11 DE NOVEMBRO DE 2005

059ª SESSÃO SOLENE EM COMEMORAÇÃO AOS “50 ANOS DO DIEESE - DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICAS E ESTUDOS SÓCIO-ECONÔMICOS”

 

Presidência: NIVALDO SANTANA

 

Secretário: HAMILTON PEREIRA

 

 

 

DIVISÃO TÉCNICA DE TAQUIGRAFIA

Data: 11/11/2005 - Sessão 59ª S. SOLENE Publ. DOE:

Presidente: NIVALDO SANTANA

 

COMEMORAR OS 50 ANOS DO DIEESE - DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICAS E ESTUDOS SÓCIO-ECONÔMICOS

001 - NIVALDO SANTANA

Assume a Presidência e abre a sessão. Anuncia as autoridades presentes. Informa que esta sessão solene foi convocada pela Presidência efetiva, a pedido do Deputado ora na condução dos trabalhos, e dos Deputados Renato Simões, Enio Tatto e Arnaldo Jardim com a finalidade de comemorar os 50 anos do Dieese - Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos. Convida a todos para, de pé, ouvirem a execução do Hino Nacional Brasileiro.

 

002 - ADI DOS SANTOS LIMA

Representante da Central Única dos Trabalhadores - CUT, fala da importância do Dieese em congregar as mais diferentes concepções dentro de sua estrutura e sua credibilidade perante a população.

 

003 - DAVID ZAIA

Representante da Central Autônoma dos Trabalhadores - CAT, destaca a importância do Dieese na luta dos trabalhadores.

 

004 - LEVI DA HORA DE OLIVEIRA

Representante da Confederação Geral dos Trabalhadores, parabeniza os dirigentes do Dieese pelo trabalho em prol dos trabalhadores auxiliando tecnicamente as entidades de classe.

 

005 - NATAL LEO

Representante da Social Democracia Sindical, discorre sobre a capacidade profissional do Dieese ao longo destes 50 anos no Brasil.

 

006 - PAULO SABÓIA

Presidente da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil - CGTB, tece comentários sobre a história do Dieese em defesa do trabalhador.

 

007 - DANILO PEREIRA DA SILVA

Presidente Estadual da Força Sindical, fala sobre as condições fornecidas pelo Dieese aos sindicatos para adoção de uma política do emprego e do desenvolvimento sustentado.

 

008 - HAMILTON PEREIRA

Deputado Estadual, reverencia a história do Dieese por seu trabalho e credibilidade.

 

009 - LUÍS TENÓRIO

Membro fundador do Dieese, considera o Dieese a realização mais importante do movimento sindical na segunda metade do século passado. Diz que o Dieese existe técnica e politicamente para instrumentar a luta dos trabalhadores.

 

010 - CLEMENTE GANZ LÚCIO

Diretor técnico do Dieese, explica que o Dieese é uma entidade unitária, com capacidade política de transferir, à equipe técnica, o poder de conduzir a entidade durante estes 50 anos, com absoluta autonomia, voltada para a classe trabalhadora, por ela dirigida e sustentada.

 

011 - CARLOS ORTIZ

Presidente do Dieese, explana que o Dieese é um órgão importante que conseguiu sobreviver graças à sua competência de aglutinar, em seus quadros, todas as correntes sindicais e políticas do País.

 

012 - Presidente NIVALDO SANTANA

Diz da honra de prestar essa homenagem ao Dieese. Ressalta que a entidade caracteriza-se por pluralismo, rigor técnico e pela luta por uma proposta de desenvolvimento com distribuição de renda. Agradece a todos que colaboram com o êxito da solenidade. Encerra a sessão.

 

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O SR. PRESIDENTE - NIVALDO SANTANA - PCdoB - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos. Convido o Sr. Deputado Hamilton Pereira para, como 2º Secretário “ad hoc”, proceder à leitura da Ata da sessão anterior.

 

O SR. 2º SECRETÁRIO - HAMILTON PEREIRA - PT - Procede à leitura da Ata da sessão anterior, que é considerada aprovada.

 

O SR. PRESIDENTE - NIVALDO SANTANA - PCdoB - Para compor a Mesa desta sessão solene convido o nosso companheiro Carlos Ortiz, Presidente do Dieese; Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Dieese; nosso companheiro Luiz Tenório, da equipe de fundadores do Dieese, e o Deputado Hamilton Pereira.

Srs. Deputados, companheiras e companheiros sindicalistas, esta sessão solene foi convocada pelo Presidente desta Casa, Deputado Rodrigo Garcia, atendendo solicitação deste Deputado, e dos Deputados Renato Simões, Enio Tatto e Arnaldo Jardim, com a finalidade de comemorar os 50 anos do Dieese.

Convido todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional Brasileiro, que será entoado pelo coral do corpo musical da Polícia Militar do Estado de São Paulo, sob a regência do segundo-tenente músico PM Ismael Alves de Oliveira.

 

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- É entoado o Hino Nacional Brasileiro.

 

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O SR. PRESIDENTE - NIVALDO SANTANA - PCdoB - Esta Presidência agradece ao coral do corpo musical da Polícia Militar do Estado de São Paulo.

Dando início aos trabalhos desta sessão solene para celebrar os 50 anos do Dieese, gostaríamos de conceder a palavra ao nosso companheiro Adi dos Santos Lima, representando a Central Única dos trabalhadores.

 

O SR. ADI DOS SANTOS LIMA - Bom dia a todos. Na pessoa do Deputado Nivaldo Santana quero cumprimentar todos os parlamentares aqui presentes, na pessoa do companheiro Clemente quero cumprimentar toda a equipe técnica do Dieese, na pessoa do companheiro Ortiz quero cumprimentar toda a diretoria do Dieese.

Não é pouca a satisfação da CUT participar de uma atividade como esta. O Dieese para o movimento sindical, na minha concepção, é o ar que respiramos. Ao longo da história dos 50 anos do Dieese, o movimento sindical explorou pouco esse patrimônio criado pelos trabalhadores, que tem ao longo do tempo nos assessorado, que tem ao longo do tempo nos formado e nos informado. O Dieese certamente é a única entidade que consegue agregar concepções sindicais diferentes em sua estrutura. Diria mais: o Dieese sobrevive porque tem esta possibilidade de congregar concepções diferentes dentro de sua estrutura. Para mim, que tenho na minha vida, no meu currículo, o orgulho de ter sido Presidente do Dieese é que a credibilidade que esta entidade tem faz com que as portas as portas se abram todas as vezes que o Dieese é solicitado.

Quero aproveitar, Sr. Clemente, Diretor Técnico do Dieese, para fazer um apelo. A nossa Central Sindical, a CUT, explora pouco o Dieese, que tem muito a oferecer no campo da pesquisa, da assessoria. Enfim, os produtos que o Dieese oferece ao movimento sindical são pouco explorados.

Nesses 50 anos, nós, sindicalistas, deveríamos fazer uma espécie de maratona pelos países afora, explorando melhor esse patrimônio, que o Dieese adquiriu ao longo desses anos, e que durará mais 50, mais 50, mais 50, porque a credibilidade com que se aglutinou ao longo desses anos é algo insolúvel. Pena que o movimento sindical ainda não percebeu esse potencial do Dieese. Portanto, desejo ao nosso Dieese mais 50 anos, mais 50 e mais 50. Muito obrigado.

 

O SR. PRESIDENTE - NIVALDO SANTANA - PCdoB - Nós agradecemos as palavras do representante da CUT, Adi dos Santos Lima.

Convidamos, para fazer o uso da palavra, nosso companheiro David Zaia, representando a CAT - Central Autônoma dos Trabalhadores.

 

O SR. DAVID ZAIA - Bom dia. Quero saudar o Deputado Nivaldo Santana, Presidente desta Sessão Solene, todos os Srs. Parlamentares presentes; Carlos Ortiz, Presidente do Dieese; Tenorinho, representando os fundadores do Dieese; Sr. Clemente do corpo técnico do Dieese.

Quero falar da minha satisfação em participar desta solenidade de 50 anos do Dieese, pela importância que representa na luta dos trabalhadores. Nunca é demais lembrar que o nosso país, apesar de uma longa luta dos trabalhadores e do movimento sindical, continua sendo um dos países com pior distribuição de renda do mundo. Isso é uma bandeira que o conjunto do movimento sindical tem sempre presente. Ou nós resolvemos essa questão, ou vamos continuar sendo este país com todas as mazelas sociais decorrentes da péssima distribuição de renda. Talvez aí se registre a maior importância do Dieese na história do movimento sindical. Hoje, o Dieese talvez seja a entidade que congrega maior credibilidade, maior acúmulo de estudos e conhecimentos para subsidiar o movimento sindical.

Há poucos meses, mais uma vez o Governo, através do Ministério do Trabalho, criou uma comissão com vários segmentos - empresários, o próprio Governo e o movimento sindical - para discutir a valorização do salário-mínimo, com todas as centrais participando. Mais uma vez, o Dieese serviu de cimento entre todas as centrais, para que pudéssemos chegar a essa comissão com uma proposta única e comum de valorização do salário-mínimo. O Dieese, só por isso, mereceria ter um destaque ainda maior junto ao movimento sindical pela luta e pela recuperação do salário-mínimo, pela denúncia dessa situação da distribuição de renda e pelas propostas concretas.

O Dieese está sempre pronto a resolver os problemas. Os sindicatos, individualmente, lutam por um piso salarial melhor e por conquistas na sua categoria. Mas, tudo isso tem um limite. Se não mudarmos essa situação de distribuição de renda no País, não é possível avançarmos mais do que isso.

Quero saudar esses 50 anos do Dieese, a importância que isso representa, e dizer a todos nós, dirigentes sindicais: vamos prestar mais atenção no Dieese. Precisamos dele. O Dieese precisa continuar nos próximos 50 anos porque temos muito a fazer em defesa dos trabalhadores deste país. Obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - NIVALDO SANTANA - PCdoB - Agradecemos as palavras do sindicalista David Zaia, que falou em nome da CAT.

Registramos as presenças do Sr. Aparecido Inácio da Silva, Presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas, de Material Elétrico, Siderúrgicas, Veículos e de Auto-Peças de São Caetano do Sul; do Sr. Paulo T. Sabóia, Presidente da CGTB - Central Geral dos Trabalhadores do Brasil; do Sr. Filemom Reis da Silva, Secretário Geral da Sindalesp desta Casa; da Sra. Sirlei Oliveira, Supervisora de Projetos do Dieese; do Sr. Antonio Sabóia Barros Jr., Secretário Geral do Dieese; do Sr. Francisco Oliveira, Coordenador de Pesquisas do Dieese; do Sr. José Roberto Blota, Diretor Executivo do Sindicato dos Eletricitários do Estado de São Paulo; do Sr. Gentil Fernandes Rosa, 2º vice-Presidente Municipal do Sindicato Nacional dos Aposentados e Pensionistas da Força Sindical; do Sr. Gerardo Mendes de Melo, representando a Fundação Interuniversitária de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho; do Sr. Levi da Hora de Oliveira, da Confederação Geral dos Trabalhadores - CGT; do Sr. Carlos Alberto dos Reis, vice-Presidente do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo; do Sr. Alexandre Loloian, representando a Sra. Felícia Reicher Madeira, Diretora Executiva da Fundação Seade; e, também, a presença de algumas entidades sindicais registradas: do Sindicato dos Derivados de Petróleo do Estado de São Paulo; do Sindicato Nacional dos Aeronautas; da Apeoesp; do Sindicato dos Edifícios e Condomínios do ABCD; do Sindicato dos Motoristas de São Paulo; do Sindicato dos Práticos de Farmácia, Siemaco de Taboão e de Suzano; do Sindicato dos Vidreiros; do Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores em Transporte Rodoviário Urbano de São Paulo; e do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria e Serviços Urbanos de Santos.

Dando continuidade aos nossos trabalhos, passaremos a palavra ao representante da CGT - Confederação Geral dos Trabalhadores -, Levi da Hora de Oliveira.

 

O SR. LEVI DA HORA DE OLIVEIRA - Bom dia. Gostaria de cumprimentar o amigo e companheiro, Deputado Nivaldo Santana, sempre à frente de todas as lutas, companheiro Clemente, nosso Diretor Técnico, companheiro Ortiz, que tem, sem dúvida, grandes desafios pela frente na Presidência do Dieese.

Eu estava sentado no plenário me perguntando o que falar do Dieese, de uma entidade que, sem dúvida, mostrou para que veio e como veio, com dificuldades, com situações em que o movimento sindical precisava dessa assessoria técnica nas nossas campanhas, em tudo que é necessário para dar suporte técnico ao movimento sindical. O Dieese é nosso, do movimento sindical. Essa é a filosofia, com grandes guerreiros, como o nosso último remanescente e companheiro Tenório, aqui presente, um dos 21 que fundaram o Dieese. Está aqui a história viva. Tivemos dificuldades, mas com persistência conseguimos, com a união de todas as forças, um órgão dinâmico como Dieese, profissional e reconhecido nacional e internacionalmente.

Parabéns aos 21 dirigentes. Com certeza, com saudosismo ainda das grandes lutas que foram travadas lá atrás, o bastão foi passado para os novos dirigentes sindicais. Uma coisa que admiro, Clemente, é que o Dieese é um órgão conciliador. Isso é legal. O movimento sindical tem suas divergências, suas idéias, uma série de ações, mas, com certeza, o equilíbrio disso se dá dentro do Dieese.

Lendo alguns livros, Bobbio, um grande estudioso da democracia, descreve que temos de ter acesso à transparência e visibilidade que se tem dentro do movimento sindical, fazendo o crescimento e estudos aprofundados, como são feitos dentro do próprio Dieese, dando esse suporte firme e forte, reconhecido e até muitas vezes citado pelo próprio governo como um índice balizador das nossas lutas.

Tenorinho, eu tenho de agradecer a você. Nós todos temos de agradecer àqueles 21 dirigentes que tiveram essa brilhante idéia. Nós, hoje, não somos órfãos dentro do movimento sindical. Temos os nossos criadores, que com certeza darão ao longo de outros 50 anos um forte crescimento para o Brasil e para o movimento sindical.

Parabéns ao Dieese. Parabéns ao corpo técnico e aos funcionários do Dieese que se dedicam de corpo e alma a esse grande projeto que com certeza fará 100, 200 anos. (Palmas)

 

O SR. PRESIDENTE - NIVALDO SANTANA - PCdoB - Nossa sessão está andando bem acelerada. Aqui, estamos acostumados a ficar apertando a campainha toda hora para os Deputados pararem de falar, mas com os sindicalistas é assim: “curto e grosso”.

Gostaria de dizer que as entidades e lideranças citadas são aquelas que registraram a presença. Estou vendo algumas lideranças que não constam da nossa relação, como o Gilmar Carneiro, que já foi presidente dos bancários e secretário geral da CUT, assim como outros companheiros sindicalistas e penso que é importante fazer o registro.

Para demonstrar o caráter pluralista do Dieese, estávamos ouvindo os representantes das centrais sindicais. Vamos ouvir agora o nosso companheiro Natal Leo, representante da Social Democracia Sindical.

 

O SR. NATAL LEO - Primeiramente, a todos vocês o meu bom-dia. Cumprimentando o Nivaldo, o Ortiz, o Clemente e o Tenorinho; cumprimento todos os membros da Mesa.

Como é gostoso falar de uma entidade que é referência! Como é bom falar de uma entidade que é referência nacional e até mundial! Fui convidado a vir aqui representando a diretoria nacional da SDS - o meu amigo Alemão, o meu amigo Roberto Santiago, o meu presidente estadual Gilmar Agida - mas não para falar da relação do movimento sindical dentro do Dieese.

Eu gostaria de falar um pouquinho é da capacidade profissional, da competência, do profissionalismo do Dieese ao longo destes 50 anos no Brasil. O Dieese realmente é um órgão de referência nacional. É como quando você fala de refrigerante. Falar em refrigerante pensa-se Coca-Cola. Quando você fala de movimento sindical, quando você fala de pesquisa, quando você fala de estudo, você pensa em quem? Dieese.

Não queremos falar aqui da nossa relação dentro do Dieese. Queremos falar é das equipes que passaram ao longo destes 50 anos, que registraram, sim, a qualidade profissional e a competência deste instituto. O Dieese é uma instituição que não parou no tempo. Ela começou como entidade de diálogo e para aglutinar o movimento sindical. Hoje ela dita a cátedra em educação e formação. Ela foi crescendo e melhorando ao longo do tempo.

Temos de dar realmente parabéns para esse profissionalismo e essa competência do Dieese. Alguns companheiros que estiveram aqui deixaram claro: nós não sabemos usar.

Ainda há pouco eu estava brincando com o Clemente, nos bastidores, dizendo que a Central vai ocupá-lo - vou brincar com vocês - mais para colocar a chancela do Dieese nos nossos cursos, porque colocar a chancela de uma entidade como referência nacional é dar ao curso qualidade. Parabéns Dieese! Parabéns a todos vocês! (Palmas)

 

O SR. PRESIDENTE - NIVALDO SANTANA - PCdoB - Vamos ouvir o Presidente da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil - CGTB - nosso companheiro Paulo Sabóia.

 

O SR. PAULO SABÓIA - Bom dia a todos. Bom dia, senhoras e senhores. Cumprimento na pessoa do Deputado Nivaldo os componentes da Mesa; cumprimento na pessoa do Clemente todos os amigos técnicos, esses que tão fortemente se dedicam a essa luta, a essa batalha.

O Dieese para todo o movimento sindical é um marco. Isso é sabido por todos que convivem com o Dieese. A existência do Dieese na conjuntura que o Brasil viveu tempos atrás serviu como apoio decisivo para que o trabalhador não fosse solapado ainda mais, esmagado ainda mais.

É sabido por todos - é importante ressaltar - que a ditadura militar foi uma mordaça no movimento sindical, que já havia sido reprimido na época em que a ditadura assumiu o poder, quando vários dirigentes foram assassinados, perseguidos. Mas a ditadura também concentrou muita renda no Brasil. Os governantes pregavam que o Brasil era o bolo que precisava crescer para depois ser distribuído. Esse crescimento se deu às custas do salário do trabalhador.

O Dieese, naquele momento em que estávamos amordaçados e que não tínhamos como garantir os direitos do trabalhador, foi o arauto dessa defesa e garantiu a inflação, denunciando que o trabalhador estava sendo lesado. A inflação nos anos 70 estava sendo roubada. Mais tarde isso foi reconhecido. E mais tarde as categorias profissionais puderam recompor o salário, usando o índice utilizado por esta valorosa entidade.

Quando se fala da concentração de renda, é importante ir fundo nessa questão para termos a dimensão do que é isso. Por vários anos já nos relatórios do Banco Mundial, o BID, o Brasil está em terceiro ou quarto lugar como país de pior distribuição de renda no mundo. E os países que estão acima do Brasil, são países da África Central, que estão em guerra. Os demais países ali próximos não têm o Produto Interno Bruto, não têm a riqueza que esta Nação tem.

Portanto, a concentração de renda no Brasil é criminosa, é algo atentatório, é imoral. Isso tem de ser fortemente atacado. Ela só não é pior porque nós temos na Nação uma entidade como o Dieese, que nos tem dado algo que é fundamental, algo que significa poder: a informação.

O dirigente sindical num país onde o capital tem esse peso, que espolia dessa forma o trabalhador, ir para uma negociação salarial sem ter a condição da análise do número, sem ter a condição da análise conjuntural econômica, é facilmente enganado. Mas isso não ocorre. Não ocorre por quê? Porque temos nos socorrido desta instituição, que nestes 50 anos vem junto e ao lado do movimento sindical dando condições para irmos fundo nessa luta e impedirmos os assaltos, o roubo que ocorre nessa nossa economia que é extremamente concentrada.

Portanto, prestigiar o Dieese é uma questão ideológica. Está aqui o companheiro Tenorinho, que sabia de que lado estava naquele momento, que sabia da importância de ter, num país que estava crescendo muito rapidamente, o trabalhador incluído nesse processo. E a melhor forma para isso era irmos para o debate, era colocarmos nossas reivindicações. Este tem sido o papel histórico desta entidade nestes 50 anos.

Poderíamos falar dos trabalhos e publicações que o Dieese tem fornecido ao longo destes anos, mas eu gostaria só de ressaltar a luta que está sendo colocada agora pelo reajuste do salário mínimo.

O Governo Lula montou uma comissão, da qual fazem parte as centrais sindicais, o Dieese, as confederações patronais nacionais, vários ministérios, para discutir uma política de recomposição do salário mínimo, que hoje não representa nem 20% do que chegou a ser nos anos 50. Ou seja, temos um instrumento de inclusão, um instrumento para impedir que essa questão da concentração de renda se dê de uma forma ainda mais forte. E o Dieese neste momento está cumprindo um papel-chave de nos trazer os índices, as análises, a história, para que possamos ir mais fundo nessa luta. Portanto, nesses 50 anos o Dieese mostra que não perdeu o compromisso com a luta do trabalhador e em fazer o que é fundamental.

E agora, quando lança a campanha para ir fundo nessa questão da distribuição de renda, para trazer à tona o que eu diria que é a maior deformação que existe na sociedade brasileira, nós, do movimento sindical, temos que estar orgulhosos em ter uma entidade como essa e estamos profundamente agradecidos por esse serviço prestado. Muito obrigado a todos.

Gostaria de lembrar de um companheiro da nossa categoria, que atuava na área de processamento de dados, que foi membro dessa entidade, que faleceu. Refiro-me ao companheiro Jorge Uehara. Quando se fala em Dieese lembro-me muito dele, pois tinha um compromisso profundo com o trabalhador e com a luta dos oprimidos no mundo. Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - NIVALDO SANTANA - PCdoB - Para concluir a intervenção dos representantes das centrais sindicais, convidamos o nosso companheiro Danilo Pereira da Silva, presidente estadual da Força Sindical.

 

O SR. DANILO PEREIRA DA SILVA - Quero cumprimentar o Presidente desta sessão solene, Deputado Nivaldo Santana e também parabenizá-lo pela iniciativa desta Casa; além todas as autoridades aqui presentes; o Clemente, através do qual cumprimento todo o corpo técnico do Dieese; o Ortiz, presidente do Dieese, e em seu nome comprimento todos os dirigentes sindicais aqui presentes; companheiro Tenório; companheira Mônica, que também foi dirigente do Dieese, e em seu nome cumprimento todas as mulheres aqui presentes. Quero dizer que o nosso presidente Paulinho nos incumbiu de trazer uma breve saudação e cumprimentar esta importante entidade sindical.

Infelizmente talvez o sindicalismo não tenha dado a devida importância ao Dieese. Talvez seja um mito que o Dieese tenha somente a função de instrumentar os sindicatos nas questões econômicas, quando na verdade o trabalho por ele prestado é muito mais amplo do que simplesmente a questão econômica.

Hoje temos líderes políticos, líderes sindicais, que são fruto do trabalho do Dieese. Foge muito mais da questão econômica o trabalho. Outras instituições também com a mesma finalidade foram criadas. Independente do seu papel importante, mas a que realmente se identificou com o movimento sindical foi no nosso querido Dieese.

Quero cumprimentar a condução do Clemente. Infelizmente a reforma sindical não andou. Mas tivemos um parceiro, uma assessoria importantíssima no sentido de defender os interesses, não só dos trabalhadores, mas também da estrutura sindical muito bem comandada por você durante a discussão do Fórum Nacional do Trabalho.

Portanto, acho que é uma responsabilidade muito grande do movimento sindical quando comemoramos os 50 anos do Dieese. Temos o grande desafio e a responsabilidade de manter e fortalecer esse grande instrumento que tem sido o baluarte do sindicato e a sua bandeira em todas as discussões.

Não é porque o país hoje se encontra na chamada estabilidade econômica que não devemos fazer uma parceria com o Dieese. Muito pelo contrário, é neste momento que precisamos estar muito mais capacitados para discutir qual o rumo dessa política equivocada que temos no nosso país.

O Dieese nos fornece condições para adotarmos uma política do emprego e do desenvolvimento sustentado. Tenho certeza que com o sindicato dando o apoio que vocês merecem vamos conseguir.

Portanto, parabéns àqueles que construíram o Dieese nesses 50 anos, especialmente ao Tenório e aos outros companheiros. E fica aqui o desafio para o movimento sindical continuar dando a sustentação merecida a esse importante instituto que é o Dieese. Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - NIVALDO SANTANA - PCdoB - Vamos ouvir agora, representando o Partido dos Trabalhadores, o Deputado Hamilton Pereira, que também é sindicalista, tendo militado por muitos anos no Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba, e que tem um papel muito ativo nesta Casa junto à Comissão de Relações do Trabalho.

 

O SR. HAMILTON PEREIRA - PT - Gostaria de iniciar o meu pronunciamento congratulando-me primeiramente com os Deputados desta Casa que tiveram a feliz idéia de marcar esta sessão solene em comemoração aos 50 anos do Dieese.

Na pessoa do Deputado Nivaldo Santana, que trabalha comigo na Comissão de Relações do Trabalho desta Casa, gostaria de saudar também os Deputados Renato Simões e Enio Tatto, por essa feliz iniciativa.

O Dieese merece o respeito de todos nós e as nossas reverências. Quero saudar, portanto, o Carlos Ortiz e o Clemente, pelo trabalho que desenvolvem à frente do Dieese, dando continuidade a uma história muito bonita que transformou o Dieese no esteio do movimento sindical.

É uma satisfação muito grande rever aqui grandes companheiros do movimento sindical, com os quais já tivemos a oportunidade de militar algum tempo atrás. Gostaria de saudar aqui todos os sindicatos na pessoa do provavelmente mais antigo sindicalista presente entre nós - não o mais velho -, que é o companheiro Luiz Tenório. Ele é um símbolo. Assim como o Dieese para nós, trabalhadores, é um patrimônio histórico, muito provavelmente o nosso companheiro Luiz Tenório é um grande patrimônio histórico do movimento sindical.

Rapidamente vou narrar a vocês uma experiência que tivemos. Viajamos juntos para Cuba no final de 2001. Alguns Deputados desta Casa foram convidados para conhecer aquele país. E tive a grata satisfação de contar com a companhia do Tenório na nossa comitiva. Ele me levou para conhecer os companheiros da Central Obreira de Cuba, para trocarmos informações a respeito da situação política-econômica do Brasil e de Cuba naquele momento. Ficamos alojados no mesmo apartamento, no Hotel Nacional de Cuba. E pela nossa convivência e afinidade, a delegação de Deputados acabou apelidando o Tenorinho de “Mi Papá” e o Deputado Hamilton Pereira de “Hijo del Tenório”.

Portanto, gostaria de saudar a todos os sindicalistas na pessoa deste companheiro que tem uma história de combatividade e de luta, que não deixa margem a dúvidas sobre o seu compromisso com a classe trabalhadora.

Gostaria de cumprimentar aqui a todos os dirigentes das centrais sindicais. Companheiro Adi dos Santos Lima, da Central Única dos Trabalhadores; David Zaia, representando a Central Autônoma dos Trabalhadores; Paulo Sabóia, da CGTB; Levi de Oliveira, da CGT; Danilo Pereira da Silva, da Força Sindical; e Natal Leo, representando nesta oportunidade a SDS.

Quero somar-me aqui a todos os depoimentos feitos pelos nossos companheiros dirigentes das centrais sindicais. Como ex-dirigente sindical também tive a grata satisfação de conviver com os técnicos do Dieese que nos orientavam. Vocês sabem que informação é poder. E o sindicalismo no Brasil só adquiriu a força e o poder demonstrados em todas as suas lutas graças também a esse verdadeiro esteio, que é o Dieese, que nos municiava, nos assessorava e nos subsidiava com uma série de informações fundamentais à nossa luta.

Hoje aqui na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, ocupando uma cadeira entre os 94 Deputados, além de uma cadeira na Comissão de Relações do Trabalho, reverenciamos a história do Dieese.

Se fosse chamado para definir essa bela história dos 50 anos do Dieese em duas palavras, eu diria que essas duas palavras seriam: trabalho e credibilidade.

Parabéns ao Dieese e a todos os técnicos e também àqueles que dirigem a entidade do ponto de vista político e estabelecem essa relação com todas as centrais sindicais, com todos os sindicatos. Um grande abraço a todos e obrigado pela presença nesta comemoração dos 50 anos do Dieese. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - NIVALDO SANTANA - PCdoB - Agradecemos as palavras do Deputado Hamilton Pereira, que falou em nome do Partido dos Trabalhadores.

Também estão presentes as seguintes entidades sindicais: Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos; Sindicato dos Comerciários de São Paulo; Sindicato dos Metroviários de São Paulo; Secretaria Nacional da Criança e Adolescente da Força Sindical; Secretaria Nacional de Direitos Humanos e Cidadania da Força Sindical; Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco; Sinergia CUT; Sindicato dos Bombeiros de São Paulo; e Semacro do ABC.

Entrando na fase conclusiva dos nossos trabalhos, vamos ouvir, em nome da geração fundadora do Dieese, o nosso companheiro Luiz Tenório.

 

O SR. LUIZ TENÓRIO - Srs. Deputados, companheiros, amigos, centrais sindicais, dirigentes sindicais, todos sindicalistas com um compromisso histórico, é uma dádiva podermos, depois ter sido um dos fundadores do Dieese há 50 anos, homenagear a geração daqueles sindicalistas que souberam entender o futuro do movimento sindical.

Sr. Presidente, permita-me que esta homenagem seja dedicada especialmente a toda a geração de sindicalistas. Sem ela isso não seria uma realidade. Orgulho-me disto, eu estou aqui para testemunhar a grandeza do movimento sindical.

Meus amigos, meus companheiros, quero saudar a pessoa do nosso companheiro Hamilton Pereira, um dos Deputados mais combativos desta Casa, um dos Deputados mais ilustres do PT. Quero saudar da também o companheiro Danilo Pereira, Presidente da Federação dos Químicos e Farmacêuticos de São Paulo e Presidente da Força Sindical do Estado de São Paulo. Na sua pessoa, meu caro Danilo, abraço a todos os companheiros da Central Sindical e da Força Sindical, com todo carinho, e transmito a cada um dos presentes e dos companheiros da Força Sindical o nosso abraço fraternal.

Companheiros, seria muito injusto deixar de mencionar, em nome de quem estou falando hoje, a nova Central Sindical, fundada em Brasília há três meses, com a participação de 5.500 delegados sindicais vindos do Brasil inteiro. Fundou seu congresso em Minas Gerais, abrangendo 80% do movimento sindical do Estado de Minas. No Rio de Janeiro, encerrou seu congresso há três dias instalando a nova Central. No Paraná, fundaremos, no próximo dia dois de dezembro, assim como no Rio Grande do Sul no mesmo mês. São Paulo se prepara para, no dia 25 deste mês, reunirmos toda a liderança sindical, trabalhadores, dirigentes sindicais que não estão filiados a nenhuma central.

A nova Central, em nome de quem estou autorizado a falar, pois sou um dos membros da Comissão Executiva Nacional, não veio para confronto com as outras correntes sindicais, com as demais entidades, com nenhum partido político. Veio para dizer que os trabalhadores querem ter sua entidade autônoma, sem compromisso com nenhum governo, com nenhum partido político e nenhuma corrente ideológica ou religiosa para deixar os trabalhadores à vontade.

Faz 64 anos que milito no movimento sindical. Os trabalhadores me ensinaram que, da porta do sindicato para dentro, o sindicato é de todos os trabalhadores. Não é desse nem daquele partido, não é dessa ou daquela corrente. Foi esse princípio que nos ajudou a entender que era necessário um Dieese capaz de catalisar esse sentimento unitário, que vai ficar nos Anais deste Legislativo.

Companheiros, caso eu tenha esquecido algum nome, considerem todos homenageados. O Dieese de hoje é fruto resultante da luta de 50 anos do movimento sindical. O Dieese se hoje, presidido pelo nosso companheiro Silvestre, sob a direção técnica do nosso companheiro Clemente, é resultante de todo esse esforço de 50 anos. Estão sabendo empunhar a bandeira. Considero o Dieese a realização mais importante do movimento sindical na segunda metade do século passado. Estamos vivendo este momento difícil não para os banqueiros, mas para aqueles que são explorados pelos banqueiros e pelos desalmados empregadores que só têm de gente o rego das costas, o resto é animal selvagem, querem ver o trabalhador morrendo de fome.

O Dieese existe técnica e politicamente para instrumentar a luta dos trabalhadores. São mais de mil assessorias que o Dieese presta, por ano, a cada categoria que entra em luta. Isso não acontece por acaso. Isso acontece pela dedicação, pelo compromisso da sua direção e de cada um dos seus funcionários, a quem rendo aqui minhas melhores homenagens.

Estamos nas vésperas de um salário mínimo, sempre chamamos de salário de fome, e, infelizmente, ele o é. Quando o salário mínimo foi decretado há 63 anos, tinha um valor que permitia ao trabalhador, um casal com dois filhos, ter direito ao aluguel, alimentação, transporte, asseio pessoal, enfim, as necessidades básicas. Hoje não cobre um quinto disso. É estudo do Dieese, que temos de respeitar. Hoje para o trabalhador comprar o mesmo quilo de carne, de feijão, de arroz para sua mesa, tem de trabalhar cinco vezes mais. O que ele levava para casa com uma hora de trabalho, com o decreto criado pelo saudoso e inesquecível Getúlio Vargas, hoje tem de trabalhar cinco horas. Quem lucrou nesse período? Quem se enriqueceu? Quem teve os maiores lucros do ano? Os banqueiros. Não vamos querer que o Presidente Lula restabeleça de uma vez os mil e 400 reais que seria o salário mínimo correspondente ao poder aquisitivo que tínhamos há 60 anos porque isso é impossível, não vamos fazer demagogia.

O PT é um partido com muita responsabilidade, pese todas as cargas e os defeitos que cada um dos partidos tem, é o PT que tem o poder na mão. Temos de apelar ao Presidente da República. O Dieese é essa voz política. Tem de ter força, coragem, unidade, combate. Vamos fazer um apelo ao Presidente da República: cumpra só e tão-somente o que está na sua Carta aos Brasileiros, publicada no primeiro mês do seu governo, que o salário mínimo, no fim do seu governo, seria dobrado. Dizer que vai para 500, 600, na nossa opinião, é demagogia. Basta que cumpra sua palavra, que o salário mínimo vá para 400 e poucos reais, por mês. Aí, o Presidente Lula cumpriria a primeira promessa do seu mandato, no seu último ano, para que pudéssemos dizer aos banqueiros que ainda temos um governo que pensa no povo.

Parabéns, Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo! Mais uma vez a nossa homenagem aos funcionários do Dieese pela dedicação, empenho, trabalho e competência. Não são mercenários, são homens dedicados e conscientes do serviço que prestam ao movimento sindical e, em conseqüência, a toda a sociedade brasileira. Parabéns ao Dieese! Vida eterna ao movimento operário!

 

O SR. PRESIDENTE - NIVALDO SANTANA - PCdoB - Gostaríamos de registrar a presença do Deputado Adriano Diogo, do Partido dos Trabalhadores.

Vamos ouvir agora o diretor técnico do Dieese, nosso companheiro Clemente Ganz Lúcio.

 

O SR. CLEMENTE GANZ LÚCIO - Bom dia a todos, Deputado Nivaldo Santana, Hamilton Pereira, agradeço pela iniciativa desta Casa pela homenagem ao Dieese. Tenorinho, em nome dos fundadores, agradeço pela oportunidade de fazer esta homenagem. O Tenorinho informou que a nova Central Sindical já decidiu pela filiação ao Dieese, então teremos a sétima Central Sindical filiada.

Em nome do Tenorinho quero agradecer a presença de todos os dirigentes que homenagearam o Dieese; quero agradecer a presença do companheiro Ortiz, que atualmente preside e coordena a direção nacional do Dieese - composto por mais de 100 dirigentes sindicais no Brasil todo - quero agradecer a presença de toda equipe técnica e administrativa do Dieese.

Gostaria de colocar duas idéias, de forma rápida, para que ficassem registradas. Quero deixar registrado o reconhecimento da equipe pela competência política que o movimento sindical brasileiro teve, desde sua origem até hoje, em manter o Dieese como uma entidade unitária, com capacidade política de transferir, à equipe técnica, o poder de conduzir tecnicamente o Dieese durante estes 50 anos, com absoluta autonomia. Em nenhum momento a direção do Dieese colocou qualquer restrição para que o instituto fizesse seus trabalhos ao longo destes 50 anos.

Isso não é pouco no Brasil. Não é pouco para uma organização unitária composta pela diversidade política da direção do Dieese manter durante 50 anos uma instituição autônoma, capaz de produzir conhecimento como instrumento fundamental para favorecer a luta dos trabalhadores.

O Dieese é uma organização técnica voltada para a classe trabalhadora, por ela dirigida e por ela sustentada. Isso não é pouco no Brasil. Não é pouco uma instituição como esta continuar produzindo durante o período da ditadura militar, quando muitas vozes foram silenciadas. Não é pouco continuar como uma entidade unitária durante todos estes anos. Não é pouco, depois da abertura, com o surgimento das centrais, continuar sendo uma entidade unitária. E o é porque esse movimento sindical tem competência política para tanto.

É importante saber que esta é uma entidade única no mundo. Não existe outra no mundo mantida e dirigida pelo movimento sindical unitário como temos no Brasil. Esta é uma criação nossa, é um orgulho para o movimento sindical ter essa organização que é sua.

Tem um outro aspecto que quero abordar. Cinqüenta anos de história foram feitos com trabalho de muitos. Não seria possível registrar o trabalho de todos, mas ele está registrado em toda produção feita pelo Dieese. É importante olharmos o que foi feito, assim como é importante olharmos o futuro.

Para o futuro, o Dieese está colocando dois desafios e em nome da equipe quero fazer um convite a esta Casa - aos Deputados Hamilton Pereira e Nivaldo Santana: vamos estabelecer uma parceria desta Casa sobre duas questões.

Primeiro, temos a visão de que o país só será capaz de entrar na rota do desenvolvimento se tivermos competência política e capacidade técnica de enfrentar as desigualdades que marcam a sociedade brasileira.

Para enfrentar a desigualdade, a questão central que o movimento sindical tem como tarefa futura é buscar uma melhor distribuição de renda. A direção nos deu a tarefa de investir, pelos próximos anos, na melhor distribuição de renda e na diminuição da desigualdade. Nesse caso, cabe um investimento continuado e para que isso ocorra, o Estado de São Paulo e esta Casa são de fundamental importância. É uma luta que não podemos abandonar nem por um dia. Não seremos capazes de ser um país desenvolvido se não enfrentarmos essa questão de maneira estrutural, cotidiana e diretamente. O investimento não é pequeno. É muito grande. As desigualdades são enormes e não serão superadas em uma única frente. Serão necessárias muitas frentes de luta para que essa questão seja resolvida.

Fazemos o convite de uma parceria com esta Casa a fim de termos, a partir do Estado de São Paulo, a partir da sede nacional do Dieese, esse investimento garantido ao longo dos próximos anos. Estamos investindo no desenvolvimento de pesquisas, procurando informações que possam denunciar o tamanho das desigualdades, além de pensarmos políticas que enfrentem diretamente essa desigualdade e garantam um melhor processo distributivo de renda no país.

A segunda idéia é para resgatar a idéia original do Dieese. Os dirigentes sindicais que na época criaram o Dieese deram o nome de departamento, porque imaginavam criar uma universidade do trabalhador. O Dieese seria um departamento da universidade. A direção nacional do Dieese, em agosto, decidiu voltar a investir na construção da universidade do trabalhador como um projeto para capacitar continuamente os dirigentes sindicais do Brasil afora e oferecer certificação de terceiro grau àqueles que passarem por um processo formativo, articulando universidades, organizações do meio universitário.

Está aqui o companheiro representando a UniTrabalho, entidade com quem iniciamos um diálogo, que articula hoje mais de 90 universidades no Brasil. Nosso objetivo é fazer uma parceria para construirmos a universidade do trabalhador e retomarmos o projeto original de constituir - através do Dieese, que ao longo destes anos desenvolveu pesquisas, assessorias em educação - um projeto completo. Um projeto que faça pesquisa, produto de conhecimento, um projeto de trabalho que preste assessoria nas negociações coletivas e desenvolva um programa permanente de capacitação.

Esse desafio político tem sido heroicamente realizado no Brasil por toda uma equipe ao longo destes 50 anos. É uma oportunidade de desenvolver um trabalho profissional em nome da classe trabalhadora. Não são muitos os profissionais que têm oportunidade de vencer pessoal e profissionalmente, lutando pela justiça contra a desigualdade.

Quero agradecer a todos pela oportunidade - desde o Tenorinho - de manter o Dieese e convidar a todos para continuarem construindo esta história. Obrigado a esta Casa pela oportunidade.

 

O SR. PRESIDENTE - NIVALDO SANTANA - PCdoB - Ouviremos agora o Presidente do Dieese, nosso companheiro Carlos Ortiz.

 

O SR. CARLOS ORTIZ - Bom dia a todos os presentes. Na pessoa do companheiro Nivaldo Santana quero cumprimentar todos os parlamentares presentes; na pessoa do Tenorinho, o mais antigo sindicalista, gostaria de cumprimentar todos os sindicalistas presentes; na pessoa do Clemente, meu diretor técnico, cumprimento o corpo técnico do Dieese presente e os técnicos que por lá passaram, assim como os colaboradores do Dieese; na pessoa da Mônica, uma dirigente do Dieese, cumprimento as mulheres presentes.

Gostaria de começar minha fala agradecendo aos nobres Deputados que sugeriram esta homenagem aos 50 anos do Dieese.

Companheiro Nivaldo Santana, peço a V. Exa. que seja o portador do meu abraço fraterno ao Presidente desta Casa, Deputado Rodrigo Garcia, que nos concede a oportunidade de usarmos esta tribuna para falar de um órgão muito importante: o nosso Dieese.

Todos falaram muito sobre o Dieese, mas, para mim, é um orgulho muito grande estar no comando da diretoria política do Dieese neste ano tão importante, quando ele comemora seus 50 anos. Sinto-me honrado por minha central sindical ter me indicado para presidir o Dieese.

Este ano será todo de comemoração. No dia 11 de agosto fizemos a primeira comemoração com o lançamento do Anuário dos Trabalhadores e a primeira palestra foi “desenvolvimento com distribuição de renda.” Não adianta o país se desenvolver em cima da miséria do seu povo. É importante que o país se desenvolva, mas com distribuição de renda.

Estamos fazendo isso em várias capitais onde o Dieese tem escritório. São 17 capitais, onde estamos fazendo o lançamento do Anuário do Dieese com dados importantes para o movimento sindical se fundamentar nas negociações. Outro ponto é a discussão com os movimentos sindicais de todo o País sobre o que vai ser o mote nos próximos anos: desenvolvimento com distribuição de renda.

Em março do ano que vem vai culminar com um grande seminário internacional tratando desse tema com todo os movimentos sindicais do Brasil e do exterior.

Nestes 50 anos temos de relembrar algumas coisas. O Dieese, como todos disseram, é um órgão importante que conseguiu sobreviver graças à sua competência de aglutinar, em seus quadros, todas as correntes sindicais e políticas do País.

É possível dar continuidade a esse trabalho maravilhoso que se iniciou há 50 anos com o companheiro Tenorinho e mais 20 sindicalistas. Eles viram naquela oportunidade a necessidade de ter um órgão para se contrapor na mesa de negociação com o patronato na questão dos dados científicos da inflação.

O Dieese não ficou só nisso. O Dieese se desenvolveu-se, e muito, nesses 50 anos. Ele começou a atuar no campo da pesquisa socioeconômica, na questão do desemprego, coisas que fizeram com que o movimento sindical brasileiro reconhecesse durante esses anos a importância do Dieese, fizeram com que movimentos internacionais reconhecessem a importância do trabalho do Dieese junto com todo o movimento sindical brasileiro.

Mas tem uma coisa que sempre gosto de falar. No meu modo de ver, acho que a coisa mais importante que o Dieese fez durante esses 50 anos é a área de formação. Já estou com a barba branca, tenho 52 anos de idade. Se não me falha a memória, acho que foi em 1981 ou 1982 que participei do primeiro curso do Dieese. De lá para cá, participei de todos os cursos de formação do Dieese.

Então, o Dieese realmente capacitou-se na questão da formação sindical e está melhorando, está dando qualidade aos seus dirigentes sindicais e aos dirigentes sindicais deste país. Ele está dando tanta qualidade que hoje é comum vermos nas Câmaras Municipais, tanto da Capital como de vários municípios deste país vereadores que foram dirigentes sindicais, que atuaram na direção do Dieese, muitas vezes até como técnicos.

Nesta Casa mesmo, na Assembléia Legislativa, temos vários Deputados oriundos do movimento sindical que, como eu, participaram de cursos de formação dados pelos técnicos do Dieese. Na Câmara dos Deputados, em Brasília, temos vários Deputados federais, que também foram ex-dirigentes sindicais e que com certeza passaram pelo Dieese como diretores, técnicos, em vários cursos de formação. Temos também Senadores e por que não falar em Ministros, que hoje estão ajudando no comando deste país. São ex-dirigentes sindicais que foram beneficiados ao longo desses 50 anos pelos cursos de formação do Dieese.

Por que estou falando tudo isso? Porque o Dieese é do movimento sindical, é bancado pelo movimento sindical. Mas esse quadro, na realidade, vem alterando-se, vem mudando. Hoje, o movimento sindical não consegue mais bancar todos os gastos do Dieese. Hoje, a contribuição sindical representa, no máximo, 50% de tudo o que é gasto pelo Dieese. Não com prédios, somente com a nossa mão-de-obra, só com o salário dos nossos técnicos, que não são grandes. Por isso temos perdido, ao longo desse tempo, vários técnicos para outras entidades. Realmente, todas as crises por que o movimento sindical passa sempre respingam no Dieese.

Aí, temos que buscar parcerias com os governos federal, estaduais e municipais, como projetos, para que possamos suprir esses outros 50% da receita que o Dieese precisa anualmente.

Aproveito esta oportunidade para chamar a atenção de todos os sindicalistas presentes, de todos os vereadores, Deputados estaduais e federais e senadores que passaram pelo Dieese, que foram formados pelo Dieese, para que comecemos a fazer uma reflexão e discutir o que nós, movimento sindical, o que, nós, dirigentes deste país, queremos realmente do Dieese. Queremos o Dieese por mais 50 anos, por mais 100 anos?

Então, o movimento sindical e os nossos parlamentares terão que fazer uma séria discussão sobre como é que vamos manter o Dieese por mais 50 anos ou por mais 100 anos. Da forma como está, não dá. O Dieese é do movimento sindical, mas na hora de pagar as custas, o que o movimento sindical contribui, infelizmente, é muito pouco. Num país onde se fala que existem 17 mil sindicatos, o Dieese conta apenas com cerca de 400 entidades sócias.

Portanto, gostaria que as centrais sindicais presentes dessem um presente ao Dieese, nesses seus 50 anos: empenhassem-se, conversassem com as suas entidades, com os seus sindicatos, para que até o final das nossas comemorações, em março do ano que vem, não estivéssemos só com essas 400 entidades, que tivéssemos, pelo menos, 1.050 sindicatos filiados ao Dieese. Isso significa os 50 anos do Dieese multiplicados por aqueles 21 sindicalistas que, há 50 anos, tiveram a brilhante idéia de criar o Dieese.

Acho que é um presente que o movimento sindical e que as centrais sindicais devem ao Dieese; é um presente que os Deputados, senadores e vereadores deste país que passaram pelo Dieese devem a ele, para que possamos fazer uma discussão sobre por que o Dieese não recebe uma verba pública para a sua manutenção.

O Dieese hoje não é só dos trabalhadores, não é só do movimento sindical. O Dieese é um departamento científico que fornece estudos e estatísticas para o país todo. Quantos dos Srs. Deputados, dos governadores, dos senadores, dos vereadores não usam os dados do Dieese em suas palestras e discussões?

Nada mais justo que todos nós, brasileiros, nos darmos as mãos: o movimento sindical, o Congresso, assembléias legislativas, para que possamos ter um Dieese muito mais forte ao completar 100 anos. Muito obrigado. (Palmas.)

 

O Sr. Presidente - Nivaldo Santana - PCdoB - Gostaríamos de registrar a presença do companheiro Juruna, da Força Sindical. Para concluir os nossos trabalhos, achamos que quem se sente honrada e agradecida com a realização desse evento é a Assembléia Legislativa. Além das figuras representativas do mundo sindical aqui presentes, o fato de a TV Assembléia estar transmitindo ao vivo para todo o Estado esta sessão, sem dúvida, contribui com a repercussão e a divulgação do Dieese.

Comprometemo-nos, também, a incorporar a proposta feita pelo Clemente no sentido de fazer gestões junto à Mesa Diretora desta Casa, ao Presidente Rodrigo Garcia, para realizar uma parceria, um protocolo de trabalho conjunto com o Dieese. Acredito que, a exemplo de outras iniciativas semelhantes, não haverá nenhum obstáculo para que esse entendimento seja firmado. Além disso, vamos provocar o debate nesta Casa a respeito da importante proposta do Dieese de deflagrar um processo de construção da Universidade do Trabalhador.

Consideramos que a sessão de hoje reafirmou alguns pilares básicos que têm sido a base desses 50 anos de atuação do Dieese, uma entidade que se caracteriza pelo pluralismo, pelo rigor técnico e pela credibilidade. Isso é muito importante. Nessa luta histórica que os trabalhadores desenvolvem em suas jornadas, eles precisam, sem dúvida, estar ancorados em entidades do porte do Dieese.

Nesses 50 anos de existência, podemos dizer que pelo menos os últimos 25 anos têm sido bastante difíceis para o Brasil e para os trabalhadores. Um país, que de 1930 a 1980, atingiu os maiores índices de crescimento do mundo, um período em que o Brasil urbanizou-se, industrializou-se e transformou-se na oitava economia do mundo. Mesmo com todas as distorções e deformações do seu desenvolvimento, havia uma relativa mobilidade social e existia uma coisa que é estratégica para qualquer nação: a esperança e a expectativa de crescimento, de desenvolvimento e de progresso social. Mas essa locomotiva chamada Brasil, a partir do início dos anos 80, sofreu um baque que, sem dúvida, pesa principalmente sobre os ombros dos trabalhadores.

A existência de uma entidade como o Dieese reafirma a nossa convicção de lutar por um projeto nacional de desenvolvimento, com geração de emprego, valorização do trabalho e distribuição de renda. Na nossa compreensão, nessa longa jornada, nesse período de turbulências e vicissitudes que estamos enfrentando, o Dieese continuará dando a sua cota de contribuição.

Ao encerrar as nossas palavras, gostaria de fazer coro às palavras do Presidente do Dieese, o nosso companheiro Carlos Ortiz. Se o Dieese efetivamente é uma entidade pluralista, com rigor técnico incontestável, que tem grande credibilidade, fica o convite para que os sindicatos, no conjunto das suas despesas, incluam um item que não é de despesa e sim de investimento: filiando-se ao Dieese e fortalecendo essa entidade, que precisa do apoio concreto, material e efetivo dos sindicatos para dar continuidade ao seu belo trabalho.

Ao longo deste ano, conforme consta do prospecto, o Dieese vai realizar outros eventos para celebrar os seus 50 anos de existência, mas consideramos que a realização desta Sessão Solene, convocada por este Deputado e pelos Deputados Renato Simões, Enio Tatto e Arnaldo Jardim, também cumpriu uma parte importante. Parabéns, Dieese! Viva os 50 anos desta importante entidade! (Palmas.)

Esgotado o objeto da presente sessão, antes de encerrá-la, esta Presidência agradece aos companheiros presentes, aos funcionários desta Casa e àqueles que, com suas presenças, colaboraram para o êxito desta solenidade.

Está encerrada a sessão.

 

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- Encerra-se a sessão às 12 horas e sete minutos.

 

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