002ª SESSÃO
SOLENE EM
HOMENAGEM AOS MÁRTIRES ARMÊNIOS NO CENTENÁRIO DAS VÍTIMAS DO GENOCÍDIO ARMÊNIO
Presidente: CELSO GIGLIO
1 - NATAL CALABRO NETO
Mestre de Cerimônias, anuncia a composição da Mesa.
2 - CELSO GIGLIO
Assume a Presidência e abre a sessão.
Nomeia as autoridades presentes. Informa que o presidente Fernando Capez convocara a presente sessão solene, a requerimento do
deputado Celso Giglio, na direção dos trabalhos, para "Homenagear os
Mártires Armênios Vítimas do Genocídio que Completa Este Ano Seu
Centenário". Convida o público a ouvir, de pé, o "Hino da
Armênia" e o "Hino Nacional Brasileiro". Considera que a morte
de um milhão e quinhentos mil armênios foi um dos maiores massacres do Império
Turco Otomano. Recorda que a população armênia, antes católica, foi obrigada a
se converter ao Islamismo. Lembra a diáspora dos armênios, em fuga pelo
deserto, que se espalharam pelo mundo. Informa que a República Armênia tem três milhões de habitantes, com cem mil descendentes no Brasil.
Lembra que o Brasil não reconheceu o genocídio, ao contrário de lei paulista,
do deputado Pedro Tobias. Dá conhecimento de moção, de sua autoria, pleiteando
da Presidência da República o mesmo. Recorda citações do Papa Francisco sobre o
genocídio. Solicita, por parte do governo da Turquia, o reconhecimento do
genocídio. Argumenta que as mortes não foram decorrentes da I Guerra Mundial.
Pleiteia, também, a reconstituição do território armênio. Cumprimenta a
comunidade armênia do bairro de Presidente Altino, em Osasco.
3 - JOSÉ SERRA
Senador, saúda
a todos. Elogia a iniciativa desta solenidade. Cumprimenta o deputado Pedro
Tobias, pelo projeto do Dia de Reconhecimento do Genocídio Armênio. Cita
artigo, de sua autoria, sobre os armênios, veiculado na imprensa, quando
governador do Estado de São Paulo. Dá conhecimento de ações da Comissão de
Relações Exteriores do Senado, presidida por Aloysio Nunes Ferreira, visando o
reconhecimento do genocídio armênio pela Presidência da República. Enaltece seu
respeito à comunidade armênia. Comunica a iminência da votação de projeto, de
sua iniciativa, sobre o voto distrital.
4 - PRESIDENTE CELSO GIGLIO
Dá conhecimento de mensagens alusivas
à efeméride, encaminhadas por várias autoridades.
5 - ACHOT GALOYAN
Embaixador da República Armênia no
Brasil, recorda convenções da ONU sobre os crimes
internacionais de genocídio e a punição aos executantes. Lembra o massacre de
um milhão e meio de armênios, durante a I Guerra Mundial. Informa que muitos
foram forçados a adotar o Islamismo como religião. Acrescenta que deportados
morreram de inanição, doenças ou epidemias. Repudia a negação e as distorções
do fato, pelo governo da Turquia, etapa inconclusa. Comunica o reconhecimento
de 23 países sobre o genocídio. Destaca quatro pilares do reconhecimento: a
lembrança, a gratidão, a prevenção e o renascimento. Cita reivindicações à
comunidade internacional. Ressalta o Holocausto dos Judeus. Enfatiza o legado
aos herdeiros, a necessidade do resgate da História e da justiça. Argumenta que
os fatos não são decorrentes da I Guerra Mundial. Justifica que a negação do
genocídio abre precedente à Civilização Humana. Pleiteia o reconhecimento e
condenação da Turquia. Enfatiza a atuação dos Legislativos internacionais, ao citar
decisão do Parlamento Europeu. Reproduz citações do Papa Francisco pelo
reconhecimento do primeiro genocídio do século XX. Agradece a criação da lei
paulista do Dia do Reconhecimento do Genocídio Armênio.
6 - PEDRO TOBIAS
Deputado Estadual,
cumprimenta o deputado Celso Giglio e as autoridades armênias. Fala de
sua trajetória no Líbano, quando conheceu armênios que, por mais de 30 anos,
viviam sem documentos, tendo como segundo nome generalizado
"Armênio". Enfatiza não só a importância do reconhecimento, como a
punição da Turquia pelo genocídio. Lamenta os massacres atuais de cristãos no
Oriente Médio por grupos extremistas. Comunica a dificuldade para a deliberação
do projeto de lei, de sua autoria, que cria o Dia do Reconhecimento do
Genocídio Armênio. Agradece ao presidente Fernando Capez
pela aprovação do projeto. Enfatiza que é preciso evitar o surgimento de novos
genocídios. Sugere que seu projeto semelhante ao seu seja aprovado no Congresso
Nacional para o reconhecimento pelo governo federal. Ressalta a diferença de se
morar no Brasil e não haver conflitos pela condição de estrangeiro. Traz
declarações do governador Geraldo Alckmin à comunidade armênia.
7 - PRESIDENTE CELSO GIGLIO
Endossa a causa citada pelo deputado
Pedro Tobias. Reitera moção, de sua autoria, na mesma direção. Anuncia a
apresentação do Coral Vahakn Minassonian
do Sama. Faz agradecimentos gerais. Encerra a sessão.
* * *
- Assume a Presidência e abre a sessão o Sr. Celso Giglio.
* * *
O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - NATAL CALABRO NETO - Senhoras e senhores, sejam bem-vindos à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Esta sessão solene tem a finalidade de homenagear os Mártires Armênios Vítimas do Genocídio que completa este ano seu centenário.
Convido para compor a Mesa o Exmo. Sr. Deputado Celso Giglio, presidente desta sessão; o embaixador da República Armênia, Dr. Achot Galoyan, a cônsul honorária da República da Armênia em São Paulo, Sra. Hilda Diruy Burmaian.
Os senhores podem se sentar. Neste momento, tem a palavra o deputado Celso Giglio.
O SR.
PRESIDENTE - CELSO GIGLIO - PSDB - Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos. Nos termos
regimentais, esta Presidência dispensa a leitura da Ata da sessão anterior.
Gostaríamos de anunciar as
autoridades presentes que nos deixam extremamente honrados: Dr. Achot Galoyan, embaixador da
República da Armênia no Brasil, Sra. Hilda Diruy Burmaian, cônsul honorária da República da Armênia em São
Paulo, deputado estadual, meu colega, Pedro Tobias, Sr. Celso Jatene, secretário
municipal de Esportes, autor da Lei 15.4741/2011, que oficializou no calendário
municipal o Genocídio Armênio; Sr. Robinson Sakiyama
Barreirinhas, secretário municipal dos Negócios Jurídicos, que representa neste
ato o prefeito Fernando Haddad; professor Dr. Antranik
Manissadjian, presidente da Diretoria Executiva de
São Paulo da Igreja Apostólica Armênia do Brasil; Dr. Dikran
Kiulhtzian, vice-presidente da Diretoria Executiva de
São Paulo, representando o Sr. André Kissajikian,
presidente do Conselho da Igreja Apostólica Armênia; Dr. Simão Kerimian, assessor político-parlamentar da Diretoria
Executiva de São Paulo, da Igreja Apostólica Armênia do Brasil; Yeznig Guzelian e Boghos Baronian, Arciprestes; Dr. Takvor Arapian, presidente da Sociedade Beneficente e Cultural Marachá; Sr. Paulo Moisés Alti Barmakian, presidente da Diretoria Executiva de Osasco; Sr.
Vartan Moumdjian,
representando o pastor Dr. Roy Abrahamian, presidente
do Conselho da Igreja Central Evangélica de São Paulo; Sra. Marlene Distchekenian, presidente da Associação Beneficente de
Damas Brasil-Armênia; Sr. Onig Tamdjian,
presidente da Associação Cultural Armênia de São Paulo - Acasp;
Sr. Hélio Balukian, presidente da União Geral Armênia
de Beneficência (Ugab); Sr. João Carlos Boyadjian, presidente do Fundo Nacional Armênio; Sr. Nigol Nigohossian, presidente do Sama-Clube Armênio; Sr. Cônsul-geral
do Líbano em São Paulo, Kabalan Frangieh.
Sintam-se todos nomeados, como se
estivessem com assento à Mesa.
Senhoras deputadas, senhores
deputados, minhas senhoras e senhores, esta sessão foi convocada pelo
presidente efetivo desta Casa, atendendo solicitação deste deputado, com a
finalidade de homenagear os Mártires Armênios Vítimas do Genocídio que completa
este ano seu centenário.
Convido a todos os presentes
para, de pé, ouvirmos o Hino da Armênia e o Hino Nacional Brasileiro, executados
pela Banda do Corpo Musical da Polícia Militar do Estado de São Paulo, sob a
regência do 1º sargento PM Jefferson Bernardo.
* * *
- É feita a execução do Hino da Armênia e do Hino Nacional Brasileiro.
* * *
O SR.
PRESIDENTE - CELSO GIGLIO - PSDB - Esta Presidência agradece à Banda da Polícia Militar do Estado de São
Paulo.
Gostaria de agradecer ao nosso
presidente Fernando Capez e autoridades aqui
presentes.
Comunicamos que esta Sessão
Solene está sendo transmitida ao vivo pela TV WEB e será transmitida pela TV Assembleia dia 02 de maio de 2015, às
21 horas, pela NET, canal 7, pela TV Aberta, canal 61.2, TV Vivo Digital, canal
185 e analógico, canal 66.
Quero anunciar a presença do
nosso senador José Serra.
Cem anos se passaram! Gerações
conheceram relatos, notícias, debates, informações sobre a ação do então
Império Turco-Otomano - hoje, a Turquia -, que passou para a história como um
dos maiores massacres já registrados entre povos: o genocídio armênio.
Um dos primeiros povos a se
converter ao cristianismo, os armênios foram vítimas da intolerância religiosa
e viram, em 24 de abril de 1915, o início de um grande crime contra a
humanidade, que lhes retirou as propriedades, os bens, a liberdade, a família,
e principalmente a vida de muitos irmãos.
A história conta que o Império
Otomano abrigava naquele ano cerca de dois milhões de armênios. Mais de um
milhão e meio foram mortos em alguns anos. Seguiu-se a enorme diáspora armênia
que levou sobreviventes em fuga pelo deserto e se espalhou pelo mundo como
verdadeiros retirantes da fila da morte para, em busca da sobrevivência,
reconstruir e recomeçar a vida em outros países. A esperança desses
sobreviventes foi sempre acompanhada pela dor, pelo sacrifício, tendo sempre
presente o desejo de manter a Armênia viva onde quer que estivesse.
Hoje, na República da Armênia,
uma população de três milhões de armênios vive em território reduzido.
Estima-se que mais de cinco milhões vivem em outros países, inclusive cerca de
cem mil no nosso país.
Disse o saudoso Franco Montoro,
então senador da República, referindo-se aos armênios em discurso no Senado
Federal: “Hoje, quase ao fim do século, nas tampas mortuárias da Armênia se
poderia escrever: ‘Ficaram com suas vidas, seus bens, com suas telas, mas não
destruíram sua memória’”. Não há outra definição para tal massacre, senão
genocídio. Embora muitas nações não reconheçam - o Brasil inclusive -, algumas
cidades e estados já o fizeram, como o estado de São Paulo em lei de no 15.813,
de 2015, sancionada pelo governador Geraldo Alckmin e aprovada por esta
Assembleia Legislativa, que instituiu o Dia do Reconhecimento e Lembrança às
Vítimas do Genocídio do Povo Armênio. A autoria do projeto de lei foi do meu
colega Pedro Tobias.
Aproveito ainda para informar
que, nesta data, protocolei nesta Casa moção para que seja enviada à Sra. Presidente da República pedindo providências para que
o Brasil também reconheça oficialmente o genocídio armênio.
Em missa em memória aos armênios
de 12 de abril, S. Santidade o Papa Francisco também chamou a atenção para a
questão do reconhecimento de erros históricos e para a necessidade de se
trabalhar para que fatos semelhantes nunca mais aconteçam. Disse o Papa:
“Ocultar ou negar o mal é como permitir que uma ferida siga
sangrando sem enfaixá-la.”
Nós nos reunimos nesta sessão
solene para homenagear todos os armênios, os mártires que pereceram no
genocídio e também aqueles que sobreviveram e conseguiram recomeçar suas vidas.
Também nos solidarizamos e nos irmanamos na justa aspiração desse povo, que é o
reconhecimento tanto pela Turquia como pela comunidade mundial de que aquele
lamentável episódio iniciado em abril de 1915, longe de ser ato de guerra, foi,
sim, um genocídio.
Igualmente, manifestamos nosso
apoio ao povo armênio na reivindicação muito antiga, consagrada em cláusula do
Tratado Internacional de Sevres, em 10 de agosto de
1920, pelo qual seriam restituídos os territórios genuinamente armênios,
decisão que, até os dias atuais, não foi cumprida.
Não se trata de reescrever a
história, mas sim contá-la de forma verdadeira. O reconhecimento de erros
passados, como o genocídio armênio, é um passo para que nações assumam
compromissos com o presente de convivência pacífica e com o futuro de respeito
à dignidade humana.
Este deputado, muito honrado em
presidir esta importante sessão solene, deseja ainda externar o privilégio do
convívio de muitos anos com parte da comunidade armênia do estado de São Paulo,
que reside na minha querida cidade de Osasco. São mais de 450 famílias, hoje
com mais de 2.500 pessoas, que se concentraram inicialmente no bairro de
Presidente Altino e, com novas gerações, se espalharam por toda a cidade e
região.
É com grande alegria, pois, que
cumprimento meus amigos armênios de Osasco e todos os armênios do estado de São
Paulo que vivem no nosso querido Brasil. Muito obrigado.
Com a palavra - ele tem um
compromisso a seguir, mas nos deu a alegria de estar presente nesta noite -,
nosso senador José Serra, a quem tenho a honra de passar o microfone.
O SR. JOSÉ SERRA - Quero
dar meu boa noite a todos e a todas, cumprimentar os
presentes através do nosso deputado Celso Giglio, que tomou esta iniciativa e
preside esta reunião, o embaixador da Armênia no Brasil, Dr. Achot Galoyan. Na sua pessoa,
quero saudar a todos e a todas, inclusive o nosso querido Pedro Tobias, que
tomou a iniciativa do projeto de lei a respeito da posição do estado de São
Paulo sobre este tema.
Muitos lembram que há seis anos,
quando governador de São Paulo, escrevi um artigo na “Folha de S.Paulo” na página 3, no dia 24 de abril, exatamente
abordando esta questão. Agora, no Senado, temos a presidência da Comissão de
Relações Exteriores, através do meu colega senador Aloysio Nunes, de maneira
que estamos à disposição para forçar o governo brasileiro a tomar uma posição a
este respeito.
Vim aqui para reafirmar isso.
Não tenho outro compromisso. O problema é o avião para Brasília que sai daqui a
pouco de Congonhas. Fiquei preso no trânsito, não consegui chegar antes e, se
não tomar cuidado, não chego em Brasília e meu projeto
do voto distrital pode ser prejudicado amanhã. De maneira que vou ter que ir
correndo agora para estar lá amanhã cedo.
Muito obrigado de coração. Saiba
toda a comunidade armênia que estou ao seu lado.
SR.
PRESIDENTE - CELSO GIGLIO - PSDB - Quero
anunciar a presença do Sr. vice-reitor da Universidade de São Paulo, Sr.Vahan Agopyan e do presidente
do Conselho Nacional Armênio, Sr. Kervok Zadick.
Enviaram cumprimentos o
secretário de estado de Desenvolvimento Social, Floriano Pesaro;
Dr. Márcio Fernando Elias Rosa, procurador-geral de Justiça; Dr. João Carlos de
Souza Meirelles, secretário de estado de Energia; desembargadora Silvia Regina Pondé Galvão Devonald, presidente
do Tribunal Regional do Trabalho; Sr. Arnaldo Jardim, secretário de estado da
Agricultura e Abastecimento; Sr. David Uip,
secretário de estado da Saúde; Sr. Herman Voorwald, secretário de estado de Educação; deputado Aldo Demarchi; Sr. Lourival Gomes, secretário de estado da
Administração Penitenciária; deputada Leci Brandão;
Sr. José Luiz Ribeiro, secretário do Emprego e Relações do Trabalho; Sr. João Caramez, subsecretário de Assuntos Parlamentares; deputado
coronel Telhada; Dr. Luiz Antônio Medeiros, superintendente regional do
Trabalho e Emprego no estado de São Paulo; Dom Vartan
Boghossian, bispo dos armênios católicos na América
Latina. Gostaria de anunciar também o Sr. Subsecretário
da Casa Civil, Sr. Rubens Cury.
Com a palavra o embaixador da
República Armênia, Dr. Achot Galoyan.
O SR. ACHOT GALOYAN - (Discurso
pronunciado em língua estrangeira.)
* * *
- Tradução simultânea realizada pelo Sr. Yervant Tamdjian.
* * *
SR. YERVANT TAMDJIAN - “Excelentíssimo
Senhor Presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, Fernando Capez; Exmo. Sr. Celso Giglio, presidente desta Sessão
Solene; Exmo. Sr. Deputado Estadual Pedro Tobias,
autor da Lei 15.813 de 2015, que cria no estado de São Paulo o Dia do Reconhecimento
do Genocídio Armênio. Como é conhecido, no dia 9 de dezembro de 1948, a
Organização das Nações Unidas adotou a Convenção ‘Sobre Prevenção e punição dos
crimes do Genocídio’, que concebe o genocídio como crime internacional.
Destarte, os países que aderiram assumiram o compromisso de prevenir, bem como
punir os que executaram o genocídio.
Já é uma prova inegável que os
massacres em massa que foram efetuados contra a população armênia no Império
Otomano durante os anos da Primeira Guerra Mundial é
um genocídio. Esses massacres foram cometidos por parte do governo dos jovens
turcos em diversas regiões do Império Otomano. Esses massacres haviam sido
projetados por aquele governo, por cuja realização foram utilizadas
as oportunidades advindas na Primeira Guerra Mundial.
Observemos que, às vésperas da
Primeira Guerra Mundial, mais de dois milhões de armênios viviam no Império
Otomano. É fato histórico que, entre os anos de 1915 a 1923, por volta de 1,5
milhão deles foram mortos, enquanto o resto foi forçado a se converter ao
maometismo ou conseguiu encontrar um refúgio em vários países.
Com a prisão e subsequente
extinção de centena de intelectuais e líderes comunitários armênios, que
começou em 24 de abril de 1915, principalmente na capital do Império Otomano,
Constantinopla, deu-se início à primeira etapa de extermínio da população
armênia. Mais tarde, os armênios sobreviventes espalhados pelo mundo começaram a rememorar o dia 24 de abril como Dia de recordação das
vítimas do Genocídio Armênio.
A segunda etapa do Genocídio Armênio
se deu através da convocação de aproximadamente 60 mil homens ao serviço
militar do exército turco. Mas esses, em pouco tempo, seriam desarmados e
mortos barbaramente pelos seus colegas soldados turcos.
A terceira etapa do genocídio se
destacou pela matança e brutal deportação das mulheres, crianças e velhos aos
desertos de Der-Zor, na Síria. Durante essas
deportações, centenas de milhares e pessoas foram assassinadas pelas milícias
turcas, por gangues e grupos de bandidos curdos e tcherquezes.
Milhares de outras pessoas que foram deportadas morreram de inanição, sede,
muitas doenças e epidemias. Milhares de mulheres e crianças foram submetidas a
diversas espécies de violências indescritíveis. E dezenas de milhares de
armênios foram obrigados a renegar a sua religião e
aderir ao islamismo.
Finalmente, pôs-se em prática a
etapa derradeira do Genocídio Armênio, qual seja, a
absoluta negação pelo governo turco das deportações em massa e a extinção
coletiva perpetrada contra a nação armênia, na sua própria pátria milenar. Esta
etapa ainda não foi concluída. Não obstante o fato de o Genocídio Armênio ter
sido reconhecido por 23 países destacados e cinco grandes organizações
internacionais, o Genocídio Armênio ainda continua sendo como um crime de
lesa-humanidade, a Turquia continua ainda na sua luta imoral em não reconhecer
o genocídio, utilizando como meios a distorção histórica, através de diversos
meios propagandísticos infundados, lobismos e outros
meios.
Neste ano completou-se o
centenário do Genocídio Armênio, razão pela qual foram organizados distintos
eventos evocativos em muitos países. Essas iniciativas foram fundamentadas em
quatro pilares específicos, quais são: lembrança, gratidão, prevenção e
renascimento. Simultaneamente, elas são mensagens que a República da Armênia e
as coletividades armênias estabelecidas em muitos países como consequência do
Genocídio Armênio levam à comunidade internacional. Estes quatro pontos, esses
quatro pilares trazem mensagens significativas e concretas também para rememorar
todos os genocídios realizados na história da civilização humana.
Para nós armênios, a lembrança é
uma obrigação moral e, ao mesmo tempo, um direito individual e coletivo
inseparáveis. É obrigação moral e de direito lembrarmos os nossos um milhão e
meio de mártires, lembrar das privações desumanas que
centenas de milhares de pessoas sofreram, bem como as perdas dos valores
materiais, culturais e espirituais que o nosso povo herdou e acumulou através
de milênios. É, portanto, essa união do direito e do dever, o motivo essencial
para realizarmos os eventos evocativos sob o lema ‘Lembro e reivindico’.
Não se pode discordar de quem
sobreviveu ao Holocausto Judeu, o prêmio Nobel Eli Wizel,
que frisou: “Esquecer os mortos é o mesmo que matá-los pela segunda vez.” Ao
mesmo tempo, a memória deveria ser o melhor meio aos próprios herdeiros dos que
praticaram o genocídio para encararem a sua própria história e a melhor
oportunidade para reerguer a justiça.
A realização do genocídio não é
só uma consequência do desenrolar dos fatos internos de um determinado estado
ou sociedade, mas também induz à debilidade do conjunto internacional. Não foi
só uma vez que ficou comprovado que a impunidade abre precedentes para outros
genocídios. Tanto o Genocídio Armênio como o Holocausto foram
realizados, respectivamente, durante o percurso da Primeira e da Segunda
Guerra Mundiais. A comunidade internacional não conseguiu prevenir tanto
aqueles como outros genocídios. Hoje, por meio da lembrança, torna-se possível
refletir sobre a enorme perda que a civilização mundial sofreu em consequência
dos genocídios.
Além do sucessivo empenho
realizado no processo de reconhecimento, condenação e consequências do
Genocídio, ocupa um espaço primordial na pauta da política externa da República
da Armênia a prevenção de genocídios. Nesse aspecto, tal diretriz é
inter-relacionada, visto que o reconhecimento e a condenação dos genocídios no
futuro contra a humanidade assumem papéis inestimáveis no processo de prevenção
de crimes de lesa-humanidade.
Um dos motivos pela repetição dos
genocídios e dos crimes perpetrados contra a humanidade é que não foi
evidenciada suficientemente a consistência da sociedade internacional na sua
união e determinação quanto ao processo de reconhecimento e condenação dos
genocídios, o ambiente que gera esse crime e a exclusão da negação.
Os Parlamentos e os parlamentares
têm tido papel importantíssimo como estruturas pilares dos valores democráticos
nessa direção.
No dia 23 de abril de 2015, a
Assembleia Geral do Conselho Parlamentar do Parlamento Europeu adotou a
declaração alusiva à ‘Recordação do Centenário do Genocídio Armênio’, cujo
autor é o deputado da França na Assembleia Geral do Conselho Parlamentar do
Parlamento Europeu e o respectivo vice-presidente René Ruken.
A declaração diz,
fundamentalmente: “O genocídio é um crime terrível contra a sociedade. A
prevenção de crimes semelhantes pode interromper a escalada dos conflitos, a
prevenção de crimes semelhantes pode interromper os conflitos, os desastres e
as tragédias humanas. A falta de condenação plena do Genocídio Armênio no
devido tempo propiciou sensivelmente à indução, à condução de outros crimes
perpetrados contra a humanidade posteriormente, tais como o Holocausto e demais
genocídios.”
O Papa Francisco, no dia 12 de
abril último, em cerimônia religiosa da Santa Missa realizada na Basílica de
São Pedro, no Vaticano, declarou efusivamente a grande tragédia ‘Medz Yeghern’ dos armênios como o
‘primeiro genocídio do século 20’.
Um fato histórico, visto que foi a
primeira vez que um Papa de Roma celebrou uma Santa Missa recordando o genocídio.
Até então, foram registradas orações em intenção das almas das vítimas de
diversos genocídios, mas não a celebração de uma Missa propriamente solene.
Convém lembrar que, sob as
colunas da Basílica de São Pedro, ecoaram não só cantos religiosos do rito
armênio, mas também foram ouvidos, pela primeira vez, os tons suaves e emocionantes
do ‘dudug’ (espécie de flauta armênia). Participaram
da Santa Missa o presidente da República da Armênia, Serj
Sargsyan, o Patriarca Supremo e Catholicós
de Todos os Armênios, Sua Santidade Karekin II, o Catholicós Aram I, da Grande Casa de Cilicia,
e o Patriarca-Catholicós da Igreja Católica Armênia, Nersés-Bedros 19.
Não é por acaso que a Rádio do
Vaticano e o site oficial trouxeram a seguinte manchete: “O 12 de abril de 2015
é um dia histórico. O coração da Basílica de São Pedro tem pulsação do
batimento armênio.”
Dignos deputados desta nobre Casa, permitam-me, ao finalizar a minha palavra, manifestar
sinceramente, em nome da República da Armênia, a nossa profunda gratidão pela
criação, no Estado de São Paulo, do Dia do Reconhecimento do Genocídio Armênio,
a ser celebrado doravante anualmente, no dia 24 de abril, através da Lei 15.813
de 2015, de autoria do Deputado Estadual Pedro Tobias.
Muito obrigado.”
O SR. PRESIDENTE - CELSO GIGLIO - PSDB - Gostaria de chamar meu colega, deputado Pedro
Tobias.
O SR. PEDRO TOBIAS - PSDB - Boa noite a todos. Presidente Celso, obrigado por esta memória, por este
convite para todos hoje. Na pessoa do embaixador, Dr. Achot,
cumprimento todos os presentes.
Eu nasci no Líbano, e, para a
aldeia onde nasci, há cem anos, vieram mais de dez famílias armênias. Escutei
muitos relatos que falaram aqui, de pessoas idosas, na época. Imaginem o
sofrimento de ficar no Líbano mais de trinta anos sem documento, porque não
tinham nome, não tinham documento, não tinham nada. Depois, todos dessas dez
famílias ficaram com nome de Armênio: Pedro Armênio, José Armênio.
Morei no Oriente Médio e sei o
que acontece lá. Mesmo os libaneses, na Primeira Guerra Mundial, também
sofreram nas mãos dos turcos. Não é só reconhecer o genocídio, mas ele precisa
ser punido. Hoje, por esse grupo, nessa guerra civil no Líbano, Síria e Iraque,
muitos cristãos estão sendo massacrados como aconteceu, mas em nível menor.
Eles estão fazendo a mesma coisa. Esse grupo é apoiado pelo governo turco. Isso
significa que faltou punição no genocídio e agora está se repetindo. Pode ser
em escala menor hoje, mas muita gente está morrendo porque é cristão, não
porque está guerreando contra ou a favor. É só pelo fator religioso.
Eu acho que só reconhecer o
genocídio é pouco. Alguém ou o país precisa pagar pelo que fez de errado - não
é só reconhecer - para não deixar acontecer de novo. E está acontecendo nessa
região do Oriente Médio o mesmo massacre pelo fato de ser armênio, ser cristão,
ser católico, ser o que seja.
Isso é uma coisa histórica. Esse
projeto, eu agradeço aos senhores. O presidente Fernando Capez,
depois que assumiu o compromisso, colocou o projeto em votação, arrumou relator
especial. Ficamos um ano, porque o cônsul da Turquia e o embaixador da Turquia
fizeram muita pressão nesta Casa para este projeto não ser aprovado. Por isso,
quero dividir esse trabalho com Fernando Capez, mas a
batalha não acabou, porque, cada vez que alguém comete algum erro, tem que
pagar para evitar outro genocídio. Precisa saber que, se provocar alguma
tragédia, algum genocídio, vai pagar no futuro. Sem punição, não adianta falar
em lei. Qualquer lei que façamos, sem punição, não tem valor algum. Proibir
fumar. Sem punição, não tem valor algum. É preciso punição.
Para terminar, deputado Celso,
precisamos mandar a Assembleia para o Congresso. O deputado Celso e eu somos do
mesmo partido e vamos pedir à nossa bancada no Congresso Nacional para tentar
fazer uma lei que o Brasil reconheça. Depois que o Papa reconheceu isso, não
tem mais desculpa. Precisa ser universal. Em qualquer país, em qualquer canto
do mundo.
O Brasil é democrático,
embaixador. Eu vim de fora e me instalei no Brasil. Nasci no Líbano, estudei na
França, vim para cá e estou no quinto mandato de deputado. Tive dois mandatos
de vereador e nunca escutei alguém falando que eu era estrangeiro.
Nosso país, o Brasil, é maravilhoso.
Temos sorte de morarmos aqui, porque este país é diferente. Em qualquer país da
Europa, existe racismo, sim. Mas não no Brasil. Deus que ajude este país!
Eu hoje me sinto brasileiro antes
de qualquer origem minha. Qualquer estrangeiro que chega nesta terra é recebido
de braços abertos.
O governador, que me ligou há
meia hora, pediu que, em seu nome, desse um abraço. Nosso governador Geraldo
Alckmin. Quinta-feira estava despachando com ele, e ele sancionou o projeto.
Está mandando um grande abraço a todos e disse que dá todo o apoio à causa dos
armênios, à tragédia dos armênios. Pouca gente, até mesmo filhos de armênios,
sabe sobre essa tragédia que o povo passou na época. Eu convivi com gente que viveu
nessa época - eu era criança - e contava história dessa tragédia.
Muito obrigado. Obrigado, Celso,
a você também por esta reunião. Quem sabe a cada dia 24 de cada ano vai ter uma
reunião na Assembleia para homenagear e lembrar, porque essa tragédia não pode
ser esquecida. E a geração nova depois esquece. Precisa ser lembrado a cada ano
o que aconteceu, mas vamos lutar pela punição. Não é só reconhecimento, porque
têm mil maneiras de fazer punição. Com isso, algum grupo político, algum país,
não se atreve a fazer outra coisa de novo. Infelizmente, estão fazendo em
escala menor com o apoio do próprio regime turco, que está apoiando esse grupo
extremista mulçumano que, no Oriente Médio, está matando tanta gente. Não
atacam como há cem anos atrás, que eles ocupavam a região toda.
Nós que somos de origem libanesa,
armênia, o que seja, os chamávamos de turcos, porque, na Primeira Guerra
Mundial, quem chegava aqui chegava com passaporte turco. Por isso, muita gente
odeia se você o chama de turco. Eu falo com carinho, não tenho nada a mais.
Embaixador, leve para o seu país
o apoio do povo brasileiro, o apoio da Assembleia Legislativa de São Paulo.
Aqui tem um bairro chamado Armênia com três milhões. Só em São Paulo e na
Grande São Paulo, chega a 14, 15 milhões de habitantes.
Um grande abraço. Muito obrigado!
O SR. PRESIDENTE - CELSO GIGLIO - PSDB - Muito bem, deputado Pedro Tobias, meu caro
companheiro. Eu me comprometo a ir com o senhor, juntos, a Brasília levar nossa
moção que apresentamos hoje, pedindo que o Congresso Nacional encaminhe e
aprove da mesma forma como fizemos em São Paulo.
Com satisfação, anunciamos a
apresentação do Coral Vahakn Minassian
do Sama, com a música Erepuni,
sob a regência do maestro Alexey Kurdjian.
* * *
- É feita a apresentação.
* * *
O SR. PRESIDENTE -
CELSO GIGLIO - PSDB - Gostaria de
anunciar ainda a presença do pastor André Vargas da Igreja Irmãos Armênios.
Queremos,
mais uma vez, cumprimentar todos os representantes da nossa comunidade armênia
presentes nesta cerimônia, agradecer a presença do Sr.
Cônsul e de todas as autoridades que representam os vários segmentos da
comunidade armênia no nosso estado.
Esgotado o
objeto da presente sessão, esta Presidência agradece às autoridades, aos
funcionários da Assembleia, às entidades representativas da comunidade armênia
e a todos que, com suas presenças, colaboraram para o êxito desta solenidade.
Está
encerrada a presente sessão.
* * *
- Encerra-se a sessão às 21 horas e 21 minutos.
* * *