arselino, vocês, aí, tudo,
que estão, não sei, lutem. Lutem, porque nós lutamos tanto contra o
desarmamento, lutamos tanto contra a violência, e agora nós temos um presidente
que fala que é armar a população.
Quer dizer, nós já temos uma geração
que já está perdida, que já está agindo. E já está vindo uma outra geração aí,
que está perdida e que vai chegando, que está sendo mão de obra, mão de obra
para tudo o que não presta, para as drogas, para a violência, para a
prostituição, para os meios de comunicação com suas músicas, com seus funks,
levando o povo, as crianças, para certas danças, certa nudez, para certa
violência, enfatizando as drogas.
Então, nós ainda temos uma geração
perdida que já está agindo, agora. Mas nós temos outra, que está vindo. Então,
lutem. Vamos todos nós lutarmos pela não violência, vamos lutar contra o
armamento. Nada de arma, gente. O que o governo quer que nós façamos é que nós
façamos justiça com as próprias mãos.
E justiça com as próprias mãos, a
violência, eu sempre falei, todo mundo aqui sabe, eu sempre falei: a violência
nada mais é do que pobre matando pobre. É pobre matando pobre. Cinquenta e sete
mil e trezentas pessoas foram assassinadas ano passado.
Não tem uma guerra que mata isso num
ano, que está atualmente de guerra. Nós temos uma guerra que está ocorrendo na
periferia. Porque, principalmente, os que são assassinados são os jovens
adolescentes pobres, de preferência também negros, moradores da periferia, e de
15 a 29 anos.
O pobre tem que parar de lutar com
pobre; o pobre tem que parar de brigar com pobre, tem que parar de matar pobre.
Porque, se vocês veem, é pobre matando pobre. (Palmas.)
E, os donos do poder estão organizados.
Os donos do poder estão organizados. E se organizam. Se organizam para o pobre
não levantar a voz, não fazer isso que eu estou fazendo aqui agora.
Mas, tem muitos grupos aí que estão
interessados nessa violência toda. Enquanto é pobre matando pobre, gente, está
tudo bem para eles. Está tudo bem. Eu já falei, a violência só incomodou quando
atravessou a fronteira social, quando saiu da periferia e começou a atingir
Moema, Paulista, ou as zonas mais ricas da cidade.
Aí, incomodou. Mas, enquanto estava na
periferia... A periferia é senzala, gente. A gente só vai tomar chibatada. A
gente só toma chibatada na periferia, vocês sabem disso.
E, quais são essas chibatadas, gente, o
tronco, qual é isso? É uma falta de investimento em educação, é uma falta de
investimento em lazer, uma falta de investimento em esporte e cultura, e de
preparar o jovem para o emprego.
Qual jovem da periferia hoje dá para
disputar um emprego, dá para disputar uma posição social com todos aqueles
jovens que são preparados, principalmente, milhares de jovens preparados nos
colégios de primeira geração, de primeiras tecnologias, e preparados para o
futuro?
Os nossos jovens, o futuro dos nossos
jovens: estão sendo preparados para serem balconistas, para serem borracheiros,
para ser... Não que eu estou... Mas, nós temos que tomar outras posições, não
ficar no subemprego. Porque para os nossos adolescentes, para os nossos jovens,
sobram subemprego.
Nós temos que conquistar o espaço. A
chibatada que nós estamos levando está doendo muito, só que nós não percebemos.
Nós não percebemos.
Então, é isso, gente: vamos parar de
pobre ficar brigando com pobre, vamos parar de pobre ficar invejando pobre por
causa de um carrinho, por causa que construiu. A gente está com migalha, gente.
A gente vê situação em que o pobre fica correndo fofoca, fica correndo inveja,
porque alguém está construindo em cima de uma laje mais um pedacinho de terra
lá, de um quartinho; porque o outro comprou um carrinho; porque o outro...
Então, a gente fica ali. Nós temos que
sair do nosso mundinho e ver mais longe, ver aqui, olha, Assembleia
Legislativa, ver aqui, Câmara Municipal, ver lá, Câmara dos Deputados. Precisa
ver que em Brasília...
Nós não somos os nossos inimigos; nós
não podemos ser os nossos inimigos. Nós temos que lutar, nós temos que saber
disso, temos que ter consciência. E, a palavra que eles não querem que nós tenhamos
é "consciência". Porque o pobre consciente vai lutar; o pobre
consciente não vai votar em Jair Bolsonaro, nunca. Nunca. (Palmas.) Nunca.
Um pobre consciente não vai pôr ladrão
lá em Brasília, não vai pôr uma família que quer ser os reizinhos, os reizinhos
do Brasil. Nós somos uma democracia, nós somos uma república. Nós não somos um
reinado.
Agora, vem para fazer o bem, eu tenho
que pensar nos meus filhos, tenho que pôr meus filhos nos melhores lugares?
Consciência, gente, palavra certa. Nós temos que ter consciência.
A consciência: o que é violência. A
consciência: o que é chibatada hoje. A consciência: por que nós não temos
direitos? Nós temos direitos, mas por que esses direitos não chegam até nós?
Nós vivemos de caridade. Nós vivemos de
caridade. Muitas famílias vivem de doação de cesta básica, vivem de doação de
cobertor. Vivem de doação, é errado. Nós não temos que viver de doação; nós
temos que ter emprego, nós temos que ter dignidade, todos nós, cada um de nós,
ter a própria condição de se sustentar, de sustentar a sua família, os seus
filhos.
Então, eu peço para vocês, gente: vão
tomando consciência. O nosso presidente não sai da Rede Record e não sai da TV
Silvio Santos lá, SBT. São os maiores apoiadores do presidente. São os maiores
apoiadores do presidente.
Vamos ver o que está nas entrelinhas,
gente, o que está nas entrelinhas, tudo isso. Vamos ver o que está acontecendo
nas entrelinhas.
Então, é só isso que eu peço para
vocês: consciência. Consciência. O que às vezes vem como um benefício está
vindo com chibatada. É uma chibatada. Vamos parar. Vamos agitar essa senzala.
Vamos agitar essa senzala. Vamos lutar, e não vamos ficar contentes com uma
cesta básica, não. Não vamos ficar contentes com uma doação de cobertor, não.
Vamos ficar felizes com a nossa
dignidade. A nossa dignidade ninguém pode tirar. Se alguém tira a dignidade de
um povo, o povo está dominado. A dignidade tem que ser sempre a mais forte
dentro do coração da gente.
Muito obrigado. (Palmas.)
O
SR. PRESIDENTE - ENIO TATTO - PT - Obrigado,
Carlinhos. Só para vocês terem uma ideia, todo mundo assistiu, o Carlinhos
acabou de colocar, todo mundo assistiu aí nas últimas duas semanas, em dois
supermercados diferentes, tortura.
As pessoas chicoteando outras, e, na
verdade, ali, o que que era? Era pobre batendo em pobre. Não era isso? As duas.
Um porque roubou uma barra de chocolate; e outro porque, se não me engano,
roubou um pedaço de carne. E aí, vocês viram a cena.
Como o Carlinhos colocou: um pobre
batendo num outro pobre. Mas, agora, estava batendo num outro pobre por quê?
Para defender quem? Para defender o rico. Para defender o rico. Para defender o
patrão.
Então, muito oportuno, Carlinhos.
Parabéns. Quem te conhece sabe muito bem de tudo o que você está falando e de
tudo o que vocês pregam no Projeto Sol.
Eu queria lembrar de mais uma frase sua
que eu ouvi quando eu cheguei em São Paulo, quando você lançou o Tome Uma
Atitude Contra A Violência Zona Sul, e ele chamava atenção, o Arselino sabe
muito bem disso: que enquanto a violência estava para lá dos rios, Pinheiros e
Tietê, não tinha preocupação das elites, das autoridades, porque a violência
naquela época era mais na periferia.
E ele denunciava e chamava a atenção a
respeito disso. E ele falava: “O dia que a violência passar do outro lado do
rio, aí vai ser tarde para resolver o problema.” E hoje o que está acontecendo
é justamente isso. Não adianta mais ter arame farpado, ter muro alto, não
adianta mais ter guarita com guarda, não adianta mais ter câmeras. Não está
adiantando mais fazer nada disso.
Se tivesse ouvido o que o Carlinhos
falou há 30, 40 anos atrás, e quando ele falava de consciência, e quando falava
de educação, não precisava estar gastando esse dinheiro, que é o segundo maior
orçamento do estado de São Paulo, hoje é aplicado em Segurança Pública,
só para vocês terem uma ideia. Não podia deixar de falar isso, mas como é
protocolar, eu também fiz um pequeno relato aqui sobre tudo que eu conheço e
que me mandaram aqui sobre o Projeto Sol.
Então é a última parte das nossas
comemorações. Saúdo os diretores, funcionários, colaboradores, a juventude
assistida pelo Projeto Sol e seus familiares, que nos dão a honra de suas
presenças nesta sessão solene. Toda árvore que cresce e frutifica tem origem
numa semente. A semente que deu origem ao Projeto Sol foi plantada há 40 anos
por quatro mãos.
Ela foi plantada num
barraco de madeira na Favela 20, na região em que eu moro, a Capela do Socorro.
Ao mesmo tempo em que comemora a sua história e muitas conquistas, o Projeto Sol
também sinaliza a esperança de um futuro melhor para muitos jovens da
periferia.
Há 40 anos, a arte
vem sendo utilizada pelo Projeto Sol como ferramenta para o desenvolvimento de
competências em crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social.
Também promove o pensamento reflexivo, a criatividade, a argumentação, a
solução de conflitos, o trabalho em equipe, a amizade e o diálogo.
Quem conhece a
periferia sabe da falta de investimentos em lazer, esporte, cultura e educação.
Essa carência é uma das grandes responsáveis pela enorme dificuldade das
camadas mais pobres de nossa população.
As condições
sub-humanas de habitação, a falta de saneamento, de equipamentos públicos e a
precarização de nossas escolas, entre outros quesitos sociais, influenciam de
maneira negativa a formação dos nossos jovens. O espaço que resta à nossa
juventude são as ruas, quase sempre hostis às crianças e adolescentes. Nesse
ambiente de periferia da zona sul da capital veio à luz o Projeto Sol.
Luz essa que proporciona
atividades de esporte, cultura, lazer, educação e cidadania às crianças e
jovens da região. Isso tudo para prevenir o uso de drogas, a violência e a
delinquência. O Projeto Sol oferece biblioteca, local sagrado onde o saber é
aprimorado.
Oferece a prática de
artes plásticas, que aproxima a nossa juventude do mundo das cores. Oferece
também teatro para alargar a percepção do mundo em que vivemos; dança para o
conhecimento do corpo; esporte para valorizar o espírito coletivo; atividades
externas para o contato com as outras pessoas.
A exposição para
revelar o talento das crianças e adolescentes assistidos pelo Projeto Sol.
Durante as duas semanas, encerrando-se hoje, a Assembleia Legislativa recebeu a
linda exposição sobre os 40 anos do Projeto Sol. Muitas das obras ali expostas
foram exibidas no vídeo apresentado no início desta sessão solene.
Elas demonstram a
qualidade dos talentos que existem em vocês jovens e que, de graça e graças à
oportunidade oferecida pelo Projeto Sol, são aperfeiçoados. Se não fosse o
Projeto Sol, muitos talentos ficariam à sombra. Mas ao contrário, esses
talentos são desenvolvidos e fazem com que os participantes do projeto brilhem
em diversos setores da sociedade e até mesmo no próprio projeto, quando se
tornam educadores de outros jovens.
Poderia falar muito
mais sobre o Projeto Sol. Creio, no entanto, que é o momento de destacar as
ações das mãos que plantaram a semente há 40 anos. São as mãos da minha amiga
Irmã Angela Mary e do Luiz Carlos dos Santos, o Carlinhos, meu Carlinhos. A
Irmã Angela Mary, freira norte-americana nascida em Chicago, está no Brasil
desde 1965. Foi professora e diretora do Colégio Santa Maria, pertencente à
Congregação das Irmãs da Santa Cruz.
Formada em balé e
permanentemente se capacitando em diversas modalidades artísticas, foi através
dessas ferramentas que começou a atrair as meninas e os adolescentes da
periferia para a dança. Em 1978, junto com o Carlinhos, iniciou um trabalho de
atendimento e recuperação de jovens drogados no bairro da Capela do Socorro,
zona sul de São Paulo.
Após quase cinco anos
constatando a extrema dificuldade de recuperação dessas pessoas, o trabalho
passou a dar destaque à prevenção às drogas e à violência. Em 1982, compraram
um barraco na Favela 20, da Cidade Dutra, como a Irmã falou. Iniciou-se um
programa educativo do Centro de Orientação e Educação à Juventude, que foi
chamado de Projeto Sol e impacta mais de três mil famílias.
Desde então, o
projeto liderou o desenvolvimento da área. Os visitantes podem observar a
importância do projeto simplesmente andando nas ruas estreitas da Comunidade
20. Aproximando-se do local onde se desenvolve o projeto, é fácil ver como a
qualidade de vida do entorno e dos moradores é significativamente melhor.
Após mais de 40 anos
de existência, o Projeto Sol mostra que a pedagogia baseada na arte de
educação, na cultura e nos esportes, no resgate da dignidade e autoestima do
indivíduo, fundamentada no compromisso com a comunidade e na valorização da
família, resulta na transformação social do ser humano.
Como diz nossa
homenageada: “Para educar é preciso estar presente, constante e
persistentemente.” As outras mãos que plantaram as sementes são as de Luiz
Carlos dos Santos, o Carlinhos. É natural de São Paulo capital e é sociólogo.
Ele falou que é meio sociólogo porque teve um dos cursos que ele não conseguiu
terminar.
Uma de suas
principais conquistas foi a de criar e dirigir junto com a Irmã Angela o Centro
Educacional e Cultura - Projeto Sol, um verdadeiro farol de luz para crianças e
jovens contra as ameaças contemporâneas vivenciadas nas grandes cidades.
Enquanto a Irmã Angela atrai as meninas e adolescentes da periferia para a
dança, Luiz Carlos organizava os meninos para jogarem futebol.
E assim crescia esse
projeto, que oferece segurança para as diversas famílias que podem deixar suas
crianças e adolescentes durante o horário de trabalho em um local agradável.
Local este onde recebem refeições, educação de alta qualidade e participam de
atividades esportivas e culturais.
Junto com a Irmã
Angela, Carlinhos tem uma ação importante e arriscada na mediação de conflitos
e em defesa dos interesses das comunidades que atua. Durante esses 40 anos,
vários grupos de jovens estudantes fizeram parte do Projeto Sol. Atualmente,
alguns deles trabalham ou são voluntários, desenvolvendo, assim, a comunidade e
os benefícios que uma vez receberam.
Por isso encerro
lembrando que no dia de hoje o Projeto Sol brilha com muita justiça e louvor
nesta sessão solene aqui na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Viva
o Projeto Sol, viva o Projeto Sol. (Palmas.) Podem aplaudir, podem ficar de pé
aplaudindo.
Antes de encerrar, só
queria lembrar para vocês que ontem a gente, se estivesse vivo, a gente estaria
celebrando, Irmã Cecília, Irmã Daiane, estaríamos comemorando 100 anos do nosso
querido educador que inspirou, com certeza, todos nós e o Carlinhos e a Irmã
Angela: Paulo Freire, que a educação dele era a educação da transformação.
(Palmas.)
Esgotado o objeto da
presente sessão, antes de encerrá-la, esta Presidência agradece às autoridades,
aos funcionários desta Casa e a todos e todas que, com as suas presenças,
colaboraram para o êxito desta sessão solene. Não posso deixar de agradecer à
Alana, à Val, à Tatiane, ao Canova.
Em nome de vocês,
agradecer todos os assessores, todos os funcionários da Casa, os jornalistas
que cobriram esta sessão e se esforçaram e ajudaram o Projeto Sol, toda a
direção, junto com a Irmã Angela e o Carlinhos, da exposição que eu convido,
depois, para vocês visitarem, já que hoje é o último dia do Projeto Sol.
Agradecer a presença
de todos vocês. Quem é corintiano aqui? Quem é palmeirense? Quem é do São
Paulo? Agora como todo mundo vai levantar a mão, porque agora é o time dos
times. É o Santos Futebol Clube. Que bonita!
Nada havendo então a
tratar, encerrada a sessão, convido a todos vocês, aqui atrás no salão tem um
pequeno coquetel e convido todos vocês a participarem.
Antes, porém, chamar
todo mundo aqui na frente para a gente tirar uma foto muito bonita, que essa
foto vai entrar na história. Vai ser uma foto que vai ser feito um quadro e vai
ser exposto lá no Projeto Sol e em todas as repartições. Muito obrigado a todos
vocês.
Está encerrada a
presente sessão.
*
* *
- Encerra-se a sessão às 12 horas e 01 minuto.
*
* *