A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo promoveu, nesta segunda-feira (10), um debate sobre a restrição do uso de celulares e outros dispositivos eletrônicos nas escolas, tema proposto pelo Projeto de Lei nº 293/2024, de autoria da deputada Marina Helou (Rede), que mediou o evento. Participaram da discussão médicos pediatras, profissionais da educação e alunos que abordaram sobre os benefícios em ambiente escolar. Segundo dados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), exame aplicado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mais de 45% dos alunos relatam que o uso de dispositivos em sala de aula atrapalha a atenção nas aulas de matemática. O índice aponta, também, o Brasil como o sexto país com a maior taxa (40,3%) de alunos que afirmam se dispersar quando observam o uso do equipamento por um outro colega. "São muitos os desafios para implementar essa lei. O debate é importante para a construção dessa cultura no sistema educacional", reforçou a deputada. A diretora escolar Letícia Lyle implantou a restrição do uso dos celulares em sua escola. Os celulares são recolhidos das salas de aula e encaminhados à coordenação. Se houver um caso do aluno esconder um celular na mochila, o aparelho é retido e apenas os pais ou responsáveis podem pegar o aparelho. "Quando fizemos a restrição, os estudantes se revoltaram pela medida. Isso gerou um debate na escola e foi notado o aumento da ansiedade entre os alunos", relembrou ela. O resultado foi imediato. O rendimento escolar aumentou e os alunos voltaram a participar de brincadeiras e a praticar esportes nos intervalos. "Voltaram as cenas que eram comuns e deixaram de existir por causa do mundo virtual", complementou Lyle. Para o médico Daniel Becker, a medida vai "devolver a infância para nossas crianças e a vida para os nossos adolescentes, proporcionando a experiência On Life". Paulo Teles, pediatra neonatologista da Sociedade Brasileira de Pediatria, destacou que a medida pode reduzir os casos de cyberbullying, por causa do aumento da interação entre os alunos. Riscos O uso prolongado dos dispositivos eletrônicos entre crianças e adolescentes prejudica o desenvolvimento neurológico, cognitivo e social. "Quanto mais tempo na tela, você passa menos tempo interagindo com as pessoas. O cérebro precisa da interação para que tenha uma arquitetura das sinapses e conexões", relatou Paulo Teles. O especialista alerta que o excesso de tecnologia pode provocar doenças nessa população. "Pode surgir miopia e doenças ortopédicas. Por conta do sedentarismo, pode ocasionar obesidade, pressão alta e diabetes. Essa geração terá mais ansiedade e depressão, além dos prejuízos sociais", concluiu ele. Exceções O Projeto de Lei prevê o uso do celular nas escolas exclusivamente em atividades pedagógicas, com autorização própria para esta finalidade. Alunos que possuem deficiência que necessitam do dispositivo em caráter inclusivo poderão manter o uso em sala de aula. A propositura, que tramita na Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJR), prevê a vigência da restrição em escolas públicas e particulares. Cada instituição de ensino deverá manter um canal de comunicação com os pais e responsáveis para monitoramento. Assista ao evento, na íntegra, na transmissão feita pela TV Alesp: Mais imagens do evento: https://www.flickr.com/photos/assembleiasp/albums/72177720317812240/with/53785098375